Não passou muito tempo (apenas um mês) desde que deixou de ser primeiro-ministro e António Costa já voltou a dar uma entrevista (a um programa do daytime) que serve de tiro de partida ao António Costa comentador, que começará este sábado no Correio da Manhã. Mas também para dizer que a vida política “não está terminada”, deixar a presidência do Conselho Europeu dependente da Justiça portuguesa e também para, logo à porta do programa, acertar uma conta com o Presidente Marcelo.

Antes de entrar no estúdio do programa apresentado por Cristina Ferreira nas manhãs da TVI, António Costa foi abordado pela CNN Portugal que lhe perguntou sobre as recentes declarações polémicas de Marcelo, que lhe chamou “lento” na decisão “por ser oriental” — numa comparação com o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro. A resposta começou com cerimónia: “Sou um otimista e vejo sempre o lado bom e interpretei essas palavras como um elogio a uma forma ponderada de estar na vida e de exercer a vida política”. Mas acabou no tal acerto: “Ou talvez uma certa auto-crítica por, não tendo esta costela oriental, muitas vezes haver menos ponderação por parte do Presidente.”

Foi o único comentário à atualidade em que foi mais acutilante, em tudo o resto esquivou-se em silêncios. Na Justiça diz quase nada sobre o seu caso e defende que a Procuradora-geral da República só seja ouvida no Parlamento para prestar contas pela atividade do Ministério Público e não sobre um caso em particular. “Não faz sentido que essa discussão se faça no Parlamento”, diz contra a opinião do atual presidente da Assembleia da República que defendeu a ida de Lucília Gago à Assembleia da República. Mas, na conversa com Cristina Ferreira, não deixou de pôr nas mãos da Justiça o seu próprio futuro político.

Na tentativa de contornar outros assuntos da atualidade política — no caso, a escolha de Marta Temido para cabeça de lista do PS às Europeias — , saiu-lhe que essa “é uma página na vida que virei”. Mas isso significa que a vida política está terminada? “Não está terminada. E não tenho nenhuma agrura”, respondeu prontamente. Há uma porta que fecha em absoluto, que é a de uma candidatura à Presidência da República, e outra em que deixa o Ministério Público na fotografia. quando diz que a Presidência do Conselho Europeu depende das circunstâncias” mas que “com um processo pendente é muito difícil essa solução e os tempos da Justiça são os tempos da Justiça”.

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Antes de entrar no programa “Dois às dez”, Costa já tinha dito ao jornalista da CNN Portugal que “não há propriamente candidaturas ao Conselho Europeu” e que os top jobs europeus se decidem em conjunto quando houver resultados das Europeias. “Para já, para já, o que é necessário é que ocorram as Europeias e todos nos mobilizemos”, disse por fim sem querer falar mais desse processo.

O pouco que disse foi para garantir a sua “consciência tranquila”, garantindo que conhece “o último episódio desta série” e que não sabe “é quantos episódios ou quantas temporadas terá”. Está também convicto de que “neste processo Vítor Escária não fez nada de incorreto”. E separa o envolvimento do seu antigo chefe de gabinete na operação Influencer do dinheiro que foi encontrado na sua sala de trabalho em São Bento: “O dinheiro não tem nada a ver com este processo”, disse Costa, que continua a considerar que isso “foi uma quebra grave de confiança em relação ao chefe de gabinete”.

Recordou também que se demitiu ainda antes de se saber da quantia em dinheiro encontrada no gabinete de Escária e que depois daquele dia 7 de novembro é que vieram os “momentos mais difíceis” e a “sensação estranha de se ter sido atropelado por um comboio e ter ficado vivo.” Disse que quando viu a “suspeição oficial foi muito claro” o que tinha de fazer, tendo em conta a “probidade” que considera ser exigível ao cargo de primeiro-ministro, e revelou que “a primeira questão” que colocou ao Presidente da República nesse dia foi se a sua “manutenção em funções prejudicaria ou não o andamento do processo”.

Quando questionado sobre se já se arrependeu de ter proposto o nome de Lucília Gago, Costa diz que “foi a escolha que se entendeu que devia ser feita” e “a avaliação de tudo isto, haverá tempo para fazer”, respondeu atirando mais para a frente comentários sobre este capítulo da sua vida. Garante, no entanto, que a forma como saiu não teve efeito na rua e que tem verificado que “a confiança que [as pessoas] têm não se quebrou”.  Sobre as abordagens que tem tido: “Tenho tido sorte. Já percebi que é mais fácil ser ex-primeiro-ministro do que primeiro-ministro.” A partir deste sábado passa a escrever sobre assuntos europeus no Correio da Manhã e, em data ainda a determinar, será um dos analistas do novo canal televisivo do mesmo grupo do jornal.