As famílias de cinco mulheres ao serviço das Forças de Defesa de Israel, encarregues da vigilância da Faixa de Gaza junto à fronteira, divulgaram um vídeo do momento em que estas foram sequestradas por membros do Hamas, a 7 de outubro. As imagens, que duram cerca de três minutos, foram cortadas e editadas para remover conteúdo excessivamente gráfico, incluindo corpos de soldados mortos.

Ainda assim, o vídeo mostra as cinco mulheres — Liri Elbag, Karina Ariev, Agam Berger, Daniella Gilboa e Naama Levy —, com idades compreendidas entre os 19 e os 20 anos, alinhadas junto a uma parede, com as mãos atadas e os rostos feridos e ensanguentados. Nas imagens, de acordo com o The New York Times, uma das militares pergunta se algum dos combatentes do Hamas fala inglês, sendo que um deles a manda ficar “quieta”. Outro grita: “Os nossos irmãos morreram por vossa causa. Vamos matar-vos a todas.”

Em determinando momento, enquanto inspeciona as mulheres, um dos membros do Hamas chama-as de “sabaya”, um termo que pode ter conotações sexuais. Nas legendas do vídeo, que foram colocadas pelas Forças de Defesa de Israel, a palavra é traduzida como “raparigas que podem engravidar”.

Segundo o Haaretz, Eli Elbag, o pai de Liri, disse que as famílias debateram durante algum tempo a publicação do vídeo, mas acabaram por decidir fazê-lo: “Se não mudar a direção do pensamento, este é o último recurso que temos para lhes dizer [ao Governo] o que queremos”. As imagens, que antes de serem editadas tinham cerca de 13 minutos, foram captadas pelas câmaras que os combatentes do Hamas tinham no corpo e obtidas pelo exército israelita.

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O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos divulgou o vídeo para colocar pressão sobre o governo israelita quanto à libertação daqueles que estão a cativeiro desde outubro, dizendo que “serve como uma acusação ao fracasso nacional e ao abandono dos reféns”. “Não há tarefa maior, nenhuma vitória mais significativa e nenhuma oportunidade de devolver a esperança a Israel sem trazê-los para casa — os vivos para a recuperação e os assassinados para serem enterrados”, afirmou.

Nas últimas semanas têm sido sucessivas as tentativas falhadas para um acordo entre Israel e o Hamas para a libertação de reféns e cessar-fogo. O grupo não cede quanto à exigência de tréguas permanentes, enquanto Telavive pretende que sejam temporárias.

Em comunicado, citado pelo The New York Times, o Hamas disse que as imagens apresentadas no vídeo editado “não puderam ser confirmadas” e alegou que as legendas do exército israelita estão incorretas, contendo frases que “não foram ditas por nenhum dos combatentes que aparecem no vídeo”.

Reféns do Hamas

O vídeo original tinha cerca de 13 minutos

As reações israelitas à divulgação do vídeo

Após a divulgação do vídeo, num dia em que vários países europeus disseram que vão reconhecer o Estado Palestiniano, o Presidente israelita, Isaac Herzog, pediu ao mundo para “olhar para esta cruel atrocidade”. “Aqueles que se preocupam com os direitos das mulheres devem falar. Todos aqueles que acreditam na liberdade devem falar abertamente e fazer todo o possível para trazer todos os reféns para casa agora”, afirmou o líder israelita, em comunicado citado pelo The Times of Israel.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse estar “horrorizado com o vídeo” e que a “crueldade dos terroristas do Hamas só reforça” a sua determinação em “lutar energicamente até à destruição” do grupo, para garantir que “aquilo a que assistimos esta noite não volte a acontecer”.

Já o ministro sem pasta do gabinete de guerra de Israel, Benny Gantz, afirmou no X que a responsabilidade dos líderes “é criar uma realidade diferente mesmo quando se trata de decisões difíceis”. “Os pensamentos sobre elas não cessam e não cessarão até que regressem, e todas as raparigas e rapazes regressem. Mas a responsabilidade dos líderes não é apenas olhar a realidade nos olhos — é criar uma realidade diferente, mesmo quando se trata de decisões difíceis. É essa a nossa responsabilidade”, pode ler-se na publicação.