A Fundação Champalimaud inicia nesta segunda-feira um programa de rastreio de trabalhadores expostos ao amianto, visando aumentar a deteção precoce do cancro Mesotelioma Pleural Maligno (MPM), uma iniciativa em parceria com a associação SOS Amianto.

Em comunicado, a fundação refere que “o programa começa com as primeiras três de um total de 200 pessoas já identificadas pela Associação SOS Amianto”, que foram expostas à substância (fibras minerais naturais, extraídas a partir de rochas) “nas Fábricas de Fibrocimento de Portugal, desde a década de 60 do século XX”.

Numa “abordagem inovadora”, o Programa de Diagnóstico Precoce do MPM utilizará o método de análise de metabolitos (produto do metabolismo de uma determinada molécula ou substância) voláteis no ar exalado da respiração, com recurso ao sopro, que será depois complementado com uma TAC (tomografia axial computorizada) torácica de baixa dose.

Esta abordagem não invasiva permitirá identificar padrões de compostos voláteis orgânicos que podem corresponder a perfis típicos da doença, tornando o rastreio possível e o diagnóstico mais preciso e acessível”, adianta a fundação.

O MPM é um tipo de tumor maligno da pleura associado à exposição contínua ao amianto e de diagnóstico difícil. Tem como sintomas mais comuns a “falta de ar, dor no peito, perda de peso e fadiga”, o que “pode levar à confusão com outras doenças do trato respiratório”

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O facto de os sintomas só aparecerem geralmente “em fases avançadas da doença”, torna o diagnóstico precoce “crucial para aumentar as probabilidades de tratamento bem-sucedido”.

Registam-se anualmente cerca de 92.500 casos desta doença, cuja mortalidade “é muito elevada a nível mundial”.

“Portugal regista apenas cerca de 38 casos por ano de MPM, devido à falta de diagnóstico, um valor manifestamente abaixo de outros países ocidentais”, indica Jorge Cruz, cirurgião da Unidade de Pulmão da Fundação Champalimaud, que lidera o referido programa, citado no comunicado.

“Para melhorar a resposta no tratamento desta doença é necessário criar uma estratégia de diagnóstico precoce e desenvolver as estratégias terapêuticas, nomeadamente a cirurgia”, acrescenta.

Embora esteja incluída na lista das doenças profissionais em Portugal, não é obrigatório comunicá-la e apenas 3% dos casos são notificados.

“Com a proibição da produção de materiais com amianto na Comunidade Europeia em 2005, prevê-se que o pico desta doença ocorra entre 2020 e 2040”, adianta.

Dado que “não existe um protocolo de diagnóstico precoce do MPM em Portugal”, a Fundação Champalimaud “irá iniciar um estudo prospetivo pioneiro, representando um passo importante na melhoria da deteção e tratamento desta doença”.

O amianto ainda pode ser encontrado em edifícios públicos e privados, por exemplo em tetos falsos ou telhas de fibrocimento, sendo a probabilidade maior nos construídos entre 1960 e 1990.