O encenador Tiago Rodrigues, diretor do Festival de Avignon, apelou a uma “barreira contra a extrema-direita” nas eleições legislativas antecipadas em França, quando sondagens admitem uma maioria absoluta para o partido União Nacional, de Marine Le Pen.

“Enquanto diretor do Festival de Avignon, assumo a minha quota-parte de responsabilidade, incentivando todos a votar e a defender a democracia nas próximas eleições”, afirmou esta sexta-feira o encenador português, que desde o ano passado dirige o mais reconhecido festival de teatro do mundo.

“Estar à altura da nossa responsabilidade e dos nossos valores é opormo-nos à extrema-direita e votar democraticamente, seguindo a nossa consciência”, acrescentou, citado pelo portal sceneweb.fr.

As duas voltas das eleições legislativas decorrem a 30 de junho e 07 de julho, coincidindo com o festival, que arranca a 29 de junho e prolonga-se até 21 de julho.

“Definimo-nos como um festival cívico, popular, republicano e democrático, e encorajamos o público, os funcionários e os artistas que podem votar a fazê-lo”, acrescentou Tiago Rodrigues.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O diretor garantiu que irá cooperar com as autoridades para assegurar que “a boa realização do festival seja totalmente compatível com a boa realização das eleições e a máxima participação”.

Para Tiago Rodrigues, o festival, no atual “contexto conturbado da política francesa” após a dissolução da Assembleia Nacional pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, “é mais necessário do que nunca”.

“Numa altura em que assistimos a uma sociedade muito polarizada, onde o discurso é muito simplificado, o Festival de Avignon pode ajudar a manter a diversidade do discurso, a capacidade de debate e a riqueza fértil do dissenso democrático”, sustentou.

O festival, referiu, “oferece ao público uma experiência coletiva que cria coesão social e permite o diálogo com diferentes pontos de vista sobre o teatro e o mundo”.

Nos últimos dias, vários artistas, sindicatos das artes do espetáculo e festivais tomaram posição contra a extrema-direita, refere o sceneweb.fr.

Uma sondagem divulgada esta sexta-feira atribui à União Nacional – atualmente liderada por Jordan Bardella mas que mantém presente a figura de Marine Le Pen, considerada a líder da extrema-direita francesa – 250 a 300 deputados na futura Assembleia Nacional (câmara baixa do parlamento francês), o que representaria um cenário entre a maioria relativa e a maioria absoluta (289 mandatos).

Emmanuel Macron indicou na semana passada que descartava a demissão, qualquer que fosse o resultado das eleições legislativas.

A sua decisão de convocar eleições legislativas antecipadas após o fracasso do seu partido, Renascimento, nas eleições europeias em 09 de junho contra a União Nacional, que obteve o dobro dos votos, foi criticada até dentro do seu campo político.