O primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, afirmou nesta terça-feira à Lusa que “é muito importante” que os lusodescendentes vão votar na segunda volta das legislativas, salientando que a União Nacional quer “dividir os franceses” segundo a nacionalidade.

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Em declarações à Lusa à margem de uma ação de campanha no centro de Paris, Gabriel Attal foi questionado se considera que os portugueses residentes em França devem ir votar nas eleições de domingo.

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“Claro, é muito importante que todos os franceses vão votar”, respondeu o chefe do executivo francês.

Gabriel Attal avisou que a União Nacional (Rassemblement National (RN), em francês) “quer dividir os franceses entre eles”.

“Portanto, se é francês com outra nacionalidade — e é o caso para três milhões e 500 mil franceses, porque têm origens e histórias familiares diferentes — para a União Nacional isso significa que vale menos do que os outros“, afirmou, reforçando que “é muito importante que todos os franceses vão votar”.

Já interrogado se acha que o projeto da União Nacional poderia pôr em causa as relações bilaterais entre a França e Portugal, Attal respondeu: “Em todo o caso, nós sabemos que temos um projeto que é profundamente europeu, que luta por uma Europa forte, porque isso também é do interesse dos franceses”.

“Do outro lado, temos uma União Nacional que, segundo o que vemos, propõe uma saída progressiva da Europa”, referiu, acusando o partido de querer “parar de pagar a contribuição francesa para o orçamento europeu” e “deixar de respeitar as regras europeias”.

“Isso, claro, teria um impacto muito forte nas nossas relações com os outros países europeus”, avisou.

A União Nacional defende, no seu programa, que os franceses que detenham uma dupla nacionalidade não possam aceder a certos empregos da função pública. Segundo o partido, seriam “muitos poucos casos”, reservados a setores “extremamente sensíveis” do Estado, como a diplomacia, a segurança ou a defesa.

Nesta ação de campanha no mercado de Convention, no 15.º bairro de Paris, Gabriel Attal cruzou-se com Lúcia Fernandes, cidadã portuguesa que veio para França em 1971, e que lhe pediu para não deixar mais nenhum partido ir para o governo.

“Suplico-lhe. Eu acabei de pedir a nacionalidade há um ano, empurram-me de um lado para o outro. É um horror, não aceitam os meus países… E agora acho que só vai piorar”, disse.

À Lusa, Lúcia Fernandes explicou que nunca pediu a nacionalidade francesa até agora porque sentia-se “à vontade em França” e nunca achou que fizesse diferença.

“Mas ultimamente comecei a ver as coisas a complicar e quis pedir”, disse, manifestando-se “muito preocupada” com o projeto da União Nacional por considerar que pode “pôr em perigo” não só os portugueses, como “toda a Europa”.

O partido de extrema-direita União Nacional (RN, do original francês Rassemblement National) obteve no domingo 33% dos votos, contra cerca de 28% da frente popular de esquerda e de 21% do campo do Presidente Emmanuel Macron.

A segunda volta das eleições legislativas francesas realiza-se no próximo domingo, dia 7.