O líder da França Insubmissa (LFI) defendeu que a França entrou “num momento da sua história do qual sairá profundamente diferente”, numa reunião pública, em que apelou à maioria absoluta da coligação de esquerda.

A França “entrou num momento da sua história do qual, aconteça o que acontecer, sairá profundamente diferente do que era antes”, disse na sexta-feira Jean-Luc Mélenchon, apelando ao voto na coligação Nova Frente Popular, perante o crescimento da extrema-direita e as políticas do Presidente francês, Emmanuel Macron.

“Depois da eleição, tudo isto vai implodir”. As finas costuras que mantêm a Frente Popular de esquerda unida (por agora)

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Somos a Nova França, vamos todos fazer deste país o nosso país, já não vamos andar para trás, ninguém vai ter de pedir desculpa por ser desta ou daquela religião ou por ser desta ou daquela cor e sabem porquê? Porque o adoramos! E sabem porque é que o adoramos? Porque amamos as pessoas que vivem aqui. Quem odeia os outros não pode amar a França”, afirmou.

Na praça Lénine, em Champigny-sur-Marne (Val-de-Marne), que acolhe uma grande comunidade portuguesa e onde a Nova Frente Popular foi vencedora na primeira volta das legislativas, centenas de pessoas reuniram-se às 19h30 (20h30 de Lisboa) para ouvir o discurso de 45 minutos de Jean-Luc Mélenchon, antes do fim da campanha para a segunda volta das eleições, no domingo.

Se a sua coligação vencer com maioria absoluta, Mélenchon garantiu que o país será mais “feminizado e coletivista”, com respeito, educação e cuidado para todos sem exceção e com deputados empenhados em mostrar que “a lógica da guerra, a lógica do colonialismo, a lógica da violência não leva a lado nenhum”.

Em relação ao partido de extrema-direita União Nacional (RN), Mélechon referiu: “falam de um mundo que não existe, o seu racismo é apenas um pretexto para marginalizar uma parte da população, humilhá-la e obrigá-la a trabalhar mais do que devia por menos do que os outros”.

À volta do palco, apoiantes e militantes, com bandeiras da coligação, da LFI, LGBTQ+ e da Palestina, manifestaram apoio ao discurso do líder.

Romain Jouest, de 19 anos, foi com um amigo assistir ao discurso de Mélenchon, que considera ser um “homem extremamente admirável” e que “representa bem os interesses das pessoas, das minorias, daqueles que mais sofrem na sociedade e que nunca desistiu”.

“Gostaria que [Mélenchon] fosse [primeiro-ministro], mas o problema é que ele não é apoiado unanimemente por toda a esquerda e muito menos pelos seus líderes. Penso que é impossível na ordem atual, o Partido Socialista, o Partido Comunista Francês, os Verdes não o aceitam, embora devessem aceitá-lo por ser o maior homem de esquerda dos últimos 40 anos e, na minha opinião, não há ninguém mais legítimo do que ele para esse cargo”, defendeu.

Já Rebeha Chougui, de 60 anos, com origem argelina e militante da LFI desde 2017, mostrou ser leal a Melenchon “há muito tempo”, sem nunca o ter visto antes pessoalmente até este momento, num discurso “poderoso e ousado” para quem, como ela, tem origem estrangeira e sente preocupação com o crescimento da extrema-direita.

“Estamos a caminhar para uma guerra mundial, porque quando há demasiada desigualdade, o que acontece é que se torna numa guerra, e neste momento é catastrófico, porque o capitalismo está em crise”, afirmou Rebeha Chougui.

A militante da LFI considerou que o cargo de primeiro-ministro não é algo benéfico para Jean-Luc Mélenchon, apesar de ser um “homem ligado à literatura”, com sentido de humor e que “é capaz de ensinar coisas”.

“Infelizmente, dado o conteúdo do voto da direita e o facto de que haverá uma coligação entre a direita e a extrema-direita, não creio que a Nova Frente Popular consiga impor um primeiro-ministro, eu gostava, mas acho que não”, disse Rebeha Chougui, acrescentando que vão “ter deputados suficientes para resistir” e começar a preparar-se para as próximas eleições.