Depois de cinco horas de debate parlamentar com sinais de aproximação (mas também crispação) entre PSD e PS, Pedro Nuno Santos deu uma longa entrevista onde garantiu partir “com otimismo” para negociação com Governo sobre o Orçamento para 2025, mas sem descartar que possa acabar mal e avisando que estas conversas “não podem ser condicionadas pelo receio de eleições antecipadas”.

Numa entrevista ao canal Now, o líder socialista assegurou que parte com “boa fé para as negociações” e que tem a “expectativa” de poder vir a viabilizar o Orçamento”, embora diga que “não pode garantir” que passe: “Se o Governo não estiver na disposição de fazer uma negociação séria connosco e não ceder de forma franca ao PS ficamos com dificuldade em viabilizar o Orçamento”. E que penalizações eleitorais teria isso? Pedro Nuno assume que “a vida política comporta riscos” mas também diz que o “PS seria penalizado se não fosse fiel aos seu programa, aos seus valores e ao seu eleitorado”.

Admite que o PS “não quer fazer o Orçamento do Estado, mas se é para viabilizar, então tem de haver marcas do PS”, assume ao mesmo tempo que diz que as condições do Governo “exigem negociação e cedência”. Não sendo “parceiro da AD”, jura estar disponível para negociar o OE para “evitar eleições antecipadas” e permitir que o país tenha Orçamento.

Quando questionado sobre a cedência que o Governo pode apresentar em matéria de IRC e se essa é uma condição para aprovar o OE — depois do que aconteceu na manhã desta quarta-feira no debate do Estado da Nação –, Pedro Nuno respondeu que “não, o Orçamento não se resume a uma medida”. E voltou a defender a posição do PS, que passa por uma redução deste imposto para empresas que reinvestem os seus lucros nos salários ou na inovação e desenvolvimento.

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O socialista, que já negou a existência de linhas vermelhas nesta negociação, disse nesta entrevista que há, no entanto, “áreas de preocupação” que enumerou referindo que o PS prefere baixar impostos indiretos, na Segurança Social não quer que sejam deixadas de fora as pessoas que estiveram em regime não contributivo, e na Educação e no acesso ao Ensino Superior quer acabar com “desigualdade”.

Sobre as posições dentro do PS sobre o Orçamento (onde têm sido noticiadas divergências, algumas delas até públicas), o líder do partido disse que “há um pensar diferente dentro do partido” sobre vários temas que são “debatidos”, mas no fim quem decide é a direção. Recusa a dicotomia “radical” e “moderado” dentro do PS e afirmou que apesar de haver posições diferentes no partido, tem “dificuldade” em comentar críticas “de pessoas que não as assumem de forma frontal”: “Nem tenho respeito por quem faz críticas sem dar a cara”.

Pedro Nuno não vai exigir ser ouvido na escolha de sucessor da Lucília Gago

Na mesma entrevista, o líder do PS falou de Justiça, com críticas recuadas e genéricas a “inquéritos que se arrastam”, “detenções que se prolongam”, “abusos” nas escutas, e foi também questionado sobre a sucessão, em outubro, da atual procurador-geral. Com Lucília Gago na reta final do mandato e a nomeação de um substituto para breve, Pedro Nuno Santos diz que, se fosse primeiro-ministro, “provavelmente ouviria todos, mas pelo menos o maior partido da oposição”. “Mas não faremos qualquer cavalo de batalha sobre essa matéria”, assumiu, garantindo que não fará “qualquer tipo de exigência” para ser tido e achado numa nomeação que é da competência do Presidente da República, após indicação do Governo.

Quanto ao perfil do próximo PGR, assume que concorda com o que foi definido pela ministra da Justiça e que o escolhido deve ter “capacidade de liderança e de comunicação”. Diz que não quer fazer críticas à atual PGR porque a “política de Justiça é também responsabilidade dos políticos, quanto à atuação do Ministério Público é da responsabilidade do próprio MP e da Procuradora”. Ainda assim, acaba por dizer que, “quando se exige que a política não interfira na política, isso também tem de ser ao contrário”.

Acabou a entrevista a falar da próxima batalha eleitoral, as autárquicas do próximo ano. Prometeu “empenho” para reconquistar Lisboa, criticando a gestão de Carlos Moedas. Não aponta nomes de eventuais candidatos e quando questionado sobre Alexandra Leitão ou Mariana Vieira da Silva, o socialista assumiu que seriam “as duas excelentes candidatas e duas grandes presidentes de câmara, com visão e capacidade de trabalho”. E sobre um acordo à esquerda para essas eleições, defendeu que “a haver algum entendimento terá de ser pré-eleitoral”, tendo em conta as características das autárquicas.