Kamala Harris apresentou oficialmente Tim Walz como o seu vice-Presidente na corrida à Casa Branca, num comício esta terça-feira no Estado da Pensilvânia. Este foi também o seu primeiro discurso desde que recebeu a nomeação oficial do partido. “Estas duas semanas foram um turbilhão”, resumiu Harris.

A candidata democrata começou por descrever as características que procurava no seu potencial vice. “Um líder que vai ajudar a unir o nosso país, um lutador pela classe média, um patriota que acredita, como eu, na promessa extraordinária da América. Uma promessa de liberdade, oportunidade e justiça, não apenas para alguns, mas para todos”, enumerou.

“Pensilvânia, hoje estou aqui, porque encontrei este líder: Tim Walz”, exclamou, perante os aplausos efusivos do público. Kamala continuou relembrando todos os papéis que Walz ocupou ao longo da sua vida: governador, marido, pai, sargento, congressista, professor, treinador e mentor dos seus alunos.

“Em 91 dias, a nação vai conhecer o treinador Walz por um nome diferente: vice-Presidente dos Estados Unidos”, afirmou. “Ele é o tipo de pessoa que faz toda a gente sentir que pertence e as faz sentir grandes. Esse é o tipo de vice que vai ser e que a América merece“, elogiou ainda.

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Argumentando que o par democrata está “desfavorecido” na corrida contra a dupla Trump-Vance, o resto do discurso de Harris seguiu um guião consolidado nas últimas duas semanas. Declarou “conhecer o género de Donald Trump”, dos seus tempos como procuradora e defendeu o fortalecimento da classe média como caminho para fortalecer o país, realçando desta vez, as medidas que Walz apoiou como congressista e depois governador a favor da classe média.

Kamala Harris faz comício de estreia da sua campanha com discurso reciclado

A democrata reafirmou ainda as ideias chave da sua campanha, de menos regulações nos direitos reprodutivos e mais regulações nas armas, principalmente nas armas semiautomáticas. Concluiu com o grito de guerra “quando lutamos, ganhamos”, antes de passar a palavra a Walz.

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Inevitavelmente, o Governador do Minnesota começou por agradecer a Harris. Para além do cargo, agradeceu-lhe por ter “trazido de volta a felicidade”. Walz comparou o seu currículo com o da atual vice-Presidente, destacando que ambos sempre focaram o seu trabalho nas suas comunidades e nunca tiveram problemas em chegar “ao outro lado do corredor”, ou seja, em entrar em contacto direto com os seus eleitores.

Entre as palavras que Harris já tinha deixado e as histórias que Walz contou, traçou-se em Filadélfia um claro perfil do agora candidato a vice: um homem tradicional — 24 anos na Guarda Nacional, um casamento com uma professora, dois filhos, o líder que levou uma equipa ao seu primeiro título e o congressista que ganhou o concurso de tiro do Capitólio –, com pensamentos modernos — apoiou a fundação do primeiro grupo de apoio a estudantes gay na sua comunidade, implementou refeições gratuitas na escola pública e defendeu os direitos reprodutivos, exigindo aos críticos que “se metam na sua vida”.

Tim Walz, o governador “terra a terra” que Kamala Harris escolheu como número dois para conquistar votos na muralha azul

“Aprendi a arte do compromisso, sem comprometer os meus valores”, resumiu Walz sobre a sua carreira, argumentando que isso o destaca de Trump e Vance, que sempre trabalharam para o seu próprio proveito. “Dá para ver que eles são esquisitos e sinistros”, declarou, repetindo adjetivos que já tinha utilizado para se referir aos republicanos.

“O Trump não sabe nada sobre serviço, ele está demasiado ocupado a servir-se a si mesmo. Ele semeia o caos e a divisão, isto sem falar do seu currículo como Presidente. O crime aumentou durante a sua Presidência e nem contámos com os crimes que ele cometeu”, continuou, arrancando risos à plateia e gritos de “lock him up” (“prendam-no” em tradução livre).

Tim Walz concluiu num eco de Kamala Harris, destacando a importância destas eleições e o que está em jogo, caso os republicanos ganhem: o projeto 2025, uma reversão total de direitos e liberdades e uma situação ainda pior do que os quatro anos da sua presidência, garantiu.

“É uma oportunidade de decidir as nossas diferenças políticas, não com violência, mas com votos. Donald Trump não está a lutar por vocês ou pelas vossas famílias”, afirmou. No silêncio, um grito interrompeu com “tu é que estás”. Perante a manifestação de apoio, Walz sorriu, acenou e assegurou que 91 dias é tempo suficiente para trabalhar e lutar. “Dormimos quando morrermos! Quando lutamos, ganhamos”, exclamou.

Na segunda-feira à noite, Kamala Harris foi oficializada como candidata democrata. Na terça-feira de manhã, escolheu o Governador do Minnesota para ser o seu vice. Esta terça-feira à noite, apresentou-o aos eleitores. Apesar das poucas horas de preparação, a Universidade Temple, em Filadélfia, recebeu os candidatos democratas a rigor, numa maré de azul com cartazes em que se podia ler “Harris-Walz” e gritos efusivos.

Harris e Walz foram apresentado por Josh Shapiro, Governador da Pensilvânia, que era um dos favoritos para assumir a vice-Presidência da candidata democrata. Reafirmando o seu apoio a Harris, Shapiro deixou ainda longos elogios ao Governador do Minnesota, que este devolveu brevemente no início do seu discurso.

A capital do Estado da Pensilvânia foi a primeira paragem de uma tour dos democratas pelos swing states, os Estados decisivos para a eleição. Agora, o par segue para Eau Claire, no Wisconsin, onde vai discursar na quarta-feira e depois para Detroit, no Michigan.

Com as deslocações à Carolina do Norte e à Geórgia adiadas devido ao furacão Debby, Harris e Walz vão terminar a sua primeira grande prova de fogo no sábado, em Las Vegas (Nevada), depois de uma passagem por Phoenix, no Arizona, na sexta-feira.

*Texto editado por Cátia Andrea Costa