Enviado especial do Observador em Paris, França
Uma medalha de prata é sempre uma medalha de prata, no caso destes Jogos com um pedaço de ferro tirado da Torre Eiffel para se tornar ainda mais marcante para quem o alcança. Uma medalha de prata, não sendo o sempre desejado ouro, não deixa de ser uma medalha de prata. No entanto, em alguns casos, acaba por pesar mais o ouro perdido do que a prata ganha. Pedro Pablo Pichardo, campeão olímpico em Tóquio que ficou a três centímetros de se tornar o primeiro atleta a revalidar o título por Portugal, é um exemplo paradigmático disso mesmo. Contudo, entre essa frustração, cumpriu o que prometera com outros, neste caso a imprensa, e passou pela zona mista após a final. “Na qualificação não falei, prometi que ia falar depois da final, estou cá”, começou por atirar. Nos saltos, cometeu erros. Aí, nada falhou. A seguir, todos andavam à sua procura.
A informação oficial que existiu inicialmente dava conta de que a conferência de imprensa deveria ser apenas depois da cerimónia protocolar, como acontecera por exemplo na véspera com Iúri Leitão com a prata na prova de omnium do ciclismo de pista. A par disso, e depois de ter falado com os jornalistas portugueses, o atleta seguiu para a zona do controlo anti-doping, deixando depois o local e seguindo para a Aldeia. “Pedimos desculpa, ainda estamos à procura do atleta Pedro Pichardo, não sabemos onde está”, disse em paralelo com esse controlo o responsável da comunicação que estava presente na conferência de imprensa, onde estiveram Jordan Díaz e Andy Díaz Hernández. Ninguém percebeu ao certo o que tinha acontecido, sendo que quando os responsáveis nacionais perguntaram se a conferência era só depois das medalhas, que iriam ser entregues apenas no sábado, o voluntário que os acompanhava acenou com a cabeça.
Ao final da tarde deste sábado, mais concretamente às 18h41 (uma hora que ficará para sempre marcada em Paris por ter sido o momento em que a equipa de madison nacional começou uma recuperação que acabou com a medalha de ouro de Iúri Leitão e Rui Oliveira), Pichardo recebia a medalha de prata numa cerimónia que contava com a presença de Raúl Chapado Serrano, membro da World Athletics, e Astrid Uhrenholdt Jacobsen, norueguesa que é uma antiga campeã olímpica mas nos Jogos de Inverno. A tensão entre Díaz e Pichardo é notória sempre que estão no mesmo espaço e não têm uma prova para medir forças sobre quem é o melhor. Foram corretos, aplaudindo o nome do adversário ao ser chamado. Quando o português recebeu a medalha, o espanhol nem olhou; quando o espanhol recebeu a medalha, o português olhou mas apenas para uma medalha que podia ser sua. A seguir ao hino, cada um foi pelo seu caminho.
A seguir a esse momento que antecedeu o arranque das provas no Stade de France, Pichardo voltou a passar pela zona mista. Aliás, entre o ponto da RTP e a parte da imprensa fez um compasso de espera para assistir ao triunfo de Iúri Leitão e Rui Oliveira. “Faltava só mais esta nas medalhas, já está”, referiu a propósito do ouro no ciclismo de pista. “Acho que é muito bom para o país, também é muito bom para o desporto português termos muitas outras modalidades que têm estes resultados não sendo o futebol. É muito bom para os portugueses”, começou por comentar após assistir ao feito através do telefone.
“Agora já aceitei a prata, as coisas não correram bem ontem, cometi vários erros… Consegui aceitar e agora já estou contente por ter ganho a medalha de prata. Ter uma medalha olímpica é sempre uma boa sensação e ganhar mais uma agora para casa é muito bom. É mais uma, não é uma. Estou contente. É óbvio que gostaria de ter ganho mas estou contente, feliz”, contou. “Retirada? Ainda não sei… Ainda ontem me disseram que tinha mais uma competição, mais uma Liga Diamante a final. O meu empresário já me tinha dito e hoje esteve comigo na Aldeia. Como tinha o pensamento de não continuar veio logo ter comigo… Mas ainda não sei, vamos ver como as coisas vão correr. Espero que corra bem mas vamos ver”, acrescentou.
Em paralelo, Pichardo revelou algumas das mensagens que recebeu e o encontro com Luís Montenegro na Aldeia Olímpica. “Recebi uma mensagem do presidente do Benfica, também de muitos amigos e portugueses que têm o meu contacto, da minha família. Primeiro-ministro? Sim, vi-o hoje na Aldeia, cumprimentámo-nos, deu-me os parabéns e tentei passar a mensagem para podermos marcar um encontro. Não sei se será possível, não sei como funcionam as coisas mas passei essa mensagem para reunir com ele. Acho que os políticos e o pessoal que está acima de nós no desporto têm de começar a ter reuniões e a ouvir mais os atletas, é sempre com os outros dirigentes mas nunca se reúnem com os atletas e deviam, perceber o que precisam, o que é que acham, se as coisas estão a correr bem, acho isso importante e espero ter essa reunião com ele para que as coisas possam melhorar para mim e para todos os atletas portugueses”, contou.
“Não sabia, não sabia de nada… Ontem tiraram-me sangue dos dois braços, estou a começar a ficar cansado de andar sempre no anti-doping. Já fiz uma reclamação, acho que durante o ano já vou em 20 testes anti-doping seguidos não sei porquê. Vão a casa, vão fora do horário, vão ao treino… Andam a perseguir-me em todo o lado. Eu nunca tive nenhum problema com doping, nunca dei positivo em nada, não sei o que se passa. Já fiz uma reclamação através do meu empresário. Ontem quando saí da competição o senhor dos testes apanhou-me logo, não sei se viste que ele andava aqui, e também não tinha informação nenhuma de uma conferência de imprensa, só me informaram que tinha de ir à zona mista. Depois quando estava na Aldeia começam a dizer ‘Ah, mais uma confusão com o Pichardo’ e eu a pensar que não sabia…”, concluiu depois, numa explicação sobre o “caso” da noite anterior que se tornou um desabafo sobre os controlos.