O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, acusou esta quinta-feira o Governo de incompetência devido à incapacidade de resolver problemas que afetam o Serviço Nacional de Saúde, como o encerramento de urgências em várias zonas do país.

O líder do PS visitou a Feira Medieval de Silves, no distrito de Faro, e em declarações aos jornalistas criticou os anúncios de abertura de mais dois cursos de Medicina, em Évora e Vila Real, feitos pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, na quarta-feira, na Festa do Pontal, em Quarteira, no concelho de Loulé, salientando que se trata de uma medida que só vai dar resultados dentro de uma década.

“Ontem [quarta-feira], mais uma vez, não pareceu uma intervenção de um primeiro-ministro, sim de um líder parlamentar. Aliás, eu julgo que Luís Montenegro ainda não despiu esse fato e julgo que nunca conseguirá ajustar-se daquela que é a posição de um primeiro-ministro, que tem a capacidade de reconhecer aquilo que não está a correr bem e aquilo que são falhas próprias, e ao mesmo tempo apresentar uma visão para resolver os problemas, isso nós não tivemos”, considerou Pedro Nuno Santos.

O secretário-geral do PS ironizou com as declarações do primeiro-ministro sobre as dificuldades em resolver problemas na Saúde, afirmando que o Governo e Luís Montenegro “descobriram agora que não é fácil resolver os problemas do Serviço Nacional de Saúde”, depois de na campanha eleitoral ter criado expectativas e tentado “passar a ideia que só por preconceito ideológico é que os problemas da Saúde não estavam resolvidos pelo PS”.

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E por isso prometeram um programa de emergência, que estaria rapidamente aprovado, com dezenas de medidas urgentes para resolver problemas urgentes”, recordou, considerando que, “ao contrário do que o senhor primeiro-ministro disse”, as dificuldades nas urgências hoje “não são menores do que foram há um ano, são maiores”.

Pedro Nuno Santos disse que hoje há “mais urgências encerradas” e “com constrangimentos” e isso demonstra “o fracasso dessa política” do Governo. “Não vale a pena vir com a conversa de que tiveram oito anos e agora só estão há quatro meses, porque criaram a expectativa junto dos portugueses, para ganhar obviamente eleições, de que conseguiriam resolver. E os problemas hoje estão piores do que há um ano por responsabilidade exclusiva do Governo”, argumentou.

O secretário-geral do PS disse que “o Governo falhou, foi incompetente na gestão do SNS em plena época de verão”, e apontou como exemplo o distrito de Setúbal, que, segundo Pedro Nuno Santos, “nunca tinha estado um único dia com todos os serviços de obstetrícia e ginecologia encerrados” e “pela primeira vez estiveram vários dias sem nenhum serviço de obstetrícia e ginecologia aberto”.

“Isso resulta da incompetência do Governo, e não há como escamotear”, imputou, lembrando que antes do discurso de Luís Montenegro na festa de ‘rentrée’ do PSD no Pontal foi criada também a expectativa de que “seriam apresentadas medidas para dar resposta aos problemas da saúde” e as propostas avançadas, referentes à criação de mais dois cursos de medicina, só vão “ter consequências é daqui a 10/15 anos”.

O secretário-geral do PS também criticou o anúncio de Montenegro sobre a atribuição de um complemento extraordinário de pensões em outubro, classificando-o como “eleitoralista”, e desvalorizou a criação de passes ferroviários, considerando que “não há grande novidade” numa medida que “já estava aprovada no Orçamento do Estado para 2024 e carecia era de implementação”.

O líder do PS criticou Luís Montenegro e o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, por terem vindo a dizer que “a situação orçamental que herdaram não era tão boa como se dizia”, mas salientou que a situação financeira deixada pelo PS “permitiu ao primeiro-ministro chegar a 14 de agosto e dizer que, em outubro, vai haver um complemento adicional para os mais velhos”.

Quisesse este Governo resolver problemas estruturais dos mais velhos em Portugal, o aumento de pensões era permanente, isto não é um aumento de pensões, isto é um suplemento que se repete apenas num mês e não tem repetição nos outros meses”, argumentou.

Pedro Nuno Santos reconheceu que o PS, quando estava no Governo, também atribuiu um suplemento extraordinário a pensionistas, mas fê-lo “num contexto inflacionário” para dar maior poder de compra aos mais velhos. “Para lá da lei de atualização de pensões, o PS fez seis aumentos permanentes nas pensões, fez esse suplemento extraordinário uma vez, num contexto inflacionário que não existe hoje e portanto eu também retiro desta medida uma conclusão, o Governo quer, está convencido de que precisa de ter umas eleições antecipadas, é a única razão para esta medida”, criticou.

Pedro Nuno Santos disse que, caso o PSD e o Governo quisessem resolver o problema estrutural dos mais velhos, no que diz respeito aos rendimentos, porque as pensões ainda são baixas, então faziam um aumento permanente”. “Isto não é um aumento permanente, é um aumento que tem outro objetivo, que é um objetivo eleitoral, como é evidente”, reiterou.

António Costa é “um dos maiores” do PS

O líder do PS disse ainda que o partido vai acolher o ex-primeiro-ministro António Costa na Academia Socialista, em 28 de agosto, como “um dos maiores” da formação política. Em declarações aos jornalistas afastou a ideia de que a presença do ex-governante seria um sinal de reconciliação depois de António Costa ter estado ausente desde a campanha para as eleições legislativas.

“Qual reconciliar? António Costa é um dos maiores do PS, foi primeiro-ministro e fui membro do seu Governo durante sete anos, trabalhei com ele sete anos, estive com ele desde o início na formação da solução de Governo muito importante para o país em 2015 [Geringonça}, e portanto nós vamos recebê-lo na nossa Academia Socialista com muita saudade de o ter connosco, de ouvi-lo sobre a Europa e sobre o Mundo, sobre aquilo que ele entender partilhar connosco e com os jovens socialistas”, afirmou Pedro Nuno Santos.

O secretário-geral do PS também disse ser positiva a presença de Augusto Santos Silva, ex-presidente da Assembleia da República, no Fórum Socialismo, que marca a “rentrée” do Bloco de Esquerda, entre 30 de agosto e 01 de setembro, em Braga, e conta também com as participações do jornalista e ex-dirigente bloquista, Daniel Oliveira, e a eurodeputada e ex-ministra espanhola Irene Montero, entre outros.

Ao ser questionado se a presença de Augusto Santos Silva na iniciativa do Bloco não causava estranheza, Pedro Nuno Santos respondeu “nenhuma”. “Nós, ao longo dos anos, temos tido a capacidade de dialogar com os outros partidos, nomeadamente com os partidos à esquerda, com quem aliás estivemos a trabalhar durante vários anos no Governo”, recordou, referindo-se aos anos em que o PS fez acordos com o PCP e com o BE para viabilizar o Governo, entre 2015 e 2019.

O secretário-geral socialista considerou, por isso, que “ver um alto dirigente do PS, ex-presidente da AR, a participar numa iniciativa do BE”, é vista com “toda a naturalidade”. “E achamos mesmo importante que os diferentes partidos em Portugal, nomeadamente os diferentes partidos à esquerda, continuem a dialogar e a participar nas iniciativas dos outros”, afirmou.