Quando foi libertado, em abril, pelos jihadistas do Estado Islâmico não fez nenhuma declaração pública sobre os restantes cidadãos que continuaram reféns, onde se incluíam James Foley e Steven Sotloff, por medo de represálias contra eles. Mas agora, em entrevista à rádio francesa Europe 1, o jornalista francês Didier François diz ter uma ideia de quem o jihadista que esteve por detrás da execução do jornalista norte-americano possa ser, ainda que não conheça a sua verdadeira identidade.

“Reconhecer é uma palavra muito forte. Consigo ter uma ideia de quem é”, afirmou o francês, que esteve com Foley e outros jornalistas a cobrir a guerra civil síria e que foi sequestrado por membros daquele grupo extremista islâmico. Mas recusou-se a ser mais específico. Antes de ser libertado, François diz que foi avisado de que se falasse sobre o facto de ter estado detido juntamente com os restantes “eles seriam punidos”.

Por enquanto, pouco se sabe sobre a identidade do jihadista britânico. Mas Didier François desvenda mais pormenores sobre o período em que  cativeiro e a personalidade “forte” e “digna” do jornalista norte-americano morto às mãos dos rebeldes. Segundo relata, Foley foi abordado pelo Exército islâmico à saída de um ciber-café na cidade de Idlib, na Síria, onde tinha estado a falar com a família e os seus editores, tendo depois sido feito refém. James Foley, diz, chegou a ser isolado dos outros para ser espancado depois de os militantes do Estado Islâmico terem descoberto fotografias do seu irmão com o traje da Força Aérea norte-americana. E um episódio que descreve como particularmente horrível, quando o norte-americano “foi obrigado a simular que estava crucificado numa parede”.

Também outro jornalista francês, Nicolas Henin, disse à BBC que passou sete dos dez meses em que esteve detido com Foley, incluindo uma semana em que os dois estiveram algemados juntos. Segundo Henin, os militantes do Estado Islâmico tratavam o norte-americano como “uma espécie de bode expiatório” e era agredido mais vezes do que os restantes. “Alguns países como os EUA, mas também o Reino Unido, não negoceiam com os terroristas e por isso põe o seu povo em risco”, disse.

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O jihadista que aparece no vídeo divulgado na terça-feira a executar James Foley está a ser identificado como um cidadão britânico, de Londres, conhecido entre os jihadistas como ‘John’. Segundo os serviços de informação britânicos e norte-americanos, que estão a tentar desvendar a identidade e localização do carrasco, será o cabecilha de um grupo de três extremistas britânicos apelidado de ‘Os Beatles’ pelo seu sotaque e nacionalidade.

O Huffington Post arrisca fazer uma lista de factos que já se sabem, ou pensam saber, sobre o assassino de James Foley:

  • É o cabecilha de um grupo de três extremistas britânicos intitulado ‘Os Beatles‘, sediado na cidade de Raqqa, na Síria. Era conhecido como o ‘John’;
  • É canhoto. O vídeo está a ser analisado à lupa pelos serviços de informação britânicos, MI5 e Scotland Yard, assim como pelo FBI, atentando particularmente ao seu peso, altura, movimentos corporais, entoação e a forma como segura a arma. Segundo o Telegraph, o MI5 tem uma base de dados de todos os britânicos que viajaram para a Síria e está a comparar cada um com o homem do vídeo;
  • É provavelmente do sul de Londres e pode ter raízes no Afeganistão. Uma especialista em linguística, Clair Hardaker, afirmou à comunicação social que a forma como pronuncia as vogais parecem revelar que vem do sudeste do país, muito provavelmente do sul de Londres, e uma analista forense do discurso e da voz, Elizabeth McClelland, identificou o seu sotaque como tendo “possíveis influências de Farsi, o que pode sugerir uma ligação familiar ao Afeganistão”.
  • Poderá ter sido escolhido para aparecer no vídeo de propaganda islâmica e anti-americana porque o seu sotaque chocaria ainda mais o ocidente. “Isto é significativo porque representa uma mudança na forma como ameaçam o ocidente. Estão-nos a dizer ‘vamos atrás de vocês se nos atacarem'”, disse ao Guardian o professor Peter Neumann, diretor do Centro Internacional para o estudo do Radicalismo, do King’s College.
  • A família de James Foley recebeu um e-mail dos jihadistas antes da execução, informando-os da intenção de executar o jornalista em retaliação pelos ataques aéreos contra os redutos rebeldes no norte do Iraque. Segundo Philip Balboni, diretor do Global Post, para onde Foley trabalhava na altura do seu desaparecimento, o grupo radical “não fez exigências” e não permitiu conversações.
  • Foi um dos principais negociadores da libertação de 11 reféns no início do ano, que acabaram por ser entregues às autoridades turcas.