O presidente da Câmara Municipal de Óbidos parece saber onde — e como — conquistar público para o Folio – Festival Literário Internacional. A apresentação decorreu na quinta-feira ao fim da manhã, com convidados e jornalistas. Mas não foi em Óbidos. Foi em Lisboa, no Teatro da Trindade.
Humberto Marques tinha uma frase preparada: “O festival começa na estação do Rossio e encontra em Óbidos o seu espaço de continuidade”. Estava assim destacada uma das novidades da segunda edição do Folio, que decorre entre 22 e setembro e 2 de outubro.
O autarca referia-se ao acordo entre a Câmara de Óbidos e a Comboios de Portugal. Durante os 11 dias do festival, partirá um comboio da estação do Rossio, em direção à vila. Tem dois horários de ida (10h25 e 17h55) e dois horários de volta (15h17 e 00h35), com bilhete de nove euros e meio por passageiro.
Visivelmente entusiasmado com a iniciativa, o presidente da Câmara referiu-se aos “mais de 250 eventos em 11 dias”, o que corresponde a uma “densidade de programação absolutamente alucinante”. Classificou o Folio como “o festival literário mais importante, e um dos maiores, à escala europeia”.
Óbidos ostenta desde o ano passado o título Vila Literária, sendo uma das duas localidades portuguesas pertencentes à Rede Cidades Criativas da UNESCO (a outra é Idanha-a-Nova).
Da programação completa, agora tornada pública, destaca-se a visita do escritor V. S. Naipaul, Nobel da Literatura em 2001, para uma conversa conduzida pelo jornalista e crítico José Mário Silva (dia 22, às 21h00).
Salman Rushdie estará presente para uma conversa com a jornalista e escritora Clara Ferreira Alves (dia 30, 21h00).
Outro nome relevante é o de Jutta Bauer, ilustradora alemã, vencedora do Prémio Hans Christian Andersen, o mais importante prémio de literatura infanto-juvenil (dia 24, 16h00). Assim como o do islandês Jón Kalman Stefánsson, considerado um dos mais relevantes escritores europeus atuais (dia 24, 21h00).
De entre os portugueses, menção para Eduardo Lourenço, Ana Luísa Amaral, Manuel Alegre, Mário Zambujal, Gonçalo M. Tavares, Richard Zimler, Inês Pedrosa, Francisco José Viegas, José Riço Direitinho, Jacinto Lucas Pires e ainda Inês Fonseca Santos e Djaimilia Pereira de Almeida.
O Folio decorre dentro e em volta das muralhas do castelo e será encerrado pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, que nesse dia se junta ao jornalista Afonso Camões para uma conversa de tema livre (2 de outubro, 18h00).
“Uma das críticas que fazem aos festivais literários é que vão sempre os mesmos e os amigos”, reconheceu José Pinho, promotor da iniciativa e responsável pela programação. “Queremos ter sempre um Nobel da Literatura e este ano convidámos muitos nomes novos. Temos a ambição de que um dia tenham passado pelo Folio todos os escritores portugueses”, afirmou.
José Pinho, de 63 anos, preside à associação cultural Sociedade Vila Literária de Óbidos, que promove o Folio, e é sócio-fundador da livraria Ler Devagar, em Lisboa, assim como de 14 livrarias que vão estar de portas abertas durante o festival em Óbidos.
O programa está dividido por áreas, inclui cinema, música, exposições, debates, aulas, tertúlias, gastronomia, e teve contributos de seis curadores: Anabela Mora Ribeiro, Eduardo Agualusa, Mafalda Milhões, Maria José Vitorino, Celeste Afonso e Julita Santos.
Muitas das atividades decorrem à mesma hora, o que é intencional, segundo os organizadores, pois assim permite que os públicos se espalhem pelo espaço consoante os seus gostos.
Também intencional é a inexistência de um tema geral específico, ainda que muitas das conversas agendadas tenham por mote a ideia de utopia, o que se relaciona com o quinto centenário da publicação da Utopia de Thomas More, assinalado este ano.
Durante o Folio será ainda inaugurada a exposição “Dom Quixote”, com gravura, serigrafia e desenho de Júlio Pomar, a partir da obra de Cervantes.
Decorrerão iniciativas improváveis, como seja a Ambulância Literária, dentro das muralhas, com “consultas para receitar livros em vez de Xanax”, no dizer de José Pinho, e a primeira “Feira do Livro Raro e Antigo de Instrução e Cultura”, com obras de alfarrabistas.
Em termos musicais, Sérgio Godinho junta-se ao pianista Filipe Raposo e ao coreógrafo Rui Horta, para uma intervenção inédita, e o fadista Camané estreia um espetáculo inteiro de canções de Tom Jobim.
O orçamento total, de acordo com Humberto Marques, é de mais de um milhão de euros, sendo 595 mil euros da Câmara e quase meio milhão de fundos da União Europeia. No ano passado, a Câmara gastou 660 mil euros.