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A estratégia de Salvador Malheiro para controlar o PSD

A divisão interna na direção do PSD vai além das divergências públicas. "O ambiente na sede é cada dia pior", relata um dirigente próximo de Rio. Malheiro e Silvano disputam o controlo do aparelho.

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De um lado está o vice-presidente Salvador Malheiro. Do outro, o secretário-geral José Silvano. Um tem sido visto em manobras frequentes para estender a sua área de influência dentro do partido, o outro tenta juntar esforços para unir o partido em torno de Rui Rio. É uma luta de poder diplomática e silenciosa.  Mas as tropas já começaram a ser arregimentadas e suspeita-se de que este confronto possa ser a ante-câmara da disputa interna que se pode gerar depois de uma eventual saída do presidente do PSD. Com agenda ou sem ela, há sinais claros de que a divisão já se instalou no núcleo duro do partido. E o presidente está longe de a controlar.

Uma direção partida ao meio

“O PSD está a viver tempos muito difíceis. O ambiente que se vive na sede nacional é cada dia pior”. A descrição é feita por um dirigente do partido, muito próximo de Rui Rio, que retrata um clima de crispação crescente na São Caetano à Lapa. “O exemplo mais público disso tem sido o desalinhamento de estratégia e de opiniões visto nas últimas declarações de Rui Rio, David Justino, Castro Almeida ou do líder parlamentar, Fernando Negrão”, prossegue. Mais do que essa divisão, que é pública, “vive-se uma enorme desorientação interna — é o controlo da sede nacional que está em disputa”. E há um nome que é apontado como sendo o gatilho de toda a convulsão. “Salvador Malheiro tem estado nos últimos meses a trabalhar para ser o próximo controlador da máquina, uma espécie de Marco António Costa 2.0, mas com fortes ambições de ser líder do partido num curto espaço de tempo”,  conclui.

Segundo apurou o Observador, a estratégia do autarca de Ovar já está em marcha há algum tempo e gerou, como reação, uma espécie de movimentação interna para travar os ímpetos do vice-presidente. Inicialmente de forma desorganizada, depois quase de forma natural, a sede nacional foi-se partindo ao meio entre os que se juntavam a Malheiro e aqueles que queriam condicionar a sua estratégia. O grupo de maior lealdade a Rui Rio tem José Silvano e o seu secretário-geral adjunto, Hugo Carneiro, à cabeça. O outro é encabeçado por Salvador Malheiro que, segundo várias fontes ouvidas pelo Observador, conta com a assessora de imprensa do líder social-democrata, Florbela Guedes, como principal pivô na sede. “Esta disputa pelo controlo do partido existe desde que Rio chegou à presidência do PSD e foi crescendo nos últimos meses“, afirma outra fonte conhecedora do desconforto que se vive no quartel-general do PSD.

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"Salvador Malheiro tem estado nos últimos meses a trabalhar para ser o próximo controlador da máquina, uma espécie de Marco António Costa 2.0, mas com fortes ambições de ser líder do partido num curto espaço de tempo", relata um dirigente social-democrata muito próximo de Rui Rio.

A mais recente ramificação desta pretensão de controlo da máquina foi a criação do Twitter oficial de Rui Rio, que se estreou na rede social no último fim-de-semana. Foi uma iniciativa conjunta do próprio líder do PSD com a equipa de comunicação. A gestão, essa, ficou a cargo de Salvador Malheiro. O tom utilizado pelo líder nas redes assemelha-se ao que o vice-presidente utiliza na sua conta pessoal. Na quarta-feira, Rui Rio atacou diretamente a comunicação social num tweet que motivou uma resposta da direção do Expresso, visado na publicação.

A estratégia e o tom utilizados surpreendem por fazerem lembrar os que são usados, por exemplo, por Donald Trump: mesmo sem factos que o sustentem, tentar desacreditar a comunicação social para que os eleitores passem a dar primazia às redes sociais onde há um controlo direto da mensagem. (Este caso não é inédito e durante o verão já tinha dado polémica a utilização da conta oficial do PSD para atacar uma jornalista do Público). Nas últimas semanas, e antes de Rui Rio se aventurar no Twitter, Malheiro já tinha recorrido às redes sociais para criticar a imprensa. Um estilo e uma linha de atuação semelhantes que não passaram despercebidos no seio do partido. “A ideia podia ser boa, mas não sei se este é o melhor caminho”, desabafa um conselheiro nacional.

Esta postura, no entanto, não tem sido do agrado de José Silvano nem do grupo que o apoia, que olha para o que se está a passar com desconfiança e sente que pode haver um esvaziamento da sua própria função. Depois de ter conquistado uma posição de relevo durante a campanha interna e de ter chegado à direção do partido pela mão de Rui Rio, Malheiro quis capitalizar os apoios que conseguiu reunir para passar a ser o homem do aparelho. O líder da distrital de Aveiro fez tudo à revelia do secretário-geral, cargo que, por norma, tem o pelouro do controlo operacional do partido. Quanto ao líder do PSD, tem estado à margem desta disputa desde o início, mas o secretário-geral e os seus apoiantes lembram que Silvano foi escolhido pelo próprio Rui Rio para controlar o dia-a-dia dos sociais-democratas.

“Se, ao longo dos meses, a direção nacional foi ficando enfraquecida pelas desorientações na comunicação, pelas acusações de falta de oposição, pela aproximação ao PS e, sobretudo, pela crítica interna“, explica uma outra fonte próxima de Rui Rio, “ao mesmo tempo, Salvador Malheiro foi reforçando a sua presença na sede”. O vice-presidente social-democrata optou, desde cedo, por apostar no controlo da comunicação para robustecer a sua influência. Uma tarefa para a qual partiu com um trunfo: Florbela Guedes, responsável pela assessoria do presidente. Apesar de ser mais leal a Rio do que a qualquer uma destas correntes, está mais próxima do autarca de Ovar do que do secretário-geral e tem sido uma peça fundamental da sua estratégia.

Salvador Malheiro tem tentado controlar a comunicação através do Twitter e do WhatsApp

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O passo seguinte foi a colocação de Rodrigo Gonçalves na equipa de comunicação. Tido como um dos maiores caciques do partido a sul e forte apoiante de Rui Rio, a sua entrada não foi bem vista no partido. A proximidade a Salvador Malheiro e a pertença à poderosa família Gonçalves — que funcionou como um autêntico centro de poder no PSD/Lisboa — eram fatores que suscitavam dúvidas em vários setores. As lembranças da promessa do “banho de ética” de Rui Rio não tardaram em ouvir-se quando se anunciou que passaria a ter um cargo na equipa de comunicação com direito a lugar cativo na São Caetano à Lapa. Mas esta escolha do autarca de Ovar não foi tão bem-sucedida como Salvador Malheiro previa. “O Rodrigo Gonçalves começou por trabalhar no gabinete do [vogal da direção] Maló de Abreu, mas aquilo foi um desastre. Agora já trabalha na cave, junto dos outros funcionários da sede nacional”, conta um outro social-democrata próximo do líder do partido.

A rede da família Gonçalves: como se tornaram poderosos no PSD/Lisboa

Ainda assim, Malheiro não quis abrir mão do controlo da comunicação. A proximidade de Florbela Guedes era importante — sobretudo porque, garantem várias fontes, “tem algum ascendente” sobre Rui Rio –, a presença de Rodrigo Gonçalves ajudava, mas o vice do PSD queria ir mais longe. Assim, foi o próprio a assumir as rédeas da operação.

A espera pelo timing ideal e os grupos de WhatsApp

No passado fim-de-semana, além do Twitter oficial do líder, Salvador Malheiro começou a criar vários grupos de WhatsApp de que faziam parte as figuras mais importantes do partido — de deputados a autarcas, passando por líderes de estruturas locais ou de órgãos autónomos do partido — para estabelecer uma nova via de comunicação entre a direção e as suas bases. No fundo, para difundir a mensagem do líder e tentar evitar descoordenações ou falsas informações.

No domingo, enviou uma mensagem de introdução com assinatura pessoal, mas com a tónica de apoio ao líder: “Ontem foram constituídos grupos totalizando cerca de 600 pessoas. A ideia agora é que cada um possa criar a sua própria rede com grupos complementares e listas de destinatários sobretudo nas suas áreas geográficas! Eu continuarei a ‘alimentar’ estes grupos originais com conteúdos naturalmente centrados no nosso Presidente Rui Rio! O PSD somos todos Nós! VAMOS GANHAR!”. A ideia é, ironiza um ex-deputado social-democrata que pertence a um destes grupos e que não se quis identificar, “passar a cartilha” mas com a marca “do próprio Salvador Malheiro”.

"Pouco a pouco, ao longo dos meses, a direção nacional foi ficando enfraquecida pelas desorientações na comunicação, pelas acusações de falta de oposição, pela aproximação ao PS e, sobretudo, pela crítica interna", explica uma outra fonte próxima de Rui Rio. "Ao mesmo tempo, Salvador Malheiro foi reforçando a sua presença na sede", assegura.

“Foi uma iniciativa minha, para agregar a vontade que me foi manifestada por vários militantes, e para ampliar a mensagem do nosso líder”, assegura Salvador Malheiro ao Observador. O vice-presidente do PSD nega que se trate de um palco para ganhar protagonismo. “Não é nada mais do que aquilo que disse: é mais uma plataforma de apoio ao presidente Rui Rio”, explica. O autarca de Ovar nega ainda liderar qualquer fação interna pelo controlo da máquina partidária. “Isso então é um disparate. Refuto liminarmente todas as acusações. Ainda para mais para enfrentar o José Silvano. Estamos sempre de acordo, ambos empenhados em dar força ao nosso líder”, acrescenta, dando o tema por encerrado.

A luta pela influência e pelo controlo das operações no PSD começou pouco depois de a nova direção ter chegado. Salvador Malheiro foi o diretor de campanha de Rui Rio, com a responsabilidade de conquistar o aparelho nas eleições diretas e desempenhando a função de homem forte do candidato no terreno. Apresentava-se como o seu interlocutor mais direto e dialogava com as estruturas locais como se fosse um dos seus membros — afinal de contas, os cargos de presidente da Câmara de Ovar e de líder da distrital de Aveiro conferiam-lhe essa legitimidade. O esforço resultou e valeu-lhe a entrada direta na Comissão Política Nacional do PSD depois de o ex-autarca do Porto ter derrotado Pedro Santana Lopes. Numa curta equipa de que fizeram parte apenas pessoas de confiança do novo líder, o autarca de Ovar foi premiado com um cargo de destaque: o de vice-presidente do partido.

Mas os créditos que tinha recolhido durante a campanha esgotaram-se rapidamente — e ainda antes de chegar à sede nacional. O Observador revelou, ainda antes do congresso do partido que aprovaria o novo elenco diretivo, que Salvador Malheiro era suspeito de ter favorecido o líder da concelhia do PSD de Ovar através de ajustes diretos. O caso enfraqueceu-o internamente e  limitou as suas ambições de conquista de influência. Mas não as travou.

Diretor de campanha de Rio promoveu obras de 2,2 milhões que beneficiaram dirigente do PSD

Depois de um pequeno interregno auto-imposto, Malheiro preparou-se para voltar à carga. Mas era preciso esperar pelo momento adequado, já que não podia atuar com José Silvano a gerir grande parte das operações desde a sede nacional. E esse momento chegou quando o nome do secretário-geral foi envolvido num caso de falsas-presenças no Parlamento, revelado pelo Expresso em outubro. O vice-presidente do PSD entrou assim novamente em cena, aproveitando o momento de fragilidade do deputado.

Silvano: “Na secretaria-geral ninguém se mete, muito menos o Salvador Malheiro”

As últimas iniciativas de Malheiro não são vistas de forma crítica por todos. Há quem tenha apoiado Santana Lopes na corrida interna de janeiro, mas que se mostre favorável a esta movimentação. “Quando os vice-presidentes não fazem nada são uns calões, quando tomam a iniciativa são uns aproveitadores. Assim não dá. A mensagem vai passar a estar mais uniformizada e parece-me bem que esse exercício seja feito pela própria direção”, considera Duarte Marques.

José Silvano nega a tensão com Salvador Malheiro mas deixa um aviso: "Na secretaria-geral do partido ninguém se mete"

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

A opinião é partilhada por várias figuras do partido que olham para esta nova forma de comunicar de forma natural. Mas esta não é a única visão. “É claramente uma tentativa de contornar o poder de José Silvano. A estratégia do Salvador Malheiro é simples: controlar a mensagem e ser o promotor do contacto com o aparelho”, analisa um deputado social-democrata. “Essa divisão existe, não tenho dúvidas. É a completa desorganização”, completa o mesmo parlamentar.

As ramificações desta atitude vão além da comunicação. No Conselho Nacional do PSD desta terça-feira, Salvador Malheiro foi um autêntico mestre das cerimónias. Ao longo da reunião esteve constantemente a dar indicações à mesa sobre a ordem dos trabalhos e sobre a sequência das intervenções. Ia sinalizando que figuras deviam falar e incentivava as pessoas mais afetas à direção a intervir sempre que se ouviam declarações mais críticas. Assumiu, pela primeira vez desde que Rui Rio chegou à liderança, o papel de controlador dos trabalhos, que nos tempos de Passos Coelho era desempenhado por Marco António Costa. José Silvano, descreve um conselheiro nacional ao Observador, foi quase uma mera “figura administrativa”, apresentando os orçamentos e respondendo a questões relacionadas com as contas do partido.

"É claramente uma tentativa de contornar o poder de José Silvano. A estratégia do Salvador Malheiro é simples: controlar a mensagem e ser o promotor do contacto com o aparelho", analisa um deputado social-democrata. "Essa divisão existe, não tenho dúvidas. É a completa desorganização".

Mas há mais. Recentemente, Salvador Malheiro convenceu a direção a propor um cargo na sede nacional ao seu assessor na Câmara de Ovar, Henrique Araújo. A notícia foi avançada pelo jornal local Ovarnews, publicação sobre a qual o autarca tem uma influência relevante. O objetivo era integrá-lo na equipa que vai coordenar a estratégia para as europeias e para as legislativas. O braço-direito de Malheiro passaria a ter uma palavra a dizer na elaboração do programa, mas também, eventualmente, na decisão sobre as listas de candidatos a eurodeputados e a deputados. Um aliado importante para o vice-presidente do PSD, que, segundo relatam várias fontes, “tem sugerido que aqueles que remem no mesmo sentido que ele podem vir a ser recompensados” com lugares nestas listas.

Rui Rio tem estado à margem desta disputa desde o início

EDUARDO COSTA/LUSA

Segundo o que o Observador apurou, Henrique Araújo está reticente em relação ao convite. Aceitar o novo cargo implica mudar-se para a sede nacional, em Lisboa, e o assessor de Malheiro não parece inclinado a aceitar a deslocação. “É óbvio que é mais uma movimentação no sentido de puxar o aparelho para si”, refere um destacado militante do PSD, que desconfia das intenções do vice de Rui Rio. “Está a tentar aproveitar o facto de Silvano estar na mó de baixo”, assegura.

Estratégias e jogadas que o secretário-geral do PSD recusa que existam. “Estamos empenhados em dar força a Rui Rio”, diz José Silvano ao Observador. “O Salvador Malheiro e eu raramente discordamos e somos os dois apoiantes do nosso líder. Não existe qualquer divergência entre nós. O objetivo de criar redes sociais e grupos de WhatsApp é apenas o de espalhar a mensagem do líder para que não haja dúvidas quanto às suas opiniões”, afirma, numa indireta aos desencontros de posições entre os membros da direção e negando qualquer divergência com o vice-presidente.

Quanto à disputa pelo controlo da máquina partidária, José Silvano reage com um murro na mesa: “Na secretaria-geral do partido ninguém se mete, muito menos o Salvador Malheiro”. Está feito o aviso.

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