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Um concurso de breakdance na danceteria Lido, na Amadora, na década de 80
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Um concurso de breakdance na danceteria Lido, na Amadora, na década de 80

Um concurso de breakdance na danceteria Lido, na Amadora, na década de 80

A pré-história do hip hop em Portugal: os DJs, os rappers e as festas entre 1983 e 1994

Foi há 40 anos que tudo começou no rap português e um novo livro — "Hip Hop Tuga", do jornalista Ricardo Farinha — quer contar esta história. O Observador faz aqui a pré-publicação de um excerto.

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“Hip Hop Tuga — Quatro Décadas de Rap em Portugal”, do jornalista Ricardo Farinha (colaborador do Observador), é publicado esta segunda-feira, dia 9 de outubro, e centra-se nos principais artistas, coletivos, personalidades, editoras, iniciativas e acontecimentos que têm marcado o rap em Portugal, desde os primórdios nos anos 80 até à atualidade. A edição, que conta com fotos inéditas, é da Iguana.

A estrutura segue próxima da cronologia. Começa em 1983, quando se encontram os primeiros indícios da presença de rap em Portugal, depois do impacto mundial do single “Rapper’s Delight”, dos norte-americanos Sugarhill Gang, e numa altura em que o breakdance — a componente de dança da cultura hip hop — se torna uma tendência internacional e atinge a Europa em força.

No ano em que se celebram os 50 anos do hip hop nos EUA, este livro quer demonstrar que Portugal não estava muito atrás do acontecimento e que em meados dos anos 80 já existiam rappers nas ruas de Lisboa, do Porto e do Algarve, mesmo que os primeiros discos só tenham sido lançados mais tarde, em 1994.

“Hip Hop Tuga — Quatro Décadas de Rap em Portugal” também antecipa esse aniversário redondo, dos 30 anos do rap gravado em Portugal, que certamente será celebrado no próximo ano. Foi em 1994 que foi lançada a histórica compilação “Rapública”, que reuniu alguns dos principais talentos emergentes da Grande Lisboa; mas também o trabalho de estreia de General D, de grande intervenção política e social, que se tornou o primeiro rapper português com destaque mediático; e o EP dos Da Weasel, que vinham de um contexto mais ligado ao metal e ao punk mas que rapidamente o fundiram com o hip hop que se começava a ouvir prolificamente naquela altura pela Margem Sul.

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O Observador pré-publica, em exclusivo, as primeiras entradas deste “Hip Hop Tuga — Quatro Décadas de Rap em Portugal”, que se foca precisamente no período mais desconhecido do rap português, por falta de documentação e maior distância temporal, entre 1983 e 1994, o ano em que a expressão portuguesa deste género musical passou a ser registado. Um mergulho na pré-história do rap português.

A capa de "Hip Hop Tuga: Quatro Décadas de Rap em Portugal", de Ricardo Farinha (Edição: Iguana)

O primeiro álbum com rap em Portugal

O nascimento do rap em Portugal costuma traçar-se a partir do final dos anos 80 e, sobretudo, no início dos anos 90, quando os primeiros rappers começam a desenvolver a sua música no enquadramento desta subcultura que compreendem, admiram e representam. Antes, todavia, já tinham existido algumas experiências de rap feito em Portugal — mesmo antes de existirem rappers.

O genérico de O Tal Canal, o icónico programa de Herman José, estreado na RTP em 1983, incluía uma espécie de rap com letra de António Avelar de Pinho e música de Ramón Galarza. Mais tarde, em 1989, José Cid aproximar-se-ia do rap no tema Portuguese Boys; no entanto, o primeiro álbum português acerca do qual se pode afirmar que inclui rap tem como título Os Lusitansos, e é editado em 1983 num vinil de 7 polegadas (existe também uma edição em vinil, do mesmo ano, do genérico de O Tal Canal). Tratou-se de um projeto do histórico radialista Luís Filipe Barros, mais conhecido pelo programa Rock em Stock e por ter sido um dos maiores divulgadores da música rock em Portugal.

Em 1983, depois de ouvir uma das primeiras músicas de hip hop de sempre — Rapper’s Delight, dos Sugarhill Gang, lançada em 1979, nos EUA —, usa o instrumental para criar uma versão sua, humorística. A letra de Luís Filipe Barros relata a história de Portugal até ao III Governo Constitucional (1978), de Mário Soares. Demorou seis meses a concluir o trabalho, o qual acabou por se tornar um êxito de vendas. O projeto, gravado e lançado pela Rádio Triunfo, incluía vozes alteradas, a participação do filho do radialista e, também, o próprio instrumental de Rapper’s Delight.

A febre do breakdance em Portugal

No início dos anos 80, a febre do breakdance explode nos Estados Unidos da América e rapidamente se torna numa tendência internacional. Além dos concursos televisivos e dos videoclips, é também graças a alguns filmes que este fenómeno se espalha: é o caso de Wild , de 1983, Beat Street, de 1984, e ainda, dos dois volumes de Breakin’, também conhecidos simplesmente como Breakdance, do mesmo ano.

A moda também chega a Portugal e começa a ser notória por volta de 1983/1984. Os jovens começam a participar em concursos nas danceterias, e os instrumentais hip hop da altura, muito colados ao chamado electro-funk, são frequentemente ouvidos nestas festas (geralmente, matinés).

Tão depressa como apareceu, o breakdance em grande escala evaporou-se em meados dos anos 80; no entanto, deixou marcas nalguns dos pioneiros do hip hop em Portugal, tendo sido a porta de entrada nesta cultura para várias pessoas.

A baixa lisboeta, nomeadamente a Praça da Figueira, torna-se ponto de encontro de grupos de jovens, vindos de várias zonas para dançar na rua. Entre outras regiões do país, existem também grandes focos no Grande Porto e no Algarve. Aquando da estreia de Beat Street em Portugal, o grupo de rap norte-americano Break Machine (muito ligado ao breakdance) faz uma série de atuações pelo país para promover o filme. Foram recebidos como ídolos por centenas de jovens que desejavam um autógrafo.

Foi, no entanto, uma moda passageira. De um modo geral, não existia propriamente a noção sequer de que se tratava de uma vertente da cultura hip hop nascida em Nova Iorque. Tão depressa como apareceu, o breakdance em grande escala evaporou-se em meados dos anos 80; no entanto, deixou marcas nalguns dos pioneiros do hip hop em Portugal, tendo sido a porta de entrada nesta cultura para várias pessoas.

Em paralelo com a evolução do rap em Portugal, há uma série de bboys e crews que dão origem a um movimento próprio de breakdance por cá. Por vezes mais próximo do rap, noutras ocasiões, mais afastado.

Rui de Castro

Após algumas experiências na rádio e na televisão mais voltadas para o entretenimento, o primeiro músico português a assumir verdadeiramente o rap e a lançar um tema próximo daquilo que podemos considerar hip hop é Rui de Castro, o Pirata — embora se tratasse, uma vez mais, de algo satírico.

Nascido nos anos 50, em Lisboa, e descendente da família do Conde de Castro Guimarães, Rui de Castro esteve ligado à música desde a adolescência. Antes do 25 de Abril, para escapar ao serviço militar e à guerra colonial, saiu do país e acabou por fixar-se em Londres.

A capital britânica foi sempre uma cidade de constante efervescência cultural, na qual novos movimentos e géneros de música despontam de ano para ano. Na década de 70, antes de o mundo estar tão globalizado, a diferença era ainda mais visível, sobretudo quando comparado com a Lisboa da época — mesmo depois da revolução, ainda uma capital cultural e socialmente atrasada, onde a informação tardava a chegar.

Assim, foi possível a Rui de Castro assistir ao nascimento do movimento punk em Londres, no qual participou de forma ativa. Teve uma banda chamada The Warm, fundou a editora Warm Records, e a escocesa com quem casou (Mary Harrison-Goudie) era responsável por algumas dos fanzines precursores do punk em Inglaterra.

Rui de Castro, contudo, nunca perdeu a ligação a Portugal; aliás, tentou sempre divulgar por cá a música feita em Londres. Para tal, estabeleceu uma ligação com o radialista e divulgador de excelência António Sérgio. Em 1981, regressa a Portugal e continua a editar e distribuir música nova.

A capa de "O Pirata (Pirate Rap Attack)", de Rui de Castro & O Grupo Português de Piratas com a Long John Silver's Crew

Porém, uma série de disputas com a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), relativas a cláusulas contratuais das suas edições, levam-no a tribunal. Na sequência deste caso, um jornalista do Êxito — antigo suplemento do Correio da Manhã —, de nome Luiz Ferreira d’Almeida, escreve sobre o assunto nas páginas do jornal, acusando Rui de Castro de pirataria.

A reação de Rui de Castro não tardou. Enfurecido e munido com os seus sintetizadores e caixas de ritmo, compõe uma música de resposta. Veste-se literalmente como um pirata, assumindo de forma sarcástica essa identidade artística, e parte para o ataque. O resultado, irónico e satírico, pode muito bem ser a primeira música de rap feita em Portugal. Pirate Rap Attack, gravado em Campo de Ourique, foi editado em 1985 sob o nome de Rui de Castro & o Grupo Português de Piratas + Long John Silver’s Crew.

O músico e editor, sempre muito atento ao que se fazia e às tendências globais da música, nunca mais lançou nada; na altura, ainda assim, a sua escolha foi este género musical que emergira de Nova Iorque nos últimos anos — o qual, na época, possuía elementos estéticos próximos do disco ou do electro.

“Por me terem acusado de pirata, achei que, contra tudo e contra todos, ia abrir a boca pela última vez em rap. E tinha de ser em português, claro, para ser percebido pelos entendidos da SPA e outros editores cá do burgo”, explica Rui de Castro. “Partimos o coco a rir no estúdio da Musicorde, eu e o engenheiro de som, Rui Remígio, que me pediu para nem meter o nome dele na capa”, conta Rui de Castro.

Rui de Castro revela ainda que o tema que mais o inspirou a fazer Pirate Rap Attack foi To Be Or Not To Be, uma paródia rap de 1983 criada por Mel Brooks, ator e argumentista norte-americano, a qual também ficou conhecida como The Hitler Rap. Daí que haja uma referência satírica ao próprio Mel Brooks na capa do projeto: “O Mel Brooks não tem nada a ver com este disco!”

Mercado Negro

O radialista João Vaz conheceu o hip hop no início dos anos 80. No circuito da rádio, já se ouvia Rapper’s Delight, dos Sugarhill Gang, uma das primeiras músicas de rap de sempre, lançada em 1979. Curiosamente, foram os Spandau Ballet, banda britânica de pop rock, que apresentaram o rap a João Vaz, aquando de uma visita a Portugal: entre outras coisas, traziam cassetes com músicas de Grandmaster Flash and the Furious Five.

O historial de João Vaz estava mais ligado ao rock e ao punk, mas começava a aproximar-se da música negra norte-americana. Gostava de disco, R&B e, depois, de rap. Terá sido uma das primeiras pessoas em Portugal a passar música hip hop na rádio — e também nas pistas de dança, enquanto DJ.

Muitos daqueles que formariam a primeira geração de rappers em Portugal ouviam o programa de forma dedicada, nomes como Black Company ou Family, assim como de outros que, em 1994, participaram na compilação "Rapública". "Mercado Negro" foi, de certa forma, um pequeno farol numa altura em que o acesso ao rap em Portugal tinha tanto de escasso como de raro.

Durante os anos 80, passava música negra no programa Discoteca, na Rádio Comercial (com o histórico Adelino Gonçalves); depois, na Rádio Renascença, fez Zona Franca, programa completamente dedicado à música afro-americana e no qual já incluía alguns temas de rap. O seu programa mais marcante para a cultura hip hop, no entanto, chegou depois, ao passar para a Correio da Manhã Rádio e iniciar o Mercado Negro, em 1986, no qual passava vários géneros de música negra norte-americana, entre os quais, hip hop, com transmissão na região de Lisboa.

Muitos daqueles que formariam a primeira geração de rappers em Portugal ouviam o programa de forma dedicada. Falamos de nomes como Black Company ou Family, assim como de outros que, em 1994, participaram na compilação Rapública. Mercado Negro foi, de certa forma, um pequeno farol numa altura em que o acesso ao rap em Portugal tinha tanto de escasso como de raro. O programa terminou passado um ano, em 1987, mas João Vaz criaria ainda Alma Radical, programa também voltado para o rap.

B-Boy Boxers

Na segunda metade dos anos 80, a primeira geração de ouvintes portugueses de rap começa a formar-se, sobretudo em bairros da Grande Lisboa. A maioria dos fãs mais fervorosos, os quais depois começam a escrever as próprias rimas e a improvisar com amigos nas ruas e em pequenas festas que organizam, é imigrante (ou descendente) das antigas colónias africanas. Identificam-se com o discurso que ouvem nas faixas gravadas no outro lado do oceano: rimas sobre exclusão social, desigualdade, racismo na sociedade e afirmação de quem vem do gueto.

Na Margem Sul, por volta de 1986 ou 1987, um grupo alargado de amigos que fazem rap, sobretudo no bairro do Miratejo, formam os B-Boy Boxers, nome que usam para os representar. Faziam beatbox, ouviam algumas músicas na rádio e, através de amigos ou familiares no estrangeiro, tinham acesso a cassetes de rap, que trocavam entre si. Inspirados pelas suas referências americanas, rimavam em inglês.

De certa forma, é a crew original e antecessora de outros grupos que se formariam pouco tempo depois, muitos dos quais, tal como eles, não chegaram a gravar ou a editar qualquer música, como foi o caso dos Machine Gun Poetry, African Power, One Equal, Rebel Gang ou The New Decade; no entanto, falamos também de grupos tão importantes como os Black Company, Líderes da Nova Mensagem e General D (cujos membros, aliás, fizeram tanto parte dos B-Boy Boxers, como de outros destes grupos).

Os Black Company, um dos nomes que mais destaque conseguiu na altura da edição de "Rapública", graças ao single "Nadar"

Nélson Neves e Fredy Matos, dois jovens locais, são apontados como alguns dos mais influentes da altura. Nélson Neves trazia cassetes de rap de França e fazia beatbox para as rodas de improviso no Miratejo. Já Fredy Matos era uma espécie de rapper oral — criava rimas que iam sendo decoradas e repetidas pelos miúdos que assistiam a tudo. Muitos foram influenciados pela sua genica verbal, que nunca ficou registada para a posteridade. Tucha é outro dos nomes mencionados.

Este movimento espontâneo muito centrado no Miratejo, que leva até que o bairro seja considerado como o principal berço do hip hop em Portugal, acaba por gerar descendência, para além dos grupos já referidos. Formam-se os 3 Ilegais (Pump G, Klick Klau e Paula), que acabam por resultar numa crew mais alargada, Mira Squad, nome que persiste até aos dias de hoje. Fundados em 1996, Pump G, Dodjo, Klick Klau, Dani G, PsK, Ghetto Bastards, Bambino ou Bdjoy são, entre outros, alguns dos principais nomes associados a este coletivo informal.

Nos últimos anos da década de 80, começam também a aparecer os primeiros graffiti em Portugal, nomeadamente na zona de Carcavelos, na Linha de Cascais.

DJ Sundance

A sua história é muito pouco conhecida, mas Pedro Soares é, muito provavelmente, o primeiro DJ de hip hop em Portugal. Nasceu no Porto em 1970. É filho de um músico, o que foi determinante para o seu percurso. O seu pai tocava baixo e piano em diversos projetos ligados ao jazz, pelo que em sua casa não faltavam discos.

Por volta dos 7 ou 8 anos, Pedro mudou-se com a família para Albufeira, no Algarve. Não muito tempo depois, entre 1982 e 1983, começou a criar mixes em cassete. Fazia colagens e pequenas edições com música disco e pop. Um conhecido do pai, Paul Buick, apercebeu-se do talento do miúdo e convidou-o para ter um programa na rádio Solar, uma rádio pirata que estava a dar os primeiros passos e emitia a partir de Albufeira.

Foi assim que Pedro Soares começou a fazer o programa In the Mix, em 1983, no início da adolescência. Foi também por essa altura que começou a ter acesso a álbuns importados dos EUA, conhecendo nomes como Grandmaster Flash and the Furious Five ou Run-DMC, entre tantos outros, cuja música começou a passar no seu programa. A partir daí, foi colecionando discos e tornou-se conhecido por isso mesmo — era acompanhado por outros miúdos que queriam escutar as mais recentes novidades.

O percurso de Pedro Soares no turntablism também começa em 1983, ano em que experimentou os primeiros scratches e outras técnicas com dois gira-discos. Adotou o nome artístico de DJ Sundance, inspirado no filme Butch Cassidy and the Sundance Kid, de 1969.

Recorda-se de ter ido à estreia de Beat Street em Albufeira, em 1984, no extinto cinema Vila Magna. Para promover o filme centrado na cultura hip hop e, em particular, no breakdance — numa altura em que estes movimentos de dança se tornavam um fenómeno internacional —, os americanos Break Machine foram contratados para atuar no intervalo da sessão. Sundance reencontrou depois o DJ do grupo, Lindell Blake, na discoteca Kiss, onde se tornaram amigos. Foi graças ao DJ norte-americano que Pedro Soares aprendeu algumas técnicas importantes, as quais praticava noite e dia.

Tinha apenas 15 anos quando começou a passar música em diversas discotecas algarvias. Misturava vários géneros, mas o rap era um dos principais. Numa altura em que o acesso à informação era difícil, Sundance continuou a aprender técnicas com outros DJ da região, que, esporadicamente, passavam hip hop nos seus sets. Em 1990, tornou-se DJ residente na Kadoc, a mítica discoteca algarvia. Por volta da mesma altura, conheceu Johnny Def, pioneiro do rap em Quarteira, com quem partilhou o coletivo Dope Clan em conjunto com o rapper Impossible P, os bboys Special D e Special C, e Patrick, que fazia beatbox. Gravaram várias maquetes, algumas das quais enviariam para Lisboa através de jovens que passavam férias no Algarve. Mais tarde, chegariam ao programa de rádio de José Mariño.

Enquanto outros miúdos se agarravam ao chão para experimentar movimentos de breakdance, João Nathis deixava-se encantar pela música que servia de catalisador e banda sonora: o rap. Autoproclamou-se “Johnny Def”. A família já o tratava por “Johnny”, o sufixo veio de “definição”.

Ainda em 1990, foi organizado o primeiro campeonato do DMC em Portugal. O Disco Mix Club era (e ainda é) uma organização internacional de DJ, da qual Sundance era um dos muitos sócios. Os campeonatos de turntablism do DMC começaram a ser organizados em 1985 e, progressivamente, chegaram a outros países. Paul Buick também terá desempenhado um papel na chegada desta competição a Portugal, uma vez que era um bom amigo de Tony Prince, o fundador do DMC.

Sundance foi um dos DJ portugueses que participaram na primeira edição nacional do campeonato. Aliás, não só participou, como venceu. Um dos outros participantes era Miguel Simões, que depois se tornaria conhecido enquanto radialista. Todos os DJ passaram discos de hip hop, através dos quais executaram as suas diferentes técnicas.

Após a vitória em casa, Pedro Soares foi a Londres representar Portugal no campeonato mundial. Na Wembley Arena, perante 10 mil pessoas, não teve, infelizmente, a sua melhor prestação, mas pôde usufruir da presença de nomes como Public Enemy, De La Soul, Neneh Cherry, Mica Paris ou James Brown. No ano seguinte, o campeonato nacional aconteceu na Kadoc — Sundance ficou em segundo lugar, perdendo para Miguel Simões.

Já em 1992, com a dissipação das rádios piratas, Paul Buick inaugura a Kiss FM. Sundance esteve ligado ao projeto desde o início, e foi aí que conheceu o sonoplasta Filipe Oliveira, também bastante interessado por hip hop e turntablism. Os dois chegaram a atuar em conjunto com quatro gira-discos em várias escolas, em autênticas jams de beats e scratch.

Eventualmente, em meados dos anos 90, Pedro Soares regressou ao Norte. Acabaria por ser conquistado por outras sonoridades, que se sobrepuseram ao rap, nomeadamente a música house e as diversas fusões com o jazz e outros géneros. Vive atualmente em Viana do Castelo e continua ligado à “música de fusão”. Produz música orquestral, de registo de banda sonora, que vai lançando no seu Bandcamp. Enquanto DJ, dá pelo nome de Cassetro, e continua a assinar o programa In the Mix, agora na Rádio Portimão, onde passa sobretudo soul e funk.

Johnny Def

Contar a história de Johnny Def faz-nos recuar até 1972. João Nathis, de origem angolana e grega, nasceu nesse ano em Benguela, Angola. Aos 7 anos, mudou-se com a família para Portugal, instalando-se no bairro de pescadores de Quarteira, no Algarve, tal como grande parte da minoria étnica da região.

Cresceu numa família muito ligada à música. Em casa, confraternizavam enquanto escolhiam discos de vinil ou ouviam rádio. Tinha 12 anos quando a febre do breakdance atingiu em força a Europa. Ainda que tal se tenha sentido por todo o Portugal, Quarteira e outras cidades algarvias foram particularmente impactadas — graças aos muitos turistas estrangeiros que por ali passavam no verão e cuja cultura ia deixando marcas, num mundo ainda distante da era da globalização que hoje existe.

Enquanto outros miúdos se agarravam ao chão para experimentar movimentos de breakdance, João Nathis deixava-se encantar pela música que servia de catalisador e banda sonora: o rap. Autoproclamou-se “Johnny Def”. A família já o tratava por “Johnny”, o sufixo veio de “definição”.

Começou a rimar em 1984. Inicialmente, decorava as letras dos álbuns a que ia tendo acesso. Recorda-se de decorar versos dos Whodini, por exemplo. Enquanto os bboys dançavam — os Black Break Gang eram o grupo que acompanhava —, o jovem Johnny Def ia rimando por cima da versão instrumental. Quando não havia leitor de cassetes, rimava enquanto os outros faziam beatbox.

Por volta dos 15 anos, Johnny Def começou a acompanhar o amigo Rahimo, DJ que conhecia desde os tempos em que jogavam futebol. Rahimo tinha um programa numa rádio pirata e era DJ residente na discoteca Lord John. Johnny Def acompanhava-o nas sessões de rádio, acabando por se maravilhar por esse mundo, e passava as tardes na discoteca a rimar por cima dos instrumentais. Foi também aí que aprendeu a passar música.

Johnny Def com o Dj Cruzfader

Já nessa altura tentava criar as próprias faixas. Escrevia letras e comprava álbuns com instrumentais. Depois, adquiriu um microfone e dois gira-discos. As primeiras maquetes foram gravadas entre o final da década de 80 e o ano de 1990. Essas cassetes eram passadas a jovens de outras regiões do país quando iam passar as férias de verão ao Algarve.

Foi assim que o talento de Johnny Def se espalhou por Portugal — num circuito muito restrito, mas, ainda assim, de forma pioneira. Na mesma fase, Johnny Def forma o coletivo Dope Clan com o rapper Impossible P, os bboys Special D e Special C, o DJ Sundance e Patrick, que fazia beatbox. Juntos, atuaram em diversas discotecas algarvias, mas também em escolas e pelo país.

Como o Algarve tinha um movimento muito sazonal e Johnny Def ambicionava mais, em agosto de 1994 mudou-se para a zona do Porto. A ideia era trabalhar no circuito de discotecas — acabou por se tornar DJ, VJ e MC no Rock’s Club, em Vila Nova de Gaia.

Por essa altura, Johnny Def começou a especializar-se como MC de música de dança, até porque já era fã das fusões que existiam entre rap e música eletrónica, que estavam algo em voga na época. Enquanto MC, a sua função era performativa: rimava por cima de instrumentais eletrónicos e agia enquanto anfitrião da noite.

Em 1995, é convidado para participar no álbum de estreia de General D, Pé na Tchôn, Karapinha na Céu. Na segunda metade dos anos 90, foi oscilando entre a música de dança e o rap. Acabou por tirar um curso de produção, comprou caixas de ritmos e começou a produzir instrumentais. Não muito tempo depois, conheceu Mundo Segundo, que, com Cruzfader, ajudaram Johnny Def a aproximar o seu processo criativo do método padrão do hip hop.

A par do mítico 2º Piso, o Quartel-General de Johnny Def tornou-se também um estúdio caseiro bastante frequentado na altura. Def tinha material e conhecimento, e ajudou vários artistas a gravarem as suas maquetes. O algarvio foi também trabalhando nos seus próprios projetos e participou em mixtapes dos DJ Bomberjack e Cruzfader.

Inspirado por lojas de Lisboa como a Big Punch e a Godzilla, abriu, entre 1999 e 2000, a Massive, que funcionou como um ponto de encontro para os fãs de hip hop no Porto. Também em 2000, Johnny Def compilou as suas diversas participações e algumas faixas soltas para o projeto Antes do Códigos. Em 2001, lança o álbum Códigos, produzido por si, com participações de vários rappers dos Dealema e de Cruzfader. Não foi um trabalho que tenha tido uma grande expressão, mas chegou a causar algum burburinho em Angola. Johnny Def acabou por se afastar naturalmente do hip hop, o que coincidiu com a sua mudança para Setúbal. Sempre se manteve ligado à música, mas virou-se definitivamente para a eletrónica. Seja como for, no hip hop tuga será sempre um dos pioneiros.

O primeiro festival de rap português

Quatro anos antes de serem lançados os primeiros discos de hip hop português, em 1990 aconteceu na Incrível Almadense, em Almada, aquele que podemos considerar o primeiro festival de rap em Portugal. Um dos organizadores foi General D, que atuou ao lado dos Black Company, One Equal, African Power e The New Decade. Estes três últimos grupos nunca chegaram a editar qualquer música, mas alguns dos seus membros formariam outros coletivos, como os Líderes da Nova Mensagem ou os Family.

Tal como era habitual na altura, rimavam em inglês — inspirados pelas suas referências americanas — e tinham uma postura pan-africanista. O evento foi filmado pelo magazine cultural da RTP Popoff, provavelmente a primeira vez que o hip hop tuga apareceu na televisão.

As festas no Trópico

No início dos anos 90, mais ou menos entre 1991 e 1994, Boss AC organiza, aos domingos, festas regulares de rap no Trópico, um armazém grande na zona de Santos, em Lisboa. Praticamente todos aqueles que faziam rap na capital passaram por lá. Havia sessões de open mic e concertos. Era um ponto de encontro para os poucos jovens que, na época, estavam profundamente deslumbrados com a cultura hip hop.

Foi com base nos artistas que mais lá atuavam que Hernâni Miguel fez os convites para Rapública, a primeira compilação de rap editada em Portugal, em 1994. Houve um festival de rap em específico, a 27 de fevereiro de 1994, que foi bem representativo disso. Nessa tarde, atuaram Boss AC, Black Company, Líderes da Nova Mensagem, Family, Zona Dread e New Tribe.

José Mariño assume-se como o divulgador por excelência do rap em Portugal. Com o passar do tempo, vai criando uma comunidade de ouvintes onde se incluem todos aqueles que desejam ser rappers, DJ ou produtores — todos os que olham para o hip hop como a cultura a que pertencem ou como o estilo de vida que pretendem seguir.

É importante referir que a DJ Yen Sung — que mais tarde também faria parte dos Da Weasel — passava música em várias destas sessões, chegando também a organizar eventos de hip hop no Trópico e no Viking, no Cais do Sodré. Quando as festas do Trópico acabaram, o próximo grande sítio em Lisboa seria o Johnny Guitar.

O rap no entretenimento português

Pela sua acessibilidade e pela miríade de possibilidades criativas (além de, nalguns casos, por preconceito), o rap sempre foi um género musical muito usado em paródias. Em Portugal, foi algo que nunca deixou de aconteceu ao longo dos anos — o apresentador e entertainer Rui Unas, com as várias faixas e até o álbum de Mister U, talvez seja o principal exemplo. Muito antes disso, no entanto, o rap já furava no entretenimento português. Após as experiências nos anos 80, em 1991 houve uma série de exemplos.

Foi nesse ano que Badaró, comediante e ator brasileiro radicado em Portugal, fez a paródia Alô Mundo, baseando-se no tema Hello Afrika, do sueco-nigeriano Dr Alban. Badaró foi também o autor da expressão “Ó Abreu, dá cá o meu”, chavão que, curiosamente, anos mais tarde, os Black Company usariam num single.

Também em 1991, estreou na RTP o programa Tal Pai, Tal Filho, no qual o apresentador — o ator José Jorge Duarte — rappava na introdução de cada episódio. São dois exemplos de como o rap já era usado no entretenimento português ainda antes de haver discos e temas gravados de rap nacional.

José Mariño

Apesar de já haver rap a passar esporadicamente na rádio portuguesa há vários anos, é em 1992 que nasce o primeiro programa exclusivamente dedicado ao hip hop. Novo Rap Jovem (NRJ), da antiga Rádio Energia, é um formato proposto pelo radialista José Mariño, o qual já trabalhava na área há vários anos.

Com um gosto musical eclético, José Mariño assume-se como o divulgador por excelência do rap em Portugal. Com o passar do tempo, vai criando uma comunidade de ouvintes onde se incluem todos aqueles que desejam ser rappers, DJ ou produtores — todos os que olham para o hip hop como a cultura a que pertencem ou como o estilo de vida que pretendem seguir. É Mariño quem os alimenta com singles e álbuns novos, assim como com informação e contexto, algo que, na altura, era muito difícil de aceder.

Mariño vai tomando consciência de que encarna o papel de catalisador dessa cultura e passa a incentivar os ouvintes a enviarem as suas maquetes, caso façam rimas ou tenham projetos nesta área. Por esta altura, ainda não existia rap editado em Portugal. As cassetes começam a chegar à rádio, assim como as cartas. Mariño promove passatempos, partilha contactos no ar, faz entrevistas e passa as tais maquetes.

Em 1994, com a criação da Antena 3, o radialista passa para a recém-criada estação pública para continuar o trabalho no programa Repto, que se prolonga até 1999. Ao longo de praticamente toda a década de 90, há uma legião de ouvintes que escuta religiosamente o programa. José Mariño torna-se numa das maiores referências para as primeiras gerações de rappers e produtores nacionais, sendo para muitos um padrinho.

O radialista José Mariño, algures em 1994, nos estúdios da Antena 3

Em 2000, Repto passa a Submarino. José Mariño continua durante alguns meses no programa, mas a ideia era fazer uma passagem de testemunho para D-Mars e para o coletivo Raska, de Kronic, Mr. Cheeks e Selecta Lexo, que passarão a tomar conta da emissão (embora não tenha durado muito nestes moldes). Mariño estava de saída da Antena 3. Algum tempo depois, o radialista regressa à divulgação de hip hop, mas na televisão. Apresenta uma rubrica dedicada ao rap no Curto-Circuito, na SIC Radical. Acaba por ter direito ao próprio programa no canal, intitulado Beatbox, onde passava videoclips internacionais e portugueses. Acabaria por regressar à Antena 3 enquanto diretor-adjunto, mas, nessa fase, a sua missão no hip hop já estava cumprida. Havia toda uma cultura nacional bem informada e desperta a dar frutos.

Depois de vários anos afastado, o radialista voltou ao ativo em junho de 2019, quando arrancaram as emissões de A Teoria da Evolução na Antena 1. O formato consiste em entrevistas com os protagonistas do hip hop nacional (tanto da nova como da velha guarda), na quais Mariño faz uso do imenso arquivo de relíquias que acumulou graças aos seus programas nos anos 90 — sobretudo, claro, quando se trata de artistas que começaram os seus percursos nessa altura. No início de 2022, o programa deixou a Antena 1 e continuou de forma independente em vídeo e podcast. O lema só pode ser um: “See you soon for another cartoon!”

Rapública

Em 1994 é lançado o disco que coloca o hip hop português no mapa: a compilação Rapública. É não só um marco na história do género musical em Portugal — embora não tenha correspondido às expetativas de alguns dos artistas que participaram nela —, como se mantém como objeto de culto.

Desde o final dos anos 80 que uma série de jovens na Grande Lisboa (com grande preponderância para a Margem Sul e, em particular, para o Miratejo) fazia rimas na escola e nas ruas. Escreviam letras, improvisavam ao som de beatbox e começaram a criar projetos amadores, com os quais chegaram a dar vários concertos.

Falamos de grupos como os Black Company, One Equal, African Power ou The New Decade. Ainda assim, não havia edições ou músicas gravadas. Tudo aquilo que pudesse ser mais profissional estava ainda muito distante para estes jovens que, na sua maioria, eram de classes sociais desfavorecidas, numa altura em que o acesso à informação era reduzido. Fosse como fosse, mexiam-se e tudo faziam para dinamizar esse pequeno circuito.

Em "Rapública", havia relatos em primeira mão de jovens racializados, algo pouco comum para a época, o que também aumentou o interesse e curiosidade em torno do disco, e o tornou mediático. Era a força e ousadia da segunda geração de imigrantes africanos.

Certo dia, a ideia de criar uma compilação que reunisse estes talentos emergentes surgiu entre Tiago Faden, que trabalhava na Sony Music, e o empresário da noite Hernâni Miguel. O primeiro era cliente habitual do segundo, e foi quem sugeriu o projeto. Além de gerir espaços noturnos, Hernâni tinha feito produções culturais e passava música como DJ. Com o passar do tempo, acabaria até por se tornar manager de alguns artistas, entre os quais Black Company, Da Weasel, Ithaka, Blackout, as Djamal e Boss AC. Hernâni Miguel conhecia a família de Ângelo Firmino — tinha estudado com um dos seus irmãos e era amigo de infância de outro. Eram vizinhos na Rua de São Paulo.

Quase todos os artistas que participaram em Rapública gravitavam em torno de Boss AC — um dos mais ativos elementos, o qual organizava festas desde 1991 num espaço em Santos chamado Trópico, festas essas que terão sido fulcrais para que Hernâni Miguel soubesse quais os nomes a convidar. Todos esse nomes partiram de sugestões de AC. Houve, inclusivamente, um festival de rap no Trópico, a 27 de fevereiro de 1994, com quase todos os artistas que participariam na compilação.

Black Company, Zona Dread, New Tribe, Family, Líderes da Nova Mensagem e o próprio Boss AC foram os rappers que atuaram nessa tarde e os quais, mais tarde, inscreveram os seus nomes na história do hip hop nacional. A exceção, que não tinha participado no festival, foi Funky D, que participara no programa Chuva de Estrelas e havia conquistado algum protagonismo. A capa, concebida pela companheira de Hernâni de então, Célia Correia, representava os subúrbios da capital — a origem de todos estes artistas. E não era coisa pouca: na altura, as periferias eram ainda mais estigmatizadas.

A Sony acabou por não dar as melhores condições ao projeto. Todos estes jovens músicos, que não tinham qualquer experiência profissional e que, na grande maioria, nunca tinham entrado num estúdio, tiveram apenas dois dias para gravar a sua parte no disco.

Além do mais, o processo aconteceu em estúdios diferentes, com produtores distintos. Isso deixou muitos destes jovens artistas, que viam Rapública como um passo em frente no seu percurso — além de representar a sua validação, numa altura em que o hip hop era visto como uma moda passageira (além de ser um género marginalizado) —, algo amargurados com a compilação.

Ainda assim, Rapública — uma compilação diversa e um retrato cru daquele momento — causou impacto. O grande tema que ficou foi Nadar, dos Black Company, o qual pode ser considerado o primeiro hit do hip hop tuga — especialmente depois de o seu refrão ser usado como slogan político para salvar as gravuras de Foz Côa. “As gravuras não sabem nadar”, declarou a escola secundária local em 1995, sobre aquele que foi um controverso caso nacional. O próprio Mário Soares, Presidente da República de então, usaria a expressão num discurso. Foi a única faixa que teve direito a videoclip, lançando a carreira profissional dos Black Company.

O álbum continha também mensagens fortes de antirracismo, numa altura de tensão em que o tema estava bastante presente na opinião pública. Em Rapública, havia relatos em primeira mão de jovens racializados, algo pouco comum para a época, o que também aumentou o interesse e curiosidade em torno do disco, e o tornou mediático. Era a força e ousadia da segunda geração de imigrantes africanos. Hernâni Miguel argumenta que a compilação terá sido um dos primeiros discos (quase) completamente feitos por músicos negros em Portugal.

A capa da coletânea "Rapública", que em 1994 deu a conhecer os nomes que lideravam a geração que então levava o hip hop português para a frente

Ainda que Nadar tenha sido o grande êxito, houve outros temas que marcaram em Rapública. A Verdade, de Boss AC, e Só Queremos Ser Iguais, dos Zona Dread, foram hinos de contestação social que ecoaram dentro do movimento. Rabola Bô Corpo, um tema festivo e em crioulo dos Family — com sonoridades ragga —, tornar-se-ia um dos mais tocados nas discotecas africanas. Rap É uma Potência, dos Líderes da Nova Mensagem, também chegou às rádios. Os New Tribe (de Mr. Jam e Lince), Líderes da Nova Mensagem e Boss AC terão sido os pioneiros a usar samples. Os concertos de apresentação do disco aconteceram na Gartejo, em Alcântara, que depois se tornaria o Paradise Garage.

Rapública foi um sucesso comercial, tendo vendido, pelo menos, 15 mil cópias nos primeiros tempos, e terá sido um dos fatores determinantes para que, nos anos seguintes, várias editoras de maior dimensão apostassem em rappers locais. Alegadamente, a Sony mostrou abertura para que, eventualmente, os artistas pudessem assinar contratos, mas só os Black Company tiveram essa oportunidade. Também houve negociações com Boss AC, mas o rapper acabou por não aceitar as condições.

Já dentro do movimento a compilação causou alguma tensão, sobretudo junto de rappers que não foram convidados para participar e que, por isso, não tiveram a mesma projeção. Muitos dos artistas que participaram acabaram por iniciar outros coletivos ou construir carreiras a solo. Hernâni Miguel considera que foi um disco de abertura, que “aproximou brancos e pretos”. Ainda durante os anos 90, chegou a falar-se de um segundo volume da compilação, que contaria com temas de novos artistas, mas o projeto nunca seguiu em frente. Em 2022, passados 28 anos após o lançamento, a Sony decidiu reeditar Rapública em vinil e lançar o álbum nas plataformas digitais.

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