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As refeições entregues com luvas e o estudo. A quarentena numa residência da Universidade do Minho

Carina e Fátima estão em quarentena numa residência da Universidade do Minho. As refeições são embaladas e entregues pelo porteiro, protegido com luvas. Nestes 14 dias, vai ser preciso estudar.

Foi a meio de uma viagem de regresso de Valença do Minho para Braga, na manhã de domingo, que Carina Araújo recebeu a notícia: um despacho da Universidade do Minho determinava que, devido a um caso positivo de coronavírus num aluno, as atividades da instituição seriam suspensas, as instalações encerradas e a utilização de duas das residências universitárias — Santa Tecla e Carlos Lloyd Braga — ficaria restrita. Carina, estudante de Relações Internacionais desta universidade, vive numa destas residências.

Logo a seguir ao despacho, surgiram as dúvidas. “Ainda não havia muita informação, mesmo os porteiros tinham receio de qualquer decisão que pudessem tomar, ou seja, não deixavam mesmo ninguém sair nem ninguém entrar na residência”, conta a estudante de 19 anos ao Observador, via telefone. Como não podia entrar, nessa noite Carina ficou a dormir em casa de uma amiga para, no dia seguinte, — e depois de a Universidade recomendar um período voluntário de quarentena profilática aos estudantes instalados nas duas residências — decidir passar 14 dias em isolamento na sua residência universitária. Não porque contactou diretamente com o aluno infetado, mas “por uma questão de segurança e prevenção”.

Carina não foi a única a tomar esta decisão. De acordo com o reitor da Universidade do Minho, são cerca de 90 os estudantes que estão em quarentena profilática voluntária nas residências da academia, em Braga. “Não fechámos as residências, mas aconselhamos a quarentena profilática”, referiu Rui Vieira de Castro, citado pela agência Lusa. Na residência onde Carina Araújo está, a Carlos Lloyd Braga, serão menos de 20 os alunos que estão neste momento em isolamento, num espaço que conta com 150 quartos.

Para já, conta a estudante, “está tudo tranquilo” nos corredores da residência. Os cartazes com as regras básicas de higiene contra este vírus “estão afixados em todo o lado” e, além da linha telefónica SNS24, que podem contactar caso tenham algum sintoma, os estudantes contam também com um número dos serviços da universidade caso necessitem de alguma coisa ou queiram esclarecer dúvidas.

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O lado de fora da residência Carlos Lloyd Braga, da Universidade do Minho

Além das recomendações básicas de prevenção, como o lavar as mãos com frequência e o cuidado com as superfícies em que tocam, quem está nesta residência pode sair dos quartos e contactar com outros colegas. Mas, se quiser sair do edifício durante a quarentena, a situação é diferente: “A partir do momento em que nós quisermos abandonar a residência, não podemos voltar porque lá fora podemos contrair o vírus e, ao voltar, iríamos infetar os que aqui estão. Acho que é mais uma medida de segurança”, comenta Carina.

É por volta das 9h30 da manhã que, normalmente, o porteiro da residência, protegido com luvas, vem entregar aos quartos o pequeno-almoço. Faz o mesmo com o resto das refeições — almoço, lanche e jantar — e a comida vem sempre embalada e colocada dentro de um saco. “Fazem sempre isto, com o maior cuidado possível”, acrescenta a estudante. O almoço desta terça-feira, por exemplo, chegou às 12h30. O jantar chega por volta das 18h30. No domingo e na segunda-feira, houve quem jantasse em conjunto.

O porteiro da residência, protegido com luvas, vem entregar as refeições aos quartos

Os cuidados de higiene “também são tidos em conta”. Sempre que é necessário qualquer tipo de material, “é uma questão de pedir e eles entregam tudo aquilo que não houver na residência”. A garantia já tinha sido dada pela própria universidade no despacho de 10 de março: “A estes estudantes serão asseguradas as condições necessárias (designadamente alimentação, cuidados de saúde, higiene, etc.) para cumprir o período de quarentena profilática”.

O “choque inicial” de um isolamento de 14 dias

Para Carina Araújo, e para a maior parte dos estudantes que estão em quarentena nas residências, o facto de estar no mesmo espaço e com as mesmas pessoas durante 14 dias pode ser o maior desafio deste isolamento. Para já, os dias têm sido passados a “ver filmes, fazer exercício, jogar às cartas e jantar juntos” — mas também a estudar nos quartos. “Porque é tudo muito bonito, mas os testes continuam”, lembra.

O mesmo tem feito Fátima Vieira, estudante do mesmo curso que está também em isolamento profilático voluntário. Fátima estava na residência — a mesma de Carina — quando a Universidade do Minho emitiu o despacho. Preparava-se para ir trabalhar no part time que arranjou, mas não chegou a sair. “Liguei para o meu chefe, expliquei a situação e ele compreendeu”, acrescenta ao Observador.

No início, admite, entrou “um bocadinho em pânico” ao saber que teria de ficar 14 dias dentro da residência. “Nesse dia estivemos praticamente sempre juntos com o porteiro para saber as informações todas. Estivemos na sala de convívio, jantamos, jogamos às cartas e ao Monopólio e depois cada um foi para o seu quarto”, recorda. Esta segunda-feira “já foi um dia normal: acordar, estudar, ir ter com as outras pessoas e ver filmes”.

A estudante de 23 anos, que veio dos Açores para Braga, ligou para a linha SNS24 para saber o que teria de fazer caso tivesse algum tipo de sintoma, mas também foi contactada pela universidade e pelo local onde trabalha. “A médica de lá ligou-me a perguntar como me estava a sentir e disse que se precisasse de alguma coisa, se tivesse algum sintoma, para ligar para ela e também para a universidade”, recorda. A irmã, que é enfermeira, também lhe tem dado conselhos de prevenção.

O reitor da Universidade do Minho já tinha também adiantado que haveria o recurso ao ensino à distância durante o período em que as instalações estivessem fechadas e as aulas suspensas. Tudo para garantir que não haverá "prejuízos irreversíveis" para o desenvolvimento normal do ano letivo".

Do lado dos estudos, Carina Araújo conta que alguns professores “ainda queriam manter os testes para a mesma altura em que a universidade ainda estaria de quarentena”, mas refere que há docentes “que já aceitaram que isto se vai prolongar durante algum tempo” e, por isso, têm adiado testes e trabalhos, sendo que alguns serão apenas até à matéria dada. “Há cursos em que já vão dar as aulas por videoconferência e há cursos que vão fazer os testes numa plataforma online”, acrescenta.

O reitor da Universidade do Minho tinha também adiantado que haveria o recurso ao ensino à distância durante o período em que as instalações estivessem fechadas e as aulas suspensas. Tudo para garantir que não haverá “prejuízos irreversíveis” para o desenvolvimento normal do ano letivo”.

A descontração e o desafio: “Vamos tentando sempre inovar”

Quando Carina Araújo contou à família que iria ficar em isolamento naquela residência universitária, a situação foi encarada por todos de forma tranquila: “Era algo que já tínhamos visto nas notícias e que já estávamos à espera, então era uma questão de saber se ia ficar ou não e eu optei pelo seguro, por ficar. Eles entenderam perfeitamente, dado que era uma decisão sensata”. Para Carina, os alarmismos devem ser evitados, “porque só pioram a situação”.

“Neste caso sou apenas eu a fazer o isolamento, mas é mais por uma questão de prevenção, porque também tenho uma irmã pequena e é mais com medo de ter alguma coisa e de lhe transmitir”, explica a estudante, garantindo que das pessoas que estão na residência “ninguém tem tido sintomas”.

"Estamos aqui fechados, OK, isso é uma verdade, mas serão 14 dias em que também podemos aproveitar para estarmos juntos e conhecermo-nos melhor. Estando na residência, nem todos nos damos uns com os outros, é muito entrar e sair. Assim, é da forma que também nos conhecemos melhor uns aos outros e criamos laços".
Carina Araújo, estudante de Relações Internacionais da Universidade do Minho

O receio de que os dias sejam monótonos e cansativos dentro daquele espaço está presente, e “pode ser o maior problema”. “Podemos começar a ficar um bocado tensos e irritados, mas esperamos que isso não aconteça”, admite. Entre quem decide ficar sempre no quarto e quem prefere conviver com as outras pessoas da residência universitária, os três dias de quarentena já passados têm sido “encarados com a maior descontração possível”.

“Vamos sempre tentando inovar nas coisas que fazemos e temos sempre pensado em algumas formas de ocupar o tempo”, refere, para terminar com uma forma diferente de ver também esta quarentena: “Estamos aqui fechados, OK, isso é uma verdade, mas serão 14 dias em que também podemos aproveitar para, os que estiverem aqui dentro estarem juntos e conhecerem-se melhor. Estando na residência, nem todos nos damos uns com os outros, é muito entrar e sair. Assim, é da forma que também nos conhecemos melhor uns aos outros e criamos laços”.

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