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Uma pessoa passa por um balcão do Novo Banco após a aplicação da nova imagem de marca, em Lisboa, 8 de novembro de 2021. MÁRIO CRUZ/LUSA
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BCP, BPI ou... a bolsa? "Limpo" pelo Estado, quem vai ficar com o Novo Banco?

Fusão com MillenniumBCP é o cenário mais falado, mas há quem veja o BPI (CaixaBank) como o mais bem posicionado para comprar o Novo Banco. Lone Star pode, também, optar por colocar o banco na bolsa.

A gestora de fundos norte-americana Lone Star, que tem 75% do Novo Banco, garantiu ao Observador não ter planos de venda da participação “no curto prazo” e falou de uma “próxima etapa de desenvolvimento do banco e de plano de médio prazo“. Ao mesmo tempo, os bancos mais frequentemente apontados como possíveis interessados vão dizendo que nada estará iminente – fazendo baixar de tom, embora não totalmente, os rumores que existem no setor de que a Lone Star iria partir para a venda assim que a Comissão Europeia oficializasse a conclusão do processo de reestruturação do Novo Banco (o que pode acontecer nas próximas semanas ou meses). Agora que está “limpo”, graças a dinheiros (ou ajudas) públicos, qual é o futuro do Novo Banco?

Também nos últimos dias, o Jornal de Negócios noticiou que nos planos da Lone Star poderia estar uma venda em bolsa do capital do Novo Banco, ou pelo menos parte dele – algo que, além do encaixe financeiro que poderia significar para a gestora de fundos, traria a vantagem de a Lone Star poder passar a ter um indicador (real e atualizado ao minuto) sobre o valor da sua participação, isto é, uma cotação bolsista líquida. “Para a Lone Star, é importante tornar o investimento transacionável, mesmo que não o transacione“, explicou fonte do setor.

Esse cenário poderia ser vantajoso para a Lone Star, mas não traria a consolidação do setor que há vários anos é apontada como necessária. “Portugal tem um banco a mais, dada a dimensão do mercado“, acrescentou a mesma fonte, e uma venda do capital em bolsa deixaria tudo na mesma, nessa perspetiva, mantendo inalterado o número de concorrentes e não permitindo as potenciais sinergias que estão à mão de semear – sobretudo numa união com o BPI ou com o BCP – e que poderiam contribuir para assegurar maior rentabilidade e eficiência no setor bancário em Portugal.

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, já disse no passado que a banca portuguesa “só teria a ganhar” com essa consolidação. Questionado diretamente na terça-feira, pelo Observador, sobre os eventuais planos de cotação do Novo Banco em bolsa – o que adiaria, pelo menos por mais algum tempo, essa consolidação – Centeno recusou comentar: “Seria totalmente inapropriado que o Banco de Portugal se pronunciasse nessa medida, estamos apenas perante informação parcelar, pelo que vamos ter de aguardar o que o futuro nos reserva nessa dimensão”.

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Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, em entrevista ao Observador para o programa “Sob Escuta”. 18 de Março de 2022, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Mário Centeno já disse que a banca portuguesa "só teria a ganhar" com uma união entre instituições com dimensão.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Nesta fase, depois de um processo de reestruturação que teve contornos mediáticos a que a Lone Star não está especialmente habituada, a entidade já não tem qualquer impedimento na venda da participação de 75% no Novo Banco, comprada em outubro de 2017. Terminou há muito o período de inibição de venda, que era de três anos, e, ao que o Observador apurou, uma das razões invocadas por António Ramalho para a saída anunciada recentemente é que, terminada a fase da reestruturação, o gestor não achava apropriado ser ele o rosto da fase seguinte: a venda ou a preparação para a venda.

Por regra, gestoras de fundos como a Lone Star não têm no seu ADN a gestão de um investimento como o Novo Banco. É frequente referir-se a exceção a essa regra – o caso de um banco alemão, o IKB, que a Lone Star comprou na crise financeira de 2008 e do qual continua a ser dono. Esse banco só continua nas suas mãos, porém, porque a Lone Star ainda não conseguiu vender o banco apesar de inúmeras e sucessivas tentativas de venda.

Por ser um banco português, embora com chineses e angolanos como principais acionistas, o Millennium BCP é normalmente apontado como o principal candidato à compra do Novo Banco, caso a Lone Star opte por uma venda direta da sua participação maioritária. O presidente do conselho de administração, Miguel Maya, garantiu não estar “preocupado” caso outra entidade compre o Novo Banco e insistiu que as fusões e aquisições não estão nos planos do BCP – embora tenha acrescentado que o Millennium “tem hoje condições que não tinha há uns anos” para avançar nesse sentido, caso assim decidisse.

O fundo Fortitude, lançado pelo ex-Goldman António Esteves, tem-se movido nos bastidores para promover uma fusão entre o Novo Banco e o BCP – questionado pelo Observador, o gestor português disse não ser oportuno fazer comentários. Associado a essas movimentações estará António Horta Osório, banqueiro português que já no passado, sabe o Observador, terá tentado reunir um conjunto de investidores para comprar o Novo Banco na ótica de o fundir com o BCP, investidores que incluíam a família Soares dos Santos, do grupo Jerónimo Martins.

Os principais candidatos (e entraves) à compra do Novo Banco

O grande entrave a uma fusão entre o BCP e o Novo Banco é a diluição que enfrentariam os acionistas do BCP, que poderia ascender aos 50%, indicou outra fonte do setor. É um segredo mal guardado no setor que os angolanos da Sonangol veriam com bons olhos a venda da sua participação de 19,6%, embora a recente subida dos preços do petróleo reduza um pouco a pressão. Mas são menos claros os objetivos do maior acionista, a chinesa Fosun, que só agora irá, finalmente, receber um pequeno dividendo – quase 30% dos 13,6 milhões de euros em dividendos que o BCP vai pagar em junho.

Outro entrave é que existe no setor uma perceção de que, ao contrário de outros bancos, o Millennium BCP ainda tem “esqueletos no armário” por resolver, que tornam mais difícil avançar para uma fusão enquanto não forem solucionados. Esses “esqueletos” dizem, sobretudo, respeito à saga dos créditos em francos suíços dados na Polónia, que desde 2018 causa, a cada trimestre que passa, sucessivas sangrias nos resultados do banco. Ainda neste primeiro trimestre, as imparidades registadas devido a esse problema foram de 123 milhões de euros, mais do que a totalidade dos lucros de todo o grupo (112,9 milhões).

Questionado pelo Observador sobre quanto mais tempo e dinheiro é que esse problema pode custar, o presidente Miguel Maya retorquiu, dirigindo-se ao jornalista na conferência de imprensa: “Se você souber a resposta a essa pergunta, agradeço que a partilhe comigo“.

O presidente executivo do Millennium bcp, Miguel Maya, fala aos jornalistas em conferência de imprensa de apresentação de resultados do 3º trimestre de 2021, 27 outubro 2021, na sede daquela instituição bancária, em Oeiras. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Miguel Maya não sabe quanto mais tempo e dinheiro vai custar o problema na Polónia.

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Bastante maior facilidade em avançar para o Novo Banco teriam os espanhóis do Caixabank, dono em pleno direito do BPI – e seria talvez com o BPI que poderiam obter-se as maiores sinergias. Basta ver que o Novo Banco tem custos operacionais anuais que em 2021 baixaram para 408 milhões, para servir cerca de 1,3 milhões de clientes, com maior presença entre as empresas. Já o BPI fechou 2021 com custos recorrentes de 427 milhões e tem 1,9 milhões de clientes, com maior peso dos particulares, segundo fonte oficial.

Era uma fusão que se fazia em dois dias, com um pressionar de um botão“, diz fonte do setor ao Observador. Seria maior a complementaridade entre tipos de clientes e, por outro lado, uma parte dos clientes já serão comuns e partilhados pelos dois bancos. Seria uma fusão com potencial para gerar algumas centenas de milhões de euros em sinergias, mesmo que fosse necessário suportar as despesas associadas à saída das pessoas redundantes. “Mas isso seria um investimento que se recuperava em dois anos”, acrescenta a fonte.

Além de ter disponibilidades financeiras, o Caixabank poderia originar uma fusão que, ao contrário de outras alternativas, não deveria levar a remédios significativos por parte da Concorrência, acrescenta esta fonte. É pela inevitabilidade desses remédios que o BPI/Caixabank é visto como um candidato mais provável do que, por exemplo, o Santander – que por ser maior e ter maior sobreposição de mercado com o Novo Banco teria, obrigatoriamente, de se desfazer de um conjunto relevante de operações, caso comprasse o banco.

Tal como o Santander, porém, o Caixabank tem a desvantagem “política” de ser uma entidade espanhola que estaria a comprar um dos últimos grandes bancos portugueses (embora já detido, maioritariamente por capital estrangeiro). Para já, porém, a gestão do Caixabank não parece muito inclinada a avançar neste sentido: “Não estamos a olhar [para o Novo Banco]. Queremos manter as coisas como estão”, respondeu Gonzalo Gortázar, administrador do Caixabank num encontro com jornalistas em Madrid esta semana.

Apesar de ser a operação que, financeiramente, poderia fazer mais sentido, uma compra do Novo Banco pelo Caixabank – que depois o fundiria com o BPI – reúne opinião minoritária de que esse será o caminho entre os especialistas ouvidos pelo Observador. “Talvez no tempo do [anterior administrador do Caixabank] Isidro Fainé fosse mais provável, porque tinha um perfil diferente. Com a nova gestão acredito que não será o cenário mais provável”, diz uma das fontes do setor.

“Não estamos a olhar [para o Novo Banco]. Queremos manter as coisas como estão”, disse presidente do Caixabank.

KAI FOERSTERLING/EPA

Ainda assim, o BPI/Caixabank parece ser a opção mais provável entre os bancos espanhóis a operar em Portugal. O Abanca poderia ser outro possível candidato (foi, aliás, a entidade que comprou a operação espanhola do Novo Banco) mas, para já, a prioridade será a compra do Eurobic, ao cabo de um processo que se arrasta há longos meses mas que poderá estar prestes a concretizar-se, por 210 milhões, segundo o Jornal Económico.

Outro espanhol, o Bankinter, tem mostrado grande ambição no crescimento em Portugal e o country manager, Alberto Ramos, chegou a admitir que uma compra do Novo Banco poderia ser uma “possibilidade” a estudar. Mas, mais recentemente, também este banco espanhol, pela voz da sua presidente executiva, disse muito claramente: “não temos qualquer intenção, neste momento, de adquirir alguma entidade em Portugal ou em um outro país”.

Por outro lado, quem teve oportunidade de descartar o interesse no Novo Banco, em termos semelhantes, e não aproveitou essa oportunidade foi Paulo Macedo, presidente da comissão executiva da Caixa Geral de Depósitos.

Questionado na conferência de imprensa de apresentação dos resultados trimestrais sobre se o banco público deve ser considerada carta fora do baralho nas cogitações em torno do Novo Banco, Paulo Macedo respondeu com alguma hesitação no discurso: “A Caixa entende que para cumprir o seu papel tem de ser um banco relevante, estamos atentos àquilo que acontece. Não temos neste momento… não faz parte do nosso plano estratégico comprar o Novo Banco, da mesma maneira que faz parte [desse plano] continuarmos a ter a liderança do mercado”.

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