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O vice-almirante e coordenador da task-force para a vacinação, Gouveia e Melo, durante entrevista na sede em Carcavelos, Oeiras, 02 de setembro de 2021. (ACOMPANHA TEXTO DA LUSA DE 04 SETEMBRO 2021). TIAGO PETINGA/LUSA
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TIAGO PETINGA/LUSA

TIAGO PETINGA/LUSA

Morte de PSP. Capelão da Marinha critica almirante e arrisca expulsão. Militares ameaçados com "prisão" se divulgarem versão não oficial

Capelão criticou palavras de chefe da Marinha a propósito de fuzileiros envolvidos na morte de agente da PSP. Hipótese de expulsão gerou onda de protestos. Antigos militares ponderam entregar boinas.

O capelão da Marinha criticou abertamente o Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) pela forma como Gouveia e Melo se referiu aos dois fuzileiros envolvidos na morte de uma agente da PSP, há uma semana e meia. Nas últimas horas, a versão de que o padre Licínio Luís poderia ser exonerado — e até expulso do ramo — geraram uma onda de solidariedade entre atuais e antigos militares daquele corpo de elite — e colocaram o almirante Gouveia e Melo debaixo de fogo intenso. Elementos do corpo de fuzileiros foram ameaçados com “prisão” caso promovessem uma “versão não oficial” dos acontecimentos.

Atleta de basquetebol e um polícia com “sentido de missão”. Quem era Fábio Guerra, que morreu após ser agredido por dez pessoas

Esta terça-feira de manhã, o comandante do corpo de fuzileiros convocou alguns dos militares da unidade e deixou o aviso: horas depois de o capelão ter reunido com Gouveia e Melo — e, segundo apurou o Observador, depois ter sido ameaçado com a expulsão do ramo —, quem fosse apanhado a passar informações que fugissem à “versão oficial” dos acontecimentos dos últimos dias arriscava um “castigo”, possivelmente “prisão”.

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O aviso do comandante Mariano Alves foi feito ao fim de vários dias de uma tensão crescente na Base do Alfeite, em Almada. Sobretudo desde que, na última quinta-feira, o CEMA se deslocou à “casa” dos fuzileiros para criticar abertamente o episódio de agressões que envolveu dois militares daquela força de elite — atualmente detidos em Tomar — e que resultou na morte de um agente da PSP, Fábio Guerra.

“O senhor almirante que aguarde pela Justiça. Julgar sem saber não corre nada bem”, escreveu o capelão da Marinha, na última sexta-feira, no Facebook, escreveu o capelão da Marinha

Gouveia e Melo cruzou o Tejo, ligaram-se as câmaras e o almirante disparou a mensagem que o tinha levado ali: “Os acontecimentos do último sábado já mancharam as nossas fardas, independentemente do que vier a ser apurado. O ataque selvático, desproporcional e despropositado não pode ter desculpas e justificações nos nossos valores, pois fere o nosso juramento de defender a nossa pátria. O agente Fábio Guerra era a nossa pátria, a PSP e as forças de segurança são a nossa pátria e nela todos os nossos cidadãos.”

As palavras do almirante ficaram a ecoar junto dos militares daquele corpo de elite. Em particular, quando se referiu às agressões ao agente da PSP, prostrado, depois de já ter sido alvo de várias agressões. “Quando vejo alguém a pontapear um ser caído no chão, vejo um inimigo de todos nós, os seres decentes, vejo um selvagem, vejo o ódio materializado e cego, vejo acima de tudo um verdadeiro covarde.” A intervenção, filmada e difundida por vários meios de comunicação nacionais, geraram desagrado entre os militares de elite da Marinha — e o capelão do ramo verbalizou-as no Facebook.

“O senhor almirante que aguarde pela Justiça. Julgar sem saber não corre nada bem”, escreveu o capelão da Marinha, na última sexta-feira, no Facebook, numa publicação em que Licínio Luís se referia diretamente ao discurso de Gouveia e Melo e que acabou por ser partilhada centenas de vezes, depois de chegar aos grupos militares naquela rede social (mesmo depois de a versão original ter sido apagada a substituída por print screens das palavras do padre.). “O senhor almirante nunca foi para a noite? Nunca bebeu uns copos?”

“Ordem de expulsão” durou 24 horas

Membro do corpo de fuzileiros há cerca de 25 anos, as críticas do capelão da Marinha geraram um amplo apoio nas redes sociais. Mas desagradaram a Gouveia e Melo. Nesta segunda-feira, Licínio Luís foi convocado para uma reunião no gabinete do CEMA. E, de acordo com relatos que chegaram ao Observador, o padre terá saído diretamente do encontro e ter-se-á dirigido ao Alfeite. Ali, visivelmente perturbado, tratou de arrumar a capela e esvaziar o cacifo — teria recebido indicações de que ia ser afastado das funções que desempenhava na Marinha e, mais do que isso, expulso do ramo. O semanário Expresso escreve que a Marinha ainda pondera uma decisão sobre o caso mas, ao Observador, fontes militares indicam que o caso ficou encerrado sem que qualquer penalização fosse aplicada ao militar.

Militares de elite com ligações a clube de boxe na margem sul. Dois dos agressores de polícias à porta do Mome já terão sido detidos

No dia seguinte ao primeiro encontro, já na manhã desta terça-feira, novos desenvolvimentos. Numa segunda reunião com Gouveia e Melo, Licínio Luís terá recebido indicações de que, afinal, não seria expulso e poderia manter-se como capelão do ramo. Ao Observador, várias fontes indicavam que teria sido a intervenção do bispo das Forças Armadas a impedir o desfecho mais dramático. Num contacto telefónico, D. Rui Valério garante não ter tido qualquer influência nessa reversão da pena. “Eu nem sequer tenho estado por Lisboa, ainda tenho de me inteirar do caso”, diz o clérigo ao Observador.

Questionado sobre uma ordem de expulsão, o padre Licínio Luís preferiu não tecer comentários, dizendo apenas que era preciso “deixar o processo correr”. Também em declarações sintéticas ao Observador, o padre Paulo Correia, superior do capelão na Congregação dos Passionistas (de que Licínio Luís faz parte) disse apenas que o assunto estava “sanado”.

No corpo de fuzileiros, além do aviso a Licínio Luís, outros militares foram alertados para a possibilidade de serem chamados ao comando por mensagens publicadas nas redes sociais

Mas ainda antes do segundo encontro entre o pároco da Marinha e o Chefe do ramo, as redes sociais ficaram inundadas de mensagens de apoio ao militar que criticou abertamente Gouveia e Melo.

“Camarada e amigo Capelão Licínio Luís, nem consigo acreditar como isto tudo foi possível… Sei que a família dos Fuzileiros não pode aceitar esta situação injusta sem dar luta”, refere uma publicação no perfil público do capelão. O mesmo post dirige-se depois ao Chefe da Armada: “Faça como disse no seu discurso, tire a farda e deixe honrar os 400 anos dos Fuzileiros e os 700 anos da Armada, os militares de bem. Desde quando é que o CEMA vem para a praça pública falar das suas unidades e dos militares de Marinha, com que interesse?”. Outro utilizador escrevia que “nenhum [dos militares envolvido nos confrontos à porta da discoteca] foi julgado pela justiça, mas o Sr. Capelão já foi julgado por estas palavras e exonerado” — e, numa atualização, acrescentava que “o capelão voltou ao cargo”. Largas dezenas de outras mensagens repetiam as mesmas ideias.

No corpo de fuzileiros, além do aviso a Licínio Luís, outros militares foram alertados para a possibilidade de serem chamados ao comando. Em causa estavam as mensagens que, como o capelão, foram publicando nas redes sociais nos últimos dias, em reação ao discurso do Chefe do ramo. Ao início da tarde de terça-feira, nova reunião no Alfeite, dessa vez com o comando naval. E a mesma mensagem: é fundamental mostrar apoio à hierarquia e não propagar versões “não oficiais” dos acontecimentos. Até ao momento, não passaram de avisos.

Ex-militares ponderam entregar as boinas

Os momentos têm-se sucedido a um ritmo acelerado nos últimos dias. Depois de começar a correr a notícia de que o capelão da Marinha tido sido expulso do ramo, e ao mesmo tempo que nas redes sociais se multiplicavam as mensagens de apoio ao padre, antigos militares do corpo de fuzileiros preparavam a “resposta” a Gouveia e Melo — e já tinham uma data preparada para avançar.

10 de abril, o dia em que se assinala o fim das comemorações dos 400 anos do corpo de fuzileiros, ia ficar marcado por um protesto sem precedentes contra o Chefe do ramo. Fontes militares contam ao Observador que estava tudo em aberto: apupos a Gouveia e Melo no momento em que o CEMA fizesse a intervenção formal nas cerimónias, um virar de costas ao almirante, envergar tshirts com o rosto do capelão do ramo impresso ou, em última análise, a entrega de boinas azul ferrete — e o corte simbólico com uma instituição a que estão intimamente ligados.

Esses planos ficaram em suspenso depois de correr a versão atualizada dos acontecimentos: Gouveia e Melo não teria formalizado a decisão e Licínio Luís continuaria integrado no ramo e das suas funções. A este respeito, fonte militar diz ao Observador que tudo indicava que o processo fosse em frente.

No corpo de fuzileiros, a solidariedade dos camaradas de armas traduziu-se numa recolha de fundos. O objetivo é recolher verbas suficientes para fazer face às despesas de representação de um processo judicial que ainda agora está a começar.

Depois da ordem de expulsão, esperava-se que, esta terça-feira de manhã, a ordem do dia (o documento que formaliza a toma de decisões de cada unidade ou ramo) viesse concluir esse processo. Mas o documento não chegou a ser conhecido e, depois, o padre terá sido informado de que o assunto estaria sanado.

Fuzileiros recolhem fundos. Advogado pago com apoio dos militares

Em paralelo a todo este processo, Cláudio Coimbra, de 22 anos, e Vadym Hrynko, de 21 anos, estão em prisão preventiva em Tomar. A decisão do juiz Carlos Alexandre foi conhecida após os dois militares, suspeitos de participarem nas agressões a Fábio Guerra — não é claro o contributo de ambos para o desfecho fatal —, admitirem as agressões ao agente da PSP.

No corpo de fuzileiros, a solidariedade dos camaradas de armas traduziu-se numa recolha de fundos. O objetivo é recolher verbas suficientes para fazer face às despesas de representação de um processo judicial que ainda agora está a começar.

A Polícia Judiciária está a investigar o caso que resultou em três detenções (apesar de o número de suspeitos ser maior) — as de Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko, além de um civil. Os dois militares foram detidos a 21 de março (menos de três dias após as agressões e no dia em que Fábio Guerra acabaria por morrer, no Hospital de S. José). Foram ambos detidos na Base do Alfeite (o civil seria detido horas mais tarde e, depois, libertado). Os dois fuzileiros estavam retidos, sob ordens de Gouveia e Melo, na base militar depois de serem associados aos acontecimentos que resultaram na morte do agente da PSP.

Os militares integravam um grupo que se envolveu em confrontos com elementos de um segundo grupo à porta da discoteca Mome, em Lisboa. Fábio Guerra, que se encontrava fora de serviço e também tinha estado na discoteca, procurou acabar com a rixa, depois de se identificar como agente da Polícia. Foi nesse momento que acabou por ser alvo de agressões violentas. Foi encaminhado para o hospital, esteve em coma, mas, dois dias mais tarde, acabaria por morrer.

Polícia espanhola procura um dos suspeitos da morte de agente da PSP em Lisboa

Um outro suspeito de ter participado nas agressões a Fábio Guerra terá fugido para Espanha. Clóvis Abreu, de 24 anos, é procurado pela polícia espanhola. “Este homem é suspeito do assassinato de um polícia em Lisboa e pode ser encontrado em Espanha. Se tiver alguma informação sobre ele, envie uma mensagem para fugitivos@policia.es ou ligue para o 091. Por favor, compartilhe este ‘post’ para que todos possam contar com esta informação”, escrevem as autoridades espanholas numa publicação em que dão conta de que o homem é procurado. A acompanhar o texto, uma fotografia do suspeito.

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