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O presidente do Chega, André Ventura, fala aos jornalistas à chegada para um jantar-comício de campanha para as legislativas do próximo domingo, 30 de janeiro, Vila Viçosa, 27 de janeiro de 2022. Mais de 10 milhões de eleitores residentes em Portugal e no estrangeiro constam dos cadernos eleitorais para a escolha dos 230 deputados à Assembleia da República. NUNO VEIGA/LUSA
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Líder do Chega assegura que partido não tem qualquer relação com Putin

NUNO VEIGA/LUSA

Líder do Chega assegura que partido não tem qualquer relação com Putin

NUNO VEIGA/LUSA

Chega espera que partidos-irmãos cortem relações com Putin

André Ventura considera que este não é o momento para estar do "outro lado da barricada" e que os homólogos europeus têm uma oportunidade para aprenderem com o "erro" de se associarem a Putin.

Numa altura em que vários partidos da direita radical por toda a Europa estão a ser confrontados com as relações de cumplicidade que têm ou tiveram com o Kremlin, em que a própria família europeia que os agrega se divide na condenação da invasão da Ucrânia, o Chega entende que este é um momento de todos aprenderem com o “erro” de se associarem a Vladimir Putin e falarem a uma só voz.

“O Chega não tem nenhuma relação com Putin e nesta fase espera que todos façam o mesmo”, diz ao Observador André Ventura, confrontado com o posicionamento de outros partidos de extrema-direita, aqueles com os quais partilha a família europeia.

O líder do Chega já se encontrou várias vezes com Marine Le Pen, já recebeu Matteo Salvini num dos seus Congressos e chegou até a convidar Viktor Orbán para outro (uma deslocação que não chegou a acontecer). Os três eram próximos de Moscovo e estão agora a ser obrigados a renegarem essas ligações.

Mas a relação estreita que existe (ou existia) entre estes líderes e Vladimir Putin — e até os financiamentos que chegaram a receber do regime russo — afetam ou não a ligação que Ventura construiu ao longo dos últimos anos com os líderes dos partidos-irmãos? Vários dirigentes e deputados do Chega ouvidos pelo Observador desvalorizam a associação e consideram mesmo que o tema é um “não-assunto”.

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“Se o próprio Salvini tem a mesma posição do que nós, aparentemente, não há desconforto nenhum. Ele era pró-Putin, chegou a dizer que era um génio e o melhor estadista de todos os tempos… mas se ele próprio já mudou de ideias, já percebeu que não é verdade e se a opinião que tem neste momento é semelhante à nossa, não causa desconforto”, nota um membro da direção do Chega ao Observador.

“Achamos que é um erro que eles cometem, ou que cometeram, porque agora provavelmente ficaram alertados. Seguramente que a atitude para o futuro será diferente. Que vão mudar, vão seguramente”, acrescenta outro alto dirigente do partido.

Ao Observador, esse mesmo alto dirigente do Chega garante já terem existido conversas com elementos da Rassemblement National de Marine Le Pen onde ficou bem evidente o desconforto do partido francês com o potencial tóxico de anos de cumplicidade com Putin e a vontade de romper de vez com o Kremlin. “Não vão continuar a cometer o mesmo erro“, antecipa a mesma fonte.

Divisões na família europeia são “opiniões diversas”

Apesar da posição do Chega, a verdade é que quando o tema foi levado ao Parlamento Europeu, a família europeia nacionalista do Identidade e Democracia (ID), de que faz parte o partido de André Ventura, não falou a uma só voz: 45 eurodeputados votaram a favor da condenação da Rússia, sete abstiveram-se e Marcel de Graaf, dos Países Baixos, votou contra – houve ainda quatro ausentes e oito que optaram por não votar.

André Ventura não atribui grande importância à divisão. “O ID (Partido Identidade e Democracia) deve ter aqui uma posição clara de defesa da Ucrânia e da Europa. Não faz sentido, neste momento, estar em qualquer outro lado da barricada“, sublinha, garantindo que não vê qualquer problema dentro da família do Parlamento Europeu. “São opiniões diversas“, remata.

“Para o Chega, isto é muito claro. Defender a Ucrânia de uma invasão ilegítima é defender a Europa e Portugal, defender a nossa democracia e os valores civilizacionais. Logo, não há dúvida nenhuma.
Estamos a fazer tudo o que podemos para ajudar o povo ucraniano”, esclarece André Ventura.

O Chega terá escolhido o “lado da barricada” há muito. Ao Observador, um dirigente do Chega assegura que se trata de um tema há muito falado. Apesar de nunca ter havido uma reunião ou posição formal, os responsáveis máximos pelo partido discutiram o assunto Putin várias vezes.

“Nós optámos sempre por não ter quaisquer relações com o Putin. Foi uma questão discutida, não oficialmente pela direção, mas trocámos impressões sobre isso ao longo do tempo e o entendimento foi sempre de que não entraríamos nessa posição”, nota a mesma fonte.

Ou seja, a necessidade de um alinhamento mais ocidental e distante do regime russo e das ligações que tinha aos partidos de extrema-direita não é de agora.

Questionado sobre se alguma vez o partido esteve mais próximo de Putin ou se alguma vez procurou financiamento russo, Ventura é perentório: “O Chega cumpre rigorosamente a lei. Não é, nem nunca foi financiado por dinheiro russo, ou qualquer outra nacionalidade. Nunca o permitiria.”

O virar de costas a um ‘velho amigo’ chamado Putin

Além de um inegável desconforto, a guerra na Ucrânia levou a cortes (mais ou menos vigorosos) nas relações dos líderes de extrema-direita com a Rússia. Marine Le Pen — que já esteve várias vezes com André Ventura —, pressionada por várias vezes a tomar uma posição desde que as tropas russas entraram em território ucraniano, admitiu que esta atitude do regime de Putin “mudou parcialmente” a visão que tinha do líder da Rússia.

Em entrevista à BFMTV, a mesma Le Pen não deixou de dizer, ainda assim, que a invasão estava a ser vista com olhos ocidentais: “Sim, é um regime autoritário, historicamente e na cultura. Mesmo que estejamos a julgar [a guerra] através das normas ocidentais, que não são as normas russas.”

As dúvidas sobre o posicionamentos da líder do partido de extrema-direita subiram de tom quando num folheto de campanha apareceu uma fotografia em que Marine Le Pen surgia ao lado de Vladimir Putin — a candidata ao Eliseu esteve em Moscovo e conheceu o Presidente russo ainda antes das eleições de 2017.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

O jornal Libération revelou depois que a Rassemblement National (RN) tinha dado ordens para que as estruturas regionais destruíssem estes flyers, mas o próprio partido negou tê-lo feito. Em causa está uma brochura de campanha e uma página dedicada à política internacional. No dia em que este artigo foi escrito, o documento permanecia disponível no site da candidatura com a fotografia em causa.

No seguimento da polémica um funcionário do partido foi ainda mais longe: “Não vamos negar a nossa posição na política internacional. Em 2017, tivemos de trabalhar com a Rússia para combater o Estado Islâmico. Nenhum assunto relevante pode ter uma solução duradoura sem a cooperação, pelo menos, do conselho de segurança.”

Na história da relação entre Putin e Le Pen há ainda o peso do dinheiro: em 2014, a Frente Nacional recebeu um empréstimo de nove milhões de euros de um banco russo para financiar campanhas eleitorais, já depois de ter tido dificuldade em arranjar esse mesmo financiamento.

Agora, e depois de ter visto a campanha suspensa por falta de fundos, voltou a ser ajudada por um dos ‘amigos’ da extrema-direita. Desta vez, Viktor Orbán. Le Pen recebeu um empréstimo de 10,7 milhões de euros do banco húngaro MKB, o segundo maior da Hungria, que é propriedade de empresários com fortes ligações ao primeiro-ministro húngaro.

Viktor Orbán foi um dos mais pressionados após a invasão da Rússia à Ucrânia, até pela estreita relação política e económica que Órban e Putin mantêm há vários anos. Se no clima anterior à guerra o primeiro-ministro húngaro evitou condenar a concentração de tropas russas junto à fronteira da Ucrânia, no pós-invasão, Orbán admitiu aplicar as sanções internacionais à Rússia: “É claro que temos que ajustar tudo.”

Apesar das políticas anti-imigração que defende, o líder húngaro disse ainda estar disposto a receber refugiados que estejam a fugir da invasão russa — tanto ucranianos como residentes de países terceiros, porém vedou o uso de território húngaro para o transporte de armas para a Ucrânia por querer manter a Hungria “fora da guerra”.

A t-shirt com a cara de Putin que ninguém esqueceu

Matteo Salvini é um dos líderes dos partidos da extrema-direita europeia que tem ligações assumidas com André Ventura, tendo já discursado até num Congresso do partido. A admiração por Putin é pública e assumida, ao ponto de Salvini se ter feito fotografar no Parlamento Europeu com uma t-shirt com o rosto de Putin estampado.

Já depois da invasão russa, o líder do partido de extrema-direita Liga foi até à fronteira entre a Polónia e a Ucrânia, mas acabou ‘barrado’ pelo presidente da Câmara de Przemyśl quando se preparava para fazer uma conferência de imprensa. O político italiano disse não querer “controvérsias entre a esquerda italiana e polaca”, garantindo que estava ali para “ajudar aqueles que estão a fugir da guerra”.

Antes disso, Matteo Salvini já se tinha reunido com representantes do Vaticano para “coordenar a ajuda, organizar viagens e acomodação em Itália”. E foi rápido no posicionamento: “Claramente há um atacante e um agredido”, afirmou, deixando claro que os italianos devem estar ao lado dos ucranianos.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Posições ambíguas tem tido o Vox, que mostrou ser favorável ao envio de armas para a defesa da Ucrânia, pediu sanções fortes a nível internacional e concordou com a abertura de portas aos refugiados. Contudo, as palavras de Abascal não foram transversais a todo o partido, com o grupo parlamentar da Andaluzia a sugerir que estas pessoas devem ficar noutros países, “mais próximos da Ucrânia” e em que haja “mais pontos em comum em termos culturais”.

Apesar disso, Abascal acabou mesmo por aproveitar a situação política internacional para atirar ao governo espanhol ao dizer que “os aliados de Putin estão no governo de Pedro Sánchez”.

Uma das questões que se impõe (e que é impossível de ter resposta imediata) é: até quando é que durará este afastamento — será ou não definitivo — e vão ou não estes líderes abdicar do dinheiro russo que financia alguns destes partidos de extrema-direita?

Com ou sem afastamento, as repercussões da amizade política estão a cair no colo de alguns destes líderes partidários. A um mês das eleições presidenciais francesas, Marine Le Pen é uma das mais prejudicadas com a guerra da Ucrânia. Depois de em 2017 ter conseguido disputar uma segunda volta com Emmanuel Macron, neste momento a líder da Frente Nacional (agora Rassemblement National) continua a descer nas sondagens e o atual chefe de Estado vai em sentido inverso.

As sondagens não mostram só uma descida de Le Pen, como também colocam a cair Eric Zemmour, o outro representante de extrema-direita na candidatura ao Palácio do Eliseu. O ex-jornalista e fundador do partido Reconquista há vários anos que diz ser um admirador do estilo de Vladimir Putin — até já disse que gostava de ver um “Putin francês” por considerar que ninguém defende o país “contra tudo e contra todos” como o líder russo faz.

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