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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Alberto João Jardim: “Marcelo dá o ar de que gosta de estar no colo do Costa"

Em entrevista, Alberto João Jardim critica a falta de firmeza de Marcelo, critica Costa, defende Rio e alerta para o possível regresso de Passos Coelho, "o pior primeiro-ministro que Portugal teve".

Na casa onde cresceu e que é hoje o seu gabinete, Alberto João Jardim recebeu o Observador no Funchal em vésperas do 10 de Junho e num dia em que escreveu uma carta aberta a Marcelo Rebelo de Sousa. Num gabinete onde tem um grande retrato de Sá Carneiro, o ex-presidente do Governo Regional da Madeira faz questão de ter fotografias de todos os ex-primeiros-ministros do PSD menos de um: Passos Coelho, que diz ter sido “o pior primeiro-ministro que Portugal já teve“.

Alberto João Jardim diz que Marcelo não pode “apenas tomar poncha” na Madeira — algo que o Presidente tinha feito várias vezes no dia anterior — mas também assumir um papel na discussão sobre a autonomia da região. Diz ainda que Marcelo Rebelo de Sousa “não resolveu nenhum problema da Madeira” desde que tomou posse. Sobre o caso Pedro Adão e Silva diz que Marcelo falhou e sugere a Rui Rio que “o PSD organize as suas próprias comemorações dos 50 anos do 25 de Abril sozinho”. Num estilo muito corrosivo, Jardim diz que Costa é “mais inteligente” que todos os outros primeiros-ministros socialistas, mas não necessariamente melhor já que “põe o interesse do PS à frente dos interesses do país.”

Hoje escreve hoje um artigo no jornal da Madeira onde alerta o Presidente para o dever constitucional dele de intervir ou, pelo menos ser moderador em aspetos essenciais das Regiões Autónomas, em particular da região da Madeira. Começando por aí, pergunto-lhe se o que pretende com aquele artigo é alertar Marcelo Rebelo de Sousa para que não se esqueça da Madeira?
Em primeiro lugar, quero dizer que o Presidente não foi colhido de surpresa porque por uma razão de boa educação, eu avisei-o, sem lhe pedir licença, que ia publicar aquela carta há uma semana, quando ele estava a sair para a Eslovénia. Entendo que este país, principalmente depois da pandemia, vai-se encontrar numa situação muito difícil. Os portugueses julgam que quando passar a pandemia isto vai continuar um mar de rosas. Não vai porque, mesmo antes da pandemia, Portugal foi regredindo e está nos últimos lugares do desenvolvimento na Europa, atrás de muitos países que há poucos anos tinham um PIB per capita inferior ao nosso. Em segundo lugar, não temos instituições nem gente que nos dê garantias que podemos entrar com esperança no surto de dificuldades socio-económicas que vamos ter mesmo depois do fim da pandemia. Neste quadro, toda a conflitualidade tem de ser evitada. E, por isso, andamos aqui há anos e anos, principalmente depois do Governo Costa a protelar decisões. À boa maneira portuguesa, empurra-se com a barriga para a frente. E eu quis alertar o Presidente da República de que ele tem o poder moderador, que lhe é dado pela Constituição que ele jurou e que, portanto, compete-lhe a ele não apenas tomar poncha, mas também promover uma articulação entre o Governo da República e o Governo Regional da Madeira para se ultrapassarem as dificuldades. As dificuldades estão neste momento inventariadas é uma questão de nos sentarmos.

Cerca de uma hora depois desta entrevista ter sido feita, Alberto João Jardim marcou presença num evento onde esteve também Marcelo. Este foi o único momento em que ambos se cumprimentaram.

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Ele tem falhado aos madeirenses nos últimos cinco anos?
O Governo Costa é um retornar ao colonialismo.

Já iremos a António Costa. Mas perguntava-lhe se Marcelo Rebelo de Sousa tem falhado aos madeirenses
Não resolveu ainda nenhum problema da Madeira. Não interveio ainda em nenhum problema.

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E escreve a lembrar-lhe que ele teve uma das maiores votações aqui na Madeira nas Presidenciais.
Sim. Por duas razões: primeiro porque as pessoas gostam dele pessoalmente e sabem que ele é um homem de valores, embora tendo um receio enorme de enfrentar os problemas — que não percebo porquê, porque é um homem seguro de si. Ainda hoje sei que os jornalistas lhe perguntaram pela carta aberta que publiquei hoje e ele foi dizendo que não é nada com ele. Ora, isto não é assim. Primeiro, um professor de Direito Constitucional tem obrigação de saber os poderes que a Constituição lhe atribui. Em segundo lugar, o Presidente da República não diz que não é nada com ele, tem de fazer as diligências adequadas. Não percebo porque é que o Presidente tem andado estes anos todos com receio de enfrentar o Costa naquilo que ele reconhece que tem razão e que ele entende que o Costa está errado. Não percebi ainda isto.

"Quis alertar o Presidente da República de que ele tem o poder moderador, que lhe é dado pela Constituição que ele jurou e que, portanto, compete-lhe a ele não apenas tomar poncha, mas também promover uma articulação entre o Governo da República e o Governo Regional da Madeira"

“Ao Presidente não compete apenas beber poncha”

Partilha dessa ideia de alguns setores do PSD de que Marcelo Rebelo de Sousa dá um certo colinho a António Costa?
Penso é que o António Costa, inteligentemente, dá o colo ao Marcelo.

O Presidente não é complacente com primeiro-ministro?
O Presidente dá o ar de que gosta de estar sentado no colo do Costa.

Há pouco falava aí na poncha que Marcelo bebeu e é uma das pessoas que no Chão da Lagoa, nas férias em Porto Santo…
Mas não era poncha, que eu não me dou com a poncha. Dou-me com um bom vinhinho.

Mas tinha um hábito de beber com as pessoas também. Acha que Marcelo Rebelo de Sousa é demasiado populista? Vindo de si parece um pouco contrassenso.
Não, porque é espontâneo dele. Sempre conheci o professor Marcelo Rebelo de Sousa como um homem espontâneo. A única crítica que lhe faço é: não quer problemas com o primeiro-ministro. Portugal não é governado neste momento por um estadista, é governado por um homem de partido. Muito inteligente, muito hábil partidariamente e que põe o seu partido [à frente do país], que já era tradição no Partido Democrático de Afonso Costa na I República.

O PS põe o partido à frente do país?
Não é o PS. É António Costa, que é daqueles indivíduos do PS que primeiro está o PS. É um pouco como os comunistas. Primeiro está o PS e só depois é que está o Estado.

"Marcelo não quer problemas com o primeiro-ministro. Portugal não é governado neste momento por um estadista, é governado por um homem de partido"

“Pedro Adão e Silva é um agitprop do PS”

Ontem houve uma polémica da República que foi a nomeação de Pedro Adão e Silva, que chegou a colaborar no programa do PS de Sócrates, e que tem várias regalias para liderar uma comissão de comemorações do 25 de Abril. Vê que esta nomeação seja um pagamento por essa defesa do partido?
Nem é preciso ir buscar o engenheiro Sócrates, basta ver o que senhor diz sempre que fala na televisão. Mas eu não poria as coisas nesse termo de ser um pagamento. Eu vou por outro caminho que é este: não há dúvida que a pessoa em causa é um homem de fação e claramente marxista, como é hoje, infelizmente e à custa do dinheiro dos contribuintes, a escola superior que é o ISCTE. Toda a gente sabe que aquilo é uma fornalha de marxismo à custa do contribuinte. Agora, o 25 de Abril é uma coisa muito séria. A Revolução é de todos e tem de ser apresentada como uma coisa do povo português. Ao longo destes anos, todos nós sabemos que houve uma crítica muito forte no sentido de que certos partidos ditos de esquerda, o chamado fascismo de esquerda, o PCP e o BE, que são totalitários, tentavam fazer com que o 25 de Abril fosse uma coisa deles. Mas o 25 de Abril é do povo. A autonomia da Madeira existe porque houve um 25 de Abril. O 25A também é nosso. Portanto, com esta nomeação o Presidente da República e o primeiro-ministro deram essa sinalética errada de que o 25 de Abril é para ser propriedade dos setores da esquerda radical. Ora, perante isto, o PSD só tem uma posição coerente.

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Que é qual?
Não vou por esses caminhos de ordenados. Não basta criticar. O PSD para ser coerente devia criar a sua própria comissão de comemoração do 25 de Abril e correr o país todo a celebrar o 25 de Abril. Sozinho. Sem direitas e sem esquerdas. Temos forças para sozinhos fazer comemorações.

E não participar nas oficiais?
Sim, não participar na festa PCP-BE-PS. Eles que fiquem a celebrar sozinhos e nós celebramos pelo nosso lado. Porque o que se passou agora, e aí eu critico também o Presidente da República.

O Presidente deu o aval a Pedro Adão e Silva.
Mas não devia ter dado porque o Presidente da República tinha uma oportunidade única de ter acabado com esta palhaçada de o 25 de Abril ser só de alguns e não ser de todos os portugueses.

Quando escolheu Ramalho Eanes foi uma figura mais consensual.
Aí, sim. Aí é indubitavelmente a melhor escolha possível para estar à frente das comemorações. E, portanto, na Comissão Executiva devia ter sido uma pessoa — não há dois Ramalhos Eanes, infelizmente — com um perfil próximo do general Ramalho Eanes, que fosse consensual. Porque este senhor não é consensual, é um agitprop do PS.

"O Presidente da República tinha uma oportunidade única de ter acabado com esta palhaçada de o 25 de Abril ser só de alguns e não ser de todos os portugueses"

“Passos Coelho foi o pior primeiro-ministro que Portugal teve”

Quem também subiu um bocadinho o tom e fez uma crítica bastante dura foi Rui Rio. Mas exigiu há semanas num artigo do Jornal da Madeira uma oposição mais dura a Rui Rio, acha que ele já está a ouvi-lo?
Posso dizer-lhe que os contactos que, depois disso, tenho tido com Rui Rio lhe noto um grande esforço no caminho de passar-se a uma oposição mais forte.

E já foi sinal disso, esta crítica mais forte?
Já foi. Mas eu não ia por esse caminho lá dos dinheiros e de quanto é que o homem ganha. A única coisa que sei do homem é que é do ISCTE e que é sócio do Benfica.

Quando escreveu esse artigo do PSD dirigido a Rui Rio, houve vários setores do PSD…
Eu só tenho pena de não ter menos 20 anos. Senão…

Senão ainda ia à liderança do PSD?
Não. Liderança é para os outros. Quem me barrou quase sempre o caminho no continente foi o próprio PSD. Mas o meu papel é ajudar o PSD, não é ser líder de coisa nenhuma.

Mas dizia nesse artigo que o PSD precisava de “mudar já” e “não esperar pelas autárquicas”. Muita gente interpretou isso como: Rui Rio tem de sair já.
Não, não é sair. Porque a alternativa que se está a desenhar é a do pior primeiro-ministro que Portugal teve: o senhor Passos Coelho. Que me tratou pior do que ao maior inimigo político dele.

É preferível ficar Rui Rio do que voltar Passos Coelho?
Sim, sim. Isso incontestavelmente. Mas é preciso que as coisas não se ponham nesse pé. Penso que o dr. Rui Rio e muito bem vai às eleições nacionais dentro de dois anos.

Acha que vai chegar lá, a 2023?
Não vejo porque é que não há-de chegar lá.

Mas não seria bom, se as coisas correrem mal a seguir às autárquicas, mudar de liderança?
O PSD tem uma história que passa a vida a mudar de lideranças e não é esse caminho. E depois acontecem coisas de isto ir parar a Passos Coelhos e companhia.

Lembro-me de um Congresso em que se foi sentar ao lado de Paulo Rangel depois de Passos Coelho ter falado. Paulo Rangel seria uma boa opção para suceder a Rui Rio?
Para mim a opção é o Rui Rio, não discuto isso. Sou um homem livre, critico Rui Rio quando é preciso criticar, mas a minha confiança é no Rui Rio e não estou neste momento para discutir outras alternativas nem, até agora, apareceu alguma que me fosse credível.

"O PSD tem uma história que passa a vida a mudar de lideranças e não é esse caminho. E depois acontecem coisas de isto ir parar a Passos Coelhos e companhia"

Paulo Rangel não lhe enche as medidas?
Gosto muito do Paulo Rangel, mas é um homem muito cinzento quanto ao futuro das autonomias.

E por exemplo Carlos Moedas ou Luís Montenegro?
Gosto muito do Carlos Moedas, o Luís Montenegro, desculpe, mas não sou da maçonaria.

Já sei que é muito contra a maçonaria.
Eu não sou contra a maçonaria, contra o direito de reunião e contra o direito de associação. O que eu sou contra a maçonaria, é as coisas fazerem-se nas costas do povo. Isso é que eu não admito. Sou contra o secretismo, mas a favor do direito de reunião e do direito de associação.

Disse-me há pouco que acredita que Rui Rio pode chegar a 2023 como candidato a primeiro-ministro. Acredita genuinamente que ele pode chegar a primeiro-ministro?
Para mim, a grande dificuldade está na propaganda das televisões. Toda a gente sabe que as televisões em Portugal hoje, para sobreviverem, dependem dos subsídios do Governo. E, se reparar, todos os dias os canais generalistas estão hoje sujeitos à vontade desses senhores do PS. Nunca vi, nem no tempo do Guterres, nem no tempo do Sócrates, uma campanha tão descarada diária sobre os portugueses, que estão intoxicados. Por outro lado, há um fenómeno que as pessoas parece que não estão a perceber: Portugal foi um país tradicionalmente religioso, de repente vemos que houve qualquer coisa que o aspeto religioso — fosse a Igreja, fosse outras igrejas — criaram um vazio. Não se dá por elas. E creio que o povo arranjou uma nova religião: o socialista.

"Gosto muito do Paulo Rangel, mas é um homem muito cinzento quanto ao futuro das autonomias. Gosto muito do Carlos Moedas... O Luís Montenegro, desculpe, mas não sou da maçonaria"

Há uma maioria sociológica de esquerda?
A maior parte dos socialistas não sabe o que é o socialismo. Mas é uma visão como que transcendental: acham que está ali um hipotético milagre um dia para poder salvar Portugal. Quando se entra no capítulo da religiosidade isto é muito perigoso para a democracia.

E os sociais-democratas do PSD sabem o que é a social-democracia?
Graças a Deus que sim. Pelo menos na Madeira o meu eleitorado sabe o que é. E sabe o que é pela pátria.

Quando Rui Rio diz que o PSD não é de direita não o choca?
Não. Uma das coisas que eu insisti muitas vezes com Rui Rio foi dizer: ‘Homem, acabe com esta treta, o PSD é rigorosamente do centro, de gente de centro-esquerda e de centro-direita’. Nós temos o fascismo de esquerda, PCP e BE, fascismo de direita, a extrema-direita, que hoje é o Chega, e depois temos aqui no meio os partidos democráticos, mais para a esquerda, mais para a direita e o PSD está ao centro. E quer ver como eu tinha razão quando lhe perguntei que as televisões genéricas estão de cócoras perante o Costa? Eu fui oficial de ação psicológica no exército e os canais generalistas utilizam a técnica da repetição: dizer sempre, a direita, e estar lá metido o PSD. Doutrinariamente, o Rui Rio é que tem razão. Direita foi o Governo de Passos Coelho ao serviço de interesses internacionais.

Chega e PAN? “Não me venham com essa gente, senhor”

Falou aí do Chega. Quando lhe perguntava há pouco se Rui Rio poderia chegar a primeiro-ministro, pergunto-lhe agora se consegue lá chegar sem negociar com o Chega?
Isso eu não lhe posso dizer porque não sei o que acontece daqui a dois anos. Mas o PSD até agora deu o flanco porque o Chega percebeu que o PSD, ao contrário da linha sá-carneirista a que eu pertenço com muito gosto, está a ver lá a fotografia dele [aponta para a fotografia de Sá Carneiro que tem no gabinete]. O PSD é um partido contra o sistema político. É pelo regime, contra o sistema. E o PSD ao ter desistido de ser o opositor mais férreo do sistema político, deixou o monopólio disso ao Chega. Portanto, o Chega está perigosamente a juntar num projeto que não interessa à democracia, todos os indivíduos que são contra o sistema político. Repare a taxa de abstenção que há em Portugal. A maior parte dessa gente não suporta o sistema político. Veja-se se eles de repente começam todos a ir para o Chega o que pode suceder neste país

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O PSD pode ser contra o sistema e aspirar a ser Governo?
O PSD durante anos foi contra o sistema e foi de Governo. E só não mudou o sistema porque o PS é um partido conservador, situacionista. É um partido que põe o partido acima dos interesses do Estado e foi o PS que se opôs sempre a que se fizessem as grandes reformas em Portugal. Então Costa, um colaboracionista dos comunistas, opõe-se por completo.

Mas esta ameaça do Chega pode afetar bastante a votação do PSD?
Pode. Se o PSD continuar a pensar que vai salvar a pátria e a pensar que, ao não fazer uma oposição radical a Costa e ao sistema político, vai ajudar a salvar a pátria. Isto é um delírio.

E o PSD devia descartar qualquer acordo de Governo com o Chega?
Isso só depois de contados os votos. O PSD deve ir a eleições pensando que vai tentar ser Governo. Depois vê-se os resultados.

Há dias, no congresso do PAN, André Silva…
O que é o PAN? O partido dos cachorros? Está bem…

… dizia que o próprio PAN estava disponível a juntar-se ao PSD. O PAN pode ser uma alternativa a um acordo com o Chega ou vale mais o Chega ao PAN?
Desculpe, qualquer dos dois é de se fugir deles a sete pés. Não me venham com essa gente, senhor.

E aqui na Madeira? O Chega ainda não se conseguiu implementar…
O Chega nas eleições presidenciais foi o segundo partido ou terceiro!

Isso é um sinal para as autárquicas?
Mas repare: o Chega é um perigo para as autonomias. Posso-lhes dizer que comecei por desafiar publicamente o líder do Chega a se pronunciar sobre o futuro das autonomias. E o tipo nunca se pronunciou. Mas o meu gabinete fez chegar ao líder deles aqui na Madeira documentação sobre autonomia para permitir ao rapaz lá em Lisboa perceber o que era. Até hoje, nunca se pronunciou. Tradicionalmente, a extrema-direita é contra a descentralização… É como os marxistas. As políticas totalitárias são contra a descentralização. A descentralização é uma das formas da identidade da pessoa humana. O totalitarismo não gosta disto.

Mas percebe a eficácia de André Ventura? Durante muitos anos também o chamaram a si de populista.
Sabe, eu sou filho único. E tive um cuidado na vida: não ligava ao que os outros diziam de mim, a começar pela comunicação social e a acabar com as bocas do meu adversário. Nunca me preocupei com o que eles diziam de mim. E estou aqui cheio de saúde, meu Senhor me ouça.

O Chega pode eleger aqui nas próximas regionais?
Não sei, penso que não. Aqui está muito bipolarizado ultimamente. Aliás, esta bipolarização é fomentada por Lisboa. Encontro em muitos dirigentes locais do PS vontade de resolver estas situações que estão por resolver. Quem não as quer resolver é Lisboa. Estou convencido que o PS tem aqui uma prática que pensava que era apenas prática do PCP. Está na Madeira um senhor chamado Iglesias, líder parlamentar do PS, um controleiro, que não é de cá, e não deixa avançar. Os controleiros de Lisboa não deixam o PS local avançar.

"O que é o PAN? O partido dos cachorros? Está bem..."

Albuquerque? “Não somos coincidentes em tudo, mas estamos unidos”

O PSD pode recuperar a Câmara do Funchal?
Pode, pode. Tem um bom candidato. A Câmara recebe a água e não paga ao Governo, não paga empresa de eletricidade, faz loucuras. Os tipos estão a reduzir aquela ponte dos socorridos, vai uma trapalhada. Já disse ao presidente cessante: “Você espetou-se com aquelas obras na estrada monumental”. E vai-se espalhar por causa da variação que tem.

Paulo Cafôfo pode algum dia vir a ser presidente do Governo Regional?
Como qualquer cidadão que ganhe as eleições. Tem é de as ganhar. Mas não vejo que ele consiga ganhar.

Mas o Miguel Albuquerque tem feito a parte dele?
Tem cumprido e o povo votou nele. Nada a dizer. Obviamente que o Miguel Albuquerque é o Miguel Albuquerque, e que o Alberto João Jardim é o Alberto João Jardim. Não somos coincidentes em tudo, mas estamos unidos porque os ideais são os mesmos.

Perdeu a maioria absoluta…
Está bem, teve de fazer uma coligação

Com o CDS.
Claro, eu cá deixei-lhe uma maioria absoluta. As primeiras eleições em que não concorri ele ainda teve maioria absoluta. Tive dez maiorias absolutas e ainda deixei mais uma para o Miguel.

Mas o CDS era oposição contra si e agora está com o PSD. Isso não o choca?
Não havia outra solução. Achei pior o assédio que o PS fez ao CDS, ofereceu-lhe tudo e mais alguma coisa.

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“Costa é o mais inteligente de todos os primeiros-ministros do PS”

Há pouco falava de António Costa. Lidou com outros primeiros-ministros socialistas, com José Sócrates, António Guterres, Mário Soares…
O doutor Mário Soares era um grande senhor, nem o ponha ao pé desses!

Nem ao pé de António Guterres?
Pior a emenda que o soneto!

Mas António Costa é pior do que todos os outros?
Não, eu não diria isso. Costa é mais inteligente que todos eles.

Menos o Soares…
Até talvez mais… Não tem a bagagem de Mário Soares, nem a visão de estadista. Costa é mais um apparatchick de partido do que um estadista. E aí é que ele se perde. Mas é um homem bastante inteligente e é muito difícil, em termos partidários, bater-se com o Costa. O Costa tem de se atacado, pegado, de caras. Não pode ser pegado de cernelha.

Tem havido algumas críticas do PSD de haver uma postura prejudicial…
A forma como se refere ao PSD, depois de como Rui Rio tentou ajudá-lo… ele é que tem sido demasiado incorreto com o PSD. Eu no congresso de Viana do Castelo (2020) defini o Costa como o adversário principal. Já se tinha provado que ele queria era o colaboracionismo com os comunistas e que não queria reforma nenhuma para Portugal. Toda a estratégia gira à volta de definir o adversário principal e esse é o Costa, e daqui não se sai. Toda a gente bateu palmas e ficou tudo na mesma.

"Costa não tem a bagagem de Mário Soares, nem a visão de estadista. Costa é mais um apparatchick de partido do que um estadista. E aí é que ele se perde. Mas é um homem bastante inteligente e é muito difícil, em termos partidários, bater-se com o Costa. O Costa tem de se atacado, pegado, de caras. Não pode ser pegado de cernelha"

Pedro Nuno Santos? “Quer fazer de Portugal a Venezuela da Europa”

Há quem acuse Costa de prejudicar, no que o Governo da República pode travar, a região da Madeira por não ser da mesma cor política.
Não, desculpe, ele não está a travar o restante Governo. Os ministros ainda são piores do que ele! Veja aquele indivíduo, o comuna, que está neste momento nas Infraestruturas. Eu conheço gente de Aveiro que diz que ele é um radical de esquerda! E veja no último congresso o que ele disse, quer fazer o socialismo real em Portugal. No fundo, quer fazer de Portugal a Venezuela da Europa.

Está a falar de Pedro Nuno Santos.
Nem sei se ele se chama assim.

Parece-lhe pior do que Fernando Medina ou Ana Catarina Mendes?
O Fernando Medina é um senhor. Quando era secretário de Estado, depois dos aluviões na Madeira, foi o homem que com o meu vice-presidente de Governo trabalhou a reconstrução da Madeira. Fiquei com uma grande admiração por Medina. Aliás, sempre que falo com ele digo-lhe: você vai ser primeiro-ministro de Portugal.

Diz que o PS está completamente dependente dos marxistas, como lhes chamou. Acredita que Costa conseguirá aprovar os Orçamentos até 2023?
É preciso distinguir o Bloco de Esquerda do PCP. Se eu tivesse um dia de fazer um acordo com a esquerda, fazia com o PCP mas nunca com o BE. Aqueles pequeno-burgueses do BE são muito mais perigosos para o país e estão loucos para um dia entrarem todos para dentro do PS. Do PCP sou adversário frontal, mas sabemos o que quer e honra a sua palavra. Os outros são uns piritingas que andam por aí. O PCP é um partido de dogmas, e um deles é este: tudo é melhor do que a direita no poder — eles sabem que o PSD não é de direita, mas dizem-no para venderem o peixe aos nabos. O PCP até anda de tanga para deixar o PS a travar o PSD. Fará sempre todas as concessões ao PS para que o PSD nunca possa chegar ao poder.

Os deputados do PSD/Madeira devem negociar com António Costa o Orçamento?
Não sei se devem. O PSD/Madeira é um partido autónomo dentro do PSD. Pode haver momentos em que a visão do PSD nacional sobre o Orçamento possa ser diferente da do PSD/Madeira, em matérias que não são de soberania, unidade nacional, direitos fundamentais. Aí, admito. Quando era presidente do PSD/Madeira fiz várias vezes acordos com votos diferentes do PSD e nunca ninguém se chateou comigo. O camarada Pedro Passos Coelho achava que mandava em mim, mas nem eu mandava nele nem ele em mim. Sobre os deputados do PSD/Madeira na Assembleia da República só conheço bem um, que é a deputada Sara Madruga da Costa. Os outros dois ainda nem percebi bem o que estão lá a fazer.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Foi certamente uma escolha de Miguel Albuquerque. Sobre ele: acha que a comunicação social do continente o trata melhor do que o tratava a si?
Agora há muito menos jornais de papel. Sendo franco, acompanho mais pela via rádio e televisiva e pelas novas tecnologias. O Expresso não leio há quinze anos porque é um jornal do sistema político, e como eu sou contra o sistema, não leio. No Estado Novo havia o Diário da Manhã, agora há o Expresso. Quando me chateiam, sei o que dizem. Não sou hoje uma pessoa que se preocupe muito em ler os diários de Portugal continental.

O que é que gostava que Marcelo Rebelo de Sousa dissesse no discurso do 10 de junho?
Não gostava nem deixava de gostar, vou ouvir com o maior respeito.

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