Artigo atualizado ao longo do dia
Na Frutaria Gondomar é hora de compras, na fila da caixa aguardam duas senhoras e… um candidato a cumprimentar a rapariga da caixa. “Deixe-me só atender estas clientes”, diz quando vê Pedro Marques entrar-lhe pela loja adentro com Manuel Pizarro, número nove da lista do PS às Europeias, ao seu lado. Os socialistas lá têm de esperar que a conta e o pagamento se façam, antes do beijinho e do apelo ao voto. Esperam menos do que os três anos e meio que aguardaram para passar ao ataque à esquerda que os tem apoiado na governação do país. “Queremos saber se os partidos à nossa esquerda estão dentro ou fora da Europa?”.
O PS sabe a resposta desde sempre e essa foi uma divergência deixada de fora da “geringonça”, mas agora aparece nas Europeias apostado numa resposta porque “estamos na altura de esclarecer os portugueses e parece haver dúvidas na cabeça de alguns sobre a importância dessa coligação de europeístas, em particular o BE apareceu com dúvidas”.
E mantém o desafio que veio do dia anterior, pela margem sul do Tejo, pedindo à esquerda que “estando em altura de fazer escolhas para a Europa, todos deixemos claros onde é que estamos: estamos na coligação dos europeístas ou naqueles que estão sempre a falar de sair da Europa? Se estamos entre aqueles que querem falar de sair da Europa, à esquerda, o PCP e o BE têm de esclarecer“.
E contra a Europa “poucochinha do PPE”
Questionado sobre o motivo de aparecer agora, na reta final da campanha, com um discurso mais duro para a esquerda, o candidato socialista responde que é “completamente razoável e legítimo, que numa altura em que disputamos Europeias, os portugueses compreendam se esses partidos estão dentro, entre os europeístas, ou com um pé fora ou mesmo com os dois pés a caminho da saída da Europa, como é o caso do PCP”. Quanto às críticas à direita, mantêm-se e ao programa “securitário” do PPE que “não fala da reforma da zona euro e portanto é um programa da Europa poucochinha e sem ambição. É o que o PPE tem vindo a defender, o PSD e o CDS”.
Segue animado com as sondagens, mas também “preocupado” que isso possa “significar que as pessoas pensem que as eleições estão ganhas. Por isso, pelas ruas, o PS aperta agora no apelo ao voto. Ao seu lado teve os candidatos da sua lista que são da região norte e que são também os que estão no limite da eleição para o PS: os números oito e nove, Isabel Santos e Manuel Pizarro, respetivamente. Nas últimas Europeias, o PS elegeu oito eurodeputados. Pizarro está agora confiante de que essa conta alargue.
O dia começou com uma arruada em Gondomar, com bombos e cabeçudos na terra socialista liderada por Marco Martins, e entra e sai das lojas e também paragens de autocarro que, por aquela hora da amanhã, era onde se juntavam mais pessoas. “O PS é como Benfica, é campeão”, dizia-lhe uma senhora por quem passou, com sotaque nortenho cerrado. O candidato seguiu sem grandes euforias, controlado e a pedir licença para cumprimentar ou entrar nas lojas, por vezes até evitando que a comitiva de jornalistas avançasse atrás deles invadindo os estabelecimentos comerciais.
Aos jornalistas ainda falou do Brexit e da situação da primeira-ministra Teresa May, para dizer o que tem dito até aqui. O candidato ao Parlamento Europeu vê “a situação do Brexit como muito complicada” e espera “que os britânicos possam estabilizar uma solução tão rápido quanto possível”. Revela uma “secreta esperança que o Reino Unido, no fim das contas, permaneça na Europa. Mas se isso não acontecer, que haja uma saída com acordo e não descontrolada”.
Um atraso propositado
À tarde o PS juntava-se na Praça da Batalha, bem antes da hora marcada para a tradicional descida de Santa Catarina. Os mesmos bombos e cabeçudos da manhã e um mais militantes socialistas a engrossarem a comitiva neste que é um teste à força da máquina local. Mas acabaram por desmobilizar por um bocado, para deixar passar primeiro o PCP, atrasando a sua arruada em uma hora para evitar cruzamentos e confusões.
Pedro Marques chegou contagiado pela euforia socialista, mas esta arruada é diferente das outras, não é um momento de contacto com a população, mas antes uma espécie de desfile partidário. O candidato seguiu com os principais candidatos do Porto na lista das Europeias, Manuel Pizarro e Isabel Santos, e teve ainda um encontro fugaz com o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, que atravessou a bolha em que seguia o cabeça de lista socialista para o cumprimentar. De resto, seguiu sempre dentro dessa mesma bolha de onde só saiu quando Pizarro viu duas senhoras à porta de uma loja de malas e o desafiou: “Vai lá cumprimentar as meninas“. E o candidato foi.
No meio da confusão ia gritando pelo partido e ainda mal tinha partido da Praça da Batalha quando já classificava aquela iniciativa de “absolutamente incrível”. Isto para logo a seguir dizer aos jornalistas que se isso “dá muita força”, a verdade é que “não há votos contados”. Ainda para mais, alertou, “vai estar calor no domingo. É muito importante que se encontre aquela meia hora para exercer o direito de voto”. A fasquia socialista é conseguir eleger mais eurodeputados, embora o candidato não diga quantos mais. Nas últimas legislativas elegeu oito, agora segue com Manuel Pizarro no nono lugar. “Estamos na luta para que o Manuel seja um de nós em Bruxelas”, disse animado pela arruada.
Estava feita mais de metade do percurso e a caravana socialista ainda apanhou os comunistas a desmontarem o sistema de som junto da carrinha onde João Ferreira, momentos antes tinha feito o mini-comício com que normalmente encerra as arruadas comunistas. E dentro da Fnac de Santa Catarina ainda estava Nuno Melo do CDS, a apresentar um livro. À porta, pelo sim pelo não, estavam dois agentes da PSP. Mas não houve encontros. Os partidos conseguiram evitar-se.