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Jane Hoffer lidera a GoWithFlow, uma startup nascida no CEiiA - Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto
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Jane Hoffer lidera a GoWithFlow, uma startup nascida no CEiiA - Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto

Jane Hoffer lidera a GoWithFlow, uma startup nascida no CEiiA - Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto

Jane Hoffer. Dos EUA ao Porto para liderar a mobilidade sustentável da Flow: "Há clientes que vão exigir a entrega com zero emissões"

A norte-americana Jane Hoffer mudou-se para o Porto para liderar a GoWithFlow, uma empresa que trabalha com mobilidade sustentável. Pelo meio, continua a luta por mais mulheres empreendedoras.

Adepta de passeios em bicicletas e outros meios mais sustentáveis e com experiência no mundo da engenharia, Jane Hoffer mudou-se de malas e bagagens para Matosinhos em junho de 2020 para liderar a GoWithFlow, uma startup nascida no CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto. A startup, que conta com a Galp como a principal acionista, desenvolveu um software que permite às empresas e cidades analisarem, em tempo real, a utilização dos seus veículos (desde os custos ao tempo de carregamento) e perceberem como podem ter uma mobilidade mais sustentável, diminuindo, assim, a sua pegada ambiental.

Mas o percurso da norte-americana, tanto na mobilidade como no mundo do empreendedorismo, começou muito antes. Jane Hoffer, de 56 anos, cresceu na Allentown, na Pensilvânia, é formada em Engenharia, pela Universidade do Texas, e ocupou cargos de liderança em grandes empresas como a IBM, em Nova Iorque. O verdadeiro caminho no empreendedorismo, revela numa entrevista ao Observador realizada num edifício da antiga refinaria de Matosinhos, começou com a criação de uma empresa de software que acabou por vender, 12 anos depois.

A ligação a Portugal teve início na altura em que Jane Hoffer foi trabalhar para a Veniam, empresa portuguesa sediada nos Estados Unidos que trabalha na tecnologia dos automóveis. O objetivo era ajudar a expandir a sua presença em território norte-americano, mas, seis meses depois, assumiu outro papel que englobava uma ida mensal ao Porto. Depois, recebeu um convite da Galp e decidiu mudar-se para o Porto, onde gere atualmente a GoWithFlow, empresa que já conta com mais de 25 clientes, incluindo a gestão da frota da Infraestruturas de Portugal.

A chegada a Portugal em plena pandemia de Covid-19 trouxe alguns desafios: “Não foi só deixar os Estados Unidos, mas também fazê-lo num período tão restritivo”, revela a responsável, enumerando algumas dificuldades, como as restrições nas viagens e a dificuldade em interagir com a comunidade local para aprender a língua portuguesa. “Estamos agora nesse caminho”, garante. Já a nível de negócio, Jane Hoffer encontrou um mundo diferente dos EUA: “Há uma comunidade de startups muito forte, mas há mais que pode ser feito para abraçar realmente o que vivenciei com a cultura de startups. Há alguns incentivos que são mais fáceis de aceder nos EUA, mas mais restritos aqui. E isso afeta o recrutamento, a retenção e a expansão”, explica.

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No que toca à mobilidade, a empreendedora não tem dúvidas: o impacto é cada vez mais visível e é necessário apostar na sustentabilidade. “Tenho três filhos que vão criar as suas próprias famílias no futuro e quero trabalhar em coisas que vão permitir deixar um mundo melhor para as nossas crianças. Acho que nunca foi tão evidente que a descarbonização e a eletrificação podem ter um grande impacto e precisam de acontecer o mais cedo possível para que esse futuro seja assegurado”, explica. E tudo começa com hábitos pessoais, como o gosto por andar de bicicleta.

A Flow acredita nas vantagens da tecnologia que fornece e que permite às empresas gerir todo o processo de transição para frotas elétricas. “Algumas vendem apenas estações de carregamento — o que é ótimo porque precisamos delas –, mas se não houver uma tecnologia que assegure que há um alarme quando a bateria está em baixo ou que indica maneiras de reduzir os custos e de melhorar os serviços, então não existe um benefício completo”, refere a responsável, salientando que “há uma educação a fazer com as empresas que ainda não estão convencidas” com a mobilidade sustentável.

Startup portuguesa lança sistema de gestão de mobilidade sustentável

Além dos negócios, Jane Hoffer tem um papel importante em organizações que lutam para que mais mulheres tenham a oportunidade de se juntar ao empreendedorismo e de ocupar cargos de liderança. “Infelizmente, as estatísticas mostram que o financiamento a negócios geridos por mulheres ainda está muito longe do ideal. Muito disso é porque as mulheres não estão nos fundos de investimento para entenderem os negócios que outras mulheres estão a tentar construir. Isso está a mudar, mas lentamente”, refere, dando um conselho a quem está a tentar entrar nesta área: “Sejam confiantes e corajosas. Porque são provavelmente muito melhores do que pensam”.

“Quero trabalhar em coisas que vão permitir deixar um mundo melhor para as nossas crianças”

A Jane é uma empreendedora que já passou por várias áreas. Chegou a criar uma empresa de software e vendeu-a 12 anos depois, passou também por projetos que unem a tecnologia à educação. Em janeiro do ano passado decidiu deixar os Estados Unidos e mudar-se para Portugal. O que motivou esta mudança?
Depois de sair da universidade trabalhei na IBM, mas senti realmente o empreendedorismo quando me mudei para uma empresa mais pequena e acabei por construi-la. Foi a tal jornada dos 12 anos. Depois, comecei a olhar para o que iria fazer na próxima fase: voltava a liderar uma empresa? E estive noutra empresa durante três anos. Era de software educacional e tivemos um ótimo início. Mas, depois disso, questionei-me: “Onde é que posso pegar em toda a experiência que tenho e usá-la da melhor forma?” E juntei-me a uma empresa em Nova Iorque, onde ajudei o CEO e a startup a crescerem.

Fiz isto para três empresas, sendo a terceira a Veniam [empresa portuguesa sediada nos EUA]. Era suposto estar com a empresa apenas nos Estados Unidos e ajudar a expandir a sua presença no país, mas, seis meses depois, o João Barros [diretor executivo da Veniam] pediu-me para assumir um papel a nível global. E comecei a vir ao Porto uma semana por mês.

É engraçado, porque ontem estava na baixa do Porto com a equipa e, à medida que estávamos a conduzir, eu até ia indicando os locais onde eles poderiam ficar. Tive um ótimo feeling pelo Porto e apaixonei-me pela cidade. Mais pelas pessoas e a oportunidade que Portugal está a gerar na tecnologia. Adorei trabalhar com a Veniam, mas depois recebi um telefonema da Galp em que me disseram: “Vemos que estás a passar muito tempo em Portugal, que estás a trabalhar com tecnologia disruptiva, que tens experiência com a tua própria empresa de software” e achei a oportunidade que surgiu muito atrativa. Depois, disseram-me que tinha de me mudar para Portugal. Pensei nisso, mas não demorei muito a tomar uma decisão. Falei com o meu marido e ele disse que seria uma mudança de vida muito interessante para nós, porque os nossos filhos já estão crescidos e temos flexibilidade para isso. Para nós foi o momento e oportunidade certos.

E já estava familiarizada com o país e com a cidade.
Exatamente. Já me era familiar, no sentido em que já tinha começado a construir uma rede de contactos e de pessoas com quem queria mesmo trabalhar e trazê-las para a empresa. E fiquei mais confortável com isso.

Sentiu muitas diferenças entre a sua vida nos Estados Unidos e a vida em Portugal?
Cheguei aqui numa altura muito particular, durante a pandemia de Covid-19. Não foi só deixar os Estados Unidos, mas também fazê-lo num período tão restritivo. Quando chegamos aqui, em julho de 2020, havia muitas restrições. Uma das coisas que queria muito fazer era viajar e experienciar mais o país e ter mais interações a nível de negócio, adaptar-me e encaixar-me rápido no ecossistema. E não o consegui fazer. Ainda hoje é limitado, apesar de já estar a mudar, o que é ótimo. Poder ir a Lisboa e reunir com potenciais clientes e parceiros torna tudo diferente e mais rápido. E no mundo das startups isso é essencial.

Outra questão é a língua. Não consegui evoluir muito em termos de língua, porque não tive a oportunidade de interagir com muita gente. Mesmo dentro da própria comunidade. Escolhemos viver em Vila do Conde porque é um sítio muito bom, tem bons falantes de inglês, mas também muitos portugueses e nós queremos, nas interações diárias, usar o português. Estamos agora a começar esse caminho.

Numa perspetiva mais de negócio, há uma comunidade de startups muito forte, mas acho que há mais que pode ser feito para abraçar realmente o que vivenciei nos EUA com a cultura de startups. Há alguns incentivos que são mais fáceis de aceder nos EUA, mas mais restritos aqui. E isso afeta o recrutamento, a retenção e a expansão. Esta questão foi um pouco um abrir de olhos para mim sobre a forma como iria trabalhar, tendo em conta algumas das restrições impostas pelo sistema legal aos negócios.

"Tenho três filhos que vão criar as suas próprias famílias no futuro. Quero trabalhar em coisas que vão permitir deixar um mundo melhor para as nossas crianças e acho que nunca foi tão evidente que a redução do carbono, a descarbonização e a eletrificação podem ter um grande impacto e precisam de acontecer o mais cedo possível para que esse futuro seja assegurado"

Como é que chegou à área da mobilidade sustentável? Sempre foi uma área de interesse?
Sou formada em Engenharia e, por isso, gosto de resolver problemas e adoro aplicar essas habilidades. Também acredito muito em dedicar o que estou a fazer a algo que vai mudar vidas — desde o início com a IBM até à minha empresa que ajudava as empresas a terem produtos para pessoas de uma forma mais eficiente em termos de custos. Os produtos educacionais, por exemplo, serviam para ligar avós e netos através da tecnologia. Sempre procurei oportunidades que permitissem um uso mais abrangente da tecnologia a nível global. Os veículos conectados com a Veniam são algo que não se aplica a apenas uma parte do mundo.

A mobilidade e os vários meios de transportes têm muito impacto — desde a cadeia de fornecimento até às próprias questões ambientais. Sempre foi algo em que tive muito interesse. Além disso, tenho três filhos que vão criar as suas próprias famílias no futuro. Quero trabalhar em coisas que vão permitir deixar um mundo melhor para as nossas crianças e acho que nunca foi tão evidente que a redução do carbono, a descarbonização e a eletrificação podem ter um grande impacto e precisam de acontecer o mais cedo possível para que esse futuro seja assegurado.

A mobilidade tem um impacto essencial nesse objetivo.
O impacto pode ser sentido de imediato só pelo trabalho que estamos a fazer ao ajudar a transição das frotas, a retirar os veículos Diesel da estrada e a adicionar veículos com menor emissão ou ajudar os programas para zero emissões chegarem às cidades. Com tudo o que fazemos podemos mostrar resultados de que é uma redução não só a nível do carbono, mas também a nível de custos para as empresas, o que aumenta a sua vontade em implementar a tecnologia.

Como é que o trabalho da Flow se insere em todas estas preocupações?
O nosso grande objetivo é ser uma empresa que entrega software de tecnologia de forma primária a empresas públicas e privadas, de forma a ajudá-las a gerir a mudança para uma mobilidade mais sustentável, começando pelas suas frotas. Porque as frotas têm um impacto maior e mais rápido. Ter a oportunidade de mudar centenas ou milhares de veículos para veículos sem emissões tem um grande impacto e muito rápido.

O nosso software ajuda estas empresas no início do percurso: o que devem fazer, como podem iniciar o caminho da eletrificação, mas também ajuda-as quando estão no caminho e já têm alguns veículos elétricos ou híbridos, mas ainda muitos Diesel e olham para a infraestrutura complexa. Nós damos a plataforma que lhes permite juntar tudo e ver isto de uma forma que antes não viam. Ver, por exemplo, a redução de custos e o grande potencial dos meios, a oportunidade de ver a redução de carbono, etc. Tudo de uma forma que tanto para o setor financeiro como os gestores de frotas e imóveis… todos podem ver este impacto e ajudá-los a planear para o futuro, para a transição.

Todo este processo de transição para os elétricos é um processo moroso?
Demora anos. E esse é um ponto muito importante: é tudo sobre gerir a mudança. Gerir os condutores, os contratos de energias, gerir as estações de carregamento. Há muitos elementos importantes para uma empresa ter em conta e ser bem sucedida. Há muitas empresas na nossa área que entram no espaço da mobilidade elétrica. Algumas vendem apenas estações de carregamento — o que é ótimo porque precisamos delas –, mas se não houver uma tecnologia que assegure que há um alarme quando a bateria está em baixo ou que indica maneiras de reduzir os custos e de melhorar os serviços, então não existe um benefício completo. Acreditamos que, ao fornecer esta camada de tecnologia, vamos permitir às empresas gerir todo este processo e torná-lo mais fácil.

Com quantas empresas estão a trabalhar neste momento?
Estamos a falar de mais de 25 empresas, desde entidades municipais a entidades comerciais. Também temos alguns parceiros, como a LeasePlan, que é um grande parceiro porque ao juntar a nossa tecnologia com os veículos deles conseguimos chegar a mais empresas.

A nossa história tem sido mais com o setor público, por causa do fundo público. É onde os municípios do Porto, de Lisboa, a Águas de Portugal, etc. recebem para ajudar na transição e é aí que começamos. Temos uma frota com mais de dois mil veículos aqui em Portugal que usam a nossa tecnologia, conectada diariamente com a cloud.

No ano passado, quando formámos a Flow, dissemos que não era apenas no setor público, mas também as empresas privadas, que precisam de mudar. Por isso, agora estamos também a concentrar-nos no setor privado e a implementar a mesma tecnologia.

É um desafio maior convencer as empresas mais tradicionais a implementar formas mais sustentáveis de mobilidade?
É interessante, porque para nós também importa garantir que estamos a ocupar o nosso tempo com as empresas que provavelmente irão tomar uma decisão. Sabemos que há uma educação a fazer com as empresas que ainda não estão convencidas, mas para as que já estão a percorrer esse caminho para a sustentabilidade nós podemos ajudá-las a acelerá-lo. E, por isso, juntámo-nos ao Business Council for Sustainable Development (BCSD) aqui em Portugal e muitas das empresas-membro são as certas, porque já têm líderes de sustentabilidade, os seus CEO já decidiram que iam fazer essa transição e precisam de ajuda para perceber como fazer isso. Há muitas empresas que estão já neste caminho e que disseram que iriam fazer isso e essa é a perspetiva perfeita para nós.

Para as empresas que ainda não estão convencidas temos algumas ferramentas que construímos para mostrar o quanto podem poupar e o que é a redução de carbono e mostramos também alguns materiais do que os outros já fizeram. Mas vai ser muito difícil não ficarem convencidos. O que poderá acontecer muito no futuro é que os clientes vão exigir aos fornecedores que entreguem o produto com zero ou poucas emissões. Muitas vezes não vão ter outra escolha.

Desde que chegou a Portugal para trabalhar nesta área da mobilidade sustentável, sente que as coisas estão a evoluir e que as pessoas e as empresas já se preocupam mais com esta questão?
Sem dúvida. E, mais uma vez, essa evolução é impulsionada pelo que vemos e ouvimos nas notícias do que está a acontecer. Não há um negócio ou um município em Portugal que não esteja a pensar “Quando?” e não “E se?”. E isso é o que mudou. É muito animador vermos isso. Tanto em Portugal como a nível global.

"Temos participado num trabalho sobre a mudança do comportamento dos viajantes e como os padrões de mobilidade mudaram, como as empresas podem ajudar os seus funcionários, com muitos viajantes e veículos estacionados, como é que isso pode mudar, que tipo de benefícios e que tipo de mobilidade precisa de ser apresentado neste mundo pós-Covid-19. Vamos continuar a ver muitas mudanças nesse aspeto"

Um dos grandes impactos da pandemia de Covid-19, especialmente na altura do confinamento, foi ao nível dos padrões de mobilidade, que acabaram por ter impacto também na pegada ambiental. A pandemia mudou para sempre os padrões de mobilidade ou a certo ponto vamos voltar ao que existia antes?
A pandemia teve impacto em muitas coisas. O número de veículos que não estiveram na estrada mostrou o impacto na atmosfera. Deu para ver, de forma muito clara, que teve um impacto direto nas emissões. As coisas também mudaram a nível da mobilidade. Durante a pandemia, os serviços de transporte partilhado diminuíram. A partilha de scooters, de boleias ainda é feita, mas talvez com menos frequências por causa das preocupações de saúde e higiene. O mesmo com os transportes públicos: também diminuíram, mas neste caso penso que vão voltar porque as pessoas vão continuar a precisar de se deslocarem.

O que também penso que mudou é que as pessoas estão cada vez a usar mais o transporte ativo, como as bicicletas elétricas ou outros meios de uso individual. Por exemplo, gosto de andar de bicicleta, sou muito ativa nesse aspeto, e conheço pessoas que começaram a utilizar e-bikes e ultrapassaram a incerteza e receio inicial, e isso mudou as suas vidas. E isso vai continuar a acontecer.

Outra coisa que mudou foi o conceito de benefício de frota. Vemos isso como algo que vai continuar. Estamos a trabalhar não só com o Business Council for Sustainable Development  mas também com a World BSCD — a Galp faz parte e nós também — e temos participado num trabalho sobre a mudança do comportamento dos viajantes e como os padrões de mobilidade mudaram, como as empresas podem ajudar os seus funcionários, com muitos viajantes e veículos estacionados, como é que isso pode mudar, que tipo de benefícios e que tipo de mobilidade precisa de ser apresentado neste mundo pós-Covid-19. Vamos continuar a ver muitas mudanças nesse aspeto.

A nossa missão, como empresa, é disponibilizar uma solução abrangente para as empresas se desenvolverem a nível de mobilidade sustentável em todo o seu negócio, incluindo os seus clientes, funcionários e fornecedores.

Portugal está numa boa posição para apostar nesta sustentabilidade?
Portugal está muito à frente de algumas áreas com a rede Mobi-e, onde podem carregar os veículos em qualquer estação, com qualquer conta. Nessa capacidade de juntar e cruzar redes, de pensar em como facilitar a tarefa dos clientes e fazer com que não tenham medo de que tenham de ir a um ponto de carregamento específico de um determinado operador, Portugal está muito à frente.

Acho que ainda não é bem compreendido, mas a Mobi-e está a crescer, o número de carregadores está a aumentar também. Somos a tecnologia que está por detrás da rede da Mobi-e para fazer a gestão da transação. Conseguimos ver e sabemos que o número de postos de carregamento está a crescer. E os valores pós-Covid são muito encorajadores.

"Já há muitas ferramentas que mostram que a operação com um veículo elétrico, ao longo do tempo, é menos cara. Não têm de ir às bombas de gasolina, não têm a mudança de óleo e toda essa manutenção que é exigida noutros veículos. Seja consumidor ou para negócios, os dados mostram que o custo total de propriedade de um veículo elétrico é menor do que um veículo a Diesel. E vai ser ajudado por mais incentivos para baixar esse preço elevado"

Qual é o maior desafio na mobilidade sustentável, uma área que muita gente ainda vê como um futuro distante?
Um dos maiores desafios atualmente são os atrasos na entrega de veículos elétricos, baseado nas restrições do fornecimento de micro-processadores. Mas isso vai resolver-se em 2022.

Além disso, temos dois grupos diferentes: o consumidor e os negócios. Os consumidores têm um determinado conjunto de considerações, como, por exemplo, se têm um veículo familiar e têm preocupações sobre se há alcance suficiente para irem de férias. Há estes diferentes tipos de questões que são consideradas. Mas já há muitas ferramentas que mostram que a operação com um veículo elétrico, ao longo do tempo, é menos cara. Não têm de ir às bombas de gasolina, não têm a mudança de óleo e toda essa manutenção que é exigida noutros veículos. Seja particular ou um negócio, os dados mostram que o custo total de propriedade de um veículo elétrico é menor do que um veículo Diesel. E vai ser ajudado por mais incentivos para baixar esse preço elevado.

Do lado do negócio, se as empresas forem céticas, há análises de eletrificação que podem ser feitas e que mostram as vantagens e programas que podem ser utilizados para as ajudar a planear essa transição. Há muita coisa já cá fora para ajudar as pessoas a entender os benefícios de tudo isto. Mas haverá sempre a questão e a preocupação com a autonomia, com o custo, etc. Trata-se de ultrapassar alguns desses receios e tornarem os dados disponíveis para as pessoas verem que isto pode funcionar.

Se acederem à app para verem os postos de carregamentos aqui em Portugal… são muito poucos quilómetros de um ponto de carregamento a outro. Podem mapear um caminho. Eu própria já o fiz. Senti isto na pele ao comprar um veículo elétrico usado. Este é outro ponto: há um mercado substancial de veículos elétricos usados. As pessoas não têm de comprar um completamente novo. Assim que experimentem um veículo elétrico e ultrapassem algumas das incertezas, acho que as pessoas vão usar isto mais rapidamente.

“As estatísticas mostram que o financiamento para mulheres a gerirem negócios ainda está muito longe do ideal”

Ao longo da sua carreira ocupou vários cargos de liderança em empresas como a IBM e agora a Flow. E também faz parte da Chief, uma rede privada que quer trazer mais mulheres para posições de liderança. Este é um assunto que lhe é muito próximo?
Desde que estive na minha primeira empresa tenho procurado formas de ganhar exposição para mim como uma líder mulher e aprender com outros líderes, não apenas mulheres. Considero-me muito sortuda no que tenho conseguido alcançar e nas pessoas que me têm ajudado ao longo do caminho.

Em Filadélfia, na primeira parte da minha carreira, fui muito ativa na Alliance of Women Entrepreneurs, e cheguei a tornar-me presidente dessa organização. Tinha como objetivo ajudar mulheres empreendedoras e mulheres que querem ser empreendedoras a perceber como podem aceder a capital, como podem aceder às pessoas certas para construírem as suas equipas e o seu negócio. Foi a partir daí que conheci  Joanne Wilson, conhecida como “thegothamgal” no Twitter, uma empreendedora early stage. Ela abriu-me as portas para muitas coisas em Nova Iorque, que foi onde acelerei a minha carreira e fui depois parar à Veniam.

Para mim, todas essas ligações foram muito importantes para as mulheres ajudarem outras mulheres a terem acesso a mentoria e outras oportunidades. A Chief é o exemplo mais recente disso. Achei mesmo muito interessante quando li sobre o que pretendiam fazer: juntar mulheres líderes a um nível médio e executivo em grupos comuns para trocarem ideias, desafios e oportunidades, mas também para comunicarem com pessoas que estavam onde eu estava há 10, 15 anos. Juntei-me à Chief quando estava nos Estados Unidos, ainda participo, mas remotamente porque não há um grupo cá.

É fascinante ver como as coisas evoluíram, porque o que vemos na rede da Chief é não só o acesso a oradoras incríveis que podem falar sobre tudo, desde a tecnologia à política, à auto-ajuda, etc, mas mulheres que querem mesmo crescer com elas mesmas e com as pessoas da sua equipa. Há mais mulheres a tornarem-se mentor capitalist, investem em mulheres que gerem negócios e isso cria mais oportunidades. Acredito que é um ciclo que permite a participação.

"Infelizmente, as estatísticas mostram que o financiamento a negócios geridos por mulheres ainda está muito longe do ideal. Muito disso é porque as mulheres não estão nos fundos de investimento para entenderem os negócios que outras mulheres estão a tentar construir. Isso está a mudar, mas lentamente."

É algo que ainda está em evolução?
A meu ver, anda tudo à volta sobre proporcionar oportunidades. As mulheres podem contribuir quando sabem e quando têm acesso às oportunidades. Podem tornar-se parte de uma equipa que se constrói e cresce com elas. Estamos envolvidos no Portuguese Women in Technology e patrocinamos o seu prémio de sustentabilidade, precisamente pelas mesmas razões: dar voz e visibilidade que estão a fazer coisas incríveis.

Estive envolvida num grupo chamado “Tech Girls”, fiz parte da equipa original, onde a Tracey Welson-Rossman era a líder. Numa das sessões iniciais de brainstorming que tivemos ela disse: “Quero poder mostrar às raparigas mais jovens que podem estar envolvidas na tecnologia”. Um dos grandes público-alvo eram as jovens do ensino secundário, que já tinham de tomar determinadas decisões. Nessa altura eu disse à Tracey, e provou-se que era verdade, que “quando falamos em tecnologia e estar envolvido em tecnologia não significa que tenham de ser programadores”. O caminho de carreira para as mulheres na tecnologia pode passar por tantas áreas: pelo marketing de produtos tecnológicos, pela programação, pela ciência de dados, pela implementação…quando olham para a nossa empresa há mulheres em cada área. À medida que formos crescendo teremos mais cargos e mais oportunidades. Numa empresa com 45/50 pessoas, temos mulheres em cada setor e temos muito orgulho nisso.

É mais difícil para as mulheres entrarem no mundo da tecnologia, do empreendedorismo e da mobilidade?
Infelizmente, as estatísticas mostram que o financiamento a negócios geridos por mulheres ainda está muito longe do ideal. Muito disso é porque as mulheres não estão nos fundos de investimento para entenderem os negócios que outras mulheres estão a tentar construir. Isso está a mudar, mas lentamente.

Também há outro problema, e vou fazer uma grande generalização, mas eu também era desta forma, por isso posso dizer que, pelo menos, se aplicava a mim: eu sentia, no início da minha carreira, que tinha de ter todas as respostas antes de poder dizer que estava pronta para fazer algo, que estava capaz de ocupar um determinado cargo. E isso é diferente em muitos casos dos homens: os homens podem ter menos experiência — e, mais uma vez, estou a fazer uma generalização — e surgem mais confiantes na entrevista para dizer que conseguem fazer aquilo. Este é o exemplo das entrevistas que fizemos. Temos exemplos recentes de mulheres que se mostram um pouco hesitantes em falar e demonstrar confiança. Não porque não têm experiência suficiente — até podem ter mais experiência –, mas pela forma como se apresentam.

Esse seria um dos conselhos que daria às mulheres que querem entrar neste mundo da tecnologia e dos negócios: ter confiança?
Sim. E para serem corajosas. Sejam confiantes e corajosas. Porque são provavelmente muito melhores do que pensam e, mais uma vez, as estatísticas mostram que as empresas que têm mulheres a liderar negócios ou na sua equipa de gestão atuam melhores a nível fiscal e económico do que as que não têm essa diversidade nos seus quadros. É mesmo sobre respirar fundo e dizer: “Eu consigo. E se não conseguir vou resolver isso”. Ter esse sentido de coragem e confiança.

Em relação ao futuro da Flow, quais são os planos?
Estamos a trabalhar para chegar a mais sítios, para conseguirmos aproveitar esta grande mudança que está a acontecer. Estamos com a Espanha e o Reino Unido, mas vamos trabalhar para uma geografia mais ampla, tanto na Europa como nos Estados Unidos.

Estamos focados nas frotas, porque é a área que pode contribuir mais, mas também queremos entregar ao longo do tempo esta visão mais abrangente da mobilidade sustentável às empresas que vai além da frota, vai até aos funcionários e fornecedores. Criar isso como uma solução única no mercado.

Como imagina a mobilidade daqui a 10 anos?
Gostava de atingir os objetivos que foram definidos para a redução de emissões de carbono. A maior parte dos clientes com quem trabalhamos atualmente talvez tenha menos de 10% da sua frota em plug-in híbrido ou veículo elétrico…que daqui a dez anos tenha perto de 80/90 ou 100%. Que as empresas que hoje em dia têm mais dúvidas estejam no caminho da eletrificação. E os que já estão a percorrer este caminho, que estejam mais perto da transição completa. E gostava que as empresas tivessem um portfólio mais robusto de opções para que os seus funcionários não tenham dúvidas sobre como podem ir para o escritório numa plataforma sustentável.

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