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Livre recusa "noite escura" da extrema-direita e assume contrato com a esquerda para lhe fazer sombra

Rui Tavares encerrou o Congresso do partido a plantar uma "árvore da liberdade" literal e metafórica. De herança, o Livre quer deixar um fundo social para jovens e um país livre da direita radical.

Chega ao púlpito com uma sala cheia de apoiantes e de comunicação social, já pequena para todos os que acompanharam o XIII Congresso do Livre. Rui Tavares dirige-se a todos esses, mas também aos vários partidos que se fazem representar no discurso de encerramento do porta-voz. Só o Chega ficou de fora — não foi convidado a estar presente. “Precisamos de ter uma conversa muito sólida para que esta democracia tenha mais 50 anos”, avisa o deputado único, que não tem dúvidas de que “são precisas as diferenças dos outros” para solucionar a crise política que o país atravessa. Fica clara a pretensão de unir a esquerda, não fosse essa a génese da criação do partido, e de trabalhar com o país do presente. O Livre não quer “inventar a roda” e rejeita começar de novo — a génese de quem se coloca no seu extremo oposto da doutrina política.

A ideia é continuar o “trabalho conjunto” dos partidos à esquerda. E não foi coincidência Rui Tavares destacar na colaboração partidária a aprovação da lei que criminaliza as “práticas de conversão” de pessoas LGBT+, apresentada  pelo Bloco de Esquerda, Livre, PAN e PS. Dos presentes, com o Chega ausente, só o PSD tinha votado contra a proposta em dezembro passado. No sábado, Rui Tavares já o tinha dito preto no branco: “É preciso um contrato democrático à esquerda” para vencer o que chama de “direita radicalizada devorada pela extrema-direita”.

"O PS está a lutar por ter o melhor resultado possível, o Livre procurará fazer o mesmo"
João Torres (PS)

Antes dele nas intervenções e a seguir a ele nas listas do Livre por Lisboa, Isabel Mendes Lopes convidou os presentes a consultarem o significado da palavra “geringonça” no dicionário português, que contempla a designação informal dada ao XXI Governo Constitucional, formado após as eleições legislativas de 2015, e que “foi necessária para derrotar Pedro Passos Coelho”. A candidata a deputada diz mesmo que o ano de formação da coligação à esquerda “deu razão ao congresso fundador do Livre”, um ano antes, naquele mesmo local, nos Jardins do Palácio de Cristal, no Porto.

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João Torres, que assistiu ao encerramento do congresso no auditório da biblioteca Almeida Garrett, revelou que o PS mantém um “diálogo franco e aberto” com o Livre, que espera manter nos próximos meses. Assume as convergências, mas também as “divergências que o PS tem com o Livre”. O diretor da campanha socialista aponta, no entanto, o ponto de encontro irrevogável entre os dois partidos: “A barragem da extrema-direita e a construção de uma pedagogia republicana e democrática”.

Questionado sobre, uma eventual integração do Livre numa coligação à esquerda, nunca respondeu diretamente. “No PS estamos focados em fazer uma campanha eleitoral pela positiva”, disse. “O PS está a lutar por ter o melhor resultado possível, o Livre procurará fazer o mesmo”. Reforçou que não é o momento para “especular o que vai acontecer de seguida”, atirando novamente ao Chega: “Não estamos a explorar o medo da sociedade portuguesa como faz a extrema-direita.”

Paulo Rangel respondeu à chamada do Livre, mas não sem defender que os acordos à esquerda levaram à “queda do Estado social” com os “impostos mais altos do que nunca” e o “desmantelamento do SNS”. O vice-presidente social-democrata participou num “exercício de respeito pela democracia”, mas não teve pejo em admitir a discórdia com muitas das soluções apresentadas pelo partido representado por Rui Tavares. E deixou o recado diretamente ao Livre: “A modalidade do acordo pode ser diferente, mas as políticas são as mesmas”.

A “herança social” que o Livre quer estudar e as “árvores da liberdade” que quer plantar

Na hora da despedida, Rui Tavares anunciou propostas para o futuro, mas não deixou de celebrar as vitórias de um passado em que foi deputado “único, mas nunca sozinho”, distribuindo os louros pelo gabinete parlamentar. Destacou a vitória da aprovação do “subsídio de desemprego flexível” atribuído a vítimas de violência doméstica, mas quer mais para as pessoas que precisam de “três meses para acabar uma tese, para se despedirem e terem um emprego melhor ou para fundarem uma empresa no interior”.

Isabel Mendes Lopes, número dois por Lisboa e dirigente do partido, recordou na sua intervenção do segundo dia do congresso que houve quem se “risse” perante a proposta ousada de alargar o subsídio de desemprego a casos alheios ao despedimento. A candidata também reclamou para o Livre a “conquista da semana de quatro dias” e a vitória do “descanso” que não comprometeu a produtividade. Com base em sondagens, é uma das candidatas com maior probabilidade de chegar à Assembleia da República e assegurou que o Livre vai eleger “vários deputados e várias deputadas”, garantindo que “serão muitos”.

No programa do Livre, aprovado este domingo na globalidade com apenas dois votos contra, a aspirante a parlamentar viabilizou internamente a sua proposta de alargar o período de apoio psicológico para a fase após a realização da Interrupção Voluntária da Gravidez, bem como a revisão das possibilidades de âmbito e discricionariedade de declarações de objeção de consciência para atos médicos, de modo a garantir a acessibilidade ao procedimento.

"Fomos classificados como partido das utopias, mas implementámos medidas que diziam ser impossíveis"
Jorge Pinto, cabeça de lista do Livre pelo Porto

Na senda de candidatos que Rui Tavares aponta como elegíveis, o cabeça de lista pelo Porto lançou o argumento da obra feita pelo Livre que destrona a classificação externa de um “partido de utopias”. “Implementámos medidas que diziam ser impossíveis”, defendeu Jorge Pinto.

O Livre não abandona as propostas que parecem difíceis de aplicar, mesmo que jogue pelo seguro e proponha apenas o estudo para a criação de uma “herança socialpara todas as crianças nascidas em Portugal através da taxação de heranças e fortunas. A ideia, explicada ao Observador por Rui Tavares, é a de criar um fundo público que seja distribuído por contas poupanças e/ou certificados de aforro — assim, o dinheiro ficaria a render juros compostos durante os 18 anos que precedem à maioridade e ao consequente acesso à quantia.

Tomado como ponto de partida os nascimentos em 2020, cerca de 80 mil, seriam necessários 400 milhões de euros para distribuir 5 mil euros à nascença a cada bebé. O porta-voz do partido remeteu para um estudo futuro os critérios de atribuição, bem como de acesso ao fundo, mas no discurso deu ideias para a aplicação do valor, desde “abrir uma empresa” a “ajudar a pagar uma entrada para uma casa”.

A medida não é inédita, já foi discutida em Espanha e o Livre não quer perder o “transporte público do progresso” europeu. E é o exemplo da Europa que Rui Tavares seguiu ao lançar uma iniciativa para a campanha eleitoral do Livre — plantar uma “árvore da liberdade” em cada local em que o partido faça campanha. “Quando começámos a construir a Democracia houve um hábito de plantar uma árvore nas cidades europeias para as tratar”, apontou, referindo que as “forças da autoridade e da tradição tentavam cortar” essas árvores. Numa “cidade francesa massacrada pelos nazis”, garante, a árvore da liberdade ainda persiste.

As bocas do Livre à extrema-direita que “imita a cartilha dos populistas por esse mundo fora” e aos liberais que “rasgam o contrato social”

O porta voz do Livre quer muita gente, no futuro, a “dormir na sombra” da ainda pequena árvore que surgia ao lado do púlpito em que discursou e que foi plantada nos Jardins do Palácio de Cristal, num ato simbólico que marcou o encerramento do encontro do partido. Antes disso, Rui Tavares citou Sophia de Mello Breyner para recusar a “noite e a escuridão” que chega com a extrema-direita. Foi com a referência — sem nomeação — ao Chega que terminou o discurso de encerramento do congresso, mas ao longo do fim de semana várias vozes se fizeram ouvir contra a direita radical.

Jorge Pinto, cabeça de lista do Porto, alertou para a extrema-direita que “agride, mata e dá medo”. Medo que, defende, “dá força”, a mesma força dos homens e mulheres que “fizeram o 5 de Outubro e o 25 de Abril”. O candidato a deputado abre a porta e dá as boas vindas a “todos os que queiram vir para Portugal” e garante que o compromisso do Livre com a luta anti-racista e contra a ciganofobia perdura desde a fundação do partido e segue em força para o futuro.

"A liberdade não é rasgar o contrato social, mas sim dar a mão a quem precisa e não deixar ninguém para trás”
Isabel Mendes Lopes, número dois do Livre por Lisboa

O alvo principal era o Chega, mas os liberais receberam estilhaços. “Ser livre é pagar menos impostos, mas só podemos ser livres se os nossos irmãos, com quem partilhamos a sociedade, forem livres. Sabemos que a liberdade fora da comunidade não tem sentido nenhum“, defendeu Jorge Pinto, numa mensagem feita à medida da Iniciativa Liberal.

Também Isabel Mendes Lopes diz que a “liberdade não é rasgar o contrato social”, mas sim “dar a mão e não deixar ninguém para trás”. “Queremos aprofundar o contrato e Estado social”, acrescenta a número dois por Lisboa, que acusa outros que preconizam a liberdade a “não querer alterar o código de trabalho para diminuir os custos de contexto”, o que significa “aumentar a precariedade”.

A candidata também aponta à extrema-direita que “imita a cartilha dos populistas por esse mundo fora”. E garante: “Nos 50 anos do 25 de Abril é obrigação da direita à esquerda preservar esta democracia que nos custou tanto a ganhar”.

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