771kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Chamam "crianças irã" aos que nascem com um aspeto diferente e acreditam que representam espíritos malignos para as comunidades
i

Chamam "crianças irã" aos que nascem com um aspeto diferente e acreditam que representam espíritos malignos para as comunidades

Chamam "crianças irã" aos que nascem com um aspeto diferente e acreditam que representam espíritos malignos para as comunidades

Na Guiné-Bissau há uma tradição que mata bebés com deficiência. Mas também há quem finte a crença e fuja da morte

Nascem diferentes e, graças a uma crença que não os considera humanos, são mortos. Na Guiné-Bissau, o infanticídio é crime, mas só os relatos o provam. E as comunidades ficam quase sempre em silêncio.

    Índice

    Índice

“O meu filho Gean tem um ano e quatro meses e foi diagnosticado com epilepsia, microcefalia e paralisia cerebral infantil. O parto foi bem difícil, passei três dias para conseguir parir, tive muitas dificuldades e quase desmaiei. Depois de fazerem um esforço para o puxar, acabou por nascer sem chorar e asfixiado. Ainda no hospital, percebi que ele não estava bem, mas não sabia o que tinha. Fomos para casa e muitas pessoas, ao perceberem que não era saudável, chamavam-no de irã.”
Ismene Monteiro, 23 anos, natural de Bissau

Ismene Monteiro tem 23 anos e fala do nome que deram ao seu filho como uma maldição. Na Guiné-Bissau, quando uma criança nasce com alguma deficiência ou característica que a torna diferente, muitos acreditam que não é um ser humano, mas um espírito que representa o mal. Por isso, convencem os familiares a “devolvê-la à origem” — um eufemismo para dizer que devem matá-la. A essas crianças chamam “irã”, expressão que, traduzida em crioulo da Guiné, significa “espírito capaz de influenciar a vida de um pessoa”.

Ismene é uma das muitas mães que foram obrigadas a fugir das suas comunidades para salvar os filhos da morte, deixando quase tudo para trás, incluindo os estudos. “Foi muito difícil para mim aceitar, mas consegui resistir à prática graças à minha fé e ao amor que senti pelo meu filho. As pessoas faziam-me chorar todos os dias, principalmente os meus familiares, até que tive de sair de casa para me afastar daquelas palavras que me deixavam triste e desanimada. O apoio familiar foi pouco, ou posso dizer nenhum, mas o pai do meu filho esteve sempre comigo”, recorda ao Observador.

Ismene Monteiro foi obrigada a abandonar os estudos e a sair da sua comunidade para salvar o filho, Gean

Filipa Gonçalves é psicóloga e coordenadora da AIDA, uma organização não governamental espanhola. Trabalha na Guiné há 9 anos e estudou o fenómeno a fundo em 2016. “Isto não é exclusivo da Guiné-Bissau, acontece em vários países africanos e com algumas nuances. Os meninos irã são tudo aquilo para o qual ninguém encontra explicação. Estamos a falar principalmente de pessoas que vivem em contextos rurais, não têm escolaridade, a relação com o sistema de saúde é pouco esclarecedora e, como não existe um diagnóstico concreto, rapidamente encontram uma explicação no domínio do transcendente”, explica ao Observador.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A crença da maioria dos grupos étnicos da Guiné-Bissau sobre a encarnação de uma divindade, apelidada no animismo como ‘irã’, torna-se, assim, a justificação de muitos fenómenos para os quais não encontram outra razão. “Na verdade, os aspetos de feitiçaria ou o entendimento de que estas crianças são demónios e espíritos maus surgem como justificações socialmente aceites e credíveis, tendo em conta um histórico enraizado de tradições e rituais, para essa necessidade de eliminar o fator de vulnerabilidade e de ameaça à comunidade”, refere a psicóloga no seu estudo.

Este é um credo bastante comum entre as pessoas mais velhas que residem em tabancas – nome dado às aldeias situadas no interior do país — e a prática é normalmente realizada em crianças até aos cinco anos de idade. O processo consiste em consultar um curandeiro ou um líder espiritual da comunidade, que, ao analisar a criança, consegue identificar se ela é um irã de terra ou de mar, definindo, assim, o seu destino.

“Se representar um espírito de terra, é deixada em termiteiras e, se a terra tiver algum tipo de movimento, acreditam que o irã as está a chamar. Na prática, o que imaginamos que aconteça é que [as crianças] acabam por ser comidas. Se representar um irã de mar, há uma cerimónia onde a criança come uma mistura de ovos e farinha, alimentos que dizem ser dádivas aos irãs, e é colocada junto ao mar ou a um rio. Se a água a recolher, significa que voltou ao seu elemento natural.”

O Centro de Reabilitação e Desenvolvimento da Criança, em Bissau, acompanha 120 crianças, dos recém-nascidos a jovens de 17 anos

Os dois rituais são feitos de forma bastante discreta, muitos deles durante a noite, o que faz com que seja difícil perceber exatamente o que acontece. No entanto, Filipa Gonçalves não tem dúvidas de que a prática implica uma troca. “Estes líderes espirituais são pagos para fazerem isto, recebem porcos, vinho ou dinheiro por parte das famílias, que acreditam estar a pagar por um serviço importante, uma vez que a permanência daquela criança representa um mal para a comunidade.”

Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, revela ao Observador que a tradição repete-se em comunidades rurais, “onde quase ninguém chega”. “São locais completamente abandonados, onde a presença do Estado é uma miragem, não há um único serviço público e as forças de segurança não conseguem cobrir aquela zona, estão completamente à margem.”

O responsável pelo organismo que se de dedica à defesa, proteção dos direitos e liberdades dos cidadãos sublinha que a crença é especialmente vincada nos mais velhos, cujas palavras “têm muita força e não são facilmente desafiadas”. “Muitos jovens acabam por seguir as orientações que lhes são dadas, apesar de não concordarem com elas, pois são pressionados a isso.”

Ismene Monteiro não cedeu à pressão: fugiu da sua comunidade e atualmente está a viver, com o filho Gean, na casa de acolhimento da AIDA, em Bissau. “Hoje, tudo o que eu faço é cuidar do meu filho e tentar fazer negócios para nos sustentar. Estou na casa de passagem da AIDA, onde me acolheram bem e me deram tudo aquilo que um dia não recebi em minha casa e na minha comunidade. Deram-me apoio moral e financeiro, ensinaram-me que o amor por um filho não tem olhos e que um filho é sempre a maior bênção que existe.”

Um crime oculto e com enquadramento legal, mas sem consequências

Augusto Mário da Silva adianta que o infanticídio nestes contextos “acontece há muitos anos” e “ainda é uma realidade”, apesar de o último caso denunciado ter sido na década de 90. “Nessa altura, os pais da criança e alguns membros da comunidade local foram a tribunal, mas o processo não teve grande sucesso. A polícia prendeu os suspeitos, mas a comunidade mobilizou-se contra as autoridades, por considerar que não se cometeu qualquer crime. Eles acreditam que não está em causa uma vida humana, não denunciam a prática e, por isso, levanta-se a questão da consciência da ilicitude, que é um dos pressupostos de punibilidade. Há sempre um conflito entre o costume tradicional e a lei vigente. Na maioria dos casos acaba por prevalecer o costume.”

Augusto está à frente da organização fundada em 1991 que se dedica a promover e a proteger os direitos humanos no país

Segundo o código penal guineense, o infanticídio é punível pelo artigo 110.º, onde pode ler-se: “A mãe, o pai ou os avós que, durante o primeiro mês de vida do filho ou do neto, lhe tirarem a vida por este ter nascido com manifesta deficiência física ou doença, ou compreensivelmente influenciados por usos e costumes que vigorarem no grupo étnico a que pertencem, são punidos com pena de prisão de dois a oito anos, se tais circunstâncias revelarem uma diminuição acentuada da culpa.”

No último caso de infanticídio tornado público, o processo não chegou ao fim e ninguém foi condenado. “Foram colocados em liberdade sem qualquer medida e continuaram a sua vida tranquilamente. A prática continua e não há registo de um único caso julgado e condenado”, garante o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos.

Binham, o sobrevivente que é exemplo e inspiração

Binham Quimor tem 43 anos, nasceu na região de Tombali, em pleno Parque Nacional de Cantanhez, e foi considerado um irã. “Tudo o que sei foi o meu tio que me contou, foi ele que me criou. Quando nasci, os meus pais abandonaram-me porque achavam que eu era uma criança irã”, começa por contar ao Observador. Binham nasceu com dificuldades motoras e cognitivas, não conseguia andar nem falar e todos tinham a certeza de que “não era um menino normal”.

“Com dois ou três anos, os meus pais e a minha família mais próxima levaram-me para junto do rio Tombali, fizeram a cerimónia tradicional e deixaram-me lá sozinho e a chorar.” Algumas horas depois, quando a maré já estava a subir, a mãe arrependeu-se e foi buscá-lo. “Segundo o meu tio, a minha mãe não parava de me ouvir chorar e voltou ao local para me buscar. Penso que ela esteve presente na cerimónia, mas arrependeu-se. Tirou-me da água e trouxe-me para casa no mesmo dia.”

“Estes líderes espirituais são pagos para fazerem isto, recebem porcos, vinho ou dinheiro por parte das famílias, que acreditam estar a pagar por um serviço importante, uma vez que a permanência daquela criança representa um mal para a comunidade.”
Filipa Gonçalves, psicóloga e coordenadora da AIDA na Guiné-Bissau

O tio de Binham, irmão do seu pai, era professor na região de Oio, a 245 quilómetros de Tombali, e, quando visitou a família, sugeriu ficar com o sobrinho. “Viu-me naquela agonia, sempre a chorar, falou com o meu pai e disse que me queria levar com ele. O meu pai estava com receio, dizia que eu não tinha hora para morrer, que estava doente e não iria durar muito. O meu tio queria levar-me na mesma, garantiu-lhes que, se eu morresse, me faria um funeral digno e ninguém teria de se preocupar”, explica, acrescentando que na Guiné-Bissau é comum os filhos serem criados por outros familiares, geralmente com melhores condições.

Aos quatro anos deixou os pais e a comunidade onde vivia, cresceu junto dos tios e de dois primos, e com o tempo aprendeu a andar e a falar como todos os outros. “Lembro-me de que a minha tia, que já faleceu, levou-me ao médico várias vezes, fiz tratamentos e fiquei bem, tudo passou.”

Binham foi considerado uma criança irã e hoje é um exemplo de sobrevivência para muitos

Hoje, Binham Quimor é um dos cantores mais famosos de Bissau, mas não esquece a infância atribulada. Os pais separaram-se depois de o abandonarem e só viu o pai, que já morreu, um par de vezes depois disso. “Nem me lembro se ele tinha uma pele muito escura ou mais clara.” Antes de morrer, a mãe ia visitá-lo de cinco em cinco anos a casa do tio, mas dela sente que nunca soube toda a verdade sobre a sua história: “Estava sempre a esconder-me alguma coisa.”

O músico garante que não tem qualquer mágoa em relação ao seu passado e mantém-se grato ao tio “informado” que o “salvou”. “Não guardo rancor contra ninguém, acho que eles pensavam que estavam a fazer a coisa certa, não tenho nada para odiar nem tenho nada contra ninguém. Só agradeço ao meu tio e a Deus porque, se não fossem eles, não estaria aqui a conversar consigo.”

Acredita que já nasceu cantor, paixão que desenvolveu quando ingressou na Igreja Evangélica. Aprendeu a tocar guitarra, começou a compor as suas próprias músicas, criou um grupo de gospel e em 1999 decidiu ir para Bissau para desenvolver o seu talento, que quer agora aproveitar para falar sobre o que lhe aconteceu, sendo já um exemplo de sobrevivência para muitos. “Fiz uma música sobre a prática, mas ainda não terminei. Fará parte do meu segundo disco, que ainda estou a gravar por falta de meio financeiros, conto que saia lá para dezembro. Muitas pessoas procuram-me para partilhar a sua história, quero usar o meu novo projeto para informar, educar e dizer a alguém que tiver um filho diferente que ele é uma bênção e não há necessidade de ser levado pelo mar ou deixado numa mata.

“Segundo o meu tio, a minha mãe não parava de me ouvir chorar e voltou ao local para me vir buscar. Penso que ela esteve presente na cerimónia, mas arrependeu-se. Tirou-me da água e trouxe-me para casa no mesmo dia.”
Binham Quimor, cantor

Casado e com quatro filhos saudáveis, o cantor não tem dúvidas de que a tradição de infanticídio no país continua a existir por “falta de conhecimento”. “Esta crença é sinónimo de falta de conhecimento, académico e científico. Há crianças que levam tempo para se desenvolverem, umas são simplesmente mais rápidas do que outras, isso não pode levar a que os pais ponham a sua vida em risco.

Quando a única alternativa é fugir e a reabilitação ainda não é uma prioridade no país

“O meu filho Leandro tem sete anos e uma paralisia cerebral severa. Nasceu de um parto difícil e prolongado e quando nasceu não chorava. Ainda no hospital, reparei que ele tinha um comportamento estranho, mas a enfermeira disse que era um bebé normal. Fomos para casa e na vizinhança achavam que o meu filho era um irã. Algumas famílias pressionavam-me a fazer o tratamento tradicional, mas consegui resistir porque sempre tive o apoio do pai e de alguns familiares que me encorajaram muito. Um dia o meu tio ligou-me a dizer que tinha tido conhecimento de consultas para crianças com estas patologias. Hoje o meu filho vai à escola todos os dias, tem sessões de fisioterapia todas as semanas e consultas uma vez por mês.”
Ana Correia, 32 anos, natural de Bissau

Ana foi uma das primeiras mães a ser apoiadas pela AIDA e hoje é responsável pela área social no centro de reabilitação

Ana é uma das mães que não se conformaram com a sentença que lhes foi dada pela comunidade onde vivem, acabaram por fugir para procurar ajuda e conseguiram. Hoje é uma das caras mais antigas do Centro de Reabilitação e Desenvolvimento da Criança, em Bissau, criado em 2019 pela mesma organização não governamental espanhola que recebeu Ismene Monteiro. “Somos o único centro no país destinado a crianças com dificuldades no desenvolvimento neurológico”, sublinha a psicóloga e coordenadora Filipa Gonçalves, acrescentando que o projeto acompanha 120 pessoas, de recém-nascidos a jovens com 17 anos, com sessões de fisioterapia e de reabilitação cognitiva ou de linguagem.

Temos crianças com cinco e seis anos que têm um corpo que nunca foi tocado e intervencionado, é duríssimo trabalhar com elas. Muitas vezes têm um prognóstico reservado porque nunca receberam este tipo de resposta. O nosso critério é dar sempre prioridade aos mais jovens para garantir melhores resultados, e nos mais velhos trabalhamos sobretudo a autonomia, com cadeiras de rodas e andarilhos, e fazemos pequenas intervenções nas suas casas, como rampas, para terem uma melhor qualidade de vida”, explica a responsável.

O centro presta também um apoio social em casos como o de Ismene e Ana, que abandonaram, com os filhos, as suas comunidades. “Neste serviço damos bens alimentares e, em situações mais delicadas, reencaminhamos para uma casa de passagem, com capacidade para quatro ou cinco pessoas. Pretendemos que seja uma solução temporária, pois temos sempre como objetivo o regresso delas à família. Os guineenses têm geralmente famílias muito alargadas, durante o acolhimento vamos identificando pessoas menos próximas que possam receber e dar suporte a estas mães jovens com filhos.”

Filipa Gonçalves já recebeu várias mães que iniciaram ali a reabilitação dos seus filhos, mas depois desapareceram, deixaram de atender o telefone e até mudaram de morada. “Quando retomamos o contacto, percebemos que a criança já morreu. Nestes casos, existe uma história familiar de grande pressão. Este é um país onde as mulheres têm muitos filhos, os rendimentos financeiros são muito baixos face às necessidades, e uma criança com estas características representa um grande fardo para elas.”

Filipa Gonçalves chegou à Guiné-Bissau há 9 anos e tem trabalhado na área da psicologia para o desenvolvimento, com especial enfoque nas crianças

O papel social da mulher também parece explicar o recurso às práticas infanticidas, já que são ela o grande motor da vida familiar e da própria comunidade: cozinham, trabalham nas hortas, lavam a roupa e vão buscar água. Terem de dedicar demasiada atenção a apenas uma criança representa um grande défice para a qualidade de vida da família e da comunidade.

A psicóloga não esconde as dificuldades no terreno, revela que a área da reabilitação ainda não é uma prioridade no país e por isso mesmo se torna “tão difícil conseguir financiamento” para o projeto da AIDA na Guiné-Bissau.

“Falamos de um país que lida ainda com pandemias como a malária, o HIV ou a tuberculose, encontrando-se ainda numa fase de desenvolvimento epidemiológico. Nos últimos anos, por exemplo, temos assistido a um crescimento de acidentes vasculares cerebrais causados pela mudança de estilos de vida, pelo aumento do sedentarismo e pela alimentação cada vez menos equilibrada. Estas pessoas precisam de reabilitação, é algo necessário para adultos e crianças, e não pode continuar a ser ignorado nas políticas de saúde.”

Prevenção e educação: as soluções para romper com a tradição

Segundo o Inquérito aos Indicadores Múltiplos, publicado em outubro de 2020, 4,5% das crianças guineenses entre os dois e os quatro anos têm algum tipo de deficiência, a maioria relacionada “disfunções comportamentais”. Já no último relatório da Unicef sobre a infância no país, publicado em 2019, pode ler-se que “foram identificadas muitas barreiras que impedem que menores com deficiência gozem de seus direitos”. Uma delas é a dificuldade de acesso aos serviços públicos de saúde e o hábito de ir ao médico tradicional. “Isso levou a um diagnóstico tardio, atraso ou nenhum tratamento em 76% crianças do estudo.”

Para Filipa Gonçalves, coordenadora da AIDA na Guiné-Bissau, “a lista é imensa” quando falamos de soluções para travar a prática de infanticídio ligada a este tipo de crenças. “As pessoas nascem, vivem e morrem sem nunca ter contacto com o Estado, mais de metade da população não tem sequer registo de identificação”, explica ao Observador.

A psicóloga garante que não existe um sistema de proteção social a nível nacional que permita a uma mulher que tenha um filho com estas característica aceder a uma resposta concreta, a uma vigilância médica ou a um programa de reabilitação. “O Instituto da Mulher e da Criança é a única estrutura pública que supostamente deveria ter a tutela deste tipo de situações, mas não tem uma representação a nível regional”, critica.

A AIDA tem estabelecido protocolos com sete escolas de Bissau para apostar numa educação mais inclusiva

Essencial parece ser também a prevenção e, para isso, é necessário um maior investimento no universo materno-infantil, para que seja possível realizar diagnósticos fiáveis de algumas patologias. Um dos problemas é a falta de meios complementares de diagnóstico. Sem exames com imagem, por exemplo, nem sempre é possível confirmar o tipo de lesão e a sua extensão.

Filipa acredita que muitos casos poderiam ser evitados com um acompanhamento de qualidade no período pré-natal, no parto e nos primeiros dias de vida do bebé. “Muitas destas mulheres não fizeram ecografias, tiveram quadros de malária e outras infeções durante a gravidez, tiveram trabalhos de parto prolongados, muitos deles domiciliários, e com quadros de asfixia do bebé que não foram controlados.”

“Foram colocados em liberdade sem qualquer medida e continuaram a sua vida tranquilamente. A prática continua e não há registo de um único caso julgado e condenado"
Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos

Uma opinião partilhada por Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, que diz que é preciso investir num sistema nacional de saúde mais próximo das populações e criar condições para que os técnicos de saúde possam fazer diagnósticos fiáveis e aconselhar as comunidades. “Só assim podemos combater esta prática e dissipar a crença.”

Com um sistema de ensino “sistematicamente em greve” e professores com uma formação “muito débil”, há ainda dificuldades em introduzir temas de educação para a cidadania. E Augusto Mário da Silva defende que o papel da educação é essencial para combater crenças e tradições ancestrais. O problema é que “há casos em que as crianças têm que andar 14 quilómetros a pé para ir às aulas”. “Desta forma é difícil combater este tipo de crenças”, diz, lamentando que não exista vontade política para a criação de um apoio governamental nesta matéria. “Os nossos governantes ainda não ganharam consciência de que esta prática tem estado a colocar em causa a vida humana e a afetar gravemente o pleno desenvolvimento das pessoas.”

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver oferta

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.
Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos