Na homilia da missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco vincou uma mensagem central: o apelo aos jovens para que não tenham medo. Em torno de três palavras de ordem — resplandecer, ouvir e não ter medo —, o Papa alertou os jovens para os perigos dos “egoísmos disfarçados de amor”, disse que só o amor faz alguém resplandecer e pediu a todos que não tenham medo de dar publicamente o seu testemunho de fé. Leia aqui, na íntegra, a homilia de Francisco.

Papa: “Obrigado a ti, Lisboa, que vais ficar na memória destes jovens com a casa da Fraternidade”

“’Senhor, é bom estarmos aqui.’ Estas palavras disse-as o apóstolo Pedro a Jesus no Monte da Transfiguração. E também as queremos fazer nossas depois destes dias intensos. É bonito o que estamos a experimentar com Jesus, o que vivemos juntos e é bonito como é bom rezar, com tanta alegria do coração. Então, podemos perguntar-nos: Que levamos connosco quando regressarmos ao vale da vida quotidiana? A partir do Evangelho que ouvimos, quero responder a esta pergunta com três verbos: resplandecer, ouvir, não temer. O que levamos? Respondo com estas três palavras. Resplandecer, escutar, não ter medo.

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Resplandecer. Jesus transfigura-Se e – diz o texto – ‘o seu rosto resplandeceu como o sol’ (Mt 17, 2). Recentemente tinha anunciado a sua paixão e morte de cruz, quebrando assim a imagem dum Messias poderoso e mundano, e dececionando as expectativas dos discípulos. Agora, para nos ajudar a acolher o amoroso projeto de Deus sobre cada um de nós, Jesus toma consigo três deles – Pedro, Tiago e João – condu-los ao alto dum monte e transfigura-se. Este ‘banho de luz’ prepara-os para a noite da paixão.

Amigos, também nós precisamos de um pouco de luz, de esperança, para enfrentar tantas escuridões que nos assaltam a vida, tantas derrotas quotidianas, para as enfrentar com a luz da ressurreição de Jesus. Porque é a luz que não se apaga, que brilha mesmo durante a noite. «O nosso Deus quis fazer brilhar os nossos olhos», diz o sacerdote Esdras. Ilumina o nosso olhar, ilumina o nosso coração, ilumina a nossa mente, ilumina a nossa vontade de fazer algo na vida, sempre com a luz do Senhor.

Quero dizer-vos que não nos tornamos luminosos quando nos colocamos sob os holofotes. Isso encadeia-nos, não nos torna luminosos. Não nos tornamos luminosos quando exibimos uma imagem perfeita e nos sentimos fortes e bem-sucedidos. Ainda que nos sintamos fortes e bem-sucedidos, mas não luminosos. Mas resplandecemos quando, acolhendo Jesus, aprendemos a amar como Ele. Amar como Jesus, isso torna-nos luminosos. Isso leva-nos a ser obras de amor. Não te enganes, amiga e amigo. Vais ser luz no dia em que faças obras de amor. Mas quando em vez de fazer obras de amor aos outros olhas para ti próprio como um egoísta, aí a luz apaga-se.

O segundo verbo é ouvir. No monte, uma nuvem luminosa cobre os discípulos. E o que é que essa nuvem, de que falava o Pai, disse? Escutem-no. Este é o meu amado, escutem-no. Está tudo aqui: tudo aquilo que se deve fazer na vida cristã, está nesta palavra. Escutem-no. Escutar Jesus. Todo o segredo está aí: escutar o que te diz Jesus. Alguém me disse: abre o Evangelho, lê o que diz Jesus, e o que diz o teu coração. Porque ele tem palavras de vida eterna para nós. Ele revela que Deus é pai e é amor. Ensina-nos o caminho do amor. Escutem Jesus. Porém, nós, com boa-vontade, escolhemos caminhos que parecem ser de amor, mas, definitivamente, são egoísmos disfarçados de amor. Escutem-no, porque ele vos vai dizer qual é o caminho do amor. Escutem-no.

Resplandecer — a primeira palavra, ser luminoso — escutar, para não se enganarem no caminho, e, por fim, a terceira palavra: não ter medo. Não tenham medo. É uma palavra que na Bíblia se repete tanto. Não tenham medo! Foram as últimas palavras que, neste momento da transfiguração, Jesus disse aos discípulos. Vocês jovens, que viveram esta alegria, esta glória — há algo de glória neste nosso encontro —, vocês que cultivam sonhos grandes, mas às vezes ofuscados pelo medo de não os realizar. A vocês que por vezes pensam que não serão capazes. Temos um pouco de pessimismo, por vezes. A vocês, jovens, tentados neste tempo pelo desânimo, pela ideia de se julgarem fracassados, talvez, ou por tentar esconder a dor com um sorriso; a vocês, jovens, que querem mudar o mundo – e é bom que queiram mudar o mundo –, a vocês que querem mudar o mundo e lutar pela justiça e a paz; a vocês que colocam vontade e criatividade na vida, mas parece não ser suficiente; a vocês, jovens, de que a Igreja e o mundo precisam, como a terra precisa da chuva; a vocês, jovens, que são o presente e o futuro. Sim, precisamente hoje, Jesus diz: não tenham medo! Não tenham medo.

Um pequeno silêncio e cada um repita para si mesmo, no seu coração, esta palavra: não tenham medo. Queridos jovens, quero olhar cada um de vós nos olhos e dizer-vos: não tenham medo. Não tenham medo. E digo-vos algo muito bonito. Já não sou eu, é o próprio Jesus que vos está a olhar neste momento. Ele conhece-nos. Conhece o coração de cada um de vós. Conhece as alegrias, as tristezas, os êxitos e o fracasso. Conhece o vosso coração. E ele hoje diz-vos aqui, em Lisboa, nesta Jornada Mundial da Juventude: não tenham medo. Não tenham medo. Animem-se. Não tenham medo.”