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Catarina Martins e Mariana Mortágua estiveram em protesto organizado por mães de Viseu contra o fecho noturno das urgências pediátricas
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Catarina Martins e Mariana Mortágua estiveram em protesto organizado por mães de Viseu contra o fecho noturno das urgências pediátricas

LUSA

Catarina Martins e Mariana Mortágua estiveram em protesto organizado por mães de Viseu contra o fecho noturno das urgências pediátricas

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No Dia da Criança, as urgências pediátricas em Viseu passam a fechar à noite. Catarina Martins em protesto de mães "com o coração nas mãos"

Em Viseu, um grupo de mães protestou contra o fecho noturno das urgências pediátricas que começa no Dia da Criança. Catarina Martins juntou-se — e garantiu que pode ajudar a partir de Estrasburgo.

A t-shirt revela a razão pela qual Filipa Bexiga está, por volta das 10h00 de um sábado, em frente à Câmara Municipal de Viseu a organizar uma manifestação: “Mãe das Marias.” As Marias são Maria Luís e Maria Miguel, uma com três anos, outra com seis, ambas com idade para necessitar, com frequência, de cuidados pediátricos.

Filipa é uma das mães que, nas últimas semanas, se mobilizaram num movimento popular nascido num grupo de WhatsApp para contestar o encerramento noturno das urgências pediátricas do hospital de Viseu. Uma medida que, por trágica ironia, entrou em vigor justamente este sábado, dia 1 de junho, o Dia da Criança.

Desde março que a urgência pediátrica do principal hospital do distrito de Viseu estava já condicionada entre quinta-feira e domingo, das 20h às 9h. Em maio, porém, a administração da Unidade Local de Saúde Viseu Dão Lafões informou que este encerramento noturno passaria a vigorar durante todos os dias da semana.

“Surgiu a informação aos cidadãos de que a urgência pediátrica, para além dos fins de semana, ia fechar durante a semana no período noturno, e que as nossas crianças teriam de ser reencaminhadas ou para Coimbra, ou para a Guarda, ou para Aveiro, consoante a gravidade da situação”, contava Filipa Bexiga ao Observador na manhã deste sábado, nos primeiros minutos de um protesto onde era esperada a presença de Catarina Martins, a cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias.

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"Estas pessoas estão a levantar-se por aquilo que é o mais importante: a defesa dos direitos das crianças."
Catarina Martins, candidata do Bloco de Esquerda às europeias

Filipa garante que o protesto é “apartidário” e que todos os partidos políticos foram convidados a juntarem-se. Só o Bloco de Esquerda se fez representar — e ao mais alto nível. Catarina Martins e Mariana Mortágua, que por estes dias andam em campanha eleitoral no norte do país, chegaram à Praça da República por volta das 10h30 para se juntarem às mais de 100 pessoas que exigiam a manutenção das urgências pediátricas abertas durante a noite.

“Nós achamos que, sendo um hospital central, que recebemos pessoas do distrito inteiro, não faz sentido não termos um serviço de urgência com atendimento a partir da noite”, conta ainda Filipa Bexiga, lamentando que as famílias tenham de fazer muitos quilómetros caso haja emergências noturnas, em alguns casos vendo-se forçadas a percorrer o perigoso IP3 até Coimbra. “As crianças não escolhem quando adoecem, não é?”

Por isso, um grupo de mães de Viseu começou a mobilizar-se. “Um grupo de mães, amigas, que em conversa achámos que isto não podia ser. Uma delas já tinha tido uma situação de ser encaminhada, durante o fim de semana à noite, para o Serviço de Urgências Básico de São Pedro do Sul. Então, decidimos fazer, primeiro, um grupo de WhatsApp, a partir do grupo de WhatsApp surgiu uma petição, a petição em menos de 24 horas atingiu o necessário para ir ao Parlamento. Passámos a 7500 assinaturas em 12 horas, talvez”, explica.

O passo seguinte foi convocar a manifestação: “Escolhemos hoje, porque é o Dia da Criança. É um dia que se calhar nos traz menos público, porque há muitas atividades na cidade, mas ao mesmo tempo sensibiliza um bocadinho mais.”

Catarina Martins juntou-se ao protesto em Viseu

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O protesto só terminaria já em frente ao hospital de Viseu, após uma marcha desde o centro da cidade, a que Catarina Martins e Mariana Mortágua também se juntaram. Antes, durante cerca de duas horas, o grupo de manifestantes esteve concentrado em frente à Câmara Municipal a ouvir testemunhos e palavras de revolta de pais e mães que já se viram em situações de desespero por falta de cuidados médicos em Viseu. “Ficamos abandonados”, ouviu-se várias vezes.

“Não se percebe como é que, de um momento para o outro, ficamos numa situação assustadora e temos de ir para tão longe”, lamentou ao microfone Carla Nóbrega, mãe de Margarida, com dois anos. “O Governo que ponha a mão na consciência! Se forem os filhos deles, se calhar têm dinheiro para ir ao privado”, atirou outra mãe que se abeirou do microfone.

Sónia Sousa, mãe de uma menina de 9 anos, lembrou aos manifestantes que a sua filha teve um aneurisma, do qual ainda se encontra a recuperar, e não escondeu a preocupação com a possibilidade de “ter de ir num estado de urgência para Coimbra”, que fica a mais de uma hora de distância de Viseu pelo IP3, uma das estradas mais perigosas do país. “Como mãe, como viseense, não fico descansada sabendo que as urgências estarão encerradas”, afirmou. “Podem construir aeroportos e pontes, mas não o façam antes de cuidar da nossa saúde.”

“O coração nas mãos”

A cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias, Catarina Martins, juntou-se ao protesto em Viseu acompanhada da coordenadora do partido, Mariana Mortágua. “Convidaram-nos para estar presentes, convidaram todos os partidos, e nós achámos que era mesmo onde devíamos estar”, disse a candidata bloquista aos jornalistas, para logo depois assinalar a ironia do dia: “Estamos no Dia da Criança e é também o dia em que as urgências pediátricas aqui em Viseu vão passar a estar encerradas à noite.”

Apesar do caráter apartidário do protesto (que motivou reclamações por parte de alguns manifestantes, que pediram aos jornalistas que se focassem nos direitos das crianças e não numa candidata política), Catarina Martins juntou-se nesta campanha eleitoral a norte às mães e pais em protesto para recordar que “as pessoas estão com o coração nas mãos” e para defender que também a partir do Parlamento Europeu é possível contribuir para a defesa da saúde.

“Querem ter a certeza de que, num momento de necessidade, as suas crianças têm acesso à urgência. Não pode haver remendos. É preciso mesmo mais capacidade para o SNS. Deixar a política de remendos e investir no acesso à saúde é fundamental. E essa, devo dizer, é uma causa nacional e é também uma causa europeia”, disse a candidata, que acrescentou ainda que é inaceitável forçar as pessoas da região de Viseu a “irem durante a noite, quando há uma urgência, para a Guarda, para Aveiro ou para Coimbra, escolher entre a autoestrada e o IP3”.

“Estas pessoas estão a levantar-se por aquilo que é o mais importante: a defesa dos direitos das crianças”, disse ainda Catarina Martins, que aproveitou a ocasião para deixar duras críticas à política de “remendos” do Governo para a saúde. “Tudo o que o Governo tem oferecido até agora é uma manta curta demais. Tapa de um lado, destapa de outros. Isto não é solução”, defendeu.

"O Governo que ponha a mão na consciência! Se forem os filhos deles, se calhar têm dinheiro para ir ao privado."
Testemunho de uma mãe durante o protesto

“É preciso mesmo mais capacidade para o SNS. Deixar a política de remendos e investir no acesso à saúde é fundamental. E essa, devo dizer, é uma causa nacional e é também uma causa europeia”, acrescentou ainda. “Nós temos problemas de acesso à saúde no SNS um pouco por todo o país. Sabemos disso. Mas é verdade que em locais como Viseu as alternativas ficam sempre a muitos quilómetros. Oitenta quilómetros para uma urgência pediátrica à noite não é possível. As soluções têm de aparecer e têm de ser soluções que têm sentido para cada território.”

Para Catarina Martins, a solução passa por “aumentar a capacidade do SNS”, contratando “mais médicos, mais enfermeiros, mais técnicos da saúde” através de opções que valorizem as carreiras da saúde. Para isso, defendeu Catarina Martins, não se pode recorrer a estratégias que já falharam no passado: “Estar a abrir concursos e a prometer que, com os concursos, se vai resolver o problema, quando os concursos são exatamente iguais aos concursos anteriores que ficaram vazios, é fazer anúncios que enganam as pessoas.”

“Um Governo novo que promete o mesmo que o anterior não está a resolver o problema”, acrescentou ainda, criticando o plano de emergência anunciado esta semana pelo executivo de Montenegro. “Diz que vai fazer tudo o que já foi feito e não resolveu. Diz que, quando o SNS não conseguir dar mais resposta, vão aparecer os privados que vão resolver o problema. Está à vista que não é assim”, destacou.

Questionada sobre como pode contribuir a partir do Parlamento Europeu para os desafios dos serviços de saúde, Catarina Martins voltou a um tema que tem sido bandeira do Bloco de Esquerda nesta campanha: a crítica às novas regras orçamentais da UE, que colocam nas mãos da Comissão Europeia capacidade de decisão sobre a despesa pública dos estados-membros, e o ataque à direita e aos liberais.

“Os partidos europeus do PS, do PSD, do CDS e da IL aprovaram uma série de regras que nos impedem de melhorar carreiras no SNS, ou que tornam mais difícil aos governos nacionais fazerem caminhos para melhores carreiras e mais investimento na saúde”, disse Catarina Martins. “Portanto, também no Parlamento Europeu é preciso lutar por regras que digam que Portugal precisa de investir mais na saúde, precisa de investir mais nos seus profissionais de saúde.”

Mortágua contra o “abandono” do interior

A cabeça-de-lista do Bloco chegou à manifestação em Viseu acompanhada por Mariana Mortágua, coordenadora do partido, que também aproveitou a ocasião para deixar críticas ao plano de emergência apresentado pelo Governo, que “não faz mais do que agravar os problemas anteriores”.

Mortágua disse ainda que o caso de Viseu ilustra o problema do plano de Montenegro. “Quando o primeiro-ministro diz que quer esgotar o SNS para depois entregar os serviços a privados, é isto que está a dizer”, destacou. “Que a urgência pediátrica em Viseu, uma capital de distrito, fecha, é mesmo para ficar fechada, e a única solução não é reforçar a urgência pediátrica, não é ter mais condições para ter médicos, para ter hospitais distribuídos pelo território, mas que a resposta é mais cheques-cirurgias, mais cheques para consultas privadas.”

A coordenadora do Bloco de Esquerda considera que “a ida para o privado não garante um melhor serviço”, já que “as pessoas querem ter um médico de família na sua zona, querem ter urgências abertas com o melhor serviço possível na sua cidade, para não ter de ir para outra cidade”, ao mesmo tempo que “sai muito mais caro do que investir em médicos, que são também formas de manter uma atividade no interior”.

Para Mariana Mortágua, o caso é também mais um exemplo do “abandono” do interior. “Atrair médicos profissionais, enfermeiros para o interior, é uma forma de dar vida às cidades, às vilas, a todo o território do interior, que tem sido tão esquecido”, defendeu. “O facto de não haver urgências pediátricas abertas à noite numa capital de distrito — já agora, uma capital de distrito que também não tem sequer acesso à ferrovia — mostra muito o abandono a que esta região tem sido condenada.”

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, também esteve presente na manifestação

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