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Aos 47 anos, Nuno Sampaio segura o leme da Casa da Arquitetura, em Matosinhos, e enaltece o reconhecimento do Estado no setor
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Aos 47 anos, Nuno Sampaio segura o leme da Casa da Arquitetura, em Matosinhos, e enaltece o reconhecimento do Estado no setor

Rui Oliveira/Observador

Aos 47 anos, Nuno Sampaio segura o leme da Casa da Arquitetura, em Matosinhos, e enaltece o reconhecimento do Estado no setor

Rui Oliveira/Observador

Nuno Sampaio, diretor executivo da Casa da Arquitetura: “A precariedade na cultura tem de ser definitivamente erradicada”

Em entrevista, Nuno Sampaio fala do reconhecimento financeiro do Estado na arquitetura, da projeção internacional, do ciúme entre as instituições e da precariedade na cultura que “dá maus resultados”.

Chega uns minutos atrasado e pede um café cheio, como quem não gosta de estar parado ou adormecido. Nuno Sampaio fala sem guião, apesar das múltiplas folhas que tem em cima da secretária. Formou-se em arquitetura no Porto, mudou-se para Barcelona, onde completou os estudos e começou a dar aulas. Quando regressou, abriu em 2000 um ateliê próprio, em Matosinhos. Passa depois pela direção da Ordem dos Arquitetos, até que em junho de 2014 recebeu um novo desafio: ser diretor da Casa da Arquitetura.

Começou por querer afirmar o projeto a nível nacional, captando vários públicos através de exposições e albergando acervos de arquitetos premiados como Eduardo Souto de Moura, em maio de 2019, ou o brasileiro Paulo Mendes da Rocha, em setembro de 2020. Davam-se assim os passos internacionais de uma Casa que se compromete a conservar, divulgar e disponibilizar todas as obras, gerando conhecimento a partir delas e contribuindo para que se perpetuem no tempo e no espaço.

Nuno Sampaio promete estar atento às novas gerações, lamenta que o país nem sempre tenha dado valor aos dois prémios Pritzker que tem — Siza Vieira, em 1992, e Eduardo Souto de Moura, em 2011 – e defende que a precariedade no setor cultural “dá maus resultados” e, por isso mesmo, deve ser erradicada. Fala do ciúme que por vezes reina nas relações entre as instituições, garante que durante muitos anos o Estado esteve alheio à arquitetura, mas este mês foi celebrado um protocolo onde os ministérios da Cultura, Economia, Ambiente e Ensino Superior vão atribuir à Casa da Arquitetura um apoio anual de 750 mil euros até 2023.

A pandemia restringiu o público e abalou o orçamento, mas obrigou a uma aposta digital e a novas soluções para o futuro. Na bagagem, Nuno Sampaio tem a implementação de um edifício virtual, lojas de mobiliário, um restaurante, uma residência para investigação e ainda uma exposição sobre a produção arquitetónica nos 50 anos de democracia em Portugal.

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Pormenor da Casa da Arquitetura, em Matosinhos, 14 de novembro 2017. Criada em 2007, a Casa da Arquitetura, é uma entidade cultural sem fins lucrativos e que cria e programa conteúdos para a divulgação da arquitetura junto da sociedade. MANUEL ARAÚJO/LUSA

Desde 2017 que a Casa da Arquitetura ocupa o renovado edifício da Real Vinícola, em Matosinhos

MANUEL ARAÚJO/LUSA

É diretor executivo da Casa da Arquitetura há 6 anos, que balanço faz?
Faço um balanço muito positivo, acho que estamos numa terceira fase. O primeiro momento foi a solidificação da ideia da Casa enquanto projeto nacional, enquanto centro português da arquitetura e não como a Casa da Arquitetura de Matosinhos. Era um projeto que não estava em Lisboa, nem tão pouco no Porto, e essa centralidade torna tudo mais fácil de acontecer. O primeiro objetivo era ter um reconhecimento nacional, dos meus pares, da sociedade e do próprio Estado. A arquitetura deve ser das áreas onde Portugal melhor se distingue internacionalmente, em nenhuma outra arte temos dois prémios Nobel.

O país tem sabido dar valor a isso?
Penso que os arquitetos têm conseguido dar esse valor, o país nem sempre o dá. No início da Casa, disse que o país e o Estado ainda não tinham celebrado os dois prémios Pritzker, isso aconteceu quando os dois em simultâneo fizeram uma exposição, o Siza em Serralves e o Souto de Moura aqui. Muitas vezes não há essa noção dentro de portas, mas a arquitetura portuguesa tem um reconhecimento extremo lá fora e já não estamos a falar apenas destes dois grandes nomes, mas de outras gerações de arquitetos que têm vencido vários concursos. Estamos atentos a eles, compreendemos que é preciso ajudar a divulgar e a tornar visível o trabalho dos mais novos a nível internacional

Falou-me em três momentos, faltam dois…
O segundo momento da Casa foi o reconhecimento internacional. Sendo ela um misto de um centro de arquivo e uma zona expositiva, tinha como missão criar uma rede internacional com outros parceiros. Era necessário que o mundo soubesse que existe esta instituição nacional, que ela não era um lugar apenas para a arquitetura portuguesa, mas um centro de arquitetura que poderia trazer o que de melhor se faz lá fora e levar o melhor que Portugal tem. O terceiro momento é este pelo qual estamos a passar, por um lado, o reconhecimento do Estado, e, por outro, a consolidação de um projeto que ao ser mais estável pode tornar-se num centro incontornável da arquitetura, deixando de ser apenas um local de arquivo e de exposições.

Um dos propósitos da Casa é fazer chegar a arquitetura ao grande público. Tem conseguido fazê-lo?
Sim, sem dúvida. Esse foi o patamar atingindo logo no primeiro momento. Lembro-me perfeitamente na inauguração da primeira exposição de ver pessoas que entravam na Casa pessoas simples, que não conheciam a arquitetura e olhavam com um certo fascínio para as maquetes e fotografias. Levar a arquitetura a novos públicos foi logo um objetivo tão central no início que a comunicação que fizemos fez entender isso.

É um dado adquirido ou ainda há um caminho a fazer?
Ainda há um longo caminho para se fazer, a Casa da Arquitetura não se quer fechar, antes pelo contrário, quer manter-se aberta a toda a sociedade. Ao longo dos anos todas as exposições são feitas para que sejam entendidas por toda a comunidade e neste terceiro momento iremos reforçar essa abertura a novos públicos, seja com o nosso serviço educativo até ao trabalho junto dos mais velhos, com as universidades seniores. O reconhecimento que já temos em Matosinhos, Porto e Vila Nova de Gaia deve existir a nível nacional, nesta terceira fase temos de conseguir receber escolas ou universidades de Lisboa, Covilhã ou Castelo Branco.

Relativamente à projeção internacional, o que foi feito e o que ainda falta fazer?
A nossa afirmação internacional foi muito conseguida graças ao nosso acervo de arquitetos como o Eduardo Souto de Moura, que sendo português tem uma dimensão internacional forte, depois a coleção de arquitetura brasileira, com a vinda do acervo do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, foram momentos marcantes para assumir uma notoriedade pública.

Porque começou pelo Brasil? É o mercado mais fácil?
Não, começámos pelo Brasil porque tinha massa crítica. Há uma similitude cultural e muito boa arquitetura, daí essa aposta. No entanto, a maioria dos acervos da Casa são portugueses.

Além do Brasil, que outros territórios pretende explorar?
A expressão da Casa é naturalmente europeia, portanto há uma relação direta com arquitetos e exposições europeias. Até agora estivemos muito ligados à América Latina, mas no futuro vamos mudar de rumo e queremos explorar o Oriente. Até ao final do ano, vamos preparar uma estratégia para trazer acervos e montar exposições sobre a produção arquitetónica nessa região.

"A precariedade no setor da cultura tem de ser definitivamente erradicada, o discurso de em vez de serem funcionários podem ser prestadores de serviços deu maus resultados noutras instituições."

Como é feito esse diálogo com os arquitetos que deixam aqui parte do seu trabalho? O que pesa mais? A relação pessoal, a ligação com a cidade ou uma visão estratégica?
Há algumas coisas que fazem com que as pessoas depositem os seus trabalhos aqui, e muitos deles depositam ainda antes mesmo de conhecerem as nossas instalações. O princípio da conservação é muito importante. Garantimos a perpetuação do documento, conservando-o e gastando bastante dinheiro em tê-lo em zonas climatizadas, garantindo as melhores condições físicas. Mas mais importante do que tudo isso é o compromisso que a Casa da Arquitetura tem em criar novo conhecimento a partir dos acervos, divulgando-os, disponibilizando-os para estudos e investigações, produzindo informação sobre a obra, fazendo exposições ou publicações. Não quer dizer que naturalmente não exista uma confiança pessoal. No caso do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, por exemplo, somos amigos, ele já me conhecia e já conhecia o nosso trabalho.

Como curador, que critérios fazem parte da sua seleção?
Recorro ao apoio de curadores específicos, conhecedores de algumas matérias, para poder avaliar isso e há várias intenções. O arquivo individual tem de ter uma grande qualidade, com trabalhos significativos e exemplificativos de uma boa produção. O arquiteto, ou a sua família, pode resolver depositar o trabalho na totalidade ou então somos nós que selecionamos os trabalhos, fazendo coleções de acervo sobre um determinado território num determinado tempo. Isto acontece na Casa por minha iniciativa e não existe em mais nenhum lugar do mundo. É impossível arquivarmos tudo, as pessoas não têm noção disto, mas entregar o acervo a uma instituição é uma enorme responsabilidade e um custo financeiro muito alto, é um investimento grande, não só financeiro, mas também a nível de equipa.

Que arquitetos gostaria de ver representados na Casa?
Muitos. Não posso nomear, mas ainda há muitos portugueses que gostava de ver aqui representados, até porque existem gerações mais novas que estão a produzir muito bem. Vamos começar agora a constituição de uma coleção sobre os 50 anos da arquitetura portuguesa no período da democracia. Estamos a selecionar projetos e a trabalhá-los para que em 2024, nos 50 anos do 25 de Abril, possamos fazer uma grande exposição que será também uma avaliação da produção arquitetónica no período democrático.

De que forma é que a pandemia veio alterar o funcionamento de uma Casa como esta?
Alterou muito, principalmente porque restringiu a vinda do público, essa foi a principal mudança. Depois todas as questões funcionais, como a distância ou os espaços do edifício que não eram inicialmente espaços de trabalho e passaram a ser. Apostamos muito no digital, algo que já estávamos a fazer, o trabalho desenvolvido nas redes sociais permitiu-nos um crescimento enorme logo durante o primeiro confinamento. Tínhamos várias entrevistas gravadas em arquivo, rapidamente criamos uma plataforma de produção de vídeo e claramente é uma aposta que veio para ficar.

Numa época normal, qual o número médio de visitante? Há alguma meta nesse sentido?
No ano de 2019, último ano completo antes da pandemia, a Casa da Arquitetura teve mais de 90.000 participações. Estávamos em crescendo antes da pandemia e até depois. Por exemplo, mesmo janeiro e fevereiro de 2020 foram mais participados do que os mesmos meses de 2019. Agosto de 2020, após o primeiro confinamento, a Casa teve mais visitas do que no mesmo período de 2019. A redução do número de pessoas significou uma quebra na receita própria, estamos a falar de um terço do valor do orçamento. O nosso orçamento anual é de três milhões e meio e em 2020 perdemos um milhão de euros, o que é muito significativo.

Que marcas é que isto deixa?
Acho que nunca mais ninguém vai ver a realidade da mesma maneira. Percebemos que a partir deste momento temos de trabalhar muito o digital, iremos ter uma verba própria para criarmos visitas virtuais que vão ser muito mais do que passear por visitas físicas, podem incluir no futuro exposições exclusivamente virtuais.

Em 2014, Nuno Sampaio tornou-se diretor da Casa da Arquitetura e quer afirmá-la como Centro Português da Arquitetura

Rui Oliveira/Observador

Com a pandemia, dispensaram alguém na equipa?
Enquanto gestor, há uma coisa importante para mim que é não deixar ninguém desprotegido. A Casa cresceu, a sua resposta cresceu, somos 34 pessoas a trabalhar e a equipa está praticamente fechada. A precariedade no setor da cultura tem de ser definitivamente erradicada, o discurso de em vez de serem funcionários podem ser prestadores de serviços deu maus resultados noutras instituições.

Como vê esses maus resultados noutras instituições?
Esta é uma prática muito neoliberal e para as próprias instituições se protegerem fizeram a gestão desta forma. Logo no início, tivemos a consciência de gerir muito bem as pessoas, até porque elas são o maior ativo que a Casa da Arquitetura tem, por isso temos que as salvaguardar e proteger nos momentos mais difíceis.

Não respondeu à minha pergunta…
Tem de haver mais responsabilidade e mais exigência do próprio Estado em relação às diversas instituições, se o Estado coloca dinheiro numa instituição tem de solicitar e exigir um comportamento social correto. O que muitas vezes vemos é que é o próprio Estado que leva à precariedade nesta área. Quando falamos de contratos públicos, quer na área da cultura como em projetos de arquitetura, contrata-se tudo ao preço mais baixo, quase como sendo o único critério, olha-se para o dinheiro como a única forma de impor razão, quando não pode ser assim. Naturalmente temos de ter uma racionalidade financeira, mas não dispensamos ninguém nesta altura.

Não há trabalhadores precários na Casa da Arquitetura?
Não.

Nunca houve?
Nunca houve. Quando temos um evento com centenas de pessoas, existe um reforço na equipa, mas não são falsos recibos verdes. Acontece pontualmente.

Considera que casos conhecidos como a Fundação de Serralves ou a Casa da Música dignificam pouco a imagem cultural de uma cidade como o Porto?
Não queria falar especificamente dos meus colegas, que fazem um esforço para manter da melhor forma as suas instituições. Naturalmente que com um apoio tão significativo que recebem do Estado têm que se adaptar para dar uma resposta diferente. É importante ouvirmos as pessoas e criar condições para que esse diálogo exista. Vou-lhe dar um exemplo concreto. Contratámos uma pessoa para coordenar o serviço educativo, ela disse-me que trabalhou noutros sítios e nunca lhe tinha acontecido ter a sua equipa toda a contrato e haver tanta comunicação entre os vários departamentos. Por vezes, as melhores ideias para um departamento vêm de uma pessoa de outra equipa que vê as coisas com outros olhos. A única forma de conseguirmos vencer os desafios num país onde há pouco dinheiro e a cultura é uma área sempre deficitária é quando trabalhamos em equipa. Isto aplica-se dentro das próprias instituições e entre as instituições.

Numa área como a arquitetura, ainda mais?
No caso da arquitetura é muito importante trabalharmos num círculo composto pelos criadores da cidade, aqueles que a desenham, os gestores públicos, que gerem o território, e, noutro vértice, a população em geral. Este triângulo tem no meio as universidades, onde se faz a investigação, as empresas, onde se constrói, e a comunicação social.

"Há pela primeira vez um reconhecimento da arquitetura como ativo estratégico nacional, pela primeira vez o Estado apoia uma instituição de arquitetura, por mais de um ano e com um valor expressivo, na divulgação e manutenção dos seus acervos e das suas próprias atividades."

Como avalia a ligação entre as várias instituições?
Avalio bem, não apenas a nível nacional, mas também internacional. Na arquitetura, há necessidade de as instituições se articularem melhor, acho que podemos sempre fazer melhor.

O que tem corrido mal ou menos bem?
Dou-lhe um exemplo. Cada instituição não pode criar o seu arquivo no fundo do seu quintal, não faz sentido num país onde temos tantas dificuldades. Ou as pessoas cooperam, partilham serviços, ajudam-se e não têm uma lógica competitiva, mas de complementaridade para que internacionalmente tenhamos expressão, ou então não resulta. Não estamos a concorrer entre nós, entre elementos arquitetura ou entre a arquitetura e outras áreas. Repare que a arquitetura era a única área cultural onde o Estado não tinha uma presença financeira determinante, o que mostra que a arquitetura estava um pouco esquecida.

Existe concorrência, é isso?
Não lhe chamaria concorrência. Por vezes existe ciúme, confesso, mas isso também não é mau. É sinal de que gostamos do que fazemos.

Como se gere isso?
Temos de saber compreender as pessoas, somos todos humanos. As instituições, ao contrário do que a maioria pensa, são profundamente marcadas pelas pessoas que as compõem.

Já sentiu esse ciúme de que fala?
Sentimos logo à nascença quando surgimos, em 2014, tivemos muita hostilidade em relação ao projeto da Casa a nível nacional. Consigo perceber isso a esta distância porque a escala de Portugal é uma escala minifundiária, reporta-nos para o território, onde a erva do vizinho é sempre mais verde do que a nossa. Pensar assim é pensar pequeno, é olhar apenas para o seu umbigo. Num país onde não há dinheiro, ou existe capacidade de cooperar e de trabalharmos em equipa, ou não temos possibilidade de ter uma expressão internacional relevante.

Em maio de 2019, Eduardo Souto de Moura depositou em Matosinhos o acervo de 40 anos de trabalho

ESTELA SILVA/LUSA

No site da Casa da Arquitetura lê-se uma citação sua onde afirma que o Estado português não pode estar alheio à dimensão cultural, social e económica da arquitetura. O Estado tem estado alheio a tudo isto?
Esteve durante muitos anos, sem dúvida nenhuma.

Este reconhecimento é tardio ou ainda vem a tempo?
Vem a tempo, vem sempre a tempo. Este é o momento em que se corrige uma assimetria que existia em Portugal. A Casa da Arquitetura fecha um triângulo cultural na Área Metropolitana do Porto, com Serralves nas artes plásticas e a Casa da Música com a música, onde o parente mais pobre é a Casa da Arquitetura.

É também a mais recente…
Certíssimo. O que estou a dizer com isto é que há um caminho a percorrer e estamos a fazê-lo.

É aquilo a que chama a terceira fase?
Sim, depois da consolidação do projeto da Casa na sua dimensão nacional e internacional, chega a consolidação económica com a entrada do Estado. Há pela primeira vez um reconhecimento da arquitetura como ativo estratégico nacional, pela primeira vez o Estado apoia uma instituição de arquitetura, por mais de um ano e com um valor expressivo, na divulgação e manutenção dos seus acervos e das suas próprias atividades. Este reconhecimento vai permitir-nos criar o conceito de mecenas, trazendo os privados em força. Tínhamos um défice de reconhecimento que a mim nunca me preocupou. A Casa da Arquitetura precisou de fazer o seu trabalho, de ter gente que confiasse no seu projeto, para depois conseguir isto. Normalmente é assim que funciona, não há reconhecimento se não houver um percurso feito. A entrada do Estado vai dar estabilidade e fazer com que outros, nomeadamente os privados, olhem para a Casa de outra forma.

Nuno Sampaio garante estar atento às novas gerações e quer projetar a Casa da Arquitetura no Oriente e no universo digital

Rui Oliveira/Observador

Fale-me deste protocolo que vigora até 2023. Ele envolve vários ministérios e dá um apoio anual à Casa de 750 mil euros. Como será aplicado o dinheiro?
Esta verba vai essencialmente aplicar-se ao apoio nos arquivos e nas atividades gerais, como conferências, seminário e exposições. No caso do ministério do Ambiente, a arquitetura é encarada como tendo um papel fundamental na construção de um ambiente urbano sólido, equilibrado e sustentável. Algumas atividades programadas irão girar em torno destas temática para que exista uma sensibilização profissional e uma discussão de algumas soluções. Na área do turismo, iremos fazer circuitos turísticos, que possam ser entregues a agências de viagens e ao Turismo de Portugal, de forma a promover o país através da arquitetura. O ensino superior é uma área que não tem uma componente financeira direta, mas que é importante nesta terceira fase afirmação da Casa como centro de estudos e de documentação. O centro já está montado, trabalha diretamente com o nosso arquivo, e este protocolo vai-nos possibilitar dar 10 bolsas de estudo e dois contratos de investigação para produção de novo conhecimento. A Câmara Municipal de Matosinhos está neste momento a recuperar a primeira sede da Casa da Arquitetura, um imóvel da família do arquiteto Siza Vieira, na rua Roberto Ivens, para ser um centro de investigação capaz de receber alunos, investigadores ou curadores internacionais. Será uma espécie de residência artística para investigadores que estará a funcionar a partir de setembro.

Há também a intenção de apostar num universo mais digital?
Sim, um dos projetos que temos é o edifício digital que irá incluir três salas virtuais. A primeira irá ser um repositório de informação de tudo o que se produziu na Casa, conferencias, debates, exposições, materiais de divulgação e visitas. Depois teremos o acervo digital, que estará em permanente construção, com todas as peças detalhadas, disponibilizadas em várias línguas. Este será o grande atrativo para que as pessoas depositem o seu trabalho aqui, pois a partir de qualquer parte do mundo a sua obra será acessível. Finalmente, teremos uma loja virtual. O que temos hoje é uma loja dividida entre uma livraria, um espaço de mobiliário e outro de design, com esta nova opção, um estrangeiro que queira levar um candeeiro do Siza para casa, poderá fazê-lo. A segunda fase deste projeto irá incluir um catálogo com uma oferta maior de produtos, desta forma ajudaremos os produtores nacionais a fazer coisas diferentes. As empresas vão poder ter aqui não apenas um ponto de venda, mas um ponto de distribuição internacional. Podemos chamar-lhe uma mini Amazon de arquitetura. O edifício digital estará pronto entre outubro e novembro deste ano.

Relativamente ao espaço físico onde nos encontramos, a Real Vinícola, haverá alguma intervenção?
Sim, consideramos que é necessário atrair outro tipo de atividades a este quarteirão. Todos os espaços de loja já estão cedidos a marcas portuguesas de mobiliário e alimentação, com a autarquia de Matosinhos estamos a trabalhar para que o pavilhão central, que está desocupado, possa ser um restaurante, funcionando como âncora de toda a atividade do quarteirão. A grande maioria das lojas estarão a funcionar até ao final do ano, o restaurante é que necessita de obras mais profundas.

Não há o risco de se tornar um quarteirão elitista?
Não, esta é uma casa aberta à sociedade e irá continuar a sê-lo. O restaurante terá de ser acessível a todos, deverá ter um conceito que funcione nos vários períodos do dia e uma assinatura portuguesa.

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