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O grupo de lesados da frigideira Master Copper: "Talvez possa usar como prato para um vaso"

A DECO recebeu centenas de queixas sobre a Master Copper. Os produtores mentem sobre a composição e falham as regras da publicidade. Mas a TV ainda passa anúncios e os supermercados vendem-na.

A avó Maria queria surpreender a neta, uma médica de 26 anos natural do Porto, porque ela gosta muito de cozinhar e falava a toda a hora da frigideira de cobre que prometia cozinhados sem gordura e que se tornara uma das estrelas das madrugadas de televendas na televisão portuguesa. “Eu adoro cozinhar, vi imensas vezes a publicidade e comentei muitas vezes que parecia incrível, então a minha avó decidiu oferecer-ma“, recorda ela ao Observador. Quando recebeu o presente, Maria testou logo a nova aquisição com as receitas que o anúncio sugeria.

Mas aquela que era para ser uma surpresa agradável terminou em desilusão, acusa Maria Gaia: “Experimentei com várias coisas, desde omeletes a ovos estrelados, bifes e molhos. Não é uma frigideira péssima, mas não é das melhores. Os ovos estrelados e as omeletes colam bastante e os bifes deixam algum resíduo. Ou seja, nada a ver com o anunciado”, descreve a médica. Apesar do descontentamento, Maria Gaia não pretende fazer queixa nem pedir o dinheiro de volta: “Tenho duas frigideira ótimas e uso esta como terceira opção. Nem disse à minha avó [que nem gostava da frigideira] para ela não ficar triste“, conta.

Já Luís Fernandes, 21 anos, natural da Amadora, nunca acreditou realmente nas aptidões da Master Copper, mas foi a mãe, Domingas, que o convenceu a fazer uma chamada para aproveitar uma promoção e comprar duas dessas frigideiras pelo preço de uma: “O que atraiu a minha mãe foi a questão das promoções. Ficou interessada principalmente porque se podia fritar comida sem usar óleo. Liguei eu e foi muito simples: dei a morada e pouco mais”, diz Luís Fernandes ao Observador. Passado pouco tempo, já tinha recebido em casa duas frigideiras alegadamente feitas do tal cobre fantástico numa “caixa toda XPTO”: uma delas ficaria em casa da família Fernandes e outra seria dada como presente ao irmão de Luís, que mora em França.

A frigideira Master Copper continua “a um canto” substituída por outra mais antiga mas mais eficaz. É que o investimento de Maria do Carmo feito para presentear a sogra só resultou em omeletes queimadas e coladas à frigideira.

Apesar da atração inicial, passaram-se meses até Domingas tirar a frigideira do armário para a experimentar com umas receitas de fritos. Mas correu mal: a comida colou no fundo. A Master Copper mágica e saudável parecia só funcionar se se adicionasse alguma gordura para untar a frigideira. Em França a experiência foi a mesma. “O meu irmão ligou a dizer a comida tinha colado toda”, recorda Luís. Ainda assim, Domingas não quis devolver as frigideiras: preferiu ficar com elas, mas usá-las como se a Master Copper não prometesse ser anti-aderente. Era igual a outra qualquer.

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O correio da DECO  encheu-se de casos como estes. A frigideira Master Copper que a portuense Maria do Carmo Reis comprou por 38 euros à EHS.tv, uma empresa que vende produtos dos anúncios da televisão, continua guardada “a um canto”. Depressa foi substituída pela outra mais antiga, mas muito mais eficaz. É que o investimento de Maria do Carmo para dar à sogra como presente só resultou em omeletes queimadas e coladas à frigideira.

A mulher de 44 anos ainda tentou reaver o dinheiro que tinha dado pela frigideira que tantas vezes vira anunciada como quase mágica — 30 euros pelo produto e mais oito euros pelos portes de envio — mas nem essa reclamação achou que valia a pena. A EHS.tv até podia devolver os 30 euros, mas só se Maria do Carmo entregasse mais oito euros por esse envio. A portuense não quis gastar ainda mais dinheiro, prefere dar uso à imaginação e engendrar um novo destino para a Master Copper que era suposto ser de cobre e nem isso é. “Talvez a possa usar como prato para um vaso“, ironiza ela no portal de queixas da DECO.

A Master Copper falha na comprovação de praticamente todas as alegações publicitárias que anuncia, incluindo até aquela que está na origem do seu nome – a composição 100% cobre. A análise microscópica realizada em laboratório assegura que se trata, sobretudo, de alumínio.

Algo semelhante aconteceu a Cristina Tomás, 47 anos, da Gafanha da Nazaré. A família precisava de uma frigideira nova lá para casa, por isso Cristina, encantada pelos anúncios, pediu à filha Bruna para lhe comprar uma Master Copper pela Internet, na esperança de poder cozinhar sem preocupações de queimar a comida. Ao início, tudo pareceu correr bem: mãe e filha decidiram estrear-se com uma receita de massa de crepes. Não houve azares.

Os problemas só vieram à segunda utilização, quando Cristina quis grelhar peixe na frigideira alegadamente de cobre sem usar gordura: “O peixe pegou e de que maneira! Para lavar, tive de deixar de molho, usar água quente e esfregar muito”. Agora, Cristina Tomás só utiliza a Master Copper se a untar com alguma gordura. E mesmo assim diz que não a usa tanto quanto o anúncio publicitário promete. E seguramente não para fazer o que o suposto famoso chef dos anúncios faz.

Os milagres prometidos no anúncio de televisão

As experiências de Maria do Carmo Reis, Cristina Tomás e Luís Fernandes, entre muitos outros de um grupo de lesados da famosa frigideira, cheiraram a esturro à DECO Proteste. A instituição portuguesa de defesa dos direitos dos consumidores decidiu testar a Master Copper e compará-la com outras frigideiras do mercado. Em resposta ao Observador, a DECO diz que já recebeu centenas de queixas, sobretudo durante o mês de julho: “Confrontados com algumas queixas de consumidores, decidimos submeter a Master Copper a um exigente conjunto de testes laboratoriais, em que analisámos, uma por uma, todas as alegações publicitárias apresentadas pela marca. Para o efeito, selecionámos um laboratório com a acreditação e as tecnologias necessárias para a realização de um estudo objetivo e isento”.

Para dentro do laboratório a DECO também foi levada uma frigideira da marca Silampos e outra comprada no IKEA, ambas antiaderentes. E o resultado foi incontornável, diz a instituição. “Os resultados não podiam ser mais dececionantes: a Master Copper falha na comprovação de praticamente todas as alegações publicitárias que anuncia, incluindo aquela que está na origem do seu nome – a composição 100% cobre. A análise microscópica realizada em laboratório assegura que se trata, sobretudo, de alumínio (não tendo sido possível determinar a composição do revestimento antiaderente)”. Ou seja, nem sinal de cobre, garante a DECO. Nem garantia de antianderência.

Quem é Juan Sánchez?

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Juan Sánchez não é famoso pelas aptidões para a cozinha, mas porque no início da carreira andava de cidade em cidade por toda a Espanha a vender produtos de cozinha. A capacidade de persuasão levou-o para a área do telemarketing e agora até tem a própria empresa, JuanSánchez.tv: “Há muitos anos que me dedico a fazer demonstrações de produtos de casa, mas o primeiro convencido que eles funcionam sou eu, por isso é que funciona. É tudo em direto”, disse ele ao La Nueva España.

Vamos então rever o anúncio publicitário da Master Copper em Portugal. Juan Sánchez, apresentado como “o chef mais famoso da televisão”, começa por dizer que a Master Copper é “a última novidade em frigideiras antiaderentes, feita com partículas de cobre fundido e com revestimento de cerâmica”. O anúncio publicitário promete que líquidos como polpa de tomate deslizam no interior da frigideira e que se pode estrelar ovos sem recurso a qualquer gordura: “É como cozinhar no ar”, compara o dito chef.

https://www.youtube.com/watch?v=GzUgqffKY7w

Juan Sánchez ainda demonstra que a frigideira pode ser levada ao forno e que se pode bater ovos tanto com garfos como com batedeiras “porque não se risca, nem descasca nunca”. Tudo isto sem recurso a óleo porque “não fica nada pegado”: “A Master Copper serve para grelhar, assar, saltear, fritar, ir ao forno e até para flambear”: “É incrível. Faz uma riquíssima pizza no forno, tão simples como está a ver. Consegue caramelo sem que pegue, desliza como a seda”.

“Mas o mais incrível é o preço”, garante o locutor que acompanha Juan Sánchez ao longo da publicidade: a Master Copper, que alegadamente “reparte o calor homogeneamente e aquece em dez segundos”, está à venda “pelo preço que aparece no ecrã”, que são 29,95 euros mais o valor dos portes de envio. Tudo o que o público interessado tem de fazer para adquirir a frigideira com 28 centímetros de diâmetro, pega ergonómica, à prova de riscos e “sem PTFE nem PFOA” por este “preço especial” é ligar para o número que aparece nos ecrãs: “Nunca ficará com comida pegada nem com a superfície riscada. É resistência para toda a vida graças ao seu cobre puro a 100%”, promete a publicidade.

Só que, como apurou a DECO, essas promessas são falsas: “Os nossos testes rigorosos provam que a publicidade à frigideira Master Copper anuncia um produto em cobre que, afinal, é feito de alumínio. O desempenho no laboratório desmente todas as promessas. Os alimentos colam ao fundo e a frigideira é difícil de lavar. Estamos perante publicidade enganosa e já denunciámos o caso à Direção-Geral do Consumidor”.

PTFE e PFOA: o que são?

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Politetrafluoretileno (PTFE) é o nome científico da marca registada teflon, um produto usado no fabrico de frigideiras por ter uma toxicidade praticamente nula e por ser impermeável. O ácido perfluoro-octanoico (PFOA) é o que torna as frigideira antiaderentes. Ambos os produtos têm trazido preocupações porque são persistentes no meio ambiente e já foram encontrados em amostras de sangue humanos e de animais. Mas não há indicações científicas de que tenham sido causadores de algum problema de saúde aos seres vivos.

Pode exigir a restituição do dinheiro

De acordo com a lei publicada na página da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, “é enganosa a prática comercial que contenha informações falsas ou que, mesmo sendo factualmente corretas, por qualquer razão, nomeadamente a sua apresentação geral, induza ou seja suscetível de induzir em erro o consumidor em relação a um ou mais dos elementos a seguir enumerados e que, em ambos os casos, conduz ou é suscetível de conduzir o consumidor a tomar uma decisão de transação que este não teria tomado de outro modo”.

De acordo com a lei publicada na página da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, "é enganosa a prática comercial que contenha informações falsas ou que, mesmo sendo factualmente corretas, por qualquer razão, nomeadamente a sua apresentação geral, induza ou seja suscetível de induzir em erro o consumidor".

Entre esses elementos há pelo menos um que, segundo os testes da DECO, é violado pela Master Copper: segundo a organização, o comerciante da frigideira engana os potenciais clientes no que toca “às características principais do bem ou serviço, tais como a sua disponibilidade, as suas vantagens, os riscos que apresenta, a sua execução, a sua composição, os seus acessórios, a prestação de assistência pós-venda e o tratamento das reclamações, o modo e a data de fabrico ou de fornecimento, a entrega, a adequação ao fim a que se destina e as garantias de conformidade, as utilizações, a quantidade, as especificações, a origem geográfica ou comercial ou os resultados que podem ser esperados da sua utilização, ou os resultados e as características substanciais dos testes ou controlos efetuados ao bem ou serviço”.

Em resposta ao Observador, a DECO explica que o produto, tal como é anunciado, “não cumpre o essencial dos resultados nem possui todas as características publicitadas”: “O Código da Publicidade define que esta deve sempre respeitar o direito dos consumidores e obedecer ao princípio da veracidade, sob pena de poder configurar a prática de uma contraordenação e passível de ser sancionável com uma coima e uma sanção acessória de interdição de exercício da atividade publicitária”.

Tudo isso está previsto no Diploma das Práticas Comerciais Desleais, um documento que “estabelece o regime aplicável às práticas comerciais desleais das empresas nas relações com os consumidores, ocorridas antes, durante ou após uma transacção comercial relativa a um bem ou serviço”

Se as acusações da DECO se confirmarem junto da entidades competente — a Direção-Geral do Consumidor —, então os comerciantes da Master Copper ficam obrigados a pagar uma coima. Além disso, ficam proibidos de voltar a produzir publicidade. E isso torna-se ainda mais provável porque a publicidade dá uma informação que contraria a lei: o anúncio diz que a frigideira tem seis meses de garantia e que, durante esse prazo de tempo, o valor pode ser reclamado pelo cliente se ele estiver insatisfeito. A lei, no entanto, dá um prazo de dois anos para casos como este.

Se as acusações da DECO se confirmarem junto da entidades competente — a Direção-Geral do Consumir —, então os comerciantes da Master Copper ficam obrigados a pagar uma coima. Além disso, ficam proibidos de voltar a produzir publicidades. 

Quem comprou a Master Copper e não gostou da experiência está protegido por algumas leis que lhes permitem recuperar o dinheiro: “Os clientes lesados poderão apresentar a sua reclamação e exigir a restituição do preço, mediante a respetiva devolução do produto ao vendedor, seja ele um importador ou comerciante”, esclareceu a DECO. Se tiver comprado a frigideira à distância, através de telefone ou da Internet, tem o direito de cancelar o contrato num prazo de 14 dias consecutivos, contando a partir da data em que a compra foi feita.

Além disso, e independentemente de onde tenha comprado o produto, pode ainda cancelar o contrato num prazo de dois anos (e não de seis meses, como alega a publicidade) se explicar porque é que está insatisfeito com o produto. E sem pagar nada, ao contrário dos portes de envio que estão a ser exigidos aos consumidores pela empresa.

Apesar das provas apresentadas pela DECO, o anúncio da Master Copper continua a passar na televisão e a frigideira continua à venda pela Internet por 29,95 euros aos quais ainda acrescem oito euros de portes de envio. Ela também continua disponível nos hipermercados Continente por valores que variam entre os 20,97 euros e os 29,35 euros, conforme os descontos aplicados ao produto, e nos supermercados Lidl, por 19,99 euros.

Sobre este facto, a DECO diz que já comunicou o caso à Direção-Geral do Consumidor, algo que fez logo a seguir a ter o resultado dos testes: “A Direção-Geral do Consumidor é a entidade à qual, no âmbito do Código da Publicidade e do Diploma das Práticas Comerciais Desleais, são conferidos os poderes de fiscalização e sancionatórios”. O Observador contactou esta entidade, mas não obteve resposta. Também não teve explicações dos hipemercados que comercializam a Master Copper, nem das empresas que a vendem através da televisão e da Internet. Nenhuma respondeu aos e-mails e aos contactos telefónicos efetuados.

Uma Master Copper com 0% de cobre

Para desmascarar a Master Copper, a DECO decidiu analisar uma a uma todas as alegações que a marca faz nos anúncios que passam na televisão: “Em laboratório, procurámos replicar as receitas e testes apresentados na publicidade, de modo a reproduzir as promessas da Master Copper. A todos os modelos foram aplicados os mesmos testes e receitas, nas mesmas condições e cumprindo os mesmos requisitos e pressupostos”, garante a instituição.

Mas nada resultou: ao analisar amostras do material da frigideira e submetê-lo a uma análise metalúrgica ao microscópio, a DECO descobriu que afinal a Master Copper não é feita inteiramente de cobre e que, em vez disso, “é feita de alumínio, com um revestimento antiaderente“. Em suma, é mentira que a Master Copper seja feita de cobre: apenas tem uma coloração que se assemelha à do cobre.

A seguir, a DECO testou a resistência da frigideira, mas concluiu que é daí que vêm “as piores notícias”. A instituição percebeu que, ao fim das primeiras utilizações, a Master Copper começou a deformar no fundo da frigideira. Posto isso, os cientistas fizeram um teste para perceber qual era a resistência do material usado no fabrico do produto e para entender a origem dessa deformação logo às primeiras utilizações: “Fizemos um teste normalizado para aferir a estabilidade da base quando submetida a choque térmico. Este teste não é obrigatório para colocar um produto destes à venda, nem justifica a sua retirada das lojas, caso reprove. Mas para nós é um indicador de segurança e de durabilidade de um utensílio que é usado quase todos os dias”, explica a DECO no relatório da experiência.

A DECO testou a resistência da frigideira em causa mas concluiu que é daí que vêm "as piores notícias". A instituição percebeu que, ao fim das primeiras utilizações, a Master Copper começou a deformar no fundo da frigideira. Ficou excessivamente convexa.

E a Master Copper chumbou nesse teste: confirmou-se que a frigideira ficou “excessivamente convexa”, algo que pode fazer com que deslize pela placa da cozinha, o que pode ser perigoso.

As características físicas da frigideira não parecem bater certo com as que são publicitadas pela marca, por isso a DECO decidiu testar as mesmas receitas que o chef Juan Sánchez faz na televisão para saber se sobrevivem às experiências feitas em laboratório. O tomate líquido que Juan Sánchez põe a girar no interior da frigideira “porque descontrai”, diz ele, cola no fundo da Master Copper se ela estiver fria, mas não quando ela está quente.

Os ovos estrelados sem gordura “não aderiram à superfície, mas não podemos dizer que deslizam em nenhuma frigideira”. A omelete “ficou agarrada a toda a volta”. O caramelo ficou com pedaços agarrados no fundo da Master Copper. E o bolo feito de chocolate, leite condensado e marshmallows “foi desastroso”, conta a DECO. Só uma das receitas é que correu sem incidentes: a de pizza do forno, “mas a tarefa não era, à partida, muito exigente”.

A desconfiança da DECO aumentou ainda mais quando o instituto replicou os testes mais loucos que o chef Juan Sánchez faz na televisão para provar a competência da Master Copper. Quando a associação derreteu um copo de plástico tal como na publicidade, ele “aderiu à superfície”; e quando bateu com um martelo no fundo da frigideira o material ficou deformado, mostrando que afinal a Master Copper não é tão resistente assim: “Numa das imagens mais marcantes do anúncio da Master Copper, que pretende ilustrar a sua resistência ao impacto, vemos o chef Sanchéz bater com um martelo na superfície. O nosso conselho? Não faça o mesmo em casa! A verdade é que é algo que não deve fazer em qualquer frigideira”, avisa a DECO.

O instituto quis ainda saber se era verdade que a Master Copper aquece em dez segundos e de forma uniforme, como prometido no anúncio. Para isso depositou uma mistura química e aqueceu-a num fogão ligado a um termómetro. Foi assim que descobriu que essa capacidade também não era real: “Em laboratório, passados 10 segundos, a Master Copper apresentava 55ºC no centro. O aquecimento não cobriu todas as áreas da mesma forma e uma das zonas demorou bastante a atingir a mesma temperatura”.

Além disso, essa capacidade de aquecer em meros dez segundos também é possível com frigideiras bem mais baratas: a DECO fez este mesmo teste a uma frigideira do IKEA e a outra da Silampos e descobriu que essa primeira também chega aos 55ºC em dez segundos, enquanto a Silampos só chega aos 35ºC mas “mantém a temperatura por mais tempo e de forma mais estável, devido ao fundo térmico, único nos três modelos em teste”. Conclusão: “Ainda que a Master Copper atinja uma determinada temperatura em 10 segundos, fica provado que uma frigideira mais barata também o faz. Estudámos igualmente a uniformidade de aquecimento. Silampos e IKEA conseguem aquecer de modo uniforme”. A Master Copper não.

A capacidade de aquecer em dez segundos também é possível com frigideiras mais barato: a DECO fez este mesmo teste a uma frigideira do IKEA e a outra da Silampos e descobriu que essa primeira também chega aos 55ºC em dez segundos, enquanto a Silampos só chega aos 35ºC mas "mantém a temperatura por mais tempo".

Nos outros testes, a frigideira da Silampos e do IKEA também atingiram resultados melhores: a Master Copper foi a única das três frigideiras a falhar o teste da estabilidade da base quando submetida a choque térmico. Ao fazer uma omelete, na Silampos e na frigideira do IKEA ela “saiu impecável para o prato”. E o caramelo “saiu quase por completo” nessas duas frigideiras. Quanto à experiência de derreter um copo de plástico, só a Silampos passou no teste — embora a receita de leite condensado, chocolate e marshmallows também tinha corrido muito mal.

A frigideira do IKEA só ficou de fora nas provas que envolviam levá-la ao forno porque o material de que é feita não a torna adequada a ser exposta a temperaturas tão altas. Só houve um aspeto em que a frigideira foi melhor que as outras duas: era mais resistente aos riscos por causa do revestimento que tinha: “O revestimento da Master Copper é de natureza cerâmica, enquanto o das outras duas frigideiras testadas é de Teflon ou PTFE. No teste normalizado de resistência ao risco, revelou um melhor resultado quando comparado com as frigideiras Silampos e Ikea. Efetivamente os resultados nestes ensaios foram bons, não havendo danos visíveis após o teste”, afirmou a DECO ao Observador.

Comerciante anuncia novos produtos da linha Master Copper

A frigideira Master Copper não é o único produto desta linha de materiais para a cozinha. Durante a madrugada, e apesar de todas as críticas, alguns canais de televisão já passam publicidade a um outro produto — uma panela alegadamente feita de cobre chamada “Copper Chef”. Essa publicidade promete materiais antiaderentes com uma tampa de vidro temperado, uma rede para fritar, um acessório para cozer legumes a vapor e um livro de receitas “criadas especialmente para a Copper Chef”. Segundo a versão alongada desse anúncio, a Copper Chef faz (quase) tudo. E faz tão bem que “pode substituir todas as outras panelas que há na cozinha”. Quem já a testou diz que isso é, no mínimo, “exagerado”.

Em Portugal, esta panela custa aproximadamente 60 euros e pode ser adquirida através de uma chamada para a “Loja em Casa”. Os anunciantes repetem algumas das promessas feitas na frigideira Master Copper para a Copper Chef: segundo eles, esta panela quadrada com pontas arredondadas tem um revestimento antiaderente e suporta temperatura até aos 850ºC, por isso até pode ir ao forno. A voz do anúncio — que desta vez não é o chef Juan Sánchez, explica porquê: “A camada exterior da Copper Chef é infundida com cobre 100% verdadeiro, conhecido por ser um dos melhores condutores de calor. Além disso, os pratos de indução conduzem o calor rapidamente e homogeneamente sem pontos quentes”.

Mas segundo Esther Choi, uma chef norte-americana que testa materiais de cozinha no YouTube, diz que isso não é verdade. Num vídeo publicado na plataforma em julho deste ano, Esther Choi espalhou de modo uniforme uma camada de farinha dentro da panela e pô-la na placa de indução: se a farinha começasse a queimar toda ao mesmo tempo era verdade que o calor era distribuído homogeneamente. Só que não foi isso que aconteceu: a farinha na parte central da panela queimou, mas aquela que se concentrou nos cantos não. E o motivo é simples, diz ela: “O prato de indução por debaixo da panela é redondo. Isso significa que a superfície é desigual porque os cantos aquecem muito mais devagar. Até porque a maior parte das placas de indução são redondas no lugar onde se põem as panelas. E esta é quadrada”.

"Devemos gastar 60 dólares nesta panela? Não, o melhor era gastar 20 em três produtos diferentes. Balanço: anti-aderente, ótimo; tudo o resto nem por isso. Não é exatamente como na publicidade", diz Esther Choi sobre um novo produto da gama Master Copper — a Copper Chef.

Desta vez quem experimenta as receitas no vídeo publicitário é Erich Theiss, apresentado como “um chef aclamado e especialista em culinária”. Segundo ele, a vantagem de ter uma panela quadrada é que ela dá mais espaço para cozinhar: “Em vez de só conseguir por três costeletas consigo meter quatro dentro da panela porque posso aproveitar os cantos”, garante. Depois de grelhar bifes de vaca e carne de porco sem recurso a gordura, Erich Theiss levou a panela ao forno para comprovar que ela pode até fazer o trabalho de uma travessa de inox. E por fim grelha fatias de queijo para provar como elas deslizam e não colam na superfície de cobre.

Esther Choi também quis testar essa capacidade anti-aderente. E descobriu que essa é a única valência da Copper Chef que é verdadeira: “É bastante decente. O queijo sai com muita facilidade. No que toca à capacidade de anti-aderência, está tudo certo“, garante. Essa característica só não é muito positiva ao cozinhar bifes muito altos, garante Esther Choi: “As regras dizem que, se queremos a parte exterior de um bife bem dourado, não podemos mexer nele. Mas este mexe-se sozinho. O resultado é que num lado fica perfeito, mas do outro lado fica queimado demais na parte central”.

Para a chef norte-americana, o desempenho da Copper Chef é mediano: “O anúncio diz que substitui todas as outras panelas de uma cozinha. Isso é uma afirmação muito ousada, porque não me parece que haja alguma coisa que possa substituir uma panela de ferro fundido. Obviamente que isto [a panela] não me chega. Quando se diz uma coisa destas, fico logo cética porque isso é impossível. Devemos gastar 60 dólares [na Europa vende-se a 60 euros] nesta panela? Não, o melhor era gastar 20 em três produtos diferentes. Balanço: anti-aderente, ótimo; tudo o resto nem por isso. Não é exatamente como na publicidade”, conclui a youtuber.

Além da Copper Chef, há outros produtos da família de Master Copper que continuam à venda apesar das críticas: há a frigideira “Diamond” que tem uma superfície com relevo em formato de diamante tridimensional para aquecer 30% mais depressa do que as frigideiras de cerâmica tradicionais; há a “Wonder Cooker”, um “milagre da cozinha” que pode ser usado em 14 técnicas diferentes de culinária; e há, por exemplo, a “Copper Crisper”, uma fritadeira com uma bandeja de malha anti-aderente. De toda esta gama, apenas a frigideira Master Copper e a panela Copper Chef é que estão à venda em Portugal através dos anúncios na televisão.

E se a frigideira fosse mesmo feita de cobre?

A Master Copper não seria um produto revolucionário mesmo se fosse realmente feito de cobre: durante muito tempo as cozinhas da nobreza tinham conjuntos de panelas de cobre que ainda hoje pode sem vistas, por exemplo, no Palácio Nacional de Sintra. A preferência pelas panelas de cobre tem uma justificação: eram mais duradouras e vistas como um metal mais limpo e fácil de manter. Além disso, os próprios cozinhados faziam-se com mais rapidez, o que era um ponto a favor durante os banquetes.

Isso é explicado pelas características do próprio cobre: esse metal tem uma condutividade térmica muito alta, isto é, tem uma capacidade muito grande de conduzir calor de um lado para o outro sem perder muita energia pelo caminho. Entre todos os metais que compõem a Tabela Periódica, o cobre tem a segunda melhor condutividade térmica: acima dele só a prata e logo abaixo vem o alumínio.

Getty Images/iStockphoto

Para entender porque é que isto acontece é preciso ter algumas noções de química. Os átomos têm um núcleo composto por 29 protões (partículas com carga elétrica positiva) que é rodeado por 29 eletrões (partículas com carga elétrica negativa). Esses eletrões orbitam o núcleo em vários níveis de energia, como se fossem planetas em redor de uma estrela. No caso dos átomos dos metais, os eletrões que ficam na camada mais exterior do átomo têm uma ligação mais fraca ao núcleo, por isso conseguem movimentar-se livremente: são os eletrões livres.

Ora, os eletrões livres do cobre não saem do interior do metal mas andam à vontade dentro da rede. Quando são expostos a uma fonte de calor — por exemplo, se encostarmos um pedaço de cobre a uma chama — a velocidade dos eletrões livres aumenta e por isso conseguem conduzir essa energia mais facilmente ao longo de todo o metal, que aquece homogeneamente ao fim de pouco tempo. É por isto que se diz que o cobre é um bom condutor térmica: tem grande facilidade em transferir calor de um sítio para outro.

A velocidade dos eletrões livres aumenta e por isso conseguem conduzir essa energia mais facilmente ao longo de todo o metal, que aquece homogeneamente ao fim de pouco tempo. É por isto que se diz que o cobre é um bom condutor térmica: tem grande facilidade em transferir calor de um sítio para outro.

Essa é uma grande vantagem dentro da cozinha: uma panela de cobre tende a aquecer não só rapidamente, mas também homogeneamente: “Pontos quentes são praticamente desconhecidos em frigideiras e panelas de cobre, por isso podem alcançar-se temperaturas muito precisos. Isto implica que, quando se muda a temperatura do fogão, a temperatura da panela também muda quase imediatamente permitindo confecionar os alimentos na perfeição”, aconselha o site Chef Talk, dedicado aos amantes da cozinha.

Mas nem tudo cheira a rosas no mundo do cobre: o cobre é altamente reativo aos alimentos principalmente se forem alcalinos ou ácidos, o que pode fazer com que fiquem com um travo metálico. É por causa disso que “a maioria das panelas de cobre é revestida com estanho ou aço. O estanho desgasta-se facilmente e precisa ser substituído de tempos a tempos. É por isso que se deve considerar comprar panelas de cobre revestidos com aço inoxidável. Apesar de serem mais caros do que o estanho, a longo prazo valerá a pena”, garante a página.

Se depois de medir estes prós e contras continuar interessado em comprar material de cobre para cozinhar, a DECO insiste que comprar a frigideira Master Copper não é um bom passo: “Poderá existir a perceção de que uma frigideira de cobre distribui melhor o calor do que as frigideiras de alumínio ou de aço inoxidável e que seja mais durável. No entanto, hoje em dia, a maioria das frigideiras é feita com uma combinação de elementos que permite tirar partido das vantagens dos diferentes materiais. Uma frigideira pode usar alumínio com um revestimento antiaderente, enquanto outra pode ser de aço inoxidável, mas ter um fundo de alumínio para melhorar o aquecimento. Não é possível associar o desempenho unicamente ao tipo de material de que é feita”, diz a DECO.

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