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Facto: todas as oito escolas que formam músicos profissionais — uma fatia finíssima do total — estão entre as 61 mais bem cotadas do ranking do 9.º ano. Facto: entre as mães dos alunos, são mais as que frequentaram o ensino secundário do que as que ficaram pelo básico. Facto: Arruda dos Vinhos é o único concelho que tem 100% das suas escolas no top 100 dos rankings do 9.º ano e do secundário.

Estas são algumas das curiosidades retiradas dos dados do Ministério da Educação que às 00h01 de sábado, 27 de junho, ficaram disponíveis no site Infoescolas, portal de estatísticas do ensino básico e secundário.

Para além de poder consultar a lista completa dos rankings das escolas, e ver em que lugar da tabela ficou a sua, o Observador selecionou seis destes detalhes mais surpreendentes sobre os números agora divulgados.

Sucesso académico é uma constante nas escolas de música

Não são as dez primeiras, mas não andam muito longe disso. Nos rankings do 9.º ano todas as oito escolas de ensino integrado de música, públicas ou privadas, aparecem no topo da tabela, seja ela a clássica — ordenada pelas notas dos alunos nos exames — seja a do sucesso. Esta última reflete a percentagem de alunos sem chumbos e com positiva nos exames (português e matemática), valor que é depois comparado com a média nacional.

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No ranking clássico, o resultado é o habitual: os primeiros 15 lugares são de colégios. A primeira escola pública aparece em 16.º lugar, a segunda em 28.º. Em comum? Ambas são escolas artísticas de música — a do Conservatório Nacional, em Lisboa, e a do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga. É preciso passar mais quatro estabelecimentos de ensino do Estado, para, em 61.º lugar, surgir a terceira e última escola pública de música, a do Conservatório do Porto.

Conclusão: entre as sete primeiras escolas públicas mais bem colocadas no ranking dos exames nacionais, três são de conservatórios, focados em formar músicos profissionais.

Quanto às privadas, a Escola de Música São Teotónio surge em 12.º lugar, imediatamente seguida pelo Conservatório de Música de Barcelos. Poucos lugares abaixo, em 19.º, está a Academia de Música de Vilar do Paraíso, em Vila Nova de Gaia, e em 36.º está a Academia de Música de Santa Cecília, em Lisboa. A fechar o grupo das cinco privadas, em 40.º lugar, está a Academia de Música Costa Cabral, no Porto.

No ranking de sucesso (que só compara alunos comparáveis), o bom desempenho das escolas de música mantém-se. Isto significa que os seus alunos têm mais sucesso académico do que outros com o mesmo perfil socioeconómico que frequentam outras escolas do país.

Entre as dez mais bem cotadas, quatro são de música e uma delas é pública, a do Conservatório Nacional. A Academia de Música de Vilar do Paraíso fica mesmo em segundo lugar quando se olha apenas para os lugares ocupados por privadas.

Aliás, em 991 escolas avaliadas no ranking de sucesso (no clássico são 1.111), o penúltimo lugar ocupado por uma escola de música é o 45.º, neste caso a do Conservatório de Braga. Ou seja, exceto a Academia de Santa Cecília (275.º), todas as escolas que formam músicos profissionais — e que são uma fatia finíssima do total de escolas no ranking, menos de 1% — estão entre as 50 mais bem cotadas, com quatro delas no top 10, e cinco no top 20.

90% dos professores nos quadros? Só numa minoria de escolas

Não há uma única escola pública em Portugal que possa dizer que tem todos os professores no quadro. A que está mais perto de poder fazê-lo fica em Aveiro: é a Escola Básica Castro Matoso, do agrupamento de Oliveirinha, e o seu número mágico é o 97,8%.

Mas ter a mais alta percentagem de professores no quadro — com a respetiva estabilidade do corpo docente que isso traz — não se revela, por si só, sinónimo de bons resultados académicos. No ranking clássico do 9.º ano, a escola surge a meio da tabela (466.º lugar em 1.111), enquanto que no ranking do sucesso melhora a posição: entre 991 escolas fica em 102.º lugar.

A escola de Oliveirinha pertence a uma minoria. Há apenas 36 escolas públicas com mais de 90% de professores nos quadros e, todas juntas, representam 3,7% dos estabelecimentos da rede pública que aparecem no ranking do 9.º ano (968).

Na outra ponta da tabela, fica outra fatia fina, ainda menor do que a anterior. As escolas com menos de metade dos professores nos quadros são cinco e representam 0,5% do total.

Estão espalhadas por todo o país: a Escola Básica de Moura (49,2% ), a Escola Básica Leonardo Coimbra Filho, no Porto (48,4%), a Escola Básica e Secundária Escalada, em Pampilhosa da Serra (47,2%), a Escola Básica de Freixo de Espada à Cinta (45,2%) e a Escola Artística de Música do Conservatório Nacional, em Lisboa (40,7%).

Esta última, apesar de ser a escola que tem de recorrer a maior número de docentes contratados, é a escola pública mais bem classificada no ranking clássico e a terceira estatal a surgir no ranking do sucesso.

Na tabela do secundário, os números melhoram e todas as escolas têm mais de metade dos professores nos quadros. Em Cinfães, encontra-se o valor mais baixo, o único inferior a 60% — na Escola Secundária Professor Doutor Flávio F. Pinto Resende há 54,50% de professores nos quadros.

Olhando para o topo da tabela, onde se encontram os estabelecimentos de ensino com maior estabilidade do corpo docente, há 21 escolas em que mais de 90% de professores pertencem aos quadros. São, também elas, uma minoria: representam 4,5% de um bolo em que a cereja vai para a Escola Secundária São Pedro, Vila Real, com os seus 95% de professores nos quadros.

As melhores notas nos exames continuam a ser as dos alunos de colégios

No ranking clássico, a tradição mantém-se. O lugar das privadas é no topo e são os seus alunos que conseguem melhores resultados nos exames nacionais e nos de 9.º ano. A explicação está encontrada há muito tempo: os alunos que frequentam escolas privadas são, na sua maioria (mas não exclusivamente), de classes socioeconómicas mais elevadas e, em Portugal, ser pobre continua a ser um forte preditor de insucesso escolar.

Não é assim de admirar que haja 83 escolas privadas no top 100 (os primeiros 15 lugares são de colégios), representando mais de metade deste universo no ranking do 9.º ano. Ou seja, das 143 escolas privadas, 58% estão nos primeiros 100 lugares.

Os cinco colégios onde os alunos tiveram melhores resultados nos exames de 9.º ano foram:

  1. Externato Escravas Sagrado Coração de Jesus, Porto
  2. Externato As Descobertas, Lisboa
  3. Colégio dos Plátanos, Sintra
  4. Colégio Rainha Santa Isabel, Coimbra
  5. Externato Senhora do Carmo, Lousada

Os demais 42% (em números absolutos são 60 escolas) concentram-se entre o 101.º e o 1099.º. Há, no entanto, 15 colégios que surgem bastante abaixo na tabela (depois do 499.º), quatro deles com mais de mil escolas à sua frente (representam 2,8% do total de privadas).

São eles o Colégio São Mamede, na Batalha (1031.º), o Colégio Cidade Roda, em Pombal, (1043.º), o Colégio D. Filipa, na Amadora (1076.º) e o Colégio D. Nuno Álvares Pereira, em Lisboa (1099.º).

No secundário, o cenário é idêntico. A fatia de leão está no topo: 56 dos 78 colégios presentes no ranking (71,8%) têm lugar entres os 100 primeiros. As 36 posições iniciais são todas de escolas privadas e num ranking que ordena 539 escolas pelas notas de exame dos seus alunos a pior classificação para uma escola privada é o 502.º lugar, o do Colégio D. Duarte, no Porto.

Os cinco colégios onde os alunos tiveram melhores resultados nos exames nacionais foram:

  1. Colégio Nossa Senhora do Rosário, Porto
  2.  Colégio Moderno, Lisboa
  3. Colégio D. Diogo de Sousa, Braga
  4. Salesianos de Lisboa
  5. Colégio Luso-Francês, Porto

Há duas escolas em que todos os alunos chumbaram

Quantos alunos conseguem fazer um ciclo de escolaridade inteiro sem chumbar e, em seguida, ter positiva nos exames? É a essa pergunta que o indicador Promoção do Sucesso responde, com valores tão distintos que vão dos 99% aos 0%.

No fundo da tabela, estão duas escolas públicas, do ranking do 9.º ano, onde todos os alunos chumbaram. Ali, segundo os dados do Ministério da Educação, a promoção do sucesso é de 0%. Situadas em Loures e no Montijo, a primeira é a Escola Secundária José Cardoso Pires, a segunda, a Escola Básica D. Pedro Varela.

Em muitas escolas da rede pública, o padrão dos alunos continua a ser o de ter pelo menos um chumbo no percurso escolar. Em 18 delas, menos de 10% dos alunos fizeram um percurso direto de sucesso, ou seja, sem chumbos e com positiva nos exames. Entre elas, há ainda oito em que essa percentagem fica abaixo dos 5%.

Se dividirmos as escolas públicas em dois grupos — no primeiro a maioria dos estudantes passa, no segundo a maioria chumba — em 582 escolas deu-se o pior caso, com mais alunos a reprovar. Nas restantes 272, deu-se o inverso: a maioria dos alunos fez um percurso de sucesso.

Nas escolas privadas, o cenário é o oposto. O cenário mais negro é o de 20 colégios onde a maioria dos alunos não conseguiu fazer o caminho até ao 9.º ano sem chumbos e com positiva nos exames. Em 117 privadas, ganha o número de alunos com sucesso escolar.

No ranking do secundário, o pior resultado é o da Secundária Arquiteto Oliveira Ferreira, em Vila Nova de Gaia, onde só 6% dos alunos fizeram o 10.º e o 11.º anos sem chumbos e com positiva nos exames nacionais.

Entre as escolas públicas, a fatia mais grossa (76,8%) é a das escolas onde só a minoria dos alunos tem percursos de sucesso. Nas privadas, o cenário é quase diametralmente oposto: em 77% delas mais de metade dos alunos fazem o caminho sem retenções.

Em contrapartida, nenhuma escola se pode vangloriar de ter 100% dos alunos com sucesso escolar e são todas privadas as que mais se aproximam disso. No ranking do 9.º ano, o Colégio D. Diogo de Sousa e a Academia de Música de Vilar do Paraíso chegam aos 99%. Entre as públicas, é o Conservatório Nacional que tem um resultado mais elevado, com 94%.

No secundário, só uma escola passa os 90% de promoção de sucesso e é à tangente: o Colégio Terras de Santa Maria, com 91%. Entre as públicas, apenas duas estão acima dos 80% — a Escola Secundária de Vila Nova de Paiva (85%) e a Escola Básica e Secundária de Vila Cova, Barcelos (80%).

Só em 4 escolas as mães dos alunos estudaram mais de 15 anos

Não há grande variação entre o ranking do 9.º ano e o do secundário. Em Portugal, na maioria das escolas, há mais mães que frequentaram o secundário do que as que ficaram pelo 2.º ciclo, embora a diferença seja mais acentuada nas famílias de alunos do secundário. Os dados só estão disponíveis para escolas públicas.

A importância deste indicador é que é ele — o percurso académico da mãe — que mais pesa no caminho escolar do estudante, mais até do que a classe social em que a criança nasce ou do que os estudos do pai.

No entanto, os dados do Ministério da Educação apontam apenas o número de anos que as mães estudaram, não clarificando o grau de estudos obtido. Assim, a partir de 9 anos assume-se que houve frequência do ensino secundário e, a partir de 12, frequência do superior (embora possa haver chumbos no percurso, ou disciplinas incompletas, que desvirtuem estas contas).

Feita a ressalva, a fatia mais fina de todas é para as mães que passaram mais de 12 anos na escola, mostrando que apenas uma minoria das mulheres com filhos ingressou no ensino superior. No ranking do 9.º ano representam 5,08% do total, no do secundário 5,56%.

E só em 4 escolas do país as mães dos alunos estudaram mais de 15 anos: esse valor, aliás, só surge no ranking do 9.º ano, já que no do secundário a média máxima de anos passados na escola pelas mães dos alunos é de 14,9 anos.

Outra conclusão que ressalta dos dados é que quase sempre as mães estudaram mais anos do que os pais. Quando acontece o inverso, e são os pais a surgir com mais anos de estudos, é exatamente nas escolas em que a escolaridade das mães chega à frequência do ensino superior.

Quanto ao sucesso, no 9.º ano não há exceção à regra. Nas escolas onde as mães têm mais estudos o sucesso escolar dos alunos está sempre acima dos 80%, ou seja, a maioria dos estudantes faz o 7.º e o 8.º ano sem chumbos e tem positiva nos exames nacionais de Português e Matemática.

Na Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga, onde as mães estudaram em média 15,35 anos, o valor mais elevado do país, 92% dos alunos têm percursos diretos de sucesso. Já em Coimbra, na Secundária Infanta D. Maria, o indicador de sucesso está nos 90%. Ali, as mães estudaram em média 15,06 anos.

A mesma regra seguem duas escolas do distrito de Lisboa. Na Secundária da Quinta do Marquês, em Oeiras, 81% dos alunos fazem percursos de sucesso (as mães estudaram 15,04 anos), valor que sobe para 94%, o valor mais elevado de uma pública, na Escola Artística de Música do Conservatório Nacional. Em média, as mães dos alunos estudaram 15,03 anos.

Duas destas escolas, a secundária de Coimbra e a de Oeiras estão também no topo do ranking do secundário quando se olha para a escolaridade das mães, embora com valores ligeiramente mais baixos (as mães dos alunos de diferentes ciclos não são as mesmas, logo as habilitações podem ser diferentes).

No secundário, é a Escola Básica e Secundária D. Filipa de Lencastre, em Lisboa, que tem, em média, mães com mais habilitações literárias (14,9 anos). Segue-se a Secundária da Quinta do Marquês, em Oeiras (14,8 anos), a Secundária do Restelo, em Lisboa (14,6), a Secundária com 3.º Ciclo Pedro Nunes, em Lisboa (14,6) e, a fechar o top 5, a Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra. Ali, as mães estudaram 14,5 anos.

No concelho do Porto, o valor mais elevado, 14,3 anos, é obtido pelas mães dos alunos da Escola Secundária Garcia de Orta.

Lisboa é o concelho com maior representatividade no top 100

Seja no ranking do secundário, seja no do 9.º ano, o concelho de Lisboa é aquele que tem mais escolas, entre públicas e privadas. Assim, em números absolutos, é também Lisboa o concelho que tem mais escolas representadas no top 100 em qualquer um dos rankings.

Em proporção, as contas são outras. Arruda dos Vinhos é o único concelho que tem 100% das suas escolas no topo de ambos os rankings. Acontece que naquele concelho não podemos usar o plural — há apenas uma escola, privada, a aparecer nos dados do Ministério da Educação. Não quer dizer que o Externato João Alberto Faria seja o único estabelecimento de ensino no concelho (há um agrupamento de escolas públicas), mas será o único que realizou o número de exames suficientes para poder ser considerado.

Tal como Arruda dos Vinhos, também Anadia consegue feito semelhante. No ranking do 9.º ano, metade das suas escolas estão no top 100, mas essa percentagem de 50% equivale a um único estabelecimento de ensino.

No ranking do secundário, há outros casos assim. Trofa consegue ter as suas duas escolas no top 100, e Anadia, Lousã, Silves e Vouzela, com uma única escola presente no ranking, garantem lugar no topo da tabela.

Em números absolutos, Lisboa, Porto, Coimbra e Braga são os concelhos com maior número de escolas no top 100 de ambos os rankings. No do 9.º ano, há um quinto concelho, Cascais, que surge empatado com Braga em número de escolas.

Assim, no ranking do 9.º ano, aqueles cinco concelhos representam exatamente metade das escolas do top 100. No do secundário, excluindo Cascais, os 4 concelhos representam 33% do total.

Das 71 escolas lisboetas presentes no ranking do 9.º ano, 24 (três públicas) surgem no topo da tabela, enquanto que no Porto de um total de 33 surgem 11 (duas públicas). Em ambos os concelhos, o feito é igual: 33% das escolas estão entre as 100 onde os alunos conseguiram melhores notas nos exames.

Em Coimbra, a percentagem é de 38%: sete estabelecimentos de ensino, de um total de 18, estão no top 100, sendo dois deles públicos. O valor no topo da tabela desce para quatro escolas em Braga (uma pública) e em Cascais (todas privadas). Ou seja, no concelho do Norte, que tem uma oferta de 23 escolas, 17% estão entre as que têm melhores médias de exames. Em Cascais, com 19 estabelecimentos de ensino, o valor sobe para 21%.

No ranking do secundário, entre os concelhos com maior representação, Braga é o que tem menos escolas no top 100 (6 de 9). Em compensação, aquelas seis escolas representam uma fatia de 66% do total, valor a que Lisboa e Coimbra não chegam, já que têm pouco mais de metade das suas escolas no topo: 16 de 30 escolas na capital e 5 de 9 em Coimbra.

No Porto, 8 de 20 escolas chegam ao topo da tabela, uma fatia de 40%, a mais fina dos quatro concelhos.