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"Sánchez é capaz de cantar a Internacional e depois aplicar medidas de austeridade"

É um homem "camaleónico", que age por "olfato" e nunca por convicção. Quem o diz é Carmen Torres, autora de "Instinto de Poder", uma biografia política de Sánchez, favorito às eleições deste domingo.

“Sánchez é um animal político, capaz de se adaptar-se a tudo.” É essa a garantia de Carmen Torres, jornalista do El Independiente e autora da mais recente biografia política de Pedro Sánchez, Presidente de Governo e candidato socialista às eleições espanholas destes domingo. No livro Instinto de poder – La convulsa trayectoria de un hombre obsesionado con ser presidente (sem edição portuguesa), Carmen Torres traça o percurso de um homem que começou por se destacar na política internacional, mas que abriu mão dela quando percebeu que o seu caminho passava por Espanha.

Nessa certeza, recebeu um violento abanão: o seu trabalho era pouco apreciado no PSOE, não o chamaram para nenhum cargo nem o puseram num lugar nas listas que lhe permitisse chegar a deputado. Aos 39 anos, ficou desempregado e sem caminho na política. Até que, em 2013, foi-lhe dada uma segunda oportunidade, ao ser chamado para deputado de base. Pedro Sánchez aceitou, mas com apenas um objeto em mente: subir à cúpula do partido e, dali, saltar para Moncloa.

Numa entrevista com a autora, falámos também dos vários cenários pós-eleitorais. Para Carmen Torres, não vão ser os dividendos pessoais que tem com líderes como Albert Rivera (Ciudadanos) ou Pablo Iglesias (Podemos) que o vão impedir de chegar a um consenso. “Não creio que Pedro Sánchez não tenha a capacidade de passar ao lado destas questões quando o que está em jogo é a sua continuidade no governo”, garante.

Comecemos pela crise dos últimos meses de 2016, em que Pedro Sánchez foi obrigado a demitir-se da liderança do PSOE, depois de resistir, numa reunião, durante um dia inteiro. Nesses dias, passou uma imagem de fragilidade e de abandono dos seus camaradas. Mas a verdade é que, mais tarde, provou o contrário. Ganhou as primárias e saiu reforçado. Como é que Sánchez preparou este contra-ataque?
Em termos políticos, Sánchez foi assassinado. Os poderes tradicionais do PSOE consideraram-no um perigo, porque podia negociar com o Podemos ou com os nacionalistas — ou seja, tudo coisas que, mais tarde, acabou mesmo por fazer. Mas na sociedade, nas bases, e quem vota nas primárias são estas pessoas, havia uma onda a favor de outras formas de fazer política. Queriam que os partidos tivessem mais em conta a opinião dos militantes. Isso foi uma chave da sua vitória: Sánchez torna-se num referente de outra forma de entender a política dentro do partido.

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Mas crê que ele defendeu esse modelo por questões ideológicas ou, acima de tudo, por instinto de poder?
Foi tudo por olfato. Ele passou a campanha das primárias a dizer: “Aqui está a esquerda”. Vende-se como um líder de esquerda, mas, se virmos bem, quando esteve no governo não realizou um único projeto de esquerda. Pedro Sánchez é um economista e era da ala mais liberal, economicamente falando, de todo o PSOE. Mas, na campanha eleitoral, veste a pele de esquerdista. Isto não casa com a sua trajetória política nem com as suas opiniões na economia. Todas as coisas de esquerda que prometia, como subir os impostos aos bancos ou fazer uma reforma laboral, nada disso foi feito no seu governo. Por isso, foi tudo por instinto e olfato para ganhar aos barões e à ala tradicional do partido. Para aí chegar, tinha de se situar muito à esquerda. Então utilizou isso sem qualquer tipo de pudor.

Pedro Sánchez venceu duas eleições primárias no PSOE: em 2014 e em 2016. Pelo meio, perdeu duas eleições gerais, mas, no final, acabou por chegar a Presidente de Governo (LLUIS GENE/AFP/Getty Images)

(LLUIS GENE/AFP/Getty Images)

Vamos recuar uns anos na vida de Pedro Sánchez. Aos 39 anos, depois de uma carreira bem sucedida, ficou desempregado. Depois, acabou por ser chamado para deputado e, a partir daí, teve uma subida gradual, mas acima de tudo irreversível. O tempo em que ele esteve desempregado foi traumatizante ou, de outra forma, catártico, para que pudesse seguir em frente?
As duas coisas, diria. Foi traumatizante porque ele fez uma aposta na política, mesmo quando recebia propostas de ouros lados. Com 26 anos, ele foi para Bruxelas, onde trabalhou com o grupo parlamentar socialistas. Depois, foi para o Kosovo com o Carlos Westendorp, que foi nomeado comissário da ONU para a guerra do Kosovo e chamou Pedro Sánchez para a sua equipa. Depois disso, recebeu convites para continuar na ONU e na política internacional, mas escolheu voltar para Espanha. Queria fazer política na primeira pessoa e no seu partido. Quando voltou ao PSOE, esforçou-se muito, mas não houve nenhuma recompensa. E ficou desempregado. O partido não confiava nele e, portanto não lhe deu um bom lugar nas listas nem o chamou para a comissão executiva. Isto é efetivamente traumatizante para ele, é muito duro. Mas serve de preparação para a sua trajetória, que retoma quando, mais tarde, em 2013, voltam a chamá-lo. Havia uma deputada que estava de saída e perguntaram-lhe se ele queria ir para o lugar dela. E ele fez essa reflexão e penso algo como: ‘Já sei o que é trabalhar sem colher frutos. Agora vou trabalhar de outra maneira. Já não vou trabalhar para os outros. Não vou ser um segundón, agora vou trabalhar para mim e vou fazer o que entender para conseguir o poder’. Por isso, são as duas coisas: traumático e depois catártico.

Quando é que Sánchez começou a ter, além de uma aspiração, um plano para suceder a Rubalcaba [líder do PSOE entre 2012 e 2014, então na oposição]?
Foi mesmo nessa altura. Em 2013, estava no desemprego, na rua. E, nessa altura, veio o convite para ser deputado. Ele já tinha feito a sua tese, estava a dar aulas como professor associado. E aí teve de sacrificar tudo outra vez, na sua vida profissional e pessoal, para voltar a tentar impor-se na política. Disse que sim, mas, secretamente, dentro dele, tinha este plano desde que entrou no Congresso dos Deputados. Ele falou disso numa entrevista, onde disse que esteve a noite inteira a falar com a mulher, em Huesca, nos Pirinéus, numa viagem em que foram fazer ski. Foi aí que decidiu que se ia apresentar às primárias para suceder a Rubalcaba. E ele entra na política com o objetivo de ser o Presidente de Governo. Ou, pelo menos, de ser o candidato do PSOE à presidência de governo.

"Quando voltou ao PSOE, esforçou-se muito, mas não houve nenhuma recompensa. E ficou desempregado. O partido não confiava nele e, portanto não lhe deu um bom lugar nas listas nem o chamou para a comissão executiva. Isto é efetivamente traumatizante para ele, é muito duro."
Carmen Torres, jornalista e autora do livro "Instinto de poder - La convulsa trayectoria de un hombre obsesionado con ser presidente"

No seu livro, fala de muitas traições, mas há três que destaca com especial importância, até porque demonstram a sua vontade, talvez desmesurada, de chegar ao poder. Quer falar delas?
Quando ele vai para o Congresso dos Deputados, ele vai como deputado raso. É apenas mais um deputado. Mas, dentro dele, tinha o tal desejo oculto para ser o candidato à Presidência de Governo. E como para ele era muito evidente — noutra entrevista, diz que aprendeu que tinha de estar no grupo dos que tomam decisões e não dos assessores, que apenas mandam — inicia um caminho para as primárias, quando estas nem sequer tinham sido convocadas. Acabaram por acontecer em 2014. Portanto, um ano antes das primárias, ele já tinha começado prepará-las. E quem lhe dá a oportunidade de subir é Rubalcaba, que lhe deu a tarefa de ir a todas as distritais do PSOE em Espanha para apresentar o projeto económico do PSOE, que ia ser aprovado na conferência política do partido. E ele aproveita essas viagens em toda a Espanha para criar uma rede de apoio e para encontrar aliados para a sua candidatura. Quando descobrem, há alguns barões do partido que ligam logo a Rubalcaba e que lhe dizem: ‘Escuta, tens aqui um miúdo dos teus que está a mexer-se, quando nem sequer há primárias convocadas, não há nada. E um dos teus está para aqui a fazer por ele’.

O que fez Rubalcaba perante isto?
Rubalcaba falou com o que era, à altura, o seu braço direito, o Óscar López, que era secretário da organização do partido e que também era um amigo íntimo de Pedro Sánchez. Até viveram juntos, em Bruxelas. E o que o Óscar López fez foi dar-lhe um raspanete dos antigos, bem sério, em nome de Rubalcaba. Perguntou-lhe, afinal, como é que ele tinha sido capaz de cometer tamanha deslealdade. Então mandam-no para apresentar o plano económico e ele utiliza esse mandato do partido, que lhe concede Rubalcaba, para fazer campanha em nome próprio? Mas a verdade é que foi aqui que ele conseguiu mesmo a sua primeira rede de apoio. Fazem um grupo de Whatsapp, em que muitos deles não se conhecem entre eles: um está em Cádis, outro em Gijón, outro em Barcelona… Mas começaram a falar através do Whatsapp. E é esse o embrião da sua candidatura.

Não se conheciam?
Muitos deles não se conheciam, não. Só Sánchez sabia quem eles eram. Só quando tiveram pela primeira vez uma reunião é que muitos deles se conheceram pessoalmente.

Pedro Sánchez fez um pacto com Susana Díaz, conta Carmen Torres, em que se terá comprometido a sair do caminho da andaluza na liderança do partido. Não o cumpriu (CRISTINA QUICLER/AFP/Getty Images)

CRISTINA QUICLER/AFP/Getty Images)

Já falou de uma de três traições. Qual é a segunda?
A segunda de que eu falo foi nas primárias e foi com Susana Díaz. Ela queria mandar no PSOE, mas não pôde, porque tinha acabado de herdar a Junta da Andaluzia e não podia simplesmente ir-se embora. Então, foi ela que catapultou Pedro Sánchez, como um candidato. Ela esperava que ele lhe aquecesse a cadeira durante algum tempo na liderança do PSOE e que ela, quando estivessse pronta para dar esse salto, o poderia afastar. E o Pedro Sánchez aceita essa oferta: deixa que o PSOE andaluz, que é a federação com mais votos em todo o país, o ajude a ganhar as primárias. E ganhou. Mas quando Pedro Sánchez levava três meses no cargo de secretário-geral, anunciou numa entrevista que se ia apresentar como candidato às eleições gerais. É esta a traição a Susana Díaz: ajuda-a em troca de tudo isto, mas depois não respeita o acordo e rapidamente diz que vai por tudo.

Falta a terceira traição. A Rajoy.
Claro. Isto passou-se quando estão a negociar a aplicação do Artigo 155 na Catalunha. Nessa altura, Pedro Sánchez deixa claro a Rajoy que pode estar descansado porque não vai apresentar uma moção de censura, porque diz que não se pode governar com os independentistas. E, como sabemos, foi precisamente isso que acabou por fazer. Mas há uma coisa que é preciso dizer: Pedro Sánchez nunca prometeu nada a Rajoy. Em política, fala-se de tudo com muito mais subtileza. E foi o mesmo com a Susana Díaz. Ninguém assina um contrato a dizer “eu apoio-te em troca de isto”. Fala-se com palavras subtis.

"Pedro Sánchez nunca prometeu nada a Rajoy. Em política, fala-se de tudo com muito mais subtileza. E foi o mesmo com a Susana Díaz. Ninguém assina um contrato a dizer 'eu apoio-te em troca de isto'. Fala-se com palavras subtis."
Carmen Torres, jornalista e autora do livro "Instinto de poder - La convulsa trayectoria de un hombre obsesionado con ser presidente"

É um jogo de póquer. Ninguém vai mostrar as cartas que tem, mas certamente que pode fazer bluff.
Claro. Trata-se de não fazer ver quais são as suas reais intenções. Ele disse a Rajoy que não ia propor uma moção de censura, mas claro que pensou nisso. Ora, estas são as traições de que eu falo. Mas há muitas mais…

Passaríamos aqui muito tempo, posso imaginar. Mas falemos da moção de censura. No início de junho de 2018, a moção de censura passa e Pedro Sánchez sobe ao poder, com o governo “Frankenstein”. Como é que foi possível para Sánchez, que, como me diz, era da ala liberal do PSOE, fazer pactos com o Podemos? E mais: em plena crise da Catalunha, Sánchez vai ter com os independentistas e consegue o seu apoio, apesar de uns meses antes ter apoiado o Artigo 155. Como é que Pedro Sánchez pôde mudar tanto e, ainda assim, ter sucesso com estes parceiros?
No início do livro tenho uma frase de Pedro Sánchez, que ele disse a um grupo de jornalistas em dezembro de 2018. Ele disse isto: “Viver é adaptarmo-nos”. Sánchez é um animal político capaz de se adaptar-se a tudo. É capaz de cantar a Internacional com o punho erguido nas primárias e depois escolher para ministra da Economia uma funcionária da União Europeia que dá garantias de austeridade e de controlo do défice. Ele é muito camaleónico. No livro, conto muitos episódios de barões que se queixavam dele por não ter um fundo político claro. Não tem umas convicções políticas claras e era capaz de mudar para tudo. Um dos resultados disto foi que, ao longo desta campanha, Pablo Iglesias disse que Pedro Sánchez não é de confiança. Diz que foram enganados, porque não cumpriu nenhuma das grandes medidas económicas. A única de que fala é a subida do salário mínimo, mas fê-lo já em modo de campanha eleitoral. Ele sabia que íamos para eleições e, por isso, interessava-lhe vender isso. Mas regular o arrendamento de casas, aplicar os impostos aos bancos, fazer a reforma laboral, repensar a financiamento autonómica… não houve nada disso. O governo Frakenstein não existiu na verdade, porque, no final de contas, só governou Sánchez, que fez o que quis. Fez concessões ao Podemos, mas foram muito poucas. E por isso é que o Podemos quer fazer parte do próximo governo. Caso contrário, Sánchez não vai fazer nada do que eles queiram.

Pablo Iglesias aliou-se a Pedro Sánchez para tirar Mariano Rajoy do poder. Mas, no final, várias das suas condições não foram cumpridas por Pedro Sánchez (OSCAR DEL POZO/AFP/Getty Images)

(OSCAR DEL POZO/AFP/Getty Images)

E quanto aos independentistas? É que se olhamos para o Podemos, a verdade é que a possibilidade de um pacto entre Sánchez e Iglesias era real ao longo de 2016. Mas os independentistas, neste contexto, já era mais inesperado, não?
Não, não era. Houve uma reunião, antes da aplicação do Artito 155 na Catalunha, entre José Luis Ábalos [atual ministro do Desenvolvimento e secretário de organização do PSOE] com o conselheiro catalão Santi Vila, na qual discutiram a votação de uma moção de censura. Isso sempre foi uma possibilidade no campo dos independentistas. E, claro, depois do artigo 155 e depois de ver que o governo de Rajoy se impunha na Catalunha, eles apoiaram a moção de censura sem exigir nada em troca. Nesse momento, havia uma obsessão do governo catalão para fugir à mão dura do PP e passar ao diálogo do PSOE. Mas a promessa de diálogo foi mesmo a única promessa que houve com os catalães. Porém, houve mais concessões ao Partido Nacionalista Basco (PNV), que foi quem deu os últimos votos necessários para aprovar a moção de censura. Sánchez prometeu-lhes que iam respeitar os orçamentos acordados entre Rajoy e o PNV e que não ia convocar eleições de forma imediata. Antes disso, teria de haver um período de estabilidade política, para que o PNV conseguisse aplicar esses investimentos e essas delegações de competência que estavam previstas no orçamento.

Se ganhar as eleições no domingo, Pedro Sánchez terá, de qualquer forma, de negociar com outros partidos. Por isso é que lhe gostava de perguntar como são as relações dele com os restantes líderes partidários. Falemos, por exemplo, de Albert Rivera, do Ciudadanos, com quem Sánchez parecia ter uma relação de proximidade na primeira metade de 2016 — ao ponto de terem feito um acordo para Pedro Sánchez governar. Mas agora, como se viu nos debates, a relação entre os dois é muito pouco cordial.
As pontes foram completamente destruídas. A relação entre os dois não existe. Mas a verdade é que, creio eu, se eles tiverem de chegar a um acordo, eles farão um acordo. Sinceramente. Não creio que Pedro Sánchez não tenha a capacidade de passar ao lado destas questões quando o que está em jogo é a sua continuidade no governo. Não creio que a relação pessoal seja determinante, apesar de, neste momento, ser mesmo muito má.

"Ele disse isto: 'Viver é adaptarmo-nos'. Sánchez é um animal político, capaz de se adaptar-se. É capaz de cantar a Internacional com o punho erguido nas primárias e depois escolher para ministra da Economia uma funcionária da União Europeia que dá garantias de austeridade e de controlo do défice. Ele é muito camaleónico."
Carmen Torres, jornalista e autora do livro "Instinto de poder - La convulsa trayectoria de un hombre obsesionado con ser presidente"

Então não está de todo fora de hipótese um acordo entre o PSOE e o Ciudadanos.
Não está, não. Neste caso, é muito mais difícil para Rivera, porque ele empenhou muito a sua palavra. Mas ele também já o fez contra Rajoy. Em 2015, ele disse que nunca iria chegar a um acordo com Rajoy e que não lhe daria o seu apoio. Em 2016, depois das eleições, quando já se ia a caminho de umas terceiras eleições, lá lhe deu apoio. Por isso, é preciso ver o contexto. Rivera agora diz que não. Mas imagine-se que há uma situação de bloqueio e se repetem as eleições… Aí, já teria um contexto político que poderia justificar a sua mudança de opiniões. Rivera pode dizer que é preciso estabilidade, que não podemos ir a segundas ou terceiras eleições ou até que Pedro Sánchez não pode cair nos braços dos independentistas.

Mas para governar com o Ciudadanos, o PSOE e o Ciudadanos não chegam por si só. Quem é que se poderia juntar a isto?
Mais do que alguém para se juntar, hoje em dia o que há que fazer é garantir a abstenção. Quando Rajoy governou no segundo mandato também não tinha maioria absoluta, mas o PSOE teve uma abstenção que permitiu aquele governo. Então, qualquer governo que houver agora, seja do PSOE ou Podemos, do PSOE e do Ciudadanos e também do PP com o Ciudadanos, pode ser obtido com a abstenção de outro grupo importante. Não é preciso que outros entrem no governo. Imagine-se um governo do PSOE e do Ciudadanos em que o PP ou o Podemos se abstêm. Isso já bastaria, numa votação de segunda volta. Foi isto que se passou com Rajoy.

Sim, é um facto. Mas depois também é possível que lhe façam a ele, Sánchez, uma moção de censura igual à que ele fez a Rajoy.
Claro. O facto é que está tudo em aberto, por agora. Mas também é certo que não é preciso ter todos no governo.

(AFP/Getty Images)

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Fale-me também da relação que Sánchez tem com Pablo Iglesias.
A gente do Podemos foi toda utilizada e enganada por Pedro Sánchez. Pablo Iglesias foi quem mais trabalhou para que a moção de censura passasse. Fartou-se de trabalhar, inclusive foi ele que falou com os independentistas para convencê-los a apoiar a moção. E o Pablo Iglesias fez tudo isto a pensar que ia tirar daqui uma recompensa. No final de contas, percebeu que as coisas não foram assim. Pedro Sánchez trabalhou para si próprio e mais ninguém. O resultado disso para o Podemos está à vista. Estão muito mal nas sondagens. Por isso, neste momento, Pablo Iglesias desconfia muito de Pedro Sánchez pessoalmente. Sabe que, se Sánchez não precisar dele, não lhe vai dar nada. Por isso é que Pablo Iglesias passa a sua campanha reclamar esse papel de influência sobre Pedro Sánchez. Porque se isto corre mal, isto pode ser o fim da carreira política de Pablo Iglesias. Pablo Iglesias pôs o seu futuro nas mãos de Pedro Sánchez.

É tudo como se Sánchez tivesse já tudo escrito. É um homem cujo pior defeito é também a sua maior virtude, que é a plasticidade.
Sim. Ele é uma pessoa muito fria, impassível e com pouca capacidade de empatia. Por exemplo, quando chega ao governo, ele prescinde dos seus melhores amigos. Não os leva para Moncloa. E estas são as pessoas que mais lutaram por ele! O seu chefe de gabinete, Juan Manuel Serrano, e a sua chefe de imprensa, Maritcha Ruiz Mateos. Não leva nenhum deles a Moncloa, quando, no seu próprio livro, diz que são duas pessoas super importantes para ele. E porque faz isto? Porque sabe muito bem que há uma grande diferença entre a política e as relações pessoais. E há muita gente que ou não entende isto ou não lhes convém. Porque acham que, havendo uma relação pessoal, ela deve estar por cima de tudo o resto. Foi isso que se passou, em parte, com Pablo Iglesias. Por muito que tenha tentado tecer a relação pessoal, para Pedro Sánchez isso não importa. Uma coisa é a política e outra coisa são as relações pessoais. Ele fez isso com os seus próprios amigos. Se não demonstrou empatia com os seus amigos, como é que poderia demonstrar com quem não tem um vínculo desse tipo?

Há pouco falava de póquer, mas também podia ser xadrez…
… sim. E se ele tiver de prescindir de um peão, assim será. Doa o que doer — e não creio que lhe doa assim tanto.

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