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Telmo Faria: "Não me parece que [tenham saído para o Chega] altos quadros com pensamento altamente sofisticado"

Cabeça de lista da AD por Leiria, Telmo Faria alerta para populismo de André Ventura mas também para aquele que diz ver em algumas medidas apresentadas por Pedro Nuno Santos.

Telmo Faria estava afastado do combate partidário desde que coordenou o programa político de Santana Lopes nas diretas de 2018. Agora, volta pela mão de Luís Montenegro. O cabeça de lista da coligação AD por Leiria defende que, o PSD deve viabilizar um Governo minoritário do PS caso fique em segundo lugar nas eleições. No entanto, acha pouco provável que a AD não vença as eleições.

Sobre o Chega, admite que é um “caso sério” e acusa Ventura de populismo ao prometer medidas que fariam que “nem uma nova troika” pudesse salvar o país. Desvaloriza ainda as saídas do PSD para o Chega, quando diz que não lhe parece que as pessoas que saíram tenham um “pensamento altamente sofisticado ou que sejam muito relevantes na cena política nacional”.

[Ouça aqui na íntegra a Vichyssoise desta semana ]

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“PSD está no meio de dois populistas: Pedro Nuno e Ventura”

Luís Montenegro precipitou-se quando disse que não governa se ficar em segundo lugar nas eleições, mesmo que haja uma maioria de direita.
Mais do que discutir o pós-eleições,  ainda temos que entrar na segunda parte do jogo, não é?  Ainda não entrámos propriamente, naquela dinâmica de confronto de ideias, de lançar os desafios de mostrar as grandes diferenças entre o que está em jogo. E, portanto, Luís Montenegro, acima de tudo, tentou responder às questões que têm sido colocadas pela comunicação social, mas é preciso agora dar tempo a esta campanha para angariar, a partir daqui, um grande resultado eleitoral. Será nessa noite, olhando para o resultado daquilo que os portugueses disseram, que será o momento certo para se fazer a conjugação, digamos,  do que será o cenário pós-eleições. Mas também se percebe que Luís Montenegro tenha querido acautelar que a candidatura do PSD não queria seguir um caminho de alguma ligação a um discurso demasiado populista e radical que está a penetrar na sociedade portuguesa e no panorama político português. Portanto, há aí uma declaração de interesse inicial e que é bem compreendida à luz daquilo que são as forças e também os problemas que estão em cima da mesa na política portuguesa.

Mas, ficando em segundo nas eleições, então, nunca seria possível ao PSD governar e ele fez bem em deixar isso claro, que tem que vence e que tem que ter mais um voto que Pedro Nuno Santos para governar.
O que ele fez bem foi, mesmo com uma certa humildade, ter conseguido ir buscar um modelo que fosse uma referência para a moderação política portuguesa. Essa é a grande novidade do Luís Montenegro quando lança este projeto de coligação não ligando até ao tamanho dos seus parceiros enquanto partidos políticos, mas, sobretudo, como uma plataforma de trazer mais partidos,mais independentes, dar mais abertura à sociedade portuguesa. Esse é já, neste momento, o grande contributo e é à volta disso que vamos ver um grande crescimento eleitoral. Não me parece que, no estado em que as coisas estão que haja lugar para uma repetição de uma vitória socialista. Muito francamente, não é apenas uma convicção pessoal, nem querer ignorar os estudos de opinião feitos até agora,  é, na minha opinião, muito difícil que nestas eleições à AD não as ganhe.

"Chega está a prometer medidas que são muito difíceis de implementar porque desgraçariam o país"

Um das marcas que estava a falar de se afastar desse discurso populista é o ‘não’ rotundo ao Chega. Já percebemos que concorda com esse não rotundo e com esse descartar de qualquer acordo com o Chega. Seria legítimo, de alguma maneira, que Luís Montenegro se retirasse o PSD indicar outra pessoa que pudesse eventualmente fazer um acordo com o Chega num cenário de maioria de direito e formar governo?
Aquilo que nós temos que meditar é sobre o Chega. É sobre aquilo que o Chega está a dizer. A comunicação social fez um trabalho importantíssimo após a última convenção, no fim de semana passado, de nos demonstrar o impacto de três medidas altamente populistas do Chega. Tem a sua atração, não é? Quem é que não gostaria de deixar de pagar IMI ou outro tipo de medidas que são ali lançadas. E esse impacto é um impacto que nos levaria a um quadro de dificuldades que talvez nem uma nova troika fosse suficiente para resolver. E, portanto, mais do que aquela estigmatização que — fruto também das posições altamente radicais que o André Ventura fez numa fase mais inicial do seu projeto político — aquilo que nós agora temos que considerar é o que o Chega está também a oferecer ao país, qual é a narrativa, com o que o Chega está a querer crescer. E, nesse sentido, parece-me que a Aliança Democrática tem aqui um papel quase patriótico, porque está no centro de um sistema em que temos um populismo, um líder também muito populista, Pedro Nuno Santos, que também traz um novo radicalismo a um espaço que foi, por exemplo, um espaço altamente moderado dos socialistas históricos. E, à sua direita, digamos, dentro do espectro da direita  e do centro-direita, um partido que está em um líder que está a querer prometer medidas que são muito difíceis de implementar porque desgraçariam o país.

"O Chega é um partido de protesto e não vai mudar o seu ADN"

Mas não acha que André Ventura, ao ir buscar figuras ao PSD, está a afastar-se desse modelo mais radical a que se referia?
O nosso espectro político está precisamente confrontado entre a moderação e o radicalismo. E que os políticos estão a tentar descobrir novas narrativas para tentar resolver os problemas ou fazer com que pareça que resolvem os problemas. E, portanto, não me parece que o Chega esteja com essas iniciativas ou com alguns truques de narrativa ou retóricos a sair muito daquilo que é a sua identidade, o seu ADN.  É um partido de protesto e é um partido que claramente acena a eleitores do PSD, a eleitores moderados.

"Se as medidas do Chega fossem aplicadas talvez nem uma nova troika fosse suficiente para resolver [os problemas financeiros que daí decorreriam"

Mas a verdade é que André Ventura já anunciou alguns candidatos  que estiveram no PSD.

Mas veja que tipo de quadros é que o Chega está a obter vindo da área do PSD. O discurso e a narrativa é radical.  O discurso é populista também.

 Dessas pessoas do PSD?
Ém discurso muito populista a partir do momento em que aquilo que estamos a oferecer é impraticável.

"As pessoas são livres de apostarem nos projetos políticos que entendem e o Chega é um caso sério"

Mas também já era populista o discurso dessas pessoas do PSD que integraram o Chega?
Não, não é isso que eu estou a dizer.  Aquilo que eu estou a dizer é uma situação nova, é um quadro político novo. Não estamos habituados a ver transferências entre pessoas ou militantes. Mas não me parece que estejamos a lidar com altos quadros políticos que tenham um pensamento altamente sofisticado ou que sejam muito relevantes na cena política nacional. Agora, as pessoas são livres de apostarem nos projetos políticos que entendem e o Chega é um caso sério. Nós temos que olhar para esta narrativa e para este partido e tentar perceber porque é que estão a ser tão atrativos e à custa de quê. E é preciso desmontar e lutar. E para fazer isso, nós só conseguiríamos fazê-lo se recentrarmos o sistema político, a narrativa política e se voltarmos a falar de uma moderação que tem que ser feita à custa de credibilidade. Nós precisamos de medidas que sejam suficientemente atrativas, de ideias que sejam exequíveis para precisamente combater este tipo de ideias mais radicalizadas.

Na circunstância de que há pouco falávamos de haver uma maioria de direita e o PSD ficar em segundo, o PSD deve deixar o PS governar com um governo minoritário?
Acho que nós não estamos a trabalhar para ter esse cenário. Aquilo que nós temos que fazer neste momento é uma campanha política.

"Sempre partilhei da opinião" de que o partido mais votado deve formar Governo mesmo em minoria.

Mas, por exemplo, o líder de outro dos elementos da AD, Nuno Melo, disse ontem na CNN que quem vence deve governar. Se Pedro Nuno Santos ficar à frente do PSD deve governar com um governo minoritário?
Sempre partilhei dessa opinião. Mas não acredito que a AD venha a ficar em segundo lugar, quando estamos prestes a arrancar com uma dinâmica de campanha muito baseada num modelo novo de transformação para o país. Acho que podemos todos entreter-nos nesse tipo de avaliações, ficar em segundo, a poucos pontos, contar os mandatos, fazer essa extrapolação, faz parte até do jogo político, mas é um exercício especulativo.

Independentemente de quem fica em primeiro ou em segundo, que papel é que pode ter aqui Marcelo Rebelo de Sousa nesse processo? Deve exigir acordos escritos, seja qual for a solução, seja à esquerda ou à direita?
Acho que sim. Já se viu que os modelos escritos foram iniciados pelo professor Cavaco Silva quando era Presidente da República. Deu até uma certa credibilidade e estabilidade ao Governo que, então, António Costa quis fazer com a esquerda.

Há umas eleições nos Açores antes destas legislativas. O cenário que sair de lá pode ser um problema para a Aliança Democrática,para o PSD Nacional, caso José Manuel Bolieiro seja forçado a fazer um acordo com o Chega?
A realidade dos Açores é a realidade dos Açores e a narrativa do Chega dos Açores, a campanha, as medidas, tudo isso tem que ser levado na linha de conta. Mas não me parece que possa haver uma contaminação da campanha das legislativa. É um quadro de construção de espaço de intervenção, mas o PSD Açores também está a ser muito claro naquilo que está a dizer aos eleitores e, portanto, não me parece que isso seja o problema que temos em cima da mesa. Esse é o da falta de explicitação sobre aquilo que são as grandes diferenças entre os dois partidos políticos portugueses. Entre um novo líder que trouxe um discurso mais radicalizado, em que as medidas são altamente populistas, em que abre um congresso ou fecha um congresso do PS a falar dos salários mínimos dos mil euros e das pensões, sem nunca pôr a tónica de como é que se aumenta a riqueza em Portugal. Esse é o debate que nos falta, era isso que devia mobilizar mais os portugueses e que tem que mobilizar os atores políticos neste momento. Portanto, não me parece que a análise especulativa sobre a construção de cenários pós-governativos seja o grande motor destas eleições, porque isso vai fazer-nos escapar ou passar ao lado daquilo que é uma linha mais importante para o futuro de Portugal. Precisamos de um modelo de transformação e isso tem que ser a base da nossa discussão, da nossa campanha e do esclarecimento até 10 de março.

Novo líder do PS "trouxe um discurso mais radicalizado, em que as medidas são altamente populistas"

O Chega vai crescer naturalmente no seu distrito também, Leiria. O PSD sempre venceu ali, excepto nas últimas legislativas. O crescimento do Chega é um obstáculo a que o PSD volte a vencer no distrito que vai a liderar?
Como eu disse, há que enfrentar o Chega com toda a… Não vale a pena meter a cabeça na areia. Nós temos imensos eleitores que foram eleitores do PSD e o PSD é o maior partido dentro da AD, e portanto quando dizemos que foram eleitores do PSD é porque não havia AD nos últimos anos. Aquilo que acontece é que as pessoas já acham que só o André Ventura fala as verdades. Já acham que só com muito protesto e com muita radicalização é que conseguimos vencer e construir um novo sistema político. Isto é o que me preocupa. Durante muitos anos estudei as ditaduras e os movimentos autoritários e assisti a toda esta retórica antiliberal, que não foi só uma ameaça ao sistema demoliberal nos anos 30, construiu muitas ditaduras na Europa que perduraram durante muito tempo. O caso português é um exemplo de quase 50 anos de falta de liberdade democrática. E 50 anos depois da nossa democracia voltamos a ter esta ideia de que não está tudo garantido e há uma luta entre políticos moderados, propostas moderadas, responsáveis e propostas mais populistas e mais radicalizadas. Por exemplo, no caso do PS, ninguém está a esmiuçar uma proposta dita em Congresso de que o Governo passará a intervir no modelo económico do país como nunca. Isto é para mim uma preocupação enorme, porque não podemos, 50 anos depois, 25 de Abril, nós estarmos agora a voltar a uma espécie de proposta de novo dirigismo económico, de para-estatização, de maior intervenção global, de maior intervenção pública em áreas que precisam tudo menos do Estado. E portanto, quando nós assistimos de um lado a isto e do outro, digamos, à nossa direita, a propostas muito sexy, como “vamos acabar com o IMI”… Quem é que não gostaria de deixar pagar o IMI?

Já que estamos em matéria de cenário macroeconómico, ainda esta semana o PS apresentou as suas perspetivas de uma economia a crescer 3,5%, a dívida pública abaixo dos 90% do PIB, um ligeiro défice orçamental, o emprego a 1%, a crescer 1% ao ano, e as exportações a 4%. Se António Costa era otimista e irritante, os economistas do PSD são ultra-irritantes neste otimismo. Isto não pode perturbar aquilo que são as perspetivas económicas do PSD? Não é otimismo a mais?
Primeiro a metodologia: não fazer isso de uma forma leviana. Fazê-lo com gente, com capacidade, com credibilidade. Nós estamos a precisar disso na política e no país. Dizer ao que vem, colocar o balizamento daquilo que é o quadro,macroeconómico, onde se vão construir depois as políticas setoriais e onde podemos intervir. E eu acho que Portugal precisa de rumo, mas precisa de segurança. Não podemos voltar a pensar numa nova troika. Não podemos voltar a pensar em ameaças de despesismo público que cabem por nos fazer regredir como aconteceu ainda bem recentemente.

Voltou a ser noticiado mais um capítulo da casa de Luís Montenegro em Espinho e a relação com a autarquia. Isso pode prejudicar o percurso do PSD, sendo que isso está a afetar a imagem pública do líder da Aliança Democrática?P
Poderemos estar sempre permanentemente à volta desses temas. Luís Montenegro teve uma postura de disponibilizar e de colaborar com toda a clareza e com toda a frontalidade em relação a isso. Agora, ele não poderá impedir que esses movimentos possam surgir neste período. Também eu acho que os portugueses acabam por perceber que é o tempo para que isso possa acontecer. O que foi dito é que não há ilegalidades, não há irregularidades e, portanto, é preciso confiar nessa postura e eu acho que a postura tem sido irrepreensível até agora.

Vamos passar ao Carne ou Peixe, em que pode escolher apenas uma de duas opções. Quem é que convidaria para uma estadia num dos seus hotéis em Óbidos durante uma campanha presidencial? Pedro Passos Coelho ou Pedro Santana Lopes?
Pedro Santana Lopes já tive o prazer de o fazer serenar nas minhas instalações. Mas gostaria muito que o Pedro Passos Coelho pudesse perceber o que é que é a inovação a partir da sustentabilidade no modelo turístico português.

Com quem é que preferia beber uma ginginha de Natal e igualmente presidencial, com Paulo Portas ou Marques Mendes?
São ambos muito simpáticos. Acho que Marques Mendes ultimamente tem mostrado estar muito em forma, se bem que no domingo, teremos a oportunidade de poder beber uma ginginha com Paulo Portas, na Convenção da AD.

Estamos num cenário em que era ministro das cidades e tinha de negociar a descentralização com um líder da oposição. Preferia Pedro Nuno Santos ou José Luís Carneiro?
Eu sou amigo de José Luís Carneiro. Ele mostrou ter capacidade de dividir o Partido Socialista em pouco tempo, quase 40% é um resultado notável. Mas gostava muito de lidar com Pedro Nuno Santos porque aí era já a configuração que eu lhe desejo a que seja: líder da oposição.

E para terminar, preferia ser vice-presidente de Luís Montenegro no PSD na oposição ou ministro num governo liderado por Carlos Moedas?
Para já não tenho nenhuma tentação governativa, nem nenhuma tentação de assumir nenhum cargo. Não tenho nenhum cargo na estrutura do partido. Aquilo que eu acho é que o PSD, uma vez por todas, tem que juntar muitas pessoas sem pensar nisso.

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