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Nos seus tempos mais áureos, o Cameo chegou a ter quase 400 trabalhadores e mais de 50 mil talentos

Bloomberg via Getty Images

Nos seus tempos mais áureos, o Cameo chegou a ter quase 400 trabalhadores e mais de 50 mil talentos

Bloomberg via Getty Images

Um ator de Hollywood a cantar-lhe os parabéns? Celebridades aderem ao Cameo, a plataforma onde os fãs pagam por vídeos personalizados

Os fãs pagam e as celebridades gravam vídeos personalizados. É assim que funciona o Cameo, plataforma que os atores em greve têm usado para ganhar dinheiro. Abel Xavier será o único português por lá.

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É um daqueles casos em que parece que a ficção se torna realidade. Em “And Just Like That”, série da HBO que dá continuidade à história de “O Sexo e a Cidade”, a personagem Che Diaz (interpretada por Sara Ramirez) começa a fazer vídeos para o Cameo depois de o episódio de estreia da produção em que ia participar ter sido cancelado. Neste momento, nos Estados Unidos, os atores que estão em greve há mais de 50 dias também recorrem a essa plataforma para ganhar algum dinheiro, através de vídeos curtos e personalizados.

Proibidos de promover as produções em que participam, sem rodar novos filmes ou séries, sem poder dar entrevistas ou ir a eventos de entrega de prémios, há membros do Sindicato de Atores de Hollywood (SAG-AFTRA) que começaram a dedicar-se à realização de vídeos pedidos (e pagos) pelos fãs. Em declarações à CNN Business, o CEO do Cameo, Steven Galanis, revelou que, desde o início da greve, foram mais de 2.400 os atores que criaram uma conta ou que reativaram a que já tinham. É o caso de Fran Drescher, atriz conhecida pelo seu papel na série “The Nanny” e que é presidente do SAG-AFTRA, que regressou à aplicação, mas que não se encontra a aceitar pedidos para fazer vídeos.

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Os pedidos às celebridades variam entre desejos de feliz aniversário e pedidos de casamento, mas também há quem use o Cameo para terminar relações. Além de atores, a plataforma também é utilizada por músicos, comediantes, criadores de conteúdo, participantes de reality shows e atletas. Na plataforma predominam personalidades norte-americanas, com a ausência de portugueses a ser notória. O antigo futebolista Abel Xavier é praticamente a única exceção.

Ao Observador, o ex-jogador, que surge no Cameo como “lenda do futebol”, diz acreditar que a aplicação “pode dar soluções” e pode, eventualmente, ajudar a “minimizar o impacto da greve” nos atores. Por outro lado, afirma, há quem utilize o Cameo (como é o seu caso) apenas para “devolver e retribuir” o carinho dos admiradores.

O perfil de Abel Xavier no Cameo

O que permite que os atores continuem no Cameo?

Apesar de não conseguirem promover as produções em que participam, nem mesmo nas redes sociais, os membros do Sindicato de Atores de Hollywood têm autorização para fazer vídeos personalizados para o Cameo. Foi Sue-Anne Morrow, diretora nacional de iniciativas estratégicas contratuais e podcasts do SAG-AFTRA, que garantiu que “desde que não se promova o trabalho atingido pela paralisação dentro do Cameo, não há problema” em utilizar a app.

Além dos vídeos para os fãs também é permitido gravar para empresas. Em maio, meses antes da greve ter começado, a plataforma e o sindicato chegaram a acordo para que os rendimentos do Cameo for Business — serviço para as empresas que procuram talentos para gravar vídeos para promover um determinado produto — possam ser contabilizados para que os profissionais tenham acesso a benefícios de saúde e pensões. O entendimento chega após o SAG-AFTRA ter divulgado que 86% dos seus atores não ganham o mínimo exigido para terem direito a um seguro de saúde (ou seja, o seu rendimento não atinge os 26.470 dólares anuais).

Falando sobre o acordo, Steven Galanis notou que o Cameo for Business tem “literalmente a bênção do Papa”, sendo que, neste caso, o chefe da Igreja Católica é personificado pelo SAG-AFTRA. Por sua vez, o sindicato descreveu o entendimento como “inovador” e a sua líder mostrou-se “orgulhosa” por estar a acompanhar as “mudanças da indústria”.

Estou muito entusiasmada com este novo acordo e orgulhosa por termos encontrado uma forma inovadora para que os nossos membros” ganhem para os benefícios de saúde e pensões. “É uma vitória para todos os envolvidos”, defendeu Fran Drescher, que é citada pelo Deadline.

Os vídeos do Cameo for Business, explica o Insider, têm uma licença diferente dos outros (com uma validade que varia entre os 15 e os 45 dias), uma vez que não são para uso pessoal, mas para uso comercial e promocional. Para que as imagens não sejam utilizadas fora de contexto, a plataforma determina que os vídeos com uma componente publicitária não podem ser editados.

"Se for bem utilizado, é um instrumento acima de tudo de cariz social porque, de facto, há determinadas situações que não têm valor económico."
Abel Xavier

As figuras públicas cobram mais pelos vídeos para as empresas do que para os fãs. Por exemplo, Fran Drescher pede 1.500 dólares por um “vídeo pessoal”, mas no Cameo for Business o preço sobe para 5.250 dólares. O mesmo acontece com Abel Xavier: 35 dólares para um vídeo personalizado para os fãs, 245 se for no Cameo for Business. A CNN detalha que o preço médio de um vídeo com fins comerciais é de 1.700 dólares, enquanto o dos restantes é de cerca de 70 dólares.

O Cameo diz que os “talentos” — que incluem atores, músicos, humoristas e atuais ou antigos futebolistas — recebem 75% do valor que cobram. Os restantes 25% e “qualquer taxa de serviço” ficam para a plataforma. E detalha que cada figura pública tem a capacidade de definir os montantes que pretende cobrar.

Abel Xavier, que entrou na plataforma “há uns anos” (não especifica quantos) após ter sido convidado por um amigo que tem nos Estados Unidos, garante que “não é a vertente económica” que o preenche ao utilizar o Cameo, mas sim a história das pessoas. “Se for bem utilizado, (…) é um instrumento acima de tudo de cariz social porque, de facto, há determinadas situações que não têm valor económico.”

Por isso, o atual comentador desportivo não revela quanto dinheiro já fez com a aplicação, nem o número de pedidos para fazer vídeos que recebe em média por semana ou por mês. “Isso eu não posso dizer porque tem que ver com a popularidade, a solicitação e a notoriedade de cada um”, afirma, em chamada telefónica com o Observador. Na plataforma, Abel Xavier conta com 17 avaliações, todas de cinco estrelas (nota máxima).”O vídeo ficou ótimo, personalizado e cheio de boas vibrações” e “mensagem muito comovente e pessoal” são alguns dos elogios que recebeu dos fãs que pagaram por um vídeo.

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A atriz Fran Drescher é a presidente do Sindicato de Atores de Hollywood

AFP via Getty Images

Os vídeos que vão desde pedidos de casamento a divórcios

De nomes mais a menos conhecidos, desde 2017 que qualquer pessoa pode contratar uma figura pública para gravar um vídeo personalizado. A recente afluência ao Cameo, após o início da greve, representa um aumento de 137% face ao mês de junho, naquele que é o maior crescimento da plataforma desde o início da pandemia. Ainda assim, o The New York Times detalha que o número de solicitações de vídeos não sofreu grandes alterações, algo que a empresa diz não estranhar, uma vez que essas costumam diminuir em julho (mês que tradicionalmente tem menos eventos).

É através do site ou da aplicação do Cameo (esta última não está disponível em Portugal) que é possível pedir um vídeo a personalidades como, por exemplo, Lindsay Lohan (protagonista de filmes como “Mean Girls” e “The Parent Trap”), Brian Cox (o Logan Roy da série “Succession”) ou Alyssa Milano. A atriz, que participou na sitcom “Who’s the Boss?”, regressou recentemente à plataforma. Cobra 300 dólares por cada vídeo e considera que este tipo de interação com aqueles que gostam de si é “uma ótima forma” de complementar os rendimentos durante “este período de inatividade”.

Após selecionarem o perfil da personalidade que pretendem, os fãs podem dar-lhe mais informações para que fique explícito o que pretendem e qual o objetivo do vídeo. O The Wall Street Journal escreve que, ao longo dos últimos três anos, as palavras “desculpa” e “sinto muito” estiveram nas instruções de mais de 5.500 pedidos. Outros cinco mil continham a palavra “divórcio”, dois mil mencionavam “separação” e mais de mil referiam despedimento.

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Abel Xavier é praticamente o único português no Cameo

NurPhoto via Getty Images

A experiência de Abel Xavier na plataforma não está refletida nesses números. “Muitas vezes” é-lhe solicitado que felicite alguém que se vai casar, que fale sobre “aspetos pessoais de conquista”, que dê “forças” a pessoas que estão doentes ou que perderam um ente querido ou ainda que deseje sucesso a “alguém que chegou ao objetivo de ganhar um prémio individual ou coletivo”. No entender do antigo jogador de clubes como Benfica e Liverpool, a plataforma está “bem conseguida” porque tem “muitas pessoas de vários setores, que exerceram posições de alguma notoriedade e algum sucesso ao longo da carreira”, o que permite uma maior proximidade com os fãs.

No Cameo, as personalidades podem recusar-se a gravar vídeos se não se identificarem com o tema pedido. Desta forma, Abel Xavier diz que filtra as solicitações levando em consideração “aquilo que é mais adequado em relação ao percurso da [sua] carreira” e em relação à sua vontade em “poder ajudar os outros”.

As figuras públicas têm até sete dias para cumprir os pedidos dos fãs, sendo que esses são notificados quando o fazem. Caso se recusem a gravar ou não respondam a tempo, o valor cobrado será devolvido. Os vídeos, que “não são reembolsáveis” para aqueles que não gostarem do resultado final, podem ser descarregados e partilhados online.

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A aplicação do Cameo não está disponível em Portugal, mas é possível aceder através do site

Bloomberg via Getty Images

Do crescimento na pandemia aos despedimentos recentes

Apesar de ter sido criado em 2017, foi durante a pandemia — altura em que algumas personalidades sentiram necessidade de recorrer a alternativas para aumentar os seus rendimentos — que o Cameo viu o seu negócio mais do que quadruplicar. Há três anos terá gerado cerca de 100 milhões de dólares em receita bruta. Em 2021, chegou a estar avaliada em mil milhões de dólares, depois de ter angariado 100 milhões de dólares de investidores como a Amazon e a Google.

Desde então, o ritmo de crescimento terá diminuído. A plataforma despediu cerca de 80 trabalhadores no mês passado, o que a deixou com menos de 50 funcionários. A informação foi avançada pelo The Information, que relembrou que já em 2022 o Cameo tinha, por duas vezes, demitido funcionários devido a “mudanças rápidas” nas condições de mercado.

O mesmo jornal revelou, há cerca de um mês, que o Cameo está com dificuldades em conseguir novos financiamentos e indicou que alguns dos investidores esperam que a empresa encontre um comprador, estimando que uma possível venda possa valer 50 milhões de dólares. No ano passado, o SoftBank avaliava a plataforma no dobro desse valor.

Nos seus tempos mais áureos, o Cameo chegou a ter quase 400 trabalhadores e mais de 50 mil talentos. Atualmente, o número de personalidades que tem não é conhecido. O Observador questionou a empresa, não só para obter essa informação como também para perceber se tem capacidade de resposta para uma eventual chegada de mais atores (considerando o número reduzido de funcionários com que conta atualmente), mas não obteve qualquer esclarecimento.

O Observador também tentou, sem sucesso, perceber junto do Cameo quantos “talentos” e quantos utilizadores tem em Portugal. Ao aceder à plataforma é possível perceber que as páginas de figuras como Joaquim de Almeida (ator), Fernando Ribeiro (vocalista dos Moonspell), Jorge Andrade (ex-futebolista) ou André Villas-Boas (treinador de futebol) já não se encontram disponíveis. O perfil de Nic von Rupp, surfista de ondas gigantes, ainda se encontra acessível, mas com a indicação de que não está a receber pedidos para vídeos.

Abel Xavier, a única personalidade portuguesa que o Observador encontrou que ainda utiliza a plataforma, acredita que existem poucos portugueses que sabem o que é o Cameo e diz que nunca o publicitou ou divulgou porque crê que é “um processo orgânico acima de tudo”. “Não vou atrás de outro tipo de objetivos. Eu pretendo que as pessoas consigam perceber o que a plataforma faz para poderem depois, de uma forma consciente, fazer os pedidos e as solicitações que entendem”.

 
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