Durante o debate com o líder social-democrata, Catarina Martins disse que “o quadriénio em que Portugal cresceu mais desde a entrada no Euro foi entre 2015 e 2019, altura também em que mais reduziu a sua dívida”. A resposta foi dada a Rui Rio depois de este defender que a recuperação da economia deve ser feita “pelo lado da oferta e não da procura”, com uma “aposta” que, considera, “deve ser nas empresas, na produção, nas exportações e investimento” e que levará a “mais consumo”.

Rio criticava o que dizia ser a estratégia do PS e do Bloco, que “aciona o crescimento económico pelo consumo”, esperando que a oferta “venha por arrasto”. Essa visão, para o social-democrata, gera mais inflação e défice externo. Catarina Martins acabaria por contrapor, dizendo que “o que fica provado é que, ao contrário do que defende a direita (…), é com mais salários que o país pode crescer”. Mas estão os cálculos do crescimento económico e da redução da dívida corretos?

Comecemos pela primeira parte da afirmação. Circunscrevendo a análise ao período após a entrada no Euro, em 1999, segundo os dados do INE, é verdade que foi no quadriénio entre 2015 e 2019 que o crescimento foi maior e sempre acima de 2%: respetivamente, de 2,02% do PIB em 2016, 3,51% em 2017 (o terceiro maior aumento do período em análise), 2,85% em 2018 e 2,68% em 2019.

Todas as outras somas ficam abaixo deste valor, mesmo apesar de 1999 e 2000 terem sido anos com crescimentos acima dos 3% (3,91% e 3,82%, respetivamente). De facto, na maior parte dos anos em análise, o PIB cresceu, com exceção para 2003 (-0,93%), 2009 (-3,12%) e os anos de intervenção da troika: 2011 (-1,70%), ano de assinatura do memorando de entendimento, 2012 (-4,06%) e 2013 (-0,92%), voltando ao crescimento em 2014, ano da saída da troika.

A afirmação também é correta no ponto que toca à dívida das administrações públicas, se considerada em percentagem do PIB: o indicador baixou entre 2016 e 2019, de 131,5% para 116,6%, uma quebra de mais de 11%. Em 2020, voltou a disparar por força da pandemia para os 135,2%.

Depois de uma quebra em 2000, entre esse ano e 2006, a trajetória da dívida bruta das administrações públicas em percentagem do PIB foi sempre crescente, caindo ligeiramente em 2007. A um ritmo mais ou menos rápido, continuou a subir até 2014, até por via do resgate financeiro a que Portugal se teve de submeter. Depois de uma queda ligeira em 2015, subiu em 2016, para voltar a descer até aos 116,6% de 2019.

Conclusão

É verdade que o quadriénio entre 2015 e 2019 foi aquele em que, desde a entrada no Euro, em 1999, Portugal mais cresceu e mais reduziu a sua dívida pública em percentagem do PIB (em anos de crescimento económico), depois dos anos de intervenção da troika e antes do impacto da pandemia, em 2020.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

CERTO

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