Fernando Medina foi alvo de críticas, nos últimos dias, por uma intervenção que fez há mais de dois anos e que ressurgiu agora. Perante a secção do PS na empresa de transportes Carris, no jantar de Natal de 2019, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa falou, na mesma passagem, sobre a vontade de ver serem reforçados os quadros daquela empresa e da esperança que tinha em ver as fileiras do seu partido reforçadas com militantes socialistas ligados à Carris. “Medina explica que ter o cartão do PS ajuda para entrar na Carris”, atirou Sofia Vala Rocha, vereadora suplente do PSD na maior autarquia do país. Mas foi isso que Medina disse?

No tal excerto que está agora a ser partilhado nas redes sociais, Fernando Medina diz, exatamente, o seguinte: “Estamos, ao mesmo tempo, a contratar mais pessoas, a contratar mais trabalhadores. Espero, aliás, que os possamos convencer da nossa estratégia e que venham a ser trabalhadores do PS e da secção do PS da Carris.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De facto, as duas ideias (reforço da contratação e reforço dos militantes do PS) estão presentes na mesma intervenção do autarca. Mas, ao contrário do que procura difundir Sofia Vala Rocha no Twitter, não é verdade que Medina faça depender a contratação de novos funcionários pela Carris da sua militância prévia no PS — um pressuposto que a social-democrata procura vincar com a ideia de que “ter o cartão do PS ajuda para entrar na Carris”. Muito menos corresponde à verdade dizer que o autarca “explicou” que a militância no PS serviria de empurrão para entrar na empresa.

Analisando a declaração de Medina, fica claro que a contratação de novos trabalhadores para a empresa de transportes da cidade de Lisboa era um ato já em curso. Aquilo que o autarca pretendia, e que manifestou naquelas palavras, era que o PS, enquanto partido no poder em Lisboa (e os trabalhadores da Carris, que são, ao mesmo tempo, militantes socialistas) fosse capaz de captar mais militantes para as suas fileiras entre os novos trabalhadores que estavam a ser integrados na empresa naquela fase.

Mas Sofia Vala Rocha não foi caso único; as palavras antigas de Medina geraram uma certa onda de reações, sobretudo no Twitter. “Medina, contrata trabalhadores do PS, para a carris? Isto é mesmo uma ditadura. Oh my God”, escreveu outro utilizador.

Aliás, as reações foram de tal ordem que o próprio presidente da Câmara Municipal de Lisboa recorreu também ao Twitter para tentar desvalorizar a polémica.

Medina notou que estavam a ser ressuscitadas declarações suas que tinham sido proferidas há “ano e meio” e procurou contextualizar a intervenção. Tratava-se de “um dirigente político” que se limitava a “defender que uma secção partidária — PS da Carris — aument[asse] o número de militantes tentando convencer os colegas da sua estratégia. Surpreendente”, dizia ainda. E, depois, concluía, destacando a reação que já se fazia sentir nas redes sociais. “Segundos depois” da emissão dessas declarações, “os suspeitos do costume começam a calúnia”.

A própria secção do PS na Carris (uma das muitas secções do partido em empresas públicas e, também, empresas privadas em Lisboa) recorreu ao Facebook para reagir à polémica. Além de criticar aquilo que considera ser uma “deturpação” das palavras de Medina, os responsáveis da secção socialista na empresa garantem que “nenhum colaborador da Carris foi contratado em detrimento de outro e da sua cor política, salvaguardando sempre a política de contratações vigentes na empresa”. Na mesma nota, publicada esta quarta-feira, garantem que “nunca foi imposto a nenhum colaborador a militância em nenhum partido político”.

⚠️COMUNICADO⚠️Caros camaradas e amigos, A Secção do PS CARRIS, tem na sua génese temática, divulgar, partilhar e…

Posted by Ps Carris Sectorial on Wednesday, June 30, 2021

Recorde-se que, em janeiro de 2016, o Governo de António Costa anunciou que ia reverter os processos de privatização da Carris e, também, do Metropolitano de Lisboa. Essa batalha, do lado da Câmara de Lisboa, tinha começado quando Costa era autarca na capital. Meses depois de assumir a chefia do Governo, e já com Fernando Medina aos comandos da autarquia, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, anunciou a suspensão da privatização e a reversão das empresas para a CML.

Conclusão

Não é verdade que Fernando Medina tenha dito que “ter o cartão do PS” ajudava na hora de um trabalhador ser escolhido para reforçar os quadros da Carris, uma das principais empresas de transportes de Lisboa.

A intervenção do autarca da capital foram partilhadas nos últimos dias nas redes sociais mas, em muitos casos — como aquele que aqui esteve em análise —, estão a ser deturpadas. Medina defendia o reforço da contratação, independentemente da cor política dos novos trabalhadores. Mas também defendia que a secção do PS na Carris (e o PS, de uma forma geral) fosse capaz de convencer esses novos trabalhadores dos méritos da militância no PS.

Nas palavras de Fernando Medina, a militância no PS nunca foi apresentada como condição prévia para a contratação pela Carris.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

IFCN Badge