As imagens de ambulâncias paradas à porta de diferentes hospitais, entre os quais o Hospital de Torres Vedras, têm sido um retrato do estado atual da pandemia de Covid-19 em Portugal. Ainda que esse episódio tenha emocionado muitos utilizadores, com diversas partilhas para apelar ao cumprimento do confinamento geral, no Facebook surgiu uma publicação que criticava a gestão do Centro Hospitalar do Oeste (CHO).

Imagem de post viral que alega que filas de ambulância em hospitais são “teatro mediático”.

Nessa publicação, o autor partilha uma montagem de três fotografias com situações contrastantes: por um lado, o Hospital de Torres Vedras, com os acessos repletos de ambulâncias; e, por outro lado, o Hospital de Peniche e o Hospital das Caldas da Rainha, com fluxos aparentemente normais ou praticamente vazios. “Mais um teatro mediático. Houve um fluxo concentrado no hospital de Torres Vedras, e os hospitais à volta estavam às moscas. Não há razão nenhuma para este mediatismo, é um caso de má gestão”, escreveu no passado dia 16 de janeiro deste ano. Atingiu as 232 partilhas e os 435 likes. É, no entanto, uma publicação falsa.

A primeira ideia que é necessário desmentir é a de que o hospital de Peniche “não tem atendimento dedicado a doentes respiratórios”, tal como garantiu o Gabinete de Comunicação do CHO ao Observador. Ou seja, olhando para a imagem dessa unidade de saúde que surge na publicação, não pode ser feita uma comparação com o hospital de Torres Vedras, porque não tem o mesmo serviço de resposta a doentes infetados com o novo coronavírus.

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No sentido oposto, tanto Torres Vedras como Caldas da Rainha têm áreas dedicadas a doentes respiratórios e enfrentam agora maior pressão, tal como garantido pelo gabinete do CHO, no passado dia 18 de janeiro. Neste momento, o hospital de Torres Vedras é o que tem maior número de infetados: ao surto interno que se registou nesta unidade de saúde somam-se os casos positivos para a Covid-19 confirmados em vários lares da região. Ao todo, 101 doentes Covid-19 estão internados em enfermaria no CHO, 35 na unidade de Caldas da Rainha e 66 na unidade de Torres Vedras. Este último tem, portanto, um maior número de doentes, ou seja, o seu fluxo é maior. Nenhum está, no entanto, em Peniche.

“A lotação não está ainda esgotada, encontrando-se, no entanto, perto do limite da capacidade”, esclareceu aquele gabinete.  A taxa de ocupação de camas ultrapassa agora os 50%, em relação às camas não Covid-19. A situação é idêntica no que diz respeito aos internamentos não Covid-19. Ou seja, mesmo que não tenham sido partilhadas imagens de filas de ambulâncias num dos hospitais, não quer dizer que a situação seja menos alarmante. Portanto, o “teatro mediático” a que o autor se refere é, afinal, um cenário bem real, ainda que exista, para já, capacidade suficiente para enfrentar o novo coronavírus sem que o CHO entre em rutura.

O CHO esclarece ainda que foram convertidas 21 camas de enfermarias cirúrgicas para tratamento de doentes Covid-19 em Torres Vedras na semana passada. Nas Caldas da Rainha, houve uma nova reorganização para “reforçar a capacidade da respetiva área dedicada ao atendimento de doentes respiratórios do serviço de Urgência Geral”. Foi ainda assegurado que está a ser construído um edifício modular que permite aumentar a capacidade daquele hospital para enfrentar a pandemia.

Relativamente a Peniche, ainda que não seja uma realidade agora, está a ser estudada a hipótese da abertura de uma enfermaria não Covid-19 naquela unidade hospitalar.

Quanto às críticas à má gestão destas unidades hospitalares por parte do autor da publicação original, elas não são verificáveis no âmbito deste artigo.

Conclusão

Apesar das imagens chocantes de filas de ambulância à porta de alguns hospitais em Portugal, houve quem criticasse o suposto mediatismo à volta deste episódio. Numa dessas críticas diz-se que, apesar do hospital Torres Vedras estar cheio, outras unidades — como de Peniche e Caldas da Rainha — “estão às moscas”. A verdade é que o primeiro não tem serviço Covid-19 e o segundo também tem recebido vários internamentos, tendo, dessa forma, uma área onde se trata o novo coronavírus. O Centro Hospitalar do Oeste, que alberga estes três hospitais, garantiu ainda que, apesar de existir espaço de manobra e já estarem a ser asseguradas medidas que permitam a expansão desses serviços, por causa do estado da pandemia, a situação é alarmante. Não está ainda em fase de ruptura, mas começa a chegar ao seu limite.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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