Um vídeo de 25 segundos partilhado no Facebook mostra o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, a afirmar que está a “limitar e a atacar os direitos fundamentais e que a Constituição não o permite”. O governante diz ainda que o seu governo vai “continuar a fazê-lo”. O excerto do vídeo foi tirado propositadamente fora de contexto para pôr o líder canadiano a afirmar algo que não defendia.

O autor em causa partilha uma hiperligação com legendas em espanhol dizendo que Trudeau fez estas alegações no Fórum Económico Mundial, direcionando os espetadores para um portal de saúde. Além disso, está também referida uma página online em espanhol repleta de hiperligações para notícias falsas que já foram desmentidas por especialistas e vários órgãos de informação.

Este excerto de vídeo com o intuito de ludibriar quem o vê foi já difundido sem legendas noutras publicações em redes sociais, como o Twitter ou o Instagram, tendo, inclusive, sido alvo de outros Fact Checks, como este da Reuters. Por norma, nos comentários ao vídeo nas redes sociais nas quais o mesmo é partilhado as acusações apontam o dedo ao governante dizendo que este quer um Estado totalitário.

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Como refere a Reuters, o vídeo refere a secção 33 da Carta de Direitos e Liberdades, parte da Constituição do país. Esta cláusula é também conhecida como “notwithstanding clause” (em português, algo como “cláusula de não oposição”), pois permite que um governo de região ou o Parlamento introduzam uma lei inconstitucional que pode anular certos aspetos da Carta de Direitos e Liberdades durante um período de cinco anos, sendo possível renovar a lei por períodos de mais cinco anos. Esta explicação pode ser confirmada através da letra da mesma lei, que pode ser consultada através desta hiperligação oficial do governo no Canadá na qual está publicada na íntegra a Carta de Direitos e Liberdades do país a América do Norte.

No vídeo, ouve-se Trudeau a dizer claramente: “Independentemente do facto de estarmos a atacar os direitos fundamentais ou a limitar direitos fundamentais, e a Carta diz que isso é errado, vamos fazê-lo de qualquer maneira”. “É basicamente um buraco na lei que permite que uma maioria anule os direitos fundamentais de uma minoria”, continua. Porém, o vídeo cessa sem se ouvir o resto.

Ora, este vídeo é falso por dois motivos. Primeiro, Trudeau nunca fez estas declarações no Fórum Económico Mundial mas sim durante uma entrevista com a agência de notícias “The Canadian Press”, em Otava, como pode ser confirmado através desta hiperligação ou pela publicação no Twitter abaixo, feita em dezembro de 2021.

Segundo, este vídeo é falso porque Trudeau estava a dizer exatamente o contrário daquilo que a publicação falsa quer dar a entender. A gravação é cortada propositadamente antes de o primeiro-ministro canadiano dizer: “É por isso que concordo com o meu pai sobre isto não ser lá grande coisa para se ter numa Carta de Direitos e Liberdades.” O vídeo pode ser visto na íntegra através desta hiperligação da Canadian Press, publicado na plataforma da Yahoo.

Trudeau defendeu que esta cláusula não é ideal quando falava em defesa de uma professora que, devido a uma lei no Quebeque, pôde ser expulsa da sala de aula por estar a usar um lenço islâmico (hijab). Mesmo sendo inconstitucional este tipo de discriminação religiosa no Canadá, a lei da região prevaleceu, como contaram vários órgãos de comunicação locais, como a CTVNews, algo que Trudeau considerou não ser correto.

Conclusão

Não é verdade que Justin Trudeau tenha defendido que está a limitar e a atacar os direitos humanos e que o vai continuar a fazer. Pelo contrário, o primeiro-ministro do Canadá estava a opor-se a uma lei do país que permite que existam contornos a normas fundamentais.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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