Uma publicação no Facebook partilha uma captura de ecrã onde é possível ver um tweet que anuncia: “Esposa de Marcola é indicada para assumir o ministério de segurança pública.” Marcola é o líder de um dos maiores grupos criminosos no Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que atua principalmente no estado brasileiro de São Paulo e, segundo a publicação, Cynthia Herbas, mulher de Marcos Willians Herbas Camacho (ou Marcola), preparava-se para integrar o governo do Presidente eleito Lula da Silva. É falso.

A composição final da equipa escolhida pelo futuro Presidente brasileiro, que toma posse já este domingo, 1 de janeiro de 2023, foi conhecida já esta semana. Entre a lista de 37 ministros, há figuras com origem em partidos (26 ministros) e outros 11 governantes sem filiação partidária. Mas nenhum dos nomes escolhidos corresponde ao de Cynthia Herbas.

Aliás, no que diz respeito à pasta que lhe é atribuída na publicação analisada — a da “Segurança Pública”, que na verdade será denominada Justiça e Segurança Pública —, essa responsabilidade foi entregue Flávio Dino, até aqui governador do estado do Maranhão.

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Ainda assim, a ideia de que a mulher de um conhecido líder de um grupo criminoso no Brasil começou a ser difundida antes de a composição final do próximo governo de Lula ser conhecida. Mas onde nasce essa alegação?

A origem não está em nenhuma notícia que tenha sido veiculada por órgãos de comunicação social credíveis. Em rigor, trata-se até de uma deturpação de um excerto do programa 4 por 4, promovido pelo jornalista Luís Ernesto Lacombe — que difunde ideias como a de que as eleições brasileiras que resultaram na vitória de Lula resultam de uma “fraude”.

No programa de 6 de novembro (todos os conteúdos podem ser vistos no Youtube e são transmitidos no canal de televisão por subscrição Jovem Pan News, muito próximo de Bolsonaro), Lacombe aborda uma notícia que dá conta do interesse (ou o “sonho”, como escrevia o Globo em novembro) do advogado Alberto Zacharias Toron de assumir a pasta da Justiça. É a partir do minuto 1:18:30 que Lacombe se refere ao artigo do Globo, lendo a partir do telemóvel: “Advogado que sonha ser ministro de Lula assume defesa de mulher de Marcola, do PCC.”

A relação entre o advogado e a mulher de Marcola decorre precisamenre do facto de o Lacombe ter assumido a defesa em tribunal de Herbas. Mas é importante ressalvar que, tal como no caso de Cynthia Herbas, o nome de Luís Ernesto Lacombe nunca foi apontado como possível ministeriável por Lula da Silva.

A própria assessoria do futuro Presidente abordou o assunto num artigo publicado em novembro, em que responde ao alegado interesse em juntar Herbas ao seu executivo. Nesse artigo, o equipa do futuro líder brasileiro refere que “tentar associar Lula ao PCC é uma tática repetitiva do bolsonarismo”. O artigo aponta mesmo responsabilidades diretas ao Presidente cessante, Jair Bolsonaro, pela promoção de informações falsas quando diz que, “no período da campanha, o candidato derrotado diversas vezes infringiu a lei eleitoral ao difundir ‘informações sabidamente inverídicas’, ou seja, mentiras, nas redes sociais. Ele e seus filhos foram condenados pelo Tribunal Superior Eleitoral por mentirem sobre o PCC e Lula”.

Conclusão

A alegação de que Cynthia Herbas, mulher de um dos criminosos mais conhecidos do Brasil e líder do Primeiro Comando Capital, integraria o futuro governo de Lula da Silva é falsa. Trata-se de uma deturpação de um excerto do programa 4 por 4, emitido no canal Jovem Pan News, em que se abordava o interesse do advogado de Herbas de fazer parte da equipa do futuro Presidente do Brasil.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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