Volta e meia, o antigo candidato presidencial e um dos históricos do Partido Socialista, Manuel Alegre, é alvo de publicações nas redes sociais. Desta vez, foi uma publicação de Facebook que repescou um assunto polémico, que até já chegou aos tribunais. A publicação dizia o seguinte: “Manuel Alegre foi militar em Angola como tantos outros e num acampamento algures no interior, de manhã, os seus camaradas deram conta de que tinha desaparecido. O que aconteceu foi que desertou e pisgou-se da guerra directamente para a mansa Argel onde assentou praça aos microfones da”Voz da Liberdade ” e passou a banquetear-se com Samora Machel e Agostinho Neto”.

Além desta acusação, a publicação alega ainda que Manuel Alegre “forneceu as coordenadas do seu acampamento em Angola”, sendo que “todos os seus camaradas e amigos foram mortos”. Ou seja, o socialista “cometeu dois crimes: desertor do exército português e causador de assassinatos de militares do exército”. Esta publicação alcançou as 35,6 mil visualizações e 1,5 partilhas. É, contudo, além de caluniosa, uma publicação falsa.

Publicação faz diversas acusações a Manuel Alegre.

“Essa publicação não tem pés nem cabeça. Há muita gente que esteve comigo em Angola, está tudo descrito nos meus livros e em comunicados do Estado Maior. É uma calúnia”, afirmou o histórico socialista ao Observador. O socialista reafirmou ainda ter estado em Angola entre julho de 1962 e dezembro de 1963, sendo que esteve inclusivamente preso depois de uma tentativa de golpe militar naquele país africano.

Consultando o seu site oficial, na parte do serviço militar, não existe qualquer referência a um suposto acampamento. Por outro lado, a parte em que foi detido, por “tentativa de golpe militar contra o regime do Estado Novo” pode ser encontrada neste site. Ficou com termo de identidade e residência em Luanda, tendo sido enviado de volta para Lisboa, por decisão do chefe do Estado Maior da Região Militar de Angola.

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“A PIDE fixa-lhe termo de identidade e residência em Coimbra”, lê-se no site. Um ano depois, Manuel Alegre é avisado de que poderia ser preso, fazendo com que se refugiasse na capital portuguesa, partindo depois, em julho de 1964, para o exílio, “atravessando clandestinamente a fronteira, perto de Chaves”. Ou seja, a única “fuga” que o ex-candidato às presidenciais executou foi já em Portugal, depois de ter completado o serviço militar cumprido. Regressaria ao país a 2 de maio de 1974, depois da revolução dos cravos ter sido posta em marcha.

Convém também dizer que já não é a primeira vez que esta história salta para o espaço público. Em 2016, o Tribunal da Relação condenou o ex-tenente-coronel João José Brandão Ferreira a pagar 25 mil euros de indemnização a Manuel Alegre “por ter acusado o socialista de traição à pátria”, escreveu o Observador nessa altura.

Brandão Ferreira escreveu, entre 2010 e 2011, vários artigos acusatórios onde afirmava que o socialista teria incitado “ao desertar das tropas portuguesas e ao não cumprimento do dever militar” durante a guerra colonial. Além de ter promovido “atos de sabotagem contra o esforço de guerra português”. Portanto, atos de traição à pátria, a mesma acusação que é encontrada na publicação original. Esta decisão do Tribunal foi contrária à tomada pelo mesmo órgão no ano anterior pelos crimes de difamação, mas também à do tribunal de primeira instância.

Conclusão

Já não é a primeira vez que Manuel Alegre é visado relativamente ao seu serviço militar em Angola. Desta vez uma publicação de Facebook acusava o histórico socialista de ter fugido de um acampamento naquele país africano, tendo praticado dois crimes: o de desertor do exército, e de ter sido a causa de vários assassinatos de militares do exército português.

O ex-candidato presidencial confirmou ao Observador que, apesar de esta história caluniosa não ser nova, tendo já sido discutida em tribunais, continua a não ser verdadeira. Prova disso são os livros que escreveu, os amigos que fez em Angola e os comunicados que se encontram no Estado Maior General das Forças Armadas. “Essa publicação não tem pés nem cabeça, é uma calúnia”, afirmou. Na verdade, Manuel Alegre só fugiu uma vez: em 1964, tornou-se exilado político para evitar ser preso pelo Estado Novo, depois de ter cumprido o serviço militar obrigatório naquela altura. Regressaria a Portugal a 2 de maio de 1974.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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