No passado dia 24 de fevereiro, vários órgãos de comunicação social, um pouco pelo mundo inteiro, davam a notícia: a invasão liderada por Vladimir Putin à Ucrânia tinha começado. Rapidamente, através das redes sociais, começaram a circular vários vídeos do conflito em diferentes regiões do território ucraniano. Mariupol, Leviv, Kiev ou nas regiões separatistas de Dunbass.

Publicação alega que não existem filmagens em bruto da guerra na Ucrânia. É falso.

Vários desses vídeos, que foram depois verificados como verdadeiros por fact-checkers internacionais e portugueses como o Observador, mostravam o horror e a devastação causada pelos combates entre militares russos e ucranianos e pelos bombardeamentos. Mas segundo uma publicação de Facebook de dia 14 de março, que cita um tweet, “não existe material bruto em vídeo na Ucrânia”. Trata-se de um conteúdo que repete alegações feitas a propósito do conflito por parte de elementos ligados às forças — aconteceu, por exemplo, depois de ser conhecido o cenário de devastação em Bucha, nos arredores de Kiev, após um mês de ocupação dos militares russos — para desacreditar ou procurar desmentir a prática de atos que, em alguns casos, podem configurar crimes de guerra. Mas são alegações falsas.

Comecemos por analisar a alegação de que existe “uma cobertura de 100%” de internet na Ucrânia. De facto, olhando para os vários vídeos que vão chegando às redes sociais e, em especial, para os conteúdos partilhados pelo presidente Volodomyr Zelensky, a internet continua a funcionar naquele país. O que não quer dizer que as forças russas não estejam a tentar ou mesmo a controlar as telecomunicações na Ucrânia.

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Num extenso artigo do jornal norte-americano Politico, conta-se que existem três razões para que as comunicações não sejam totalmente interrompidas: os serviços de inteligência da Rússia usam-nas para espiar chamadas telefónicas ou recolher informações a partir da geolocalização e dos metadatos ; o exército russo está a usar a internet ucraniana para comunicar ; as forças russas não vão destruir infraestruturas de comunicação de que depois vão precisar, caso vençam a guerra.

Portanto, e sem apresentar qualquer facto ou prova do que diz, o autor não pode argumentar que o serviço de internet no país está a operar a 100%. Para ajudar a desmistificar esta teoria, convém relembrar que Elon Musk, o multimilionário por detrás de empresas como a Tesla, enviou terminais para a Ucrânia para que pudessem estar ligados aos seus satélites Starlink, garantindo assim acesso à internet. Tal como conta a BBC, não é certo se já estão a funcionar, mas este foi um pedido expresso do governo ucraniano, logo, é ainda mais difícil acreditar que a cobertura de rede esteja em plenas funções neste momento.

Quanto à principal alegação — novamente sem qualquer prova que a fundamente — de que não existem conteúdos em bruto, ou filmados por telemóvel, do conflito na Ucrânia, ela não é verdadeira. Para isso, basta consultar qualquer órgão de comunicação social, desde a agência Reuters ao The New York Times ou mesmo a fact-checkers internacionais como a AFP ou ao Stop Fake, para dar conta das imagens desta guerra.

Podem ser também consultada as contas oficiais de vários jornalistas no terreno, inclusivamente de jornalistas portugueses, como no caso dos jornalistas do Observador, Pedro Castro, João Porfírio ou Cátia Bruno, ou mesmo de outros jornais, como de Ana França ou da jornalista da SIC, Iryna Shev. Todos mostram imagens e vídeos do que se tem passado nesta guerra. Muitas dessas imagens são feitas através com recurso ao telemóvel. Ou mesmo o projeto independente com sede na Holanda, o Bellingcat, que tem investigado e verificado vários acontecimentos do último mês e meio de guerra.

Conclusão

Desde o dia 24 de fevereiro, altura em que a Rússia de Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, que têm circulado vários vídeos desta guerra em território ucraniano. Existem vários falsos, mas outros verdadeiros, devidamente verificados por fact-checkers internacionais ou órgãos de comunicação social credíveis. Ou seja, a alegação de que não existem vídeos em bruto desta guerra é totalmente falsa.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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