Várias publicações nas redes sociais afirmam que existe um protocolo “pós-vacina” que implica a toma de ivermectina depois do almoço durante cinco dias após a toma da vacina e de um chá de funcho três vezes ao dia durante dois meses.

De acordo com as informações que estão a circular no Facebook, o protocolo terá sido recomendado por José Augusto Nasser, um neurocirurgião brasileiro que foi contra a distribuição da vacina contra a Covid-19 nas faixas etárias pediátricas e que já publicou informações falsas ou descontextualizadas acerca da doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2.

Acontece que o protocolo, que tem circulado nas redes sociais, não tem luz verde das autoridades oficiais de saúde. As recomendações para a toma de ivermectina — um antiparasitário que chegou a ser analisado na terapêutica contra a infeção pelo coronavírus, mas cuja eficácia foi refutada — ou de chá de funcho não surgem em momento algum no site da Organização Mundial da Saúde (OMS).

As publicações assumem várias formas, mas referem-se todas ao mesmo tipo de alegado protocolo.

Nas informações sobre “o que esperar depois de ser vacinado”, a OMS avisa que “algumas pessoas terão efeitos colaterais leves após serem vacinadas contra a Covid-19”, nomeadamente febre, dores de cabeça, dores no corpo e braço dorido, que normalmente desaparecem ao fim de um a dois dias.

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“Pode controlar quaisquer efeitos colaterais com repouso, muitos líquidos não alcoólicos e tomar medicamentos para controlar a dor e a febre, se necessário”, aconselham as autoridades de saúde. Caso os efeitos secundários persistam ou pareçam ter maior gravidade, a OMS recomenda o utente a consultar um profissional de saúde.

Efeitos colaterais mais graves ou duradouros das vacinas contra a Covid-19 são extremamente raros. Se sentir dificuldade em respirar, dor no peito, confusão, perda da fala ou mobilidade após a vacina, entre em contacto com o seu médico imediatamente. As vacinas são continuamente monitorizadas para detetar e responder a eventos adversos raros”, acrescenta a OMS.

As informações de produto que acompanham todas as embalagens das vacinas aprovadas em Portugal também não fazem qualquer referência à ivermectina ou ao chá de funcho, como comprovam as bulas disponibilizadas pela Agência Europeia de Medicamentos. Isso comprova-se através dos documentos digitais referentes à vacina da Pfizer/BioNTech, Moderna, AstraZeneca, Janssen, Novavax e da Sanofi/GSK.

Alguns membros da comunidade científica, alguns deles descrentes da eficácia e da segurança das vacinas, têm insistido na utilização da ivermectina no contexto da Covid-19. Mas a Agência Europeia do Medicamento desaconselhou o uso do antiparasitário e disse que “os dados disponíveis não dão apoio ao uso noutro contexto que não o de ensaios clínicos bem concebidos” — nomeadamente no tratamento de sarna, por exemplo.

A Infarmed também declarou que, “dadas as limitações metodológicas nos ensaios em que a ivermectina foi utilizada e as dúvidas quanto à dose adequada e sua segurança no âmbito da infeção causada pelo SARS-CoV-2, não existem evidências que apoiem a utilização deste medicamento na profilaxia e tratamento da Covid-19“, como se pode ler num comunicado.

Conclusão

Não existe qualquer protocolo pós-vacinação contra a Covid-19 aprovado pelas autoridades de saúde que implique a toma de ivermectina e chás medicinais. As autoridades de saúde oficiais, tanto as nacionais como as internacionais e mundiais, não mencionam o esquema apontado nas publicações nos cuidados a ter após a toma das vacinas contra a Covid-19.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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