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Quando saiu do Benfica Campus cerca de 15 minutos depois da conferência de imprensa onde fez a despedida do clube através de curtas declarações ao lado de Rui Costa, Jorge Jesus foi aplaudido por alguns adeptos (poucos) que estavam à porta. Quando deixou o Benfica Campus após o treino já com Nelson Veríssimo, um outro adepto chamou “herói” a Pizzi. Quando rumou a uma unidade hoteleira na zona norte antes do encontro com o FC Porto para o Campeonato, foram muitos os adeptos a manifestar o seu apoio à equipa ao longo do percurso. No final de uma semana crítica, todos pareciam ter ganho algo. Na verdade, saíram todos a perder. Tanto que, ao contrário do que é habitual no futebol, nem os resultados poderão ser suficientes para superar tudo o que aconteceu segunda-feira naquele auditório. |
Um dia depois do previsto, na sequência do teste positivo à Covid-19 de Grimaldo que gerou preocupação junto dos responsáveis que não esqueceram o que se passou na última época (confirmou-se depois que o lateral era um caso isolado), o plantel do Benfica voltou aos treinos. Antes, como aconteceu e acontecia em várias ocasiões, Jesus juntou o plantel para uma palestra. Mais do que discutir o jogo seguinte, aquilo que se falou foi no encontro passado. Em concreto, do que se tinha passado no balneário do Dragão após a derrota para a Taça de Portugal. Mais em concreto, da reação explosiva que Pizzi teve, o que levou a um despique com um dos adjuntos e a uma chamada de atenção de Luisão. O treinador não gostou de saber o que tinha sido dito, confrontou o médio e anunciou que estava afastado da equipa. Nessa frase, nessa ação, estava o fim de linha que há muito se tornara inevitável. Foi isso que mudou tudo o resto. |
Quando terminou e pediu à equipa para seguir para o relvado, os jogadores foram para o balneário. Rafa e Seferovic foram dois nomes apontados como líderes da rebelião mas, na verdade, houve um movimento quase espontâneo entre quem não concordava com o afastamento de Pizzi, quem não queria mais Jesus e quem percebeu que algo teria de ser feito para fugir à espiral em que se tinha entrado (os outros que não entravam nesse grupo simplesmente foram com os companheiros). Rui Costa teve de ser chamado. Só o presidente do Benfica conseguiu que nesse dia houvesse treino, quase como se a tal “estrutura” de repente tivesse deixado de existir. A mesma “estrutura” que, resolvido que estava esse problema, bateu o pé para que o internacional fosse reintegrado. Quando Jesus falou já de madrugada com o líder do clube e soube que teria de trabalhar com Pizzi, ficou escrito um “guião” confirmado horas depois. |
Após ter sido acusado há três anos de promover um motim do plantel contra o presidente, o treinador caiu na sequência de um motim que em parte foi evitado pelo presidente. As feridas, essas, estavam lá todas. Algumas continuam por lá. E é por isso que Nelson Veríssimo, que tem como única “culpa” a competência revelada no comando da equipa B que lidera a Segunda Liga, encontra tanto ou mais trabalho fora do que dentro de campo. O que estava escrito aconteceu de forma inesperada. Ninguém ganhou com isso. |
Perde Jesus. Saiu pela porta pequena, sem glória desportiva após 130 milhões em reforços num ano e meio, já com o comboio do Flamengo noutro apeadeiro (Paulo Sousa foi confirmado como novo técnico esta semana) e tendo um plantel contra ele sabendo que não estava sozinho nessa luta contra si no plano interno. Perde Pizzi. Aos 32 anos, naquela que está a ser a época mais discreta a nível de rendimento na Luz, fica quase “marcado” como o jogador capaz de destituir treinadores numa imagem que foi entretanto empolada para outras situações no passado. Perde a “estrutura”. Só uma organização que não esteja unida nem certa no que faz e no seu rumo pode permitir que relações de trabalho cheguem ao ponto de rutura como existia agora no Seixal (e se foi “propositado”, ainda pior). Perde Rui Costa. O presidente dos encarnados tentou a todo o custo aguentar Jesus enquanto procurava a figura para um novo ciclo no futebol no início da próxima época mas foi obrigado a aceitar aquilo que não gosta numa fase em que os objetivos desportivos estão mais difíceis. Perde o Benfica. Por todo o filme, foi o principal derrotado. |
A maior evidência disso mesmo foi aquela que pouco ou nada foi falada. Tudo aconteceu no Seixal, tudo foi revelado só umas horas depois e por um comentador afeto ao FC Porto, o advogado Aníbal Pinto, a meio de um programa da CMTV e por uma mensagem que recebeu no telemóvel. Antes, tudo se tinha sabido sobre a discussão no balneário do Dragão. Depois, tudo se soube sobre o clima de tensão no auditório do Benfica Campus. Uma equipa pode ter um guarda-redes melhor ou pior, pode ter uma defesa mais ou menos sólida, pode ter muitas ou poucas soluções no ataque, mas quando um balneário se torna num Big Brother é mais difícil obter resultados. Essa é a maior lição que fica na derrota de e para todos. |
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No meio da crise do Benfica, FC Porto e Sporting aproveitaram para disparar na classificação e levam já sete pontos a mais do que o rival à entrada para a última ronda da primeira volta do Campeonato na semana em que ficaram a saber que, caso vençam os jogos fora com Vizela e Leça, respetivamente, podem depois cruzar nas meias-finais da Taça de Portugal, realizadas a duas mãos em março e em abril. |
O FC Porto, mesmo sem Luis Díaz, Evanilson ou Pepe, voltou a vencer o clássico onde Pepê foi o joker lançado por Sérgio Conceição e Fábio Vieira justificou uma aposta mais continuada. Os dragões fizeram o seu quarto ano civil sem derrotas na Primeira Liga, levam a segunda maior pontuação da história à 16.ª jornada e prolongaram a segunda maior série de sempre sem desaires na prova na noite em que até um apanha-bolas, Afonso, dos Sub-14 dos azuis e brancos, teve o seu mérito no triunfo. Veríssimo e Everton assumiram que a missão do Benfica ficou mais complicada mas recusam que o título seja impossível. |
Antes, o Sporting, com Ugarte e Tabata infetados com Covid-19, teve muitas dificuldades para superar um Portimonense reduzido a dez por expulsão de Pedro Sá, somando a 11.ª vitória seguida na Primeira Liga com um inédito hat-trick de Paulinho antes de fechar a primeira volta com uma deslocação a Ponta Delgada para defrontar o Santa Clara no jogo que inicia a 17.ª jornada do Campeonato no dia 7. |
Lá por fora, com Espanha a juntar-se a Inglaterra com mais de 100 casos positivos em dez dias, haverá jornada da Premier League logo a partir deste sábado, dia 1, com o Arsenal-Manchester City (12h30), a que se segue o jogo grande entre Chelsea e Liverpool no domingo (16h30). Também a Liga espanhola terá jornada este fim de semana, ao passo que na Serie A há jornada concentrada num dia (quinta-feira). Pode ver todo o calendário, incluindo as meias-finais da Taça da Liga inglesa (Chelsea-Tottenham e Arsenal-Liverpool) e mais uma ronda da Taça do Rei e da Taça de França, na agenda desta newsletter. |
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O sempre mítico Rali Dakar arranca este sábado na Arábia Saudita, com um prólogo entre Jeddar e Hail para abrir o apetite às longas etapas que se seguem. Portugal terá 19 pilotos inscritos: sete em motas (Rui Gonçalves, António Maio, Joaquim Rodrigues Jr., Mário Patrão, Alexandre Azinhais, Arcélio Couto e Paulo Oliveira), quatro em automóveis (Felipe Palmeiro, navegador do lituano Benediktas Vanagas, Paulo Fiúza, navegador do lituano Vaidotas Zala, e a dupla Miguel Barbosa/Pedro Velosa), quatro na categoria de veículos ligeiros (Rui Carneiro/Filipe Serra e Mário Franco/Rui Franco) e quatro em SSV (Luís Portela de Morais/David Megre e Rui Oliveira/Fausto Mota). Pode ouvir aqui a entrevista com Miguel Barbosa, que regressa à prova 12 anos depois, no “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador. |
Os próximos dias serão também marcados pela ATP Cup em ténis, que antecede o primeiro Grand Slam da temporada, o Open da Austrália. Entretanto, Jorge Braz já anunciou os 14 convocados para o Europeu de futsal em janeiro, onde Portugal vai tentar defender o título de 2018, ao passo que a Seleção Nacional de andebol também já começou a preparação para o Campeonato da Europa no próximo mês. |
P.S. Como é habitual, esta seria a newsletter de resumo de 2021 e lançamento de 2022, não só no futebol mas também nas modalidades. No entanto, não há melhor resumo do que se passou ao longo do ano do que perceber que cada vez há menos tempo para balanços, projeções ou antevisões tendo em conta a cadência de informação, de notícias e de eventos desportivos. E é essa também a mensagem para o que se segue: um acompanhamento diário de tudo o que se passa num mundo que não tira férias e que até nesta passagem de ano terá NBA e ténis com a ATP Cup. Um Feliz 2022 para todos os nossos leitores! |