Quando falamos da prestação dos candidatos e as notas dos comentadores do mesmo canal televisivo que transmitiu o debate, parece que assistiram a outro debate, ou já traziam as notas prontas de casa e só queriam arranjar argumentos para as defender.

Mas vejamos primeiro um resumo das notas:

Para quem não assistiu ao debate e apenas veja as notas atribuídas conclui, erradamente, que o candidato João Cotrim Figueiredo não estava preparado, não sabia dos temas e não soube argumentar ou até mesmo que tenha sido rebaixado face aos restantes candidatos.

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Não podia estar mais longe da verdade, foi exatamente o oposto.

O candidato pela IL, João Cotrim Figueiredo, que os comentadores colocaram em terceiro lugar na classificação, demonstrou ser aquilo que nos tem vindo a habituar, um político com postura profissional, convicto e conhecedor dos temas.

Revelou ser o candidato com maior conhecimento dos temas, corrigindo inclusivamente outros candidatos evitando que estes enganassem os espectadores menos conhecedores.

Revelou estar convicto do que defende, quais os seus valores e quais as orientações liberais que estarão na base do que será a sua atuação no parlamento europeu.

Revelou ainda uma mais-valia muito rara nos políticos de hoje, tem uma boa visão sistémica do futuro e qual o caminho.

Quanto à argumentação e confronto com os restantes candidatos, claramente demonstrou a sua experiência e facilidade em desmontar argumentos dos adversários, embora se tenha contido bastante mais do que deveria. Arrisco mesmo a afirmar que não existe nestas eleições candidato com maior garra e capacidade de argumentação que Cotrim de Figueiredo e esse fator deve ser usado a todo o momento durante a campanha para que a IL possa iniciar o seu novo ciclo de crescimento.

A candidata pelo PS e ex-ministra da saúde, Marta Temido, que os comentadores colocaram em quarto lugar na classificação, foi um autêntico desastre, aparentando uma enorme falta de preparação em todos os aspetos.

Transmitiu uma sensação de desconhecimento mais profundo dos temas, em que nem os muitos papéis espalhados na mesa a ajudaram, falando principalmente por meio de chavões gerais que encaixam em qualquer contexto. Não querendo alongar neste campo, dava a sensação de que, o que sabia advinha do que tinha ouvido nos concelhos de ministros de quando fazia parte do governo e se ia lembrando de algumas coisas.

Ao nível da discussão com outros candidatos, esteve muito no seu canto, como quem quer intervir e ser agressiva, mas como se atabalhoou ao início, sempre que avançava estava com mais receio do que na vez anterior. Nem mesmo conseguiu puxar para si a atuação do PS na pandemia e o seu peso na Europa nessa época.

O grande problema da candidata é não ter bem definido qual o seu perfil e qual a postura mais adequada ao mesmo, uma maior preparação dos temas e da sua forma de atuar e o PS poderia ter um resultado além da sua base eleitoral.

O candidato da AD, Sebastião Bugalho, que os comentadores colocaram em segundo lugar na classificação, demonstrou sentir a necessidade de provar que a sua idade não o torna menos capaz, algo que já se havia notado em entrevistas anteriores.

Transmitiu bem que conhece os temas e está atualizado, embora para quem estivesse mais atento verifique que quando o debate fica mais profundo e ao nível das linhas orientadoras de atuação futura, não conseguirá fugir muito dos documentos que o sustentam.

Em termos de debate propriamente dito, a sua ideia de incluir os países candidatos a membros da UE nas reuniões, demonstrou por um lado uma falta de perspetiva e ideias, como ainda abriu caminho para que o candidato mais inexperiente se salientasse.

A adoção de uma estratégia de debate de não agressão só o penalizou, chegou mesmo a parecer que requeria a aprovação do candidato da IL, ficando a sensação de que este é um dos seus “ídolos políticos”.

Saber de política não quer dizer que se seja um bom líder, e o candidato revela isso mesmo, sabe argumentar e desviar as atenções quando se começa a sentir perdido, mas ao nível das convicções e visão clara para o caminho a seguir para o país e para a Europa, é mais um político que acha que os problemas se resolvem com um documento bonito e boa propaganda.

O candidato do LIVRE, Francisco Paupério, que os comentadores colocaram em primeiro lugar na classificação, demonstrou sentir-se calmo e certo das suas convicções, mesmo que irrealistas.

Em termos de conhecimento dos temas, transmitiu que os conhece genericamente e soube esperar para abordar de forma a não revelar o seu desconhecimento de aspetos mais técnicos, focando-se mais na perspetiva do ideal e forma de atuação.

Em termos de debate propriamente dito, por diversas vezes demarcou-se com ataques ao candidato da AD, com comentários simples e inteligentes, trazendo para cima da mesa uma visão claramente de esquerda.

No que respeita às ideias e forma de atuar revelou que o LIVRE não tem política de imigração adequada à realidade, não está preparado para os problemas atuais nem futuros, vivendo num mundo utópico e não o real.

No campo do crescimento económico e da transição para as novas indústrias como a automatização, foi arrasado pelo candidato da IL, embora tenha sabido manter a postura e assim minorado o impacto podendo até ter passado despercebido a muitos espectadores e aparentemente também aos comentadores.

Quando analisamos as notas dos comentadores, temos de ter em conta que estes dão prioridade às audiências que gostam do fator surpresa, pois é mais atrativo falar de alguém desconhecido do público do que falar de outros mais recorrentes. Temos também o efeito manada, e os comentadores estando todos na mesma sala enquanto assistem ao debate é natural que falem entre eles e percebam as reações uns dos outros, sendo mais fácil falar do mesmo do que contrariar os restantes.

Podemos apenas concluir que as notas dos comentadores se basearam numa expectativa prévia e fator surpresa, pois se fossem realmente analisar o debate, as notas teriam sido bastante diferentes.

Como nota final destacamos que finalmente existiu um debate para eleições europeias em que se falou da Europa, sendo um grande ponto positivo.

Discutiram-se mais assuntos específicos, que para a maioria dos cidadãos que não acompanha em detalhe permitiu ter a ideia geral e o tipo de abordagem a problemas mais graves que se adivinham, esperemos que estes temas continuem a ser desenvolvidos.