1. Nem sequer houve pré-aviso, a vida mudou de cor num minuto, vesti outra pele, passei a chamar-me “familiar de referência.” Aprendi a circular em infindáveis corredores, a não confundir esquinas e acertar nos elevadores. A lidar com aquele súbito desconcerto, tateando a vida em vez de a viver. Tateando a abissal diferença entre o conhecido e o vivido e era implacável a diferença entre uma coisa e outra. Tudo aquilo era agora comigo.

2. E, subitamente, lembrei-me: foi há quase três anos, em Setembro, estava uma manhã azul e radiosa, íamos a caminho do Douro. Aquela coisa da felicidade. Nisto toca o telefone, era o filho de Londres, tão cedo?, pensei, ”houve uma chatice no nosso metro de Parsons Greens, havia uma bomba mas está tudo bem, o Luís foi no metro antes, já está na escola, está tudo bem…”.

Tudo bem? Garganta seca, a voz que não saía, o trovão da descoberta: seria aquilo o pânico?

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.