A Organização Mundial da Saúde (OMS) define Saúde Mental como “um estado de bem-estar no qual o indivíduo tem consciência das suas capacidades, consegue lidar com o stress do dia-a-dia, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere”. É errado “separar” a saúde física da saúde mental, uma vez que o bem-estar de uma é, necessariamente, interdependente da outra.

No entanto, em Portugal, a saúde mental é ainda bastante estigmatizada, sendo um tema pouco explorado pela opinião pública. De acordo com dados de 2018 do relatório Health at a Glance, Portugal é o quinto país da União Europeia com maior prevalência de problemas do foro mental, afetando 18,4% da população – incluindo ansiedade, depressão ou problemas de adição.

O grande problema surge quando não existe acompanhamento clínico ou social destas patologias e as pessoas escolhem o suicídio como último recurso.

Em Portugal registam-se segundo dados de 2018 da Sociedade Portuguesa de Suicidologia e do Instituto Nacional de Estatística  cerca de 8 casos por 100 000 habitantes/ano, ou seja mais de 800 novos casos todos os anos, sendo de ressalvar que este número tem sofrido flutuações ao longo do tempo, embora com assimetrias marcadas em algumas regiões do país, nomeadamente em zonas remotas e isoladas, como algumas regiões do Alentejo que têm das maiores taxas a nível europeu.

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A nível Europeu 14 em cada 100 00 pessoas cometem suicídio, e a nível mundial registam-se quase 800 mil suicídios anualmente, sendo esta a segunda maior causa de morte entre os 15 e os 29 anos de idade. A faixa etária em que se registam mais casos é entre os 45 e os 54 anos.

Morrem mais pessoas por suicídio do que em guerras.

O suicídio pode ser classificado de duas formas: consumado quando o comportamento leva à morte da pessoa, ou tentado quando a pessoa age nesse sentido, mas não obtém a finalidade que pretendia.

A grande maioria das situações de suicídio estão associadas a doença psicológica, nomeadamente a perturbações depressivas. As perturbações podem ser diversas e estar relacionadas com problemas de stress do dia-a-dia, situações de desemprego, dívidas, crises familiares ou financeiras, solidão ou perdas marcantes de familiares ou amigos. Em períodos em que as pessoas estão mais expostas a níveis de stress e pressão que perturbem o seu bem-estar, o número de suicídios aumenta;

Por motivos diversos, incluindo razões genéticas, relacionadas com a história pessoal ou familiar existem pessoas que têm uma predisposição depressiva ou de algum modo “disfuncional” a nível emocional e que por isso são mais vulneráveis.

Obviamente, também existem fatores protetores, como ter filhos ou ser cuidador, ter convicções religiosas, ter emprego e ser psicologicamente resiliente, entre outras.

Nem sempre existem comportamentos que indiciem que a pessoa tem intenção de se suicidar. Por vezes existe um padrão progressivo, em que, no início, o doente apenas contempla o suicídio, depois começa a planear como o fazer e, por fim, o momento e a forma como o executa, isto é, a ideação suicida e o plano tornam-se cada vez mais estruturados. É preciso estar alerta para comportamentos de risco ou mudanças repentinas de atitude, de rotinas ou no estado psicológico destes doentes. Por vezes, o doente gravemente deprimido melhora antes de cometer a tentativa de suicídio, quando, depois de estar ambivalente durante muito tempo, toma a decisão.

Ajudar estas pessoas é possível – além de ser crucial estar atento aos sinais, é também importante apoiar, orientar, ouvir e aconselhar. Procurar ajuda de um profissional é a melhor forma de evitar estas situações e garantir que o sofrimento psicológico é atenuado.

O diálogo e a compreensão são igualmente fundamentais para conseguir entender as motivações destas pessoas e, assim, conseguir ajudá-las. É importante pedir à pessoa para falar abertamente sobre aquilo que sente e sobre o que a motiva a colocar um fim à sua vida.

Nos dias de hoje já existem muitos meios de apoio para quem se depara com situações deste tipo, como por exemplo, linhas telefónicas de apoio, sites especializados e consultas de saúde mental em hospitais ou centros de saúde. O mais importante é garantir que estas pessoas são devidamente acompanhadas e que o sofrimento que sentem é partilhado e acompanhado por profissionais especializados.

O tratamento é possível e regra geral eficaz.

Médico, Terapeuta Cognitivo-Comportamental Integrativo do Departamento de Saúde Mental do Hospital de Cascais