Não me causa, infelizmente, surpresa alguma sermos confrontados, nesta altura do campeonato, com a vacinação dos políticos, sobretudo aqueles que se refugiam numa qualquer função que exercem. Mesmo sabendo que alguns destes brâmanes superiores já se açambarcaram com a dita vacina, nada espero de melhor neste cantinho à beira mar plantado. Trata-se, apenas, de um reflexo da caquistocracia em que vivemos e que construiu para si uma estrutura monstruosa, blindada e esmagadora a que chamo pirâmide. Vejamos como funcionam os poderes dentro da pirâmide:

Um grupo de “espertos” que aprenderam a esperteza nos mentideiros partidários, alapados em autarquias e outras estruturas públicas por nomeação e nunca mérito, que nunca criaram riqueza alguma, perceberam que, enganando a grande massa de funcionários públicos e pensionistas com lógicas imediatistas e ilusórias (aritmética mágica) de criação de riqueza que não existe, mas que é sacada aos outros até à última gota, poderiam eternizar-se no poder, com o consequente desaparecimento do país que vai andando.

O país que vai andando, mas funciona, por sua vez, foi aquele que (por exemplo) criou condições para o turismo e o aproveitou de forma brilhante; foi aquele onde as empresas remaram contra a maré do oceano Estadotlântico, para criar riqueza e postos de trabalho; foi aquele que produziu filhos prodigiosos que emigraram para países liberais. Este país está em vias de extinção.

A pirâmide, porém, está com saúde e recomenda-se. Enquanto existirem pontos percentuais na carga fiscal para subir, ou bazucas de dinheiro produzido por liberais, o futuro da grande massa de funcionários públicos e pensionistas está assegurado.

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Subindo a pirâmide, damos de caras com os elementos mais “espertos” (no pior sentido da expressão), digníssimos imperadores caquistocráticos.

Esses imperadores são chefiados por um Faraó cínico e cúmplice que precisa de ver o povo a amá-lo, não devolvendo, contudo, a simpatia.

Na casta dos imperadores, há o imperador principal chamado de Primeiro. É ele quem governa a pirâmide de funcionários públicos, pensionistas e mais os cacos que restaram. Outros dois imperadores, ladeadores e auxiliares, imperam um na pobreza e outro na miséria, ajudando o imperador Primeiro. Controlando o povo, com mais ilusões de que se pode distribuir o que não existe, estes imperadores prosperam no seu poder.

Abaixo dos imperadores temos os reis. Centenas de reis que “governam” o Estado para si próprios e para manter a pirâmide.

Estes reis, quase tão “espertos” como os imperadores, dispõem do país como querem. Os órgãos que deviam evitar essa fruição total do país, também lá têm reis com o mesmo ADN. O Faraó trata sempre se ocupar das estruturas potencialmente incómodas com os seus imperadores e reis. Seja no Ministério Público, no Tribunal de Contas, no Tribunal Constitucional ou no Banco de Portugal, há reis em todo o lado.

A pirâmide até tenta exportar Reis para a Procuradoria Europeia (ultrapassando a competência e o mérito com a burla), assegurando que não haverá qualquer problema, quando o dinheiro europeu chegar, para presentear os amigos da pirâmide e assegurando migalhas para a base da mesma. Se com as vacinas tem sido um regabofe, imaginem quando chegar a bazuca.

Portanto, não admira que, desde o Faraó, aos imperadores e reis, apoiados por desgraçados que compõem a base da pirâmide (contentando-se com esmola certa), não deixem pedra sobre pedra às empresas, aos filhos prodigiosos e aos que (por cá) ainda acreditam no mérito e no trabalho como forma de vencer na vida.

É, desta forma, que, em os tempos de pandemia, podemos ver os que querem mais miseráveis criar mais base para a pirâmide.

Estes que querem a pobreza, olhando para si mesmos como membros da casta superior, não têm qualquer vergonha em passar à frente na fila da vacina ou noutra coisa qualquer, enquanto todos olham pasmados sem nada poder fazer, pois a pirâmide é invencível. É uma pirâmide hirta, mas de prioridades invertidas.