A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) sem acordo à vista reduz a importância das relações recíprocas a todos os níveis. A redução resulta imediatamente da abolição brusca das 4 liberdades de intercâmbio prescritas nos Tratados: deslocação de pessoas, bens, serviços e investimentos – mas resulta também do inevitável condicionamento dos afluxos laboral e académico continentais bem como da cooperação científica e cultural. A perda do contributo britânico para o orçamento europeu também é uma má notícia.

Claro está que o Reino Unido aderiu à Organização Mundial do Comércio pelo que o regime do comércio internacional a aplicar-lhe não se afastará no futuro muito do que está actualmente em vigor no âmbito da UE. Até porque os países europeus não podem enjeitar as vantagens das relações comerciais com os muitos países da Commonwealth. Pelo que toca ao caso particular das relações entre o nosso país e o Reino Unido há ainda a salientar que existem desde há mais de um século recíprocos tratados bilaterais de liberalização das trocas que continuarão em vigor porque já assim era no âmbito da UE. Nada de muito grave a temer por este lado.

Mas o aspecto em que as coisas vão decisivamente modificar-se é político e não económico. Num país como o nosso em que a opinião pública está esmagada pelo discurso economicista ainda ninguém deu por isso. Como recordava o magnífico Sir Humprhey a política externa britânica dos últimos quinhentos anos teve sempre por objectivo impedir a formação de uma potência dominante na Europa Continental. E a permanência do Reino Unido na UE servia na perfeição esse objectivo. Com a sua saída ninguém pode fazer frente à ascensão alemã. A França já há muito que não pode desempenhar esse papel. A UE já vivia mas viverá a partir de agora e cada vez mais na pax germanica. Sem os britânicos a estorvar nada a deterá. Ora à Alemanha interessam muito mais os países do Leste europeu (a velha Mitelleuropa) do que o nosso. As razões são históricas, culturais e políticas. É para aí que a partir de agora se vão dirigir as atenções e os recursos. Para os países do Sul ficará apenas o rigor dos critérios orçamentais e da dívida pública. Pelo que nos toca, não temos alternativa; é preciso saber viver com os alemães e não contra eles.

Outro aspecto importante consequente ao isolacionismo do Reino Unido é este; a nova realidade não pode deixar de se repercutir no decréscimo da utilidade da língua inglesa nos 27 Estados da UE. E o recente regresso dos EUA ao isolacionismo económico e político tão pouco atenua aquele decréscimo, antes pelo contrário.

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Sejamos realistas. Claro está que não é ausência do Reino Unido da U E que irá retirar a magnífica língua inglesa do mundo dos negócios muito embora nestas novas circunstâncias se afigure necessário o ensino dos idiomas dos países continentais da UE de modo a compensar o isolacionismo britânico. E entre os idiomas mais úteis para o incremento do intercâmbio laboral, académico, comercial, industrial, científico e cultural, situa-se o alemão. Não apenas por ser o idioma da principal potência política e económica continental mas também por ser comum à Austria, à Suiça e ao Luxemburgo e por ter cada vez mais influência nos países bálticos membros da UE.

Conclusão: saibam viver com os alemães e aprendam alemão (etwas Deutsch).

Advogado