Mentia se não dissesse que conheço imensas pessoas que, mal começam a conversar, dão a entender que são resignadas. A vida é igual. Enfadonha, mesmo. E cansativa. Até porque há muitas pessoas que são cansadoras e as roubam à rebeldia e ao entusiasmo. As suas transformações tardam e são demoradas. E, por tudo isso, tornam-se conformadas. São, quase todas elas, pessoas excelentes. Mas, diante de qualquer coisa que desejam, começam as frases, timidamente, por “Eu gostava…”. Nunca por “Eu quero”. Ou “eu desejo”.

Parece-me que as pessoas demasiadamente dentro dos conformes se tornam… conformadas. Como se, aparentemente, se adequassem a quase tudo. Quase como se tivessem perdido a pertinácia. São demasiado quietas. Mas impacientes. Vendo melhor, só os passivos são impacientes.

A paciência é diferente da resignação. A paciência, por mais que não pareça, existe porque existe desejo. Somos perseverantes sobretudo quando fazemos uma escolha. O desejo, quando se escolhe, resulta do esmiuçar daquilo tudo que queremos. Que, depois, converge para um ponto fixo e, qual pêndulo, a seguir, se transforma n’O desejo (o ó, enfático, é que lhe dá pujança e projecção). Parece-me que baralhámos tudo e colocámos sobre o desejo um manto de censura, como se desejar atentasse contra os credos. Ora, querer e crer, quando se trata do desejo, são a mesma coisa. O crer e o querer criam-se um ao outro. E só depois “querer é poder”. A paciência é a melhor amiga do desejo.

Não é a memória que nos transforma. Será mais o resgate dos desejos de que nos esquecemos e a que renunciámos. É assim a resignação: costura-se com os desejos de que nos esquecemos. E é assim que a resignação se transforma no degrau abaixo para onde nos deixamos cair sempre que o entusiasmo fica para traz. Depois da resignação – outro degrau abaixo, ainda – só o tédio. E, a seguir, claro, a desistência. Se bem que a resignação seja, desde logo, um desistir sem desistir. É um deixar que as coisas aconteçam. Próprio de quem se desencontrou da paciência porque se afastou do desejo.

Já o entusiasmo é um “faz-te à vida”. Um “faz-te” de: “insinua-te”. Um “vai à conquista!”. É um assomo de paixão e rebeldia. Um crer. E um querer. O desejo é sempre o ponto de encontro onde duas pessoas, sempre que se co-movem, porque se alcançam, se transcendem. Encontram o entusiasmo! E descobrem a paz. O desejo passa pelo entusiasmo a caminho da paz.

Chegados aqui talvez desponte a luz: o tédio é o oposto do entusiasmo. Começa pela resignação. Promove a passividade. Passa pela impaciência. Chega ao aborrecimento. E acomoda-se no vazio. Que é uma mão cheia de tudo. Feita de coisa nenhuma.

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