Os sinais de próxima — que já o é — crise económica são já por demais evidentes. Aqui, entre nós, e em toda a Europa. Mesmo entre os chamados frugais. Aliás, designação muito bizarra para estes países que têm bem mais factores que os separa do que factos que os unam. Mesmo o aparente binómio Suécia-Finlândia. Aparente, pois a Finlândia sofre entre outras características de um certo complexo de menoridade nórdica. Tal como a Suécia sofre de um certo complexo — do género calimero — de “ingratidão” dos seus vizinhos Noruegueses. Mas como se diz por cá, é a vida.

Mas a Covid-19 trouxe-nos, ao mundo, uma crise global. Não desta ou daquela economia. Não deste ou daquele continente, mas uma crise global. Que nos obrigará a procurar novos rumos e novas parcerias. Só assim, se entende a pronta articulação da sóbria Alemanha com a sempre arrastada e confusa França. Pronta articulação até porque não sabemos que inverno vamos ter. E este aspecto é de extrema importância na equação.

Por estas razões, o plano europeu que tantas horas tirou aos líderes europeus nestes últimos dias, foi bastante célere na sua concepção e partilha entre os diferentes órgãos comunitários e os Estados membros.

É que não há tempo a perder. Os remendos para suster a crise até ao início da execução do plano europeu são muito frágeis e rapidamente perecíveis. As economias europeias estão já em franca agonia. Os próximos anúncios dos diversos e mais expressivos indicadores que traduzem a performance económica das diversas economias europeias deixarão muitos com cara de espanto.

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Daí a extrema urgência em implementar um plano europeu para um grande problema do mundo de matriz ocidental.

Os Estados Unidos em plena crise babilónica de saúde pública provocada pela pandemia terão mais dificuldade em articular um plano Federal coerente de intervenção económica. A pré-campanha eleitoral e o constrangedor desnorte do Presidente Trump não ajudam nada, para isso.

Contudo, não nos iludamos. Os EUA, como sabemos, têm uma vitalidade económica no seu tecido empresarial que, em certa medida, dispensam a correria de um plano de intervenção Federal. Correria que é sempre necessária na velha Senhora. A Europa.

Portugal, terá uma contração do seu produto interno na dramática proximidade dos 15 por cento, neste ano fatídico de 2020. Teremos um redução media do PIB ao trimestre muito em torno dos 3,5. É demasiado dramático para não percebermos que nos esperam tempos duros. Mesmo com a moratória da banca até março próximo, que a salva no imediato de ver os seus rácios de crédito mal parado a aproximarem-se de tempos recentes. E mesmo com o programa europeu aprovado esta semana.

Nenhuma economia escapará a fortes vicissitudes. O salto estará, muito, na inovação das economias. Na inovação dos processos produtivos. Em evidentes ganhos de produtividade e numa necessidade de acelerar a procura interna, ao mesmo tempo que teremos que diminuir a importação de alguns bens que teremos que produzir internamente. Consumindo-os e exportando-os.

O grande desafio será manter o nível de cobertura de importações por exportações ainda que a importar mais. Mas, também, necessariamente a exportar mais. Não é desejável uma dependência tão acentuada do turismo. Este pode, dentro de quatro anos, voltar aos níveis de 2019. Não pode é ter o mesmo peso no PIB. Se tiver, algo de muito errado aconteceu. A produção industrial tem que ser revitalizada. A dependência de bens estratégicos não pode acontecer, manter-se, a níveis pré-pandemia.

O plano de António Costa Silva prevê a dita reindustrialização do país. Mas temos que por um foco muito acentuado nas indústrias limpas. Nas indústrias que preservam o ambiente na forma como produzem e no tipo de produtos que produzem.

Produzir sem produzir futuro lixo é o caminho coletivo da sustentabilidade. E, aí, há uma fileira de indústrias a desenvolver. E aí, a engenharia nos seus mais diversos ramos terá uma época de ouro. E aí, as ciências biomédicas terão que ter uma época de ouro. E aí, os designers terão, também, uma época de ouro no suporte à inovação industrial e no esboçar de novas linguagens para materiais mais versáteis.

A própria arquitectura tem uma excelente oportunidade de começar um caminho novo e revolucionário. Na forma como pode inovar em materiais e em concepção do espaço a fruir. Toda a indústria dos transportes. Toda a indústria energética. Toda a indústria da concepção e fruição das Cidades. Da utilização do espaço e da utilização do lazer. São áreas, todas estas, absolutamente ganhadoras no futuro próximo. Não só o digital. Que em muitos aspectos, olhado isoladamente, é redutor.

E esta crise tem que ser a grande oportunidade de afirmação ou reafirmação de um Portugal empreendedor, inovador, e de preservação das suas características ambientais.

No fim, se conseguirmos, entraremos bem nos futuros indicadores de competitividade. Se não conseguirmos, ficaremos arredados do novo mundo. Aí, sim. Verdadeiramente periféricos face às novas polaridades económicas, de competitividade e de sustentabilidade. Aí, ficaremos entregue às consequências das alterações ambientais. À sua mercê. E sem qualquer futuro para dar às gerações que, de imediato, nos sucederão.

Perder, num ano, 15 por cento do PIB é algo que ficará marcado nas nossas vidas individuais e na nossa vida como coletivo nacional. Como sempre, encontraremos forma de sobreviver. Como Pátria. Como povo. Como portugueses.

Mas há formas e formas e esta, a que podemos ter com o instrumento de intervenção europeu que foi possível alcançar na passada segunda para terça-feira, será a nossa última grande oportunidade para reinventar Portugal como realidade económica e modelo de desenvolvimento humano.

E esta forma, este instrumento, tem que nos fazer pensar no mercado interno, no mercado europeu e em poucos mais mercados de espaços económicos amigos. Mesmo que isso seja transformar velhos conhecidas em novos amigos económicos.

Pois o Brasil será marginal. Angola será marginal. Moçambique será um sonho desvanecido e, com isso, muito de Portugal ficará adiado em potencial económico por vários anos. Para sincera pena de todos. Pois todos sonhamos um outro Brasil. Uma Angola com mais vitalidade económica e um Moçambique mais preponderante. Nenhum destes espaços económicos ressurgirá para Portugal a tempo da saída desta crise, que se instala em ilusório silêncio.

E os nossos velhos EUA terão muitas tensões internas e atitudes titubiantes, que deixarão os seus aliados nervosos e inseguros. Incluindo nós. Serão, sempre, os Estados Unidos da América mas não, por agora e infelizmente, o aliado de que a Europa precisa.

A resposta da Europa a esta crise económica e social será muito centrada na própria Europa. Algo de novo em muitas décadas. A Alemanha percebeu-o muito rapidamente e o Plano aí está. Agora mãos à obra. Porque todos temos uma guitarra para tocar. Sairão vencedores quem menos desafinar, nos novos paradigmas sociais e económicos.