Ao longo dos últimos dois anos, assistimos a mudanças que trouxeram alterações significativas aos padrões da sociedade, nomeadamente no que diz respeito às formas de consumo de informação. Num mundo que enfrenta vários choques assimétricos (Covid-19; conflito na Ucrânia), a confiança do público nos meios de comunicação social tornou-se uma questão estratégica fundamental, permitindo que estes reforçassem a ligação com o seu público.

Os canais digitais de notícias têm visto a sua audiência aumentar significativamente, assim como o número de assinantes digitais, o que permitiu uma recuperação das receitas no setor e a diversificação do público-alvo. Em Portugal, as assinaturas do Público, por exemplo, cresceram 110% nos primeiros nove meses de 2020, registando uma média mensal de 29.809 assinantes durante esse período. A televisão também viu um ressurgimento de interesse durante a crise pandémica. As emissões em sinal aberto – a RTP, SIC, TVI – cresceram em audiência na ordem dos 15,6%, registando um aumento de entradas diárias de 153 mil espectadores, estabelecendo-se como a principal fonte de informação para os portugueses, segundo dados do Observatório da Comunicação (Obercom), seguindo-se os jornais online.

Já no que diz respeito a novos formatos, também o Podcasting está a afirmar-se cada vez mais no ecossistema mediático português, e no informativo em particular, segundo o relatório “Digital News Report 2021” do Obercom, sendo que, em 2021, 41,5% dos portugueses que utilizam a internet dizem ter escutado algum podcast no mês anterior – mais 31,1% que em 2020, e mais 7,2% que em 2019.

Hoje, com notícias tão densas como complexas e com o risco identificado de desinformação nas redes sociais, o público procura mais uma vez fontes fiáveis. No indicador ‘confiança’, Portugal continua a apresentar valores muito acima da média quando comprado com outros países (Obercom). Isto apresenta uma nova oportunidade para os media, que continuam a assumir um papel relevante na nossa sociedade. Devem aproveitá-la confiando na inovação tecnológica para produzir mais informação qualitativa, didática e informada.

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É agora claro que a inteligência artificial, o machine learning e os dados permitem aos editores e jornalistas serem mais eficazes na procura, compreensão, planeamento e publicação de conteúdos relevantes. Com estas tecnologias, o jornalista é capaz de acompanhar o volume sempre crescente de notícias de todo o mundo e gerar mais e melhor qualidade, conteúdo factual e verificado em menos tempo e a menor custo.

Situações de crise, tais como a guerra na Ucrânia, são propícias ao desenvolvimento de notícias falsas. A inteligência artificial (IA) pode verificar a autenticidade da informação, analisando meta dados e comparando a informação com bases de dados, dando assim aos jornalistas a possibilidade de detetar informações falsas e evitar a sua propagação. A visualização de dados permite aos jornalistas produzir mais informação educacional ou “aumentada” com relatórios e imagens que incluem dados chave sobre o assunto, para que os leitores a possam visualizar com mais clareza. Finalmente, a automação permite que este rico conteúdo seja entregue ao alvo certo no momento certo, criando envolvimento com o público. No entanto, um estudo da Obercom revela que apenas 8 a 12% das atuais tarefas dos jornalistas são desempenhadas por sistemas automatizados, sendo que a IA proporciona sobretudo tarefas básicas.

Ora, embora os meios de comunicação tenham compreendido que é do seu interesse dominar as inovações – formatos como o jornalismo de dados, com base em informação estatística complexa e em permanente atualização, viram desenvolvimentos muito significativos no nosso país –, a necessidade de investimento na inovação, acompanhada de uma boa estratégia de implementação e das competências necessárias é uma realidade global.

O objetivo combinado destas tecnologias é, evidentemente, explicar melhor a informação para construir a confiança do público, gerar um público qualificado e construir a lealdade.

Patrícia de Almeida Catarino, formada em Informática de Gestão pelo ISCTE, é atualmente Vice-Presidente de Consulting Services para Public Sector, Water, Telco & Transportation na CGI. A Patrícia é uma das mentoras CGI da Portuguese Women in Tech, focando-se principalmente em inspirar jovens estudantes para a área das TI e defendendo, que o caminho é pela diversidade e inclusão. Adora ler, viajar e comunicar. Mas, acima de tudo, a interação com as pessoas é o que a faz feliz!

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.