A única possibilidade de a direita governar, e com isso liderar um regime não socialista em Portugal, é concentrar-se no que a une, em vez de extremar posições no que a desune.

O que a une, entenda-se, é a economia, é a defesa de uma economia de mercado de matriz liberal. Este é o ponto de convergência que une todos os eleitores da direita, com nuances de intensidade, mas livre de antagonismos. A economia é, de facto, o tema capital para os eleitores de direita, e crítico para o desenvolvimento do país sem as amarras de um socialismo disseminador da pobreza.

Matéria que tem na Iniciativa Liberal (IL) o partido mais liberal (com o qual, neste tópico, mais me revejo), o PSD tendencialmente liberal e, no Chega, o menos liberal, mas igualmente de matriz económica de inclinação liberal e claramente defensor de uma economia de mercado.

Por outro lado, a temática que mais desune a direita, gerando intolerâncias e linhas vermelhas recorrentemente inflamadas, é a dos costumes. O Chega ocupa o espectro mais conservador, enquanto a IL está no extremo oposto, progressista, por vezes até radical e colada às agendas «woke» do BE e, finalmente, um PSD que representa um conservadorismo tolerante (no qual, nesta vertente, me revejo).

Tendo presente esta realidade, para que a direita possa ser, efectivamente, uma alternativa viável, tem de se apresentar às eleições sem pré-coligações, permitindo aos seus eleitores expressarem, através do voto, as suas diferenças culturais, que assentam nas suas mais profundas convicções sobre costumes.

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Acreditar no simplismo das vantagens aritméticas do método de D’ Hondt é um puro wishfull thinking, de calculismo político, desatento da necessidade emocional dos eleitores votarem alinhados com os seus valores culturais. Um simplismo que não soma, mas subtrai, que em situações pontuais pode até salvar eleições, líderes fracos, e mesmo ressuscitar (de forma efémera) partidos, mas será sempre um imediatismo que nunca resultará numa alteração estrutural e sustentável do actual regime socialista.

Ou seja, no liberalismo económico, as diferenças das direitas são meras nuances de intensidade, de mais ou menos Estado, de mais ou menos regulação, enquanto nos costumes, as diferenças das direitas são profundamente acentuadas, por vezes extremadas e inconciliáveis, não só pelos choques de valores, mas pela sua natureza emocional, o drive da maioria das decisões, em particular, a do voto.

É a compreensão deste fenómeno, do que une e desune as direitas, e da força das emoções no momento de votar, que fundamenta a existência de todos os actuais partidos de direita com assento no parlamento. Uma oferta partidária bem segmentada, ao serviço das diferentes necessidades culturais dos eleitores da direita. E é o que também fundamenta a responsabilidade democrática de todos esses partidos, em particular dos mais liberais, de aceitarem a referida diversidade cultural dos votos, negociando o esbatimento do que consideram ser radicalismos nesta temática.

A linha vermelha que a direita tem de se autoimpor é a não existência de linhas vermelhas que inviabilizem o que a une, e apostar nos consensos de equilíbrio no que a desune. As aceitações das linhas vermelhas impostas pelas narrativas moralistas da esquerda só servem os propósitos de um país e de uma economia de linhas vermelhas, ou seja, de um socialismo de miséria.

A não compreensão desta dinâmica aumenta fortemente a possibilidade de, em Março próximo, estas divisões internas da direita resultarem no PS como o partido mais votado. Nessa ocasião, a consequência serão cartões vermelhos aos líderes dos ditos partidos das linhas vermelhas.