A história geológica da Terra é marcada por eventos extremos que alteraram profundamente o clima e os ecossistemas, levando a períodos de extinções em massa e mudanças drásticas na composição da vida no planeta. Um elemento central a esses eventos, como demonstrado por registos fósseis e estudos geológicos, é a flutuação dos níveis de carbono na atmosfera. Essas alterações no ciclo do carbono têm sido associadas a uma variedade de causas naturais, incluindo atividade vulcânica intensa, impactos de meteoritos e mudanças na configuração dos continentes.

Estes fatores, por sua vez, influenciaram a forma como as plantas realizam a fotossíntese e transpiração, afetando os ciclos de precipitação e a distribuição de água, entre outros efeitos climáticos e ambientais. No entanto, ao contrário dos eventos passados, cujos fatores que os provocaram, foram predominantemente fenómenos naturais, e/ou externos, o atual desequilíbrio no ciclo do carbono é, pela primeira vez, impulsionado por atividades provocadas por seres que coabitam os ecossistemas da Terra: neste caso, pelas atividades humanas.

Desde a revolução industrial, a produção e consumo de combustíveis fósseis, a deflorestação e práticas agrícolas intensivas têm contribuído para um aumento sem precedentes nas concentrações de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, levando ao aquecimento global e às mudanças climáticas. Este aumento de carbono atmosférico está a alterar o equilíbrio natural da Terra de tal forma, que se assemelha, em escala e potencial impacto, aos eventos extremos passados. No entanto, a diferença crítica é que, enquanto os eventos anteriores eram fenómenos naturais inevitáveis, a atual crise climática é largamente antropogénica: uma consequência direta das ações humanas.

A compreensão deste contexto histórico é vital para reconhecer a magnitude e a urgência da crise climática atual. Os registos geológicos fornecem evidências claras de que mudanças significativas no ciclo do carbono têm o potencial de transformar radicalmente o clima da Terra, dos seus ecossistemas e, consequentemente, as condições de habitabilidade para as formas de vida, incluindo a humana. Estudos paleoclimáticos mostram que tais transformações não só são possíveis como já aconteceram várias vezes ao longo da história da Terra, cada uma resultando em extinções em massa de ecossistemas e espécies, seguidas de períodos prolongados de recuperação e reajuste ecológico.

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Neste atual desequilíbrio do carbono, dada a sua natureza, ter origem nas atividades do homem, temos também a capacidade de mitigar os seus efeitos. Para isso, requerem-se ações urgentes e coordenadas, numa escala global e sem precedentes, reduzindo assim as emissões de gases de efeito estufa (GEE), promovendo tecnologias de energia limpa, restaurando ecossistemas degradados e adotando práticas sustentáveis de uso da terra e produção de alimentos.

A história geológica da Terra fornece-nos um aviso inegável, mas também nos deixa um lembrete e uma oportunidade: ao contrário dos cataclismos passados, somos nós os agentes catalisadores do atual, tendo para o efeito, o conhecimento que nos torna conscientes de tal fato, assim como a tecnologia e sabedoria para prevenir as piores consequências das nossas próprias ações.

A crise climática atual é um reflexo do desequilíbrio no ciclo do carbono, com origem clara nas atividades humanas. A lição dos registos geológicos é que tais desequilíbrios podem levar a consequências drásticas e duradouras para a vida na Terra. No entanto, ao reconhecer a causa antropogénica desse desequilíbrio, também devemos estar conscientes, e reconhecer em nós, o poder de alterar o fim fatídico a que este caminho nos levará no futuro, adotando medidas eficazes para restaurar o equilíbrio do sistema climático da Terra e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações, da nossa, e restantes espécies.